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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Sem perdão

Meus comentários sobre as insanidades proferidas pelo pastor Silas Malafaia estão no meu blog Philos+Hippos. Mas venho aqui novamente deixar claro que repudio manifestações de ódio e sou a favor da liberdade de crença religiosa. Este blog tem um objetivo quase histórico de apresentar as questões de fé que permeiam a humanidade e sente pena de religiões que desrespeitam a própria cultura.

Por essa razão, trago as palavras do antropólogo e sociólogo Renato Kress, que concordo e assino embaixo:
Lamento (de verdade) informar a muitos religiosos, mas a Bíblia foi escrita pela junção de tradições orais (quem conta um conto...) de povos tribais, sobre a revisão de um imperador romano, Constantino, e de um bispo, Irineu, que mandou incendiar os evangelhos dos quais ele não concordava, junto com os representantes desses evangelhos, que eram muito mais do que 4. Isso aconteceu no Concílio de Nicéia (dúvidas, "Google"). Depois disso ela foi reescrita e reeditada várias vezes por monges na Idade Média.

Não me basearia na Bíblia para nada, porque sei que, naturalmente, suas incoerências internas são fruto da costura de várias "coerências" diversas que passaram por ali ao longo de séculos.

Pessoalmente creio em Deus, sim. Assim como creio na vinda de Jesus e na missão que ele teve na terra. Por sinal também creio em Sidarta Gautama (Buda), Zoroastro, Martin Luther King Jr., Gandhi e Madre Teresa de Calcutá. Não vejo distinção entre eles porque me atenho ao que todos têm em comum: a difusão do amor incondicional ao próximo e do respeito pela vida.

Para mim, qualquer palavra - dentro ou fora da Bíblia ou de qualquer outro livro sagrado - que destoe de "Amai ao próximo como a ti mesmo" é balela e jogo de poder, dominação e controle de pessoas de caráter pequeno utilizando de má-fé a influência e a força de pessoas de caráter gigantesco.
Ratifico que não questiono a fé de ninguém. Mas é preciso que todos entendam que as religiões e os livros religiosos são criações do homem e não criações de Deus, qualquer que seja Ele. As interpretações humanas distorcem a partir de benefício próprio.

Para justificar isso, trago algumas questões de uma carta irônica recebida pela internet. Parece-me que foi de um "fã" de uma pastora americana chamada Laura:
Obrