sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Higéia

Cópia romana de estátua grega em mármore
Higéia era a deusa da saúde, da limpeza, do saneamento e da higiene, uma das três filhas de Esculápio, o deus grego da medicina. Por essa razão, era comumente adorada em conjunto com seu pai, porém, enquanto seu pai era diretamente associado à cura, Higéia estava mais relacionada com a prevenção das doenças e à continuidade da boa saúde. É dito que a deusa Atena ocupava essa função, até que o Oráculo de Delfos passou a divulgá-la como deusa independente após uma praga catastrófica ocorrida na cidade de Atenas no século 5 a.C. O culto a Esculápio na Antiga Romana tornou-se tão importante que o deus chegou a ser relcionada ao sol, enquanto Higéia seria a lua. Havia inclusive um templo a Higéia no grande santuário de Esculápio em Epidauro, aonde as pessoas iam tentar ser curadas de suas doenças.

Higéia não era avessa ao trabalho: cooperativa e cuidadosa, gostava de agir com perfeição. Suas estátuas mostram uma jovem e bela mulher alimentando uma enorme serpente que circunda seu corpo com uma pátera (taça, jarra ou tigela). Essa cobra é uma das que circundam o bastão de Esculápio no símbolo da medicina (a Serpente de Epidauro), e a taça resultou numa representação da profissão farmacêutica. Às vezes, é acompanhada por Telesforos, uma anão encapuzado que - possivelmente - era seu irmão. Ele simbolizava a recuperação e era uma divindade muito respeitada na Trácia.

Algumas vezes, é chamada apenas de A Saúde, ou de Higia. Sua equivalente romana é Sallus, e chegou a ser comparada a Sirona.

Parte da pintura A medicina, de Gustav Klimt

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Lono

Na mitologia havaiana, Lono era uma divindade do céu associada à fertilidade, à agricultura, à chuva e ao canto que, junto a Kane e Ku formava a trindade encarregada da criação do primeiro humano. É um dos quatro deuses que já existiam antes da criação (Kane, Ku e Kanaloa). Era também o deus da paz.

Ele vinha à terra todo inverno, durante a estação das chuvas (chamado de Lono-makua, o provedor). Ao final desse período, dizia-se que ele "morria" ou que voltava para seu reino invisível de Kahiki, deixando Ku como seu substituto. Uma vez, desceu à terra por um arco-íris para se casar com uma menina havaiana, que se revelou a deusa Laka, sua irmã.

Nos quatro meses das festas de Makihiki, Lono era adorado e sua imagem levada, no sentido dos ponteiros do relógio, a fazer a ronda das ilhas havaianas. Segundo as crenças, esse ritual traria fertilidade aos campos e qualquer conflito ou trabalho desnecessário é proibido.

É dito que alguns havaianos acreditaram que o Capitão James Cook, da marinha inglesa, seria uma reencarnação de Lono e isso pode ter contribuído para sua morte em 1779.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lox

O ardiloso Lox, segundo o povo Passamaquoddy, é temido tanto pela sua força quanto pela sua esperteza. Segue os caçadores, invade acampamentos e destrói tudo o que pode; o que não consegue quebrar, leva embora e esconde. Aliás, ser glutão, rude e mal-educado são características desse espírito animal.

Normalmente, Lox toma a forma de um texugo, mas aparece também como um guaxinim ou, quando violento, um carcaju (wolverine). É também chamado de Loks ou Luks.

Ele pode ser o princípio de todo o mal e, na verdade, um gigante de nascimento, conforme conhecemos suas histórias.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Vertumno

Estátua em chumbo de Vertumno e Pomona no Hyde Park Corner, em Londres

Inicialmente uma divindade etrusca, o culto a Vertumno chegou a Roma por volta de 300 a.C., tendo um templo construído no Monte Aventino. Dia 13 de agosto acontecia seu festival, as Vertumnalias. Era patrono dos jardins e das árvores frutíferas.

Como deus da mudança das estações e do amadurecimento da vida vegetal, Vertumno transformava as cores das folhas a cada outono. Amava a ninfa Pomona, visitando-a sob diversas formas na tentativa de seduzi-la. Pomona sempre rejeitava suas formas, até que Vertumno apareceu em sua forma real e ela se apaixonou na hora. É também chamado de Vertumnus.

