sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Samba do grego doido

Hoje estreiou o filme Imortais (Immortals, 2011) e eu estava lá pra conferir, é claro. Então, a partir daqui teremos vários spoilers... muitas das sinopses que coloquei aqui anteriormente possuem alguns erros que vou tentar corrigir.

Basicamente a história é a seguinte: Rei Hipérion quer libertar os Titãs para se vingar dos deuses que não salvaram sua esposa e seu filho da doença. Mas para isso ele precisa do Arco de Épiro forjado por Héracles, que somente a virgem oráculo sabe onde está. Em seu caminho está Teseu. O herói vem sendo aconselhado por Zeus na forma mortal a liderar um exército contra Hipérion, mas ele só quer ir embora em paz. Porém, Hipérion mata sua mãe e ele jura vingança.

É isso. Assim os caminhos se cruzam e a história anda. Mas anda bem devagar. O filme não empolga. Sinceramente... nem as cenas de ação - que todos falaram que se inspirava em 300 - chegam lá. A direção do indiano Tarsem Singh é bem fraca, tentando se apoiar em um visual escuro (favorecido pelo totalmente desnecessário 3D) e os figurinos meio carnavalescos.

Mitologicamente falando, o filme também se perde. O mito de Teseu deveria ser o mote, mas nada chega perto... somente um Minotauro (humano) em um labirinto (que é um templo de adoração...). Teseu não era bastardo de uma mãe estuprada e muito menos da cidade de Koplos: tinha pai, mãe e era ateniense!


Fedra até tem ligações com Teseu (são várias as histórias que a colocam como esposa), mas nada de oráculo virginal. Hipérion também não era um rei mascarado e misógino, mas um Titã! Aliás... a transformação dos titãs em zumbis que não sabem falar é humilhante. Fiquei imaginando que eles eram Oceano, Réia, Cronos, Mnemósine... não dá, né?


Coloquei aqui recentemente a "grande" cena de batalha entre cinco deuses e os Titãs libertos. Mas peguei errada a informação de quem eles eram: seriam Zeus, Atena, Poseidon, Apolo e Héracles. Pois é... Héracles como deus! Isso realmente acontece na mitologia depois que ele morre e Zeus o leva para o Olimpo. No entanto, o personagem é nulo no filme... nem o nome dele é falado! Só que ele deveria ser um dos mais importantes, considerando que o importantíssimo Arco de Épiro (que não existe na mitologia) foi forjado por ele e que os inimigos do filme lutam com o nome de sua cidade! Apolo também é nulo... e ainda tem um Ares com elmo de espadas que é morto por seu próprio pai por ajudar Teseu. Vocês leram certo: deuses morrem!


Falando ainda dessa "grande" cena... alguém consegue me explicar porque os deuses gregos cheios de armas incríveis e poderes miraculosos precisam descer ao Tártaro para matar titãs-zumbis com espadas? E um Tártaro que fica dentro de uma montanha protegida por uma muralha...

Existem alguns questionamentos filosóficos interessantes que ficaram superficiais. Acho que quase não vale como referência mitológica. É uma liberdade poética tão grande que fiquei me perguntando: por que não usar os mitos corretamente - que já são deveras interessantes e cheios de reviravoltas - ao invés dessas adaptações livres e sem sentido?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

Um Feliz Natal para todos aqueles que curtem as boas histórias que permeiam a história da humanidade desde o seu início.

Aproveitem para saber um pouco mais sobre esse bom velhinho que já faz parte das tradições natalinas em quase todo o mundo!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O inferno de Perseu

Saiu o trailer do filme Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012). Vejam:



Ao som de Sweet Dreams (música de Eurythmics, cantada por Marilyn Mason), vemos o cabeludo Perseu enfrentando criaturas que cresceram em tamanho e número de dentes! Como ele terá que ir ao Inferno enfrentar Hades e os Titãs, isso é compreensível. É possível ver um ciclope, o retorno de Pégaso, a nova Andrômeda loira, um bicho chifrudo com cara de demônio, um monstro gigante de lava, uma criatura alada com duas cabeças e um guerreiro infernal com dois corpos (hã?). No meio ainda vemos Zeus e Ares, mas e esse novo amor com a agora Rainha Andrômeda? Ele não a desprezou no fim do primeiro filme para ficar com Io?


Fiquei ansioso por março de 2012. Enquanto isso, vou me preparando para a estréia de Imortais (Immortals, 2011) no próximo final de semana em território tupiniquim!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CORREÇÃO: A mitologia na Mesopotâmia

Em uma rápida pesquisa pela internet, vocês verão que a Babilônia era ou uma cidade, capital da Suméria, ao sul da Mesopotâmia, ou um zigurate (templo ao deus Marduk) com belíssimos jardins suspensos. Mas, na verdade, foi um império formado por vários povos que vivam na região. Sendo assim, estou corrigindo as lupas de Mitologia Babilônica e Mitologia Sumérica, por considerar que ambas são redundantes. A partir de agora, elas serão unidas na lupa de Mitologia Mesopotâmica.

A torre de Babel, pintura de Pieter Bruegel que representaria a Babilônia.

Acredita-se que as primeiras civilizações surgiram na região entre os rios Tigre e Eufrates, na Ásia Ocidental, por volta de 5000 a.C. A essa região deu-se o nome de Mesopotâmia (em grego, "entre rios"). A terra fértil  deste planalto de origem vulcânica foi a responsável pelo estabelecimento de inúmeros povos nômades, como os sumérios, os acadianos, os amoritas, os assírios, os babilônicos, os hititas, os cananeus, os persas, entre outros. Lá construíram cidades, fundaram religiões e inventaram a escrita.


Os registros mitólogicos mais antigos da região (suméricos e acadianos) apresentam um mundo mais harmônico com deuses antropomorfizados que representavam as mais poderosas entidades da natureza. Os mais tardios (assírios e babilônicos) já levantam indagações sobre a vida, sobre a imortalidade, os desastres naturais e as guerras. O Império Persa incorporou a dualidade bem / mal aos mitos plurais da região.

Dessa forma, histórias diferentes sobre a criação e sobre as divindades chegaram até os dias de hoje. Muitas das placas de barro onde os mitos foram registrados se perderam ou foram danificadas, deixando alguns deles incompletos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Mudanças em filmes mitológicos

Dois filmes "mitológicos" tem mudanças à vista.

Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012) tem uma mudança de visual: o Perseu de Sam Worthington não terá mais cabelos curtíssimos, com jeito de raspado. As madeixas cresceram. E a sinopse fala em Hades e Ares se unindo ao titã Cronos para sequestrar Zeus, fazendo o herói semideus descer ao Mundo Subterrâneo para salvá-lo e impedir a destruição da Terra pelos monstros do Tártaro. Acho interessante que o roteiro finalmente inclua os Titãs do título do filme (mesmo que se pareça com as histórias de Percy Jackson!).


E a sequência do filme do Thor anda com alguns problemas na direção. Kenneth Branagh, diretor do primeiro filme, alegou problemas de agenda para o segundo. Uma nova diretora foi escolhida (Patty Jenkins), mas já pediu pra sair por causa de "diferenças criativas". Mesmo que ambos tenham saído de forma amigável, essa situação mostra certa complicação da Marvel. Detalhe: o filme do deus do trovão tem ligação com os outros filmes da editora e ainda nem tem roteiro! A data prevista é novembro de 2013 e, até lá, muita especulação surgirá.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Canto de Oxum

Prestando homenagens a Oxum em seu dia (8 de dezembro), ouçam Canto de Oxum, de Toquinho e Vinícuis de Moraes:
Nhem-nhem-nhem / Nhem-nhem-nhem-xorodô / Nhem-nhem-nhem-xorodô / É o mar, é o mar / Fé-fé xorodô...
Xangô andava em guerra, / Vencia toda a terra, / Tinha ao seu lado Iansã / Pra lhe ajudar.
Oxum era rainha, / Na mão direita tinha / O seu espelho onde vivia / A se mirar.
Quando Xangô voltou, / O povo celebrou. / Teve uma festa que / Ninguém mais esqueceu.
Tão linda Oxum entrou, / Que veio o rei Xangô / E a colocou no trono / Esquerdo ao lado seu.
Iansã apaixonada / Cravou a sua espada / No lugar vago que era / O trono da traição.
Chamou um temporal / E no pavor geral / Correu dali gritando / A sua maldição (Epahei Iansã!)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Consequências da crise na Grécia...

  • Lula recomenda demissão de Zeus e indica Zéus Dirceu para o cargo. Zeus, então, vende o seu trono para uma multinacional coreana.
  • Depois de ser presa por transformar pessoas em pedras para vender na Cracolândia, Medusa faz trabalho comunitário na ala dos ofídios em um zoológico local.
  • Narciso vende seus espelhos para pagar a sua dívida do cheque especial.
  • Aquiles vai tratar o seu calcanhar no SUS.
  • Eros e Pan inauguram um prostíbulo.
  • Hércules suspende os seus 12 trabalhos por falta de pagamento.
  • O Minotauro está puxando carroça para ganhar a vida.
  • Acrópole é vendida e em seu lugar é inaugurada uma farmácia.
  • Afrodite teve que montar uma banquinha de produtos afrodisíacos para pagar as contas, enquanto estuda a possibilidade de posar nua para a Playboy.
  • Sócrates inaugura Cicuta's Bar para tentar ganhar uns trocados.
  • Dionísio vende seus vinhos na beira da estrada de Marathónas.
  • Hermes está entregando o currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.
  • Caronte anuncia que a partir da próxima semana passará a aceitar o bilhete único.
  • Ilha de Lesbos abre resort hétero.
  • Para economizar energia, Diógenes apaga sua lanterna.
  • Oráculo de Delfos vaza números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.
  • Ares foi pego em flagrante desviando armamento para a milícia carioca.
  • Sócrates, Aristóteles e Platão negam envolvimento na rebelião da USP: "Estamos na pindaíba, mas ainda não descemos a esse ponto".
  • A caverna de Platão está abrigando milhares de sem teto.
  • O porquê da crise? Os economistas estão falando grego!

Uma piadinha para compensar minha ausência nos últimos tempos...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Kratos em quadrinhos

A Panini Comics lançou neste mês o encadernado God of War, incluindo as edições 1 a 6 dos quadrinhos americanos, com 148 páginas, roteiro do lendário Marv Wolfman e arte de Andrea Sorrentino. Se você ainda não conhece a saga de Kratos, leia este post antes.

A história se passa em dois momentos: inicia-se logo após ele ter se tornado o novo Deus da Guerra e mostra lembranças de um período quando Kratos ainda era guerreiro espartano. Esses momentos são conectados pela mesma jornada, encontrar a Ambrosia de Esculápio capaz de curar qualquer doença... até mesmo ressuscitar deuses.

No presente, o Fantasma de Esparta enfrenta criaturas demoníacas e gigantes mitológicos para atingir seus objetivos. No passado, ele está, na verdade, participando sem saber de um torneio mortal tramado pelos deuses.

Leitura mais interessante para os fãs do jogo, mas com uma ótima representação de um hecatônquiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

As últimas da mitologia por aí

A Warner Bros. parece bem confiante com o sucesso da sequência de Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010) - que estréia em março de 2012. O estúdio já contratou os roteiristas para o próximo filme! Isso mesmo... uma trilogia desponta no horizonte grego!

E falando em filme com a mitologia grega, Imortais (Immortals) estreiou esta semana nos EUA. Só chega dia 23 de dezembro no Brasil, mas vejam uma violentíssima e estilizada cena com os deuses Zeus, Ares, Poseidon, Afrodite e Apolo descendo para decapitar e sangrar.




Lembrando que esse filme é sobre Teseu, então, um Minotauro não poderia faltar, certo? Mas parece que a criatura não é exatamente o que conhecemos: deve ser um homem mascarado.

E depois de toda essa violência grega, ainda temos o jogo Asura's Wrath, que lançou um vídeo de jogabilidade onde vemos o anti-herói distribuindo pontapés e cabeçadas em divindades hindus... sem os dois braços!



Ai!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Guaraná


Uma lenda conta que um casal de nativos pertencente a tribo Maués vivia junto por muitos anos sem ter filhos mas desejava muito ser pais. Um dia eles pediram a Tupã para dar a eles uma criança para completar aquela felicidade. Sabendo que o casal era cheio de bondade, o deus lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo e inteligente menino chamado Alupá.

A partir de seu nascimento, os Maués venciam todas as guerras, as pescas eram ótimas e a doença era rara. Eles acreditavam que o bem-estar da tribo vinha do bonito e generoso curumim e, por essa razão, ele era o mais protegido de todos.

Porém, qualidades tão boas despertaram a inveja e o ódio de Jurupari, uma entidade do mal, que tomou a forma de uma serpente e deu um bote certeiro em Alupá, quando ele colhia frutos na floresta. A tribo entrou em lamentação e desespero. Trovões ecoaram nos céus.

Pintura em seda de Laila Bastos Andrade Guimarães
Tupã atendeu a todo aquele lamento e pediu que a tribo plantasse os olhos do curumim e os regasse com lágrimas durante 4 luas. Deles nasceria uma planta que daria força aos jovens e revigoraria os velhos, trazendo a felicidade de volta. Os pajés não duvidaram e fizeram o ordenado. Nasceu, então, uma nova planta com hastes escuras e sulcadas como os músculos dos guerreiros da tribo. Quando ela frutificou, seus frutos eram de negro azeviche, envoltos de um arilo branco com duas cápsulas de cor vermelho-vivas, que os nativos diziam ser "os olhos do príncipe". Era o Guaraná (do tupi wara’ná).

Outra lenda diz que existiam três irmãos: Okumáató, Ikuamã e Onhiamuaçabê, que era mulher solteira e cobiçada por todos os animais da floresta, causando ciúmes aos irmãos que a queriam sempre como companhia por causa dos conhecimentos que possuía sobre plantas medicinais. Certo dia, uma cobra ficou à espreita no caminho da "índia" e a tocou levemente em uma das pernas, engravidando-a. Mais tarde, nasceu um curumim bonito e forte. Na idade de entender as coisas, o curumim ouviu da mãe que, ao senti-lo no ventre, plantara para ele uma castanheira no Noçoquém (lugar sagrado onde ficavam todos os animais e plantas úteis), mas que seus irmãos tomaram o terreno e a expulsaram por causa da gravidez. O curumim, então, decidiu comer as castanhas, mas o lugar estava sob a guarda da cutia, da arara e do periquito – que avisaram aos irmãos. No dia seguinte, quando o pequeno curumim voltou, seus tios o esperavam para matá-lo. Pressentindo a morte do filho, Onhiamuçabê correu para defendê-lo, mas o curumim já havia sido decapitado. Desesperada, sobre o cadáver da criança jurou dar continuidade à sua existência. Arrancou-lhe o olho esquerdo e o plantou na terra. O fruto desse olho não prestou: era o guaraná-rana (guaraná falso). Em seguida, arrancou-lhe o olho direito e deste nasceu o verdadeiro guaraná. E como o sentisse vivo ainda, exclamou: “tu, meu filho, serás a maior força da natureza; farás o bem a todos os homens e os curarás e livrarás das doenças”.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Saci

O Saci de Ziraldo.
Dia 31 de outubro é conhecido mudialmente como o Dia das Bruxas, mas aqui no Brasil também é o Dia do Saci.

Famoso por aprontar com todo mundo, o Saci é uma entidade fantástica brasileira que tem sua origem em mitos tupi-guarani. Os tupis contavam a história de Matitaperê, um curumim perneta de cabelo-de-fogo que protegia as florestas. Sua função era de guardião das sabedorias e técnicas de preparo e uso de beberagens e medicamentos feitos a partir de ervas medicinais. A ele também era atribuído o domínio das matas e costumava confundir as pessoas que não pediam a ele a autorização para a coleta destas ervas. Já os guaranis falavam de Cambai (ou Cambay), um pequeno "índio" de perna torta (viria daí a expressão "cambaio", que significa manco) com o poder de se tornar invisível, que vivia nos bosques e protegia os animais, escondendo-os dos caçadores.

A ave saci (Tapera naevia)
Alguns crêem que ele ou é filho do Curupira ou um mistura de lendas entre esses seres. Alguns o identificam como um pequeno pássaro de mau agouro que pula numa perna só, o Saci, e seu nome seria uma onomatopéia do pio desta ave. Feiticeiros e pajés se transformam nesse pássaro para se transportarem de um lugar para outro e exercerem suas vinganças.

O píleo.
Os colonizadores portugueses achavam que o Saci era um duende idealizado pelos nativos brasileiros como um apavorante guardião das florestas que perturbava o silêncio da mata com assovios estridentes e encantava crianças e adultos. Carregava um bastão mágico, como uma varinha de condão. Como foi difícil encontrar um nativo brasileiro com cabelos vermelhos, os portugueses acharam que ele na verdade usava um píleo, um chapéu cônico muito usado na Europa ou o barrete frígio, símbolo da liberdade adotado pelos republicanos franceses que lutaram pela queda da Bastilha, em 1789.

Quando os escravos africanos chegaram ao Brasil, a lenda do Saci foi mesclada às histórias sobre os povos Pigmeus. Assim, o Saci tornou-se o negrinho travesso com uma perna só que todos nós conhecemos: vivia fumando cachimbo e usava um gorro vermelho mágico capaz de transformá-lo em um redemoinho de vento. Ele se faz anunciar por um assobio estridente. Ainda é dito que possui orelhas pontudas, olhos alaranjados e mãos furadas.

Suas travessuras favoritas são perseguir viajantes pedindo fumo ou criando armadilhas, esconder objetos domésticos e espantar o gado. Também gosta de montar em cavalos para trançar a crina e o rabo, e surra-los até a exaustão. As galinhas costumam ser suas vitimas: gosta de jogá-las pra cima e chacoalhar os ovos até gorarem. Mas o Saci não atravessa água corrente.


Essas características o fizeram ser sincretizado com o Capeta, dando a ele medo de imagens de santos e rosários. Rezando um credo, a entidade desapareceria numa fumaça vermelha para sempre. Mas o Saci nunca foi uma entidade maldosa, somente brincalhona. Em alguns lugares, como às margens do rio São Francisco, adquiriu duas pernas e a personalidade de um demônio rural que gosta de enganar pessoas. É o famoso Romão ou Romãozinho. Na zona fronteiriça ao Paraguai, ele é um anão loiro do tamanho de um menino de 7 a 8 anos, que gosta de roubar criaturas dos povoados e largá-las em lugar de difícil acesso.

Existem duas formas de se capturar o Saci: pegando seu gorro mágico ou prendendo-o em uma garrafa quando ele está transformado em vento. Essa segunda opção lembra as histórias sobre os gênios arábicos, uma vez que, capturado, o Saci passa a receber ordens de seu dono.

Em 1917, Monteiro Lobato propôs a abertura de um inquérito sobre a existência do Saci-Pererê. Através do jornal O Estado de São Paulo, pediu aos leitores que enviassem cartas contando suas experiências sobre o mito do Saci-Pererê. Esse material rendeu o livro O Sacy-Pererê, resultado de un inquérito. Em 1921, Monteiro Lobato popularizou a lenda ao escrever o livro O Saci, onde Pedrinho consegue capturar o negrinho. Em troca de liberdade, ele leva o menino para uma aventura, onde conhece outros seres míticos brasileiros. O sucesso da publicação transformou o Saci em um personagem de seu Sítio do Pica-pau Amarelo.

Ilustração de José Wasth Rodrigues para a capa do "Inquérito" e nanquim de Monteiro Lobato para o livro "O Saci".

É ainda chamado de Maty, Matin, Matinta-Pereira, Mati-Taperê, Taperê, Yaci-Yaterê e Sá Pereira.

A MANUTENÇÃO DA LENDA
No final dos anos 1990 um grupo de pessoas, preocupadas com a quase extinção do saci, criou a Ancsaci, Associação Nacional dos Criadores de Saci. Sediada em Botucatu (SP), e tendo como patrono Monteiro Lobato, partia do princípio de que cada vez que você conta uma história de saci para uma criança, você está criando um novo saci, e assim ele se perpetua. O movimento se expandiu nos meios acadêmicos, propícios a embates culturais. Em Botucatu, teve Festival Nacional do Saci, que acontece todo mês de agosto. Em outras cidades foram criados núcleos de defesa do folclore, envolvendo educadores, artistas e simpatizantes. Várias escolas, ocupadas pela invasão do Halloween, de origem americana, fizeram ações de recuperação do saci, com bons resultados.

Em 2003 foi fundada a Sosaci – Sociedade dos Observadores de Saci, no município de São Luiz do Paraitinga (SP), que criou o Dia do Saci, sendo seguido por outros, no dia 31 de outubro (data do Halloween) como data de combate aos estrangeirismos, simbolizado pelo simpático perneta.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um Percy egípcio?

Rick Riordan está uma máquina de fazer livros adolescentes de mitologia! O autor da série de Percy Jackson – que já está na segunda fase – também investiu na mitologia egípcia nas Crônicas dos Kane. A sinopse do primeiro livro, A Pirâmide Vermelha, é:
Desde a morte de sua mãe, Carter e Sadie viveram perto de estranhos. Enquanto Sadie viveu com os avós, em Londres, seu irmão viajava pelo mundo com seu pai, o egiptólogo brilhante, Dr. Julius Kane. Uma noite, o Dr. Kane traz os irmãos juntos para uma experiência de “pesquisa” no Museu Britânico, onde ele espera para acertar as coisas para sua família. Ao contrário, ele liberta o deus egípcio Set, que expulsa-lo ao esquecimento e forças das crianças a fugir para salvar suas vidas. Para detê-lo, os irmãos embarcam em uma perigosa viagem em todo o mundo – uma busca que traz os cada vez mais perto da verdade sobre sua família e seus vínculos com uma ordem secreta que existiu desde o tempo dos faraós.

Apesar da presença de deuses, esse livro parece ter um estilo mais aventureiro, Indiana Jones, Tomb Raider. No entanto, a Editora Intrínseca já lançou o segundo volume – O Trono de Fogo – com uma sinopse que o aproxima dos poderes adolescentes percyanos:
Os deuses do Egito Antigo foram libertados, e desde então os irmãos Carter e Sadie Kane vivem mergulhados em problemas. Descendentes da Casa da Vida, ordem secreta que remonta à época dos faraós, os dois têm poderes especiais, mas ainda não os dominam por completo. Refugiados na Casa do Brooklin, local de aprendizado para novos magos, eles correm contra o tempo. Seu inimigo mais ameaçador, Apófis, está se erguendo, e em poucos dias o mundo terá um final trágico. Para terem alguma chance de derrotar as forças do caos, precisarão da ajuda de , o deus sol. Despertá-lo não será fácil: nenhum mago jamais conseguiu. Carter e Sadie terão de rodar o mundo em busca das três partes do Livro de Rá, para só então começarem a decifrar seus encantamentos. E, é claro, ninguém faz ideia de onde está o deus.

Apófis... Cronos... vai dizer que não encontrou alguma semelhança só de ler as sinopses? Bom... o que importa é que esses livros são uma nova porta de entrada para adolescentes nas histórias mitólogicas, agora as do fascinante Egito. Já andei vendo algums críticas falando que essa série tem uma narrativa bem mais interessante por seu teor aventureiro.

Aproveito para dizer que o segundo filme de Percy Jackson – que será baseado no livro O mar de monstros – já está marcado para março de 2013.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Apsu

Apsu era o deus primevo das águas doces e da Água Celestial da Sabedoria. Suas águas circundavam a terra, enchendo-a com bondade e otimismo. No entanto, a Terra – uma ilha comprida flutuante – era também circundada pelo oceano salgado e amargo da deusa-dragão Tiamat. Apsu fundiu-se, então, a deusa e se tornou seu consorte.

Da mistura fermentada dessas águas, diversos deuses e deusas nasceram, entre eles Anu e Ea, que rapidamente assumiram o controle das ações divinas. Não muito satisfeito com isso, Apsu declarou guerra a esses deuses, mas foi morto por Ea e sepultado no subterrâneo.

Como um ser divindo primordial, Apsu continuou brotando do subterrâneo em forma de fontes de água doce que borbulhavam na superfície da Terra. Diz-se que, da lama gerada por suas águas, o homem foi moldado.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Orixás em quadrinhos

Penetre o universo de Olodunmaré, os caminhos de Omulu, as estratégias de Ogum e a generosidade de Oxóssi. A editora Marco Zero lançou o álbum Orixás - Do Orum ao Ayê, que retrata a criação do mundo segundo a mitologia africana, com o nobre objetivo de difundir uma cultura que tem muitas ligações com a nossa.