É um mito interessante sobre como às vezes tentamos ser pessoas diferentes para conquistar pessoas e espaços, quando de repente o mais importante é ser nós mesmos.

Vertumno, de Giuseppe Arcimboldo (também considerado o retrato de Rodolfo II da Hungria)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Brasil de todos os deuses e todos os sambas!

É carnaval no Brasil e a Sapucaí sempre traz elementos lendários para a Avenida do Samba. Agora imaginem quando um enredo de uma das escolas de samba é todo sobre religiões? Foi isso que a Imperatriz Leopoldinense trouxe: a fé de um Brasil de todos os deuses! E devemos considerar que é um tema delicado em um mundo de fundamentalismos. Talvez o Brasil tenha uma lição para dar. O carnavalesco Max Lopes disse:
Minha maior preocupação é passar uma mensagem proveitosa para o público. Não é falar somente da religião pela religião, mas antes de tudo louvar a fé do brasileiro de diferentes formas. É um enredo com início, meio e fim.
Até a Madonna e o Jesus ficaram boquiabertos com o samba gostoso e a paradinha de "um minuto de sliêncio" para os atabaques chamarem os orixás! Pena que no vídeo não tem a a paradinha...

Terra abençoada! / Morada divinal / Brilha a coroa sagrada / Reina Tupã, no carnaval... / Viu nascer a devoção em cada amanhecer / Viu brilhar a imensidão de cada olhar / Num país da cor da miscigenação / De tanto Deus, tanta religião / Pro povo, feliz, cultuar
O índio dançou, em adoração / O branco rezou na cruz do cristão / O negro louvou os seus orixás / A luz de Deus é a chama da paz

E sob as bênçãos do céu / E o véu do luar / Navegaram imigrantes / De tão distante, pra semear / Traços de tradições, laços das religiões / Oh, Deus pai! Iluminai o novo dia / Guiai ao divino destino / Seus peregrinos em harmonia / A fé enche a vida de esperança / Na infinita aliança / Traz confiança ao caminhar / E a gente romeira, valente e festeira / Segue a acreditar...

A Imperatriz é um mar de fiéis / No altar do samba, e
m oração / É o Brasil de todos os deuses! / De paz, amor e união...

O carro abre-alas era a Coroa das Divindades, símbolo da escola em meio a cavalos alados e ninfas, que representavam a Festa do Divino. Vinha precedido de uma Comissão de Frente capitaneada por "Deus". Em seguida, cada carro abria uma religião: teve índios, africanos, hindus, japoneses, judeus e muçulmanos.

O Tupã indígena
Os jesuítas conquistadores
Os deuses da cultura africana
As religiões orientais
O bezerro de ouro e as menorahs
A mesquita muçulmana e os fiéis que se ajoelhavam e rezavam
O carro da Índia com a Trindade Védica

No fim, a paz no futuro para todas as religiões, com um mapa mundi na forma de uma pirâmide esotérica

A Unidos da Tijuca também trouxe alguns elementos conhecidos, como a Biblioteca de Alexandria (e seu incêndio ilusório), a Arca da Aliança (com a referência visual do filme do Indiana Jones), o Cavalo de Tróia e os incríveis Jardins Suspensos da Babilônia.



Outras escolas também trouxeram Ganeshas, dragões, unicórnios, sátiros, centauros e outros seres mitológicos. Ou seja, pra quem gosta do assunto, os desfiles são um prato cheio!

Mais sobre o carnaval no meu blog, Philos+Hippos.

PS.: Os vídeos do desfile e a foto da comissão de frente são da Globo.com.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Assisti Percy Jackson

Então, fui ver Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Pra início de conversa, valeu a iniciativa de trazer a mitologia de volta a mídia. Me parece que houve um grande esforço em manter tudo o mais próximo do que é conhecido dentro da mitologia. É um bom filme de ação/humor/adolescente, com bons efeitos e trilha sonora bem pop.

Mas agora vamos aos comentários direcionados... cheios de spoilers! Portanto, se você não viu ainda, leia essa parte depois:

TUDO CERTO...
  • Realmente os deuses viviam às turras. Qualquer coisinha, já era briga e sobrava pra humanidade.
  • Brandon T. Jackson, o sátiro Grover Underwood, está muito bem. Seus trejeitos e tiradas de humor estavam no tom perfeito do filme.
  • Os detalhes dos relacionamentos de Medusa com Atena e Poseidon foram curtos, porém corretos. Aliás, tudo relacionado a Medusa estava ótimo... até quando Uma Thurman era só uma cabeça!
  • O problema entre Poseidon e Atena também passou rapidinho, mas estava correto.
  • Um Parthenon em Nashville! Por que eu não sabia disso?
  • Excelente Hidra! Desde o "jogral" até a criatura!
  • Eu não entendi, o Cassino Lótus e tudo relacionado a ele no filme com relação à mitologia. Mas uma rápida pesquisa me informou sobre os lotófagos da Odisséia de Ulisses. Falarei sobre eles. Mais um aprendizado!
  • Para quem conhece mitologia, o verdadeiro ladrão de raios faz o maior sentido, afinal, Hermes também é o protetor dos ladrões. Tal pai... tal filho!
  • Numa sociedade de hoje com inúmeros pais separados e filhos que desconhecem um dos genitores, o filme parece vir na corrente certa. Afinal, todos os semideuses teriam sido abandonados por um deles.

TUDO ESTRANHO...
  • Que lei de Zeus é essa de que deuses não podem entrar em contato com seus filhos semideuses? Isso já deve ter sido parte da ficção.
  • Olha... a linhagem semidivina é grande porque os deuses adoravam passear pelos mortais... mas aquele acampamento só prova que os deuses eram ninfomaníacos super férteis! A quantidade de semideuses é absurda! E por que só Percy manifesta algum tipo de poder?
  • E deuses não conseguem encontrar semideuses por causa do CHEIRO de outras pessoas mortais? Hã?
  • E se são tão onipotentes, não conseguem encontrar um raio? Hã?
  • Morte rápida do Minotauro, não?
  • Pierce Brosnan estava bem nos efeitos especiais do centauro Quíron, mas parecia não saber o que fazer com o cajado... atuação mediana... e ainda ficou com cara de Dumbledore ao chamar Percy de "aluno preferido". Se lembrarmos que o acampamento se chamava Half-Blood, temos todos os links para compararmos a Harry Potter.
  • Nunca ouvi falar das pérolas de Perséfone...
  • Do sangue que sai do corpo da Medusa, nasce Pégaso... acredito que veremos isso no filme Fúria de Titãs, mas aqui nem se falou nada.
  • Tenho certeza que Percy largou o escudo quando lutava contra a Hidra. Alguém se lembra dele ter pegado de volta? Eu não...
  • Percy não sabe nada sobre a Hidra mas sabe tudo sobre a Medusa... parece que a dislexia dele é forte!
  • Hades foi "jogado" para o mundo inferior? Não me lembro bem disso... que eu saiba foi um acordo entre irmãos. Vou investigar.
  • Vou investigar também o inferno grego. Que eu saiba, a concepção de inferno flamejante é de outras religiões. E o Rio Estige? Cadê? Gente... cadê o Cérbero? Que oportunidade perdida!
  • Poxa... Perséfone sempre foi uma deusa sofrida e não uma louca ninfomaníaca e traidora. Rosario Dawson é ótima atriz, mas acabaram com a deusa.
  • Porque todos os deuses resolveram migrar para os Estados Unidos da América? Até a entrada do Hades está lá!
  • É tão fácil assim segurar o raio mestre de Zeus?
  • Pra onde foi toda a água que Percy usou contra Luke? Caiu em cima das pobres pessoas que passavam?
  • Parece que a adaptação ao cinema, tirou um pouco da fidelidade do livro. Percy Jackson tem 12 anos no primeiro livro, mas parece ter uns 16 na telona. E sumiram com Cronos, Ares e por aí vai... Planejo lê-lo para poder falar mais sobre isso.
Do jeito que escrevi parece que tem mais contras do que prós. Mas talvez seja porque gosto demais do assunto. Por isso repito aqui: vale a iniciativa e o programa! É um bom começo para as pessoas gostarem do assunto e resolverem se aprofundar. Ah... e cinema é sempre a maior diversão!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tiamat

Tiamat vs. Marduk

Inicialmente, quando o mundo cultuava a Grande Deusa, Tiamat era a mãe dos elementos, responsável por tudo que existe, o caos primitivo da mitologia babilônica e sumérica.