Dividida em cinco capítulos recheados de narrativas arrojadas, essa HQ traz ao público histórias que apenas eram partilhadas por quem frequenta os lugares sagrados em que se cultuam os orixás. A arte de Caio Majado conecta o Ayê (o mundo físico) e o Orum (a morada dos deuses), transformando os orixás em meio deuses, meio super-heróis.

Me parece uma bela introdução a este vasto mundo.

sábado, 8 de outubro de 2011

A fúria de Asura

Nem só de mitologia grega vive o mundo dos games... Kratos (da série God of War) deve ganhar um concorrente oriental: Asura's Wrath é o nome do novo jogo da Capcom, que parece se basear na mitologia hindu.

No jogo, o personagem principal é Asura, um deus de seis braços desprovido de seus poderes e traído pelos antigos companheiros, precisa recuperar as antigas habilidades e vingar-se dos demais deuses do Oriente. No entanto, ele não estará sozinho, contando com uma poderosa divindade para auxiliá-lo em sua jornada que vai do passado ao futuro.



Lutar contra deuses de proporções planetárias é meio exagerado, não?

Bom... Asuras eram antideuses na mitologia hindu. Inicialmente, eram poderosos deuses védicos considerados materialistas, pecadores e malignos. Eles disputaram o soma (elixir da imortalidade) com os Devas e perderam. Com o surgimento da dualidade bem/mal, os Asuras foram relacionados a demônios. Em certos casos, Asuras e Devas trabalhavam juntos por um bem comum e, por essa razão, nem sempre eles eram considerados maus, mas um caminho alternativo. Alguns asuras, inclusive, foram incorporados ao panteão hindu, como Varuna e Mitra.

Em alguns aspectos, os asuras poderiam ser relacionados aos Titãs gregos ou os gigantes nórdicos, seres primordiais que abraçavam características mais selvagens. Na tradição semita-cristã, eles poderiam ser caracterizados como anjos caídos.





Máscara artesanal de um asura.

domingo, 2 de outubro de 2011

Para crianças

Saiu hoje no Globinho, uma pequena nota sobre o lançamento do livro Histórias greco-romanas, de Ana Maria Machado com ilustrações de Laurent Cardon (2011, Editora FTD).

Minotauros em ação, rapaz virando flor, tecelã se transformando em aranha, labirintos, palácios... Histórias de amor e muitas aventuras de autores gregos e romanos são recontados por Ana Maria. Tem Hermes, Dédalo e Ícaro, Teseu, Ariadne, Eco, Narciso, Eros, Aracne e muio mais.

É uma ótima forma de introduzir a mitologia no mundo infantil. O livro é recomendado para crianças a partir do 4º ano fundamental (8/9 anos).

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Xipe Totec


Filho de Ometeotl, Xipe Totec era o misterioso deus das plantas, da agricultura, da primavera e das estações do ano, símbolo da morte e do renascimento da Natureza. Dizia-se que ele se esfolava para dar de alimento aos humanos, assim como o milho perde suas casca antes de cair na terra e se tornar uma semente ou como as cobras que trocam de pele.

Estátua de cerâmica
Protetor dos ourives e do ponto cardeal Oeste, foi um dos quatro deuses criadores astecas – junto a seus irmãos Teacatlipoca, Quetzalcoatl e Huitzilopochtli. Por sua aparência sempre cheia de feridas e pele ensanguentada e descascada, alguns acreditavam que ele era o responsável por guerras e doenças (pragas, cegueira, feridas, tumores, bolhas etc.). Mas quando estava com sua pele nova, brilhava como ouro. Frequentemente era representado com listras verticais descendo da testa até o queixo. Carregava um escudo amarelo e um recipiente cheio de sementes.

Era também chamado de Senhor dos Esfolados e Deus das Torturas, porque, em suas festas, as vítimas eram esfoladas vivas e depois sacrificadas. A pela retirada era usada como um casaco pelos sacerdotes por 20 dias até apodrecer e cair, num sinal de vida nova na primavera. Muitos astecas guardavam a pele apodrecida acreditando em suas propriedades curativas.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Deuses numa praça próxima a você!

Recebi esta semana uma matéria que teria saído no jornal O Globo de sábado sobre a arquiteta Vera Dias, referência no patrimônio público quando se fala nos 710 monumentos e chafarizes da cidade do Rio de Janeiro – que ela sabe de cor onde estão todos! Na foto de Marco Ramos (ao lado), vemos a arquiteta com as estátuas de Mercúrio (Hermes), Minerva (Atena) e Marte (Ares), na Praça Noronha Santos, na Cidade Nova.

Imaginem quantos outros não devem estar por aí numa praça próxima a você!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Medalhas da vitória

Nesta segunda-feira, foi lançada as medalhas dos Jogos Paraolímpicos em Londres 2012. Quem venceu o concurso de criação das medalhas com cerca de 100 designers, foi a chinesa Lin Cheung que teve como inspiração a deusa grega da vitória, Niké – isso mesmo, a da marca esportiva e irmã do Cratos mitológico, não do videogame.


 

Um dos lados da medalha representa o que seria a asa da escultura que está exposta no Bristish Museum (o original da peça, esculpida entre 425 e 421 A.C, fica no Museu Olímpico, na Grécia). O outro lado parece um tecido drapeado.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vodyanoi

Os vodyanoi são seres (ou espíritos) masculinos hostis que vivem no fundo de lagos. São descritos como rãs do tamanho de focas com face humana ou como homens envelhecidos com barba esverdeada, cabelo comprido e ralo, corpo coberto de limo, algas e escamas negras, patas membranosas no lugar de mãos, cauda de peixe e olhos que queimam como carvões em brasa. Alguns contos chamam os vodyanoi de "povo do mar" ou "povo-peixe". Acredita-se que eles dividiam-se em castas de guerreiros e sacerdotes.

Esses seres também são acusados de serem os responsáveis pela destruição de represas e moinhos d'água. Pescadores, moleiros e apicultores fazem sacrifícios para apaziguá-los, colocando uma pitada de tabaco na água e dizendo "Eis aqui seu tabaco, Senhor Vodyanoi, agora dê-me um peixe".