Seu marido Apsu era o deus do abismo das águas doces e ela era a deusa dos oceanos. Do encontro da água doce e da água salgada, nasceram os primeiros deuses: Lachmu e Lachamu. No Enuma Elish - poema épico da criação patriarcal babilônica, escrito em sete tábuas de argila (2000 a.C) -, ficamos sabendo que a primeira prole de deuses gerou novas divindades, que irritavam tanto Apsu quanto Tiamat, mas a deusa os perdoava por serem seus familiares. Mas Apsu queria matá-los para que a tranquilidade reinasse novamente. Com medo de Apsu, os deuses pediram que o deus Ea o mattase antes. E ele assim o fez.

Enfurecida, Tiamat se casou com seu filho Kingu e deu à luz uma grande lista de seres, como dragões, sereias, escorpiões e serpentes aquáticas. Com Kingu no comando, o exército de Tiamat atacou os deuses, que deseperados pediram ajuda ao poderoso Marduk, filho de Ea. Marduk disse que, se vencesse a batalha, queria ser coroado rei dos deuses (princípio monoteísta). Ele, então, teceu uma rede e apanhou Kingu e todos os monstros, acorrentou-os e os atirou no Submundo. Partiu, então, para matar Tiamat transformada em dragão. Primeiro, cegou-a o dragão com seu disco mágico (possivelmente representado pelo próprio sol). Depois feriu-a mortalmente com sua lança invencível, símbolo da vontade criativa e procriação. O herói teve ainda o auxílio dos sete ventos para destruir a deusa-dragão. Com metade do corpo dela, fez o céu, e com a outra metade, a terra. De sua saliva formou as nuvens e de seus olhos fez fluir os rios Tigre e Eufrates. Finalmente de seus seios criou grandes montanhas.

Essa batalha entre Tiamat e Marduk é o épico Bem vs. Mal, Ordem vs. Caos, a superiorização de um deus sobre os outros, o patriarcalismo supremo. Era anualmente comemorada nos festivais de fim de ano.

Outros mitos, descrevem o processo de criação como um fluxo contínuo de energias originadas do sangue menstrual de Tiamat, armazenado no Mar Vermelho (Tiamat, em árabe). Foi essa a razão pela qual, mesmo após a interpretação patriarcal do mito, na qual foi acrescentada a figura de Marduk, foi mantido na Babilônia durante muito tempo o calendário menstrual, nomeando os meses do ano de acordo com as fases da Lua.

Mesmo sem muitas referências que comprovem sua descrição física, era na maioria das vezes representada como um dragão fêmea ou uma serpente do mar, por causa dessa batalha épica. Ela pode ser a origem do monstro Leviatã do Antigo Testamento. E é possível que tenha sido referência para o poderoso dragão da série animada Caverna do Dragão.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Inari

Inari (em sua forma feminina) aparece para um
guerreiro com o espírito de uma kitsune
Inari (ou Oinari) é o kami* japonês do alimento, importante no xintoísmo. Pesquisadores acreditam que seu nome derive de ine-nari, traduzido em algo próximo a "arroz em crescimento", apesar de não aparecer nos textos clássicos da mitologia japonesa. Acredita-se que sua adoração começou entre os séculos 8 e 9 d.C.

Depois que Tsuki-Yomi (deus da lua) matou sua esposa Ukemochi (deusa do arroz), Inari assumiu suas funções e tornou-se também responsável pelas safras de arroz. Todo ano ele/ela desce de uma montanha nos primeiros dias da primavera para fertilizar os campos de arroz, às vezes, na forma de uma raposa branca (kitsune). Assim, tornou-se um importante deus da fertilidade e do sucesso na cultura japonesa. É retratado como um senhor de barbas, carregando sacos de arros, mas, por ter assumido as funções de sua esposa, é muitas vezes retratado como um deus andrógino.

Foi adorado como fabricante de espadas e, portanto, protetor deste ofício, dos ferreiros e dos guerreiros. Às vezes era descrito com uma espada, uma foice ou um chicote (que servia para queimar plantações, mas era raramente utilizado). Podia se transformar numa aranha monstruosa quando desejava ensinar lições aos homens. Existem mitos sobre sua transformação em dragão e serpente. As crenças xintoístas e budistas atuais preferem retirar esse lado antropomórfico de Inari, fazendo com que a raposa branca seja sua mensageira. Sua importância fez com que ele fosse associado a uma série de outros deuses, sendo chamado de trindade (Inari sanza) ou coletivo (Inari goza).

Existem muitos templos dedicados a Inari no Japão (aproximadamente 1/3 dos templos), com seus inúmeros toriis (aqueles famosos portais vermelhos) e sempre protegidos pela estátua de uma raposa. O principal é o Fushimi-Inara, em Quioto. Seu festival é na primavera, durante o cultivo do arroz, quando é servido aburage (um tipo de tofu frito), coalhada e feijão frito.

Toriis sequenciados do templo de Fushimi-Inara

* Simplificando, kami é a palavra japonesa para deidade, espíritos, forças naturais. É a essência da fé xintoísta. Farei um post sobre isso.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mito e sonho

Os mitos não possuem autor; pertencem a sabedoria comum da humanidade, conservada pelo inconsciente coletivo sob a forma de símbolos e arquétipos. Pode equivaler a uma ideologia, a crenças coletivas ou a acontecimentos fictícios que evocam sentimentos profundos e expressa o que dá sentido aos valores humanos. Então, corroboremos com Campbell ao dizer que:

Os sonhos são mitos privados. Os mitos são sonhos partilhados.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Hoje é Dia de Iemanjá!

Hoje, dia 2 de fevereiro, é Dia de Iemanjá, a Rainha do Mar.

Segundo o historiador Manuel Passos, no início do século XX, um grupo de cerca de 25 pescadores resolveu fazer oferendas para a Iemanjá, pedindo em troca, fartura de peixes e tranqüilidade nas águas. Há mais de 80 anos, católicos, adeptos do candomblé e turistas participam de ritual semelhante, jogando no mar sabonetes, perfumes, flores, espelhos e bonecas.

Uma lenda conta que Iemanjá, filha de Olokun, casou-se com Olofin-Odudua em Ifé, na Nigéria, e teve dez filhos, todos orixás. Depois de amamentá-los, teria ficado com seios enormes. Cansada de viver em Ifé, Iemanjá fugiu para Abeokutá e se casou novamente, com Okerê. Mas Iemanjá impôs uma condição para o casamento: que o marido jamais a ridicularizasse por conta dos seios. Mas uma ofensa de Okerê causou fúria a Iemanjá, e ela fugiu novamente, encontrando num presente do pai o caminho para as águas. Nunca mais voltou para a terra e tornou-se a Rainha do Mar. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.

Ainda falarei bem mais sobre ela por aqui.

Fúria de Titãs!

Outro dia falei da adaptação dos livros de Percy Jackson para os cinemas, mas não podia deixar de citar o remake de Fúria de Titãs (Clash of the Titans) que estreia no dia 26 de março nos EUA.

O filme original é de 1981, com Harry Hamlin (Perseu), Ursula Andress (Afrodite) e Laurence Olivier (Zeus), e se baseia no mito de Perseu.

Um resumo da história: Zeus ordena que o titã Kraken destrua Argos, depois que o Rei Acrísio tentou matar sua filha Danae e seu neto Perseu, filho de Zeus. Argos e destruída, mas ambos são salvos na Fenícia. Já adulto, Perseu tenta desposar Andrômeda, filha da Rainha Cassiopéia e prometida de Calibos, filho monstruoso da deusa Tétis. Furiosa, Tétis solta o Kraken sobre a cidade, colocando Andrômeda como sacrifício. Perseu sai em busca de um meio de derrotar o titã: a cabeça da Medusa. Por aí se desenvolve o filme.


Foi o último trabalho de animação e efeitos especiais feito pelo mestre do stop motion, Ray Harryhausen. Eu tenho o DVD e independente da diferença que temos hoje com a tecnologia ainda é incrível ver o que ele foi capaz de fazer. Veja um pedacinho, onde Calibos que se vingar de Perseu e fura o saco onde está a cabeça de Medusa para que do sangue da górgona nasçam os escorpiões gigantes:


No novo filme, Perseu é Sam Worthington (queridinho atual de Hollywood após Exterminador do Futuro 4 e Avatar) e ainda tem Liam Neeson e Ralph Fiennes, como Zeus e Hades respectivamente. A história muda um pouco: Perseu nasce entre os deuses, mas passa a viver entre os mortais. Quando perde sua família para Hades, Perseu decide enfrentar o deus do submundo e acaba se metendo em uma guerra entre ele e Zeus, que pode resultar na destruição da Terra.