Eles raramente vêm em terra, mas quando o fazem é para arrastar viajantes incautos para seu palácio de cristal aquático decorado com partes de barcos naufragados. Os humanos ou morriam afogados ou se tornavam seus escravos, passando a respirar debaixo d'água.

Nos contos tchecos, os afogados morrem e o vodník guarda suas almas em potes de porcelana que eles consideram sua riqueza. Caso um pote se abra, a alma escapa em forma de bolhas. Não há menção de uma habitação especial. Seus únicos servos são peixes.

"Vodyanoi" significa "aquático" e, em muitas línguas, é a palavra para o signo de Aquário. Também ser escrito vodnik, wodnik, vadzianik e vodenjak.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

God of War - A saga!


O site Tech Tudo da Globo trouxe uma máteria de Ingo Müller contando o enredo da série de jogos God of War que eu reescrevo aqui. O primeiro episódio saiu em 2005 e se transformou em um dos maiores jogos da Sony Computer Entertainment. No jogo, você é Kratos e vive uma saga de vingança em meio à mitologia grega. Confira a seguir a história que temos até aqui (cheia de spoilers):

Deimos
O início da história
Profecias antigas previam que o crepúsculo dos deuses gregos ocorreriam pelas mãos dos furiosos Titãs. Porém, segundo a visão de um oráculo, o fim do Olimpo se daria pelas mãos de um mortal. O soberano Zeus acreditava que este mortal seria o guerreiro Deimos, por conta de suas estranhas marcas de nascença. O jovem Deimos era irmão de Kratos e ambos treinavam para fazer parte do exército espartano, uma organização militar conhecida pela sua tenacidade.

Então, Deimos foi repentinamente sequestrado pelo deus da guerra Ares. Kratos tentou impedir o rapto, mas sofreu uma derrota que deixou marca em seu olho esquerdo. Deimos foi levado para o reino da morte para ser torturado por Thanatos, o deus da morte em pessoa. Acreditando que seu irmão estava morto, Kratos fez uma série de tatuagens vermelhas, imitando as marcas de nascença de Deimos. Os anos passaram, e Kratos se tornou um jovem imbatível e sanguinolento capitão do exército espartano.

Encurralado durante a campanha contra uma horda de bárbaros, Kratos estava prestes a ser morto quando evocou o nome de Ares, rogando força para destruir seus inimigos em troca de servidão ao então deus da guerra. Ares fez a sua parte, e permitiu que Kratos liberasse um ciclone de destruição, rechaçando seus inimigos. Porém, o preço do poder veio junto com o ônus: a partir daquele momento, o mortal estava acorrentado para sempre às Lâminas do Caos (presas em seus braços por correntes em brasa), símbolo de seu poder e de sua servidão.



Fantasma de Esparta
Kratos passou a servir Ares com devoção, matando centenas em nome do olimpiano. Mas dedicação não era suficiente para o deus da guerra: ele queria uma máquina de matar focada, que o seguisse cegamente, o guerreiro perfeito. Para isto, precisava remover a ligação de Kratos aos demais mortais. Assim, Ares enganou Kratos e fez com que ele, cego pelo instinto assassino, tirasse a vida de sua própria mulher e filha, que estavam escondidas no Templo de Atenas localizado em uma vila castigada pelo combate. Percebendo a consequência de suas ações, Kratos renunciou a servidão a Ares, mas foi amaldiçoado pelo oráculo da vila a carregar a cor das cinzas dos mortos em sua pele.

Em busca de redenção, Kratos concordou relutantemente em servir outros deuses. Lutou em Ática contra a invasão do exército persa e evitou a tomada da cidade por um basilisco. No entanto, após a batalha, o mundo acabou coberto de trevas por conta do estranho desaparecimento do deus sol Helios.

As correntes do Olimpo
Sua nova missão do guerreiro passou a ser descobrir o paradeiro de Helios, colocando o personagem em rota de colisão com o titã Atlas e Morfeu, o deus do sono, sequestradores da divindade que pretendiam destruir o Pilar do Mundo. Kratos desceu ao Hades, o Submundo, para recuperar o Sol e enfrentou Caronte. Durante esta jornada, Kratos foi tentado pela deusa Perséfone, que habitava o Hades após ter sido abandonada por Zeus. A deusa possibilitou o encontro do espartano com sua falecida filha Calíope. Mas o espartano descobriu que a Rainha do Inferno era a verdadeira mentora por trás dos planos de destruição.

Forçado a escolher entre sua filha e os deuses, Kratos ficou com a segunda opção, matou Perséfone utilizando almas puras e acorrentou Atlas ao pilar do mundo. Com isso, foi separado definitivamente de sua filha.

Acertando as contas
Kratos chegou a derrotar a Hidra com um fragmento dos poderes de Poseidon. Mas, foi quando a cidade de Atenas estava sendo destruída por Ares e seus exércitos, que a deusa Atena recorreu a Kratos, dando-lhe a tarefa de matar o deus da guerra em troca do perdão por seus pecados. Porém, Kratos ainda era mortal, e para acabar com Ares ele precisaria de uma fonte adicional de poder, algo que pudesse derrotar até mesmo um olimpiano. Afrodite lhe deu o poder da petrificação depois que ele derrotou a Medusa; e Zeus o ensinou a controlar os raios. Em seguida, ele iniciou a busca pela lendária caixa de Pandora. Depois de passar por uma série de testes (entre harpias e sua quase morte no Tártaro), Kratos recuperou o artefato e derrotou Ares. Mas matar o deus trouxe pouca satisfação ao guerreiro, pois ele ainda era assombrado pelas visões de atos terríveis de seu passado. Por conta disso, Kratos resolveu acabar com o seu sofrimento pulando de um precipício.

Contudo, antes do fim da queda fatal, ele foi resgatado por Atena, que ofereceu o posto de deus da guerra ao espartano e suas lâminas de guerra. Kratos, então, passou a ocupar uma cadeira em meio aos deuses.



Em busca do passado
Nem mesmo o novo status divino conseguiu aplacar a angustia no coração do espartano. Contrariando os conselhos de Atena, Kratos decidiu se reconciliar com o passado e iniciou uma jornada até a Atlântida em busca de sua mãe, Calisto. Após derrotar Scylla, a encontrou já doente. Quando Calisto estava prestes a revelar a identidade de seu pai, ela foi transformada contra sua vontade em uma besta horrenda, e Kratos teve de matá-la, ficando sem as respostas que tanto desejou... mas conseguiu revelar que Deimos, seu irmão, ainda estava vivo!

Kratos partiu imediatamente ao encontro de seu irmão perdido, e no caminho libertou a titã de magma Thera de sua prisão em um vulcão sob Atlântida, o que resultou na destruição da cidade.

Kratos foi até os domínios da morte para localizar e libertar Deimos. Culpando-o pelo seu longo encarceramento, Deimos atacou seu irmão. Mas o confronto foi breve e logo os dois juntaram forças para enfrentar Thanatos e suas Fúrias. O deus matou Deimos, mas Kratos derrotou Thanatos. Novamente sozinho, o deus da guerra culpou os deuses por seu sofrimento e prometeu vingança.


Colosso de Esparta
Entediado com sua vida no Olimpo, Kratos auxiliava o exército de Esparta marchar sobre a Grécia, em detrimento das outras cidades que honravam outros deuses. A deusa Hera mandou o gigante Argos confrontá-lo, iniciando um complô para que Kratos perdesse moral no panteão. Alguns deuses mandaram Ceryx, filho de Hermes, pedir que ele parasse seus esforços de conquista, que poderiam resultar na destruição da Grécia. Kratos não deu ouvidos ao mensageiro e o matou, aguardando a retaliação.

Kratos se juntou ao exército espartano durante a batalha de Rodes, onde foi atacado pela gigantesca estátua que defendia a cidade. Para derrotar o colosso, Zeus o aconselhou Kratos a depositar todo seu poder na Espada do Olimpo. Após destruir o construto, Kratos foi engando por Zeus que, tomando a Espada do Olimpo, cravou a arma carregada na barriga do espartano. Nesse momento, Zeus revelou que é pai de Kratos com Calisto, tornando o guerreiro um dos semideuses bastardos. E Zeus, assim como seu pai Cronos, liquidou o filho que poderia destroná-lo.



Vingança e fúria
Sem vida, Kratos foi para o Submundo. De lá, aconselhado por Gaia, fugiu por pura determinação e desejo de vingança contra Zeus. Quando teve uma chance clara de matar o soberano do Olimpo com poderes de vários titãs, Atena absorveu o impacto do golpe e morreu. Furioso, Kratos iniciou uma campanha contra todos os deuses. Para sitiar o Olimpo, dominou as fiandeiras do destino e teceu uma nova trama do tempo, colocando-se no passado, durante a Titanomaquia, a batalha dos Titãs contra os deuses, vencida originalmente pelos habitantes do Olimpo. Agora aliado dos titãs, Kratos cavalgou Gaia, a própria terra, e conseguiu matar Poseidon e furar a primeira linha de defesa divina. Mas na luta com Zeus, Kratos e Gaia tombaram no Rio Estige.

Novamente sozinho, Kratos iniciou uma chacina, matando deuses, semideuses, heróis, titãs e mortais sem distinção. Cada inimigo tombado trazia consequências terríveis para o mundo, já que os deuses mortos respondem por aspectos importantes da vida na terra. Kratos continuava sua marcha de vingança até ser visitado pelo espírito de Atena, que transcendeu para uma existência superior, apoiando-o no crepúsculo dos deuses. Ela o guiou até a Chama do Olimpo, que tem o poder para destruir Zeus. Porém, a chave para a chama era Pandora, antiga proprietária da lendária caixa que deu poderes para o espartano matar Ares tempos atrás.

Redenção
Kratos precisou atravessar o labirinto de Dédalo para resgatar Pandora, com quem rapidamente desenvolve uma relação paternal. Este carinho pela garota fez com que Kratos começasse a hesitar ao perceber que apenas o sacrifício dela poderia domar a chama. Apesar dos protestos do guerreiro, ela concluiu seu propósito, permitindo que ele abrisse a caixa de Pandora e encontrasse um recipiente vazio...

Neste momento, Zeus atacou com a intervenção de Gaia. Os três começaram uma luta sangrenta, até que Kratos conseguiu empalar Zeus no coração da titã, que se desfez. Pensando que Zeus também estava morto, Kratos deu as costas, mas foi atacado novamente por ele, que o neutralizou em um combate mental. O espírito de Atena apareceu novamente, congratulando Kratos e exigindo que ele entregasse para ela a mais poderosa das armas, que ele retirou da caixa de Pandora para poder derrotar Zeus. Kratos argumentou que a caixa estava vazia. Até que se deu conta que Atena se referia à esperança, a última coisa retirada da caixa e que agora está nele.

Sabendo que o mundo não poderia ser governado por deuses ou entidades distantes, Kratos cravou a Espada do Olimpo no próprio corpo, permitindo que a esperança fosse libertada no mundo. Deu-se início, assim, a uma nova era, a Era dos Mortais, que reconstruíram a Terra arrasada graças a sua persistência e autonomia recém-conquistada.

Sequência
Toda essa história acontece nos seguintes jogos:
  1. God of War - Ascension, com fatos ocorridos logo após Kratos assassinar sua esposa e filha.
  2. God of War - Chain of Olympus, com Kratos em busca de Helio.
  3. God of War, com Kratos vs. Ares.
  4. God of War - Ghost of Sparta, o novo deus da guerra vai atrás de seu irmão no inferno.
  5. God of War - Betrayal, a última aventura de Kratos antes de enfrentar os deuses.
  6. God of War II, primeiro round de Kratos vs. Zeus.
  7. God of War III, segundo round de Kratos e os Titãs vs. Zeus e os Olimpianos.

A ordem de lançamento dos jogos é a seguinte:
  1. 2005: God of War para Playstation 2
  2. 2007: God of War - Betrayal para Celulares
  3. 2008: God of War II para Playstation 2
  4. 2008: God of War - Chain of Olympus para PSP
  5. 2010: God of War - Ghost of Sparta para PSP
  6. 2010: God of War III para Playstation 3
  7. 2013: God of War - Ascension para Playstation 3

Uma saga e tanto, não?
Importante dizer que esse anti-herói Kratos não faz parte da mitologia: ele é uma criação de David Jaffe para o Santa Monica Studios, interpretado pelo ator britânico Joseph Gatt (que fez a captura de movimentos do personagem) e dublado pelo americano Terrence Carson, que deu vida aos berros do herói. Para os gregos, Cratos era um titã, a personificação da força.