Veja um trailer que mostra os escorpiões bem vitaminados e a monstruosidade do Kraken:


Uma curiosidade: Kraken, chamado de titã no filme, na verdade é um monstro da mitologia escandinava.

Parece que os cinemas gostam de Perseu... afinal "Percy" seria diminutivo de Perseu. Bom... independente da história, do mito, do herói, é mitologia nos cinemas! Vamos lá!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Perun

Deus do trovão e dos raios da mitologia eslava pré-cristã, Perun era particularmente venerado pelos russos, que chegaram a compará-lo ao Zeus grego. De acordo com as primeiras crônicas russas, Perun era a divindade máxima do panteão pagão antes da cristianização em 988 por St. Vladimir I, Grande Príncipe de Kiev. Por isso, suas associações eram inúmeras: ao firmamento, ao fogo, ao carvalho, às montanhas e às águias. O número 9 é relacionado a ele, mas não se sabe se haviam nove versões do deus ou se eram nove filhos.

Filho de Svarog e Lada, irmão de Kalvis, Stribog, Svarozvich, Tiermes, Ursula e Milda, Perun fazia serviços para seu pai na Terra. Perun e Tiermes usavam seus irmãos para conseguir favores de seus pais e pareciam ser os mais fortes dentre eles e, dessa forma, Perun teria subjulgado seu pai para se tornar o maior deus do panteão russo. No entanto, ao seduzir a deusa dos rios Ros (possivelmente daonde veio o nome "Rússia"), seu filho com ela, Dazhbog, acabaria por subjulgá-lo, tornando-se deus das tempestades.

Em seu papel de deus da guerra, cavalgava os céus numa carruagem puxada por um bode gigantesco (semelhante ao deus nórdico do trovão Thor), empunhando um arco de pedra que atirava seus raios (ditos como flechas de pedra ou meteoritos) e seu martelo (ou machado) do trovão, que sempre voltava para sua mão quando lançado contra o mal. Podia usar também poderosas maças douradas que eram, na verdade, bolas de raios (um raro fenômeno atmosférico). Armas de pedra e de metal eram associadas a ele.

Gromoviti znaci, ou marcas do trovão, como essas, são antigos símbolos de Perun que eram gravados nos telhados das casados para proteger das tempestades. Esse formato hexagonal pode ser um sinal da existência das maçãs do trovão e, portanto, do fenômeno das bolas de raios.

Com sua barba cobreada, era uma divindade criativa que trazia fertilidade e chuva aos campos. Mas as chuvas eram também a representação da batalha divina entre Perun e seu arqui-inimigo Veles. A deusa do sol era casada com ambos. O tempo escuro e chuvoso seria uma manifestação tanto da raiva de Perun quanto dos poderes de Veles que tentava se esconder de Perun para atacá-lo. Os raios e os trovões seriam os ataques de Perun e o fim da chuva significava que Veles tinha sido derrotado. Essa dicotomia "bem contra o mal" facilitou a cristianização.

Era comumente representado por uma estátua de madeira com cabeça prateada e bigode de ouro. Galos e bodes eram sacrificados a ele, mas também ursos e touros em florestas de carvalho, quando os rituais eram maiores. Prisioneiros de guerra podiam ser sacrificados a ele durante sua festa sagrada que durava nove dias de verão.

Era comparado a Perkons (Letônia) e a Perkunas (Lituânia), variações da raiz proto-eslava perk-/perg- ("atacante") ou de perkwu ("carvalho"), uma vez que seu nome pouco aparecia na literatura. Povos búlgaros possuíam diversos nomes de entidades naturais a partir de Perun: Pirin, Perunac, Perunovac, Perunika, Perunička Glava, Peruni Vrh, Perunja Ves, Peruna Dubrava, Perunuša, Perušice, Perudina e Perutovac. Após a conversão ortodoxa russa, Perun foi sincretizado ao profeta Elias que atravessava os céus em sua carruagem de fogo. Na Roma católica, Perun seria o arcanjo Miguel. Perun também apareceu em histórias em quadrinhos da Marvel Comics como parte de um grupo soviético de protetores que ficavam entre o heroísmo patriótico comunista e a vilania capitalista, seguindo a Guerra Fria.