E preparem-se: um filme já vem sendo discutido em Hollywood!

Mais informações AQUI

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Kumush

Conhecido como Velho dos Antepassados, Kumush (Kmukamch) é o deus criador da tribo Modoc. Alguns diziam que utilizava uma máscara azul e possuía olhos nas mãos.

Kumush foi até o mundo dos espíritos, visitar sua filha já morta. Lá os espíritos dançam e cantam à noite, mas voltam a ser esqueletos de dia. Após passar seis dias e seis noites por lá, decidiu retornar com alguns dos espíritos. Colocou alguns ossos em um grande cesto e começou a longa subida de volta. Por duas vezes, tropeçou e alguns ossos caíram e voltaram a ser espíritos, gritando de felicidade por voltarem a descansar. Na terceira tentativa de subir, Kumush gritou que, quando eles vissem a maravilhosa terra criado por ele com um sol brilhante, eles jamais iriam querer voltar para o mundo dos espíritos. Quase chegando na saída, Kumush jogou o cesto para evitar qualquer tropeço e, assim, conseguiu voltar com sua filha e os ossos.

Selecionou, então, os ossos para cada tribo e os plantou no chão. Deles nasceu não só o povo Modoc, mas também os Shasta, os Klamath entre outros. Pediu aos rios e montanhas ao redor que cuidassem do povo Modoc, que seria seu protegido. Em seguida, Kumush começou a criar todas as coisas, nomeando-as e definindo suas funções. Para finalizar, fez uma casa no meio dos céus para morar com sua filha.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O estudo da própria consciência humana

Geralmente, o estudo da mitologia é considerado como inexpressivo devido à crença de que mitos são formas rudimentares de produzir conhecimento e que não são necessários em nossa vida moderna. O que é um erro, pois o estudo dos atributos das divindades fornece as bases para o estudo da própria consciência humana.

Os mitos se expressam através de símbolos e metáforas representando temas abstratos, que muitas vezes não conseguimos traduzir perfeitamente em palavras. Antigamente transmitidos por poetas e sacerdotes, hoje o papel da produção dos mitos pertence aos escritores que recriam o sentido da vida em contos modernos.

Este é o início da postagem "Invocando os deuses", do dia 25 de agosto, de Marcelo Del Debbio em seu blog Teoria da Conspiração. A importância dos mitos é bem maior do que se imagina hoje em dia. Talvez apenas profissionais das áreas de história, arqueologia, psicologia e afins que tenham essa noção: conhecer mitologia é conhecer a humanidade.

Del Debbio é também o autor da Enciclopédia de Mitologia de 640 páginas, com mais de 7 mil verbetes e 900 ilustrações! Ela traz elementos das mitologias grega, romana, egípcia, indiana, árabe, chinesa, japonesa, celta, nórdica, européia, polinésia, sulamericana, norte-americana, asteca, maia, inca, goécia e bíblica!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mitologia em quadrinhos digital e nacional!


O jovem nerd Társio viaja até Paraty para assistir a entrevista com seu ídolo na Flip (a famosa Feira Literária Internacional de Paraty), o quadrinista e escritor Noah Gaiman (Noah mesmo, e não Neil - o verdadeiro). Após a palestra, ele sofre uma desilusão amorosa e decide afogar as mágoas nas ótimas cachaças locais. Esse erro joga o jovem em uma série de eventos que ele jamais esperaria. Ele não consegue passagens para retornar ao Rio de Janeiro, onde mora, e não tem dinheiro para se hospedar na cidade. Sua única alternativa é um misterioso indivíduo que habita naquelas paragens, o sombrio Luiz Pinga. Mas, como um demônio, Luiz não presta favores sem uma contrapartida a altura. Társio se vê envolvido numa trama sobrenatural que vai muito além de toda a realidade. A trama envolve mitologias, magia e mistério e o destino dos próprios deuses.

Essa é a sinopse da revista em quadrinhos digital Mitologias, produzida por Luiz Augusto de Souza (roteiro e desenhos), Ulisses Teixeira (roteiro), Leonardo Bartolo (roteiro), Regina Alonso (capista) e Giu Alonso (revisão e produção editorial) – ou seja, produto 100% nacional! A revista sai pelo selo Atitude Independente dos roteiristas, que busca ser uma alternativa na produção e distribuição on line de quadrinhos gratuitos para entretenimento e diversão. Até agora são três edições, mais a edição #0 que funciona como uma preparação para o clima mitológico. Você pode ver as capas ao lado. Prestigiem essa iniciativa e mergulhem nesse novo universo mitológico!

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tapio

Tapio era o grande patriarca dos deuses das florestas na mitologia finlandesa. Uma lenda conta que Tapio teria sido a primeira árvore. Era casado com a Mielikki, a Dama das Florestas, com quem teve Nyyrikki e Tuulikki.

Apesar de ser chamado de Rei Urso (talvez se transformasse nesse animal), Tapio é descrito tendo um corpo verde humanóide, com barba e sobrancelhas de líquen e musgo, e chifres de gravetos na cabeça. Diz-se que se cobria com um manto de folhas para camuflagem.

Vivia rodeado pelas divindades dos bosques, a quem os habitantes adoravam a fim de garantir o êxito nas caçadas. Algumas vezes, Tapio era considerado mortal: quando alguma floresta ou bosque era violado, ele escurecia o local e sufocava até a morte as pessoas que degradaram a natureza.

O antigo nome da Finlândia, Tapiola, vêm de seu nome.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Deus sustentável

Nada de ouro, marfim ou diamantes. No mundo moderno, os deuses vão ter que se contentar em ganhar esculturas de materiais ecológicos. Foi isso que fez artista indiano Surya Prakash: construiu uma estátua da divindade hindu Ganesha com copos de papel.

Foto: Noah Seelam – France Presse

A homenagem foi feita para o festival do deus, que acontecerá no dia 1º de setembro.

(Matéria da Folha de São Paulo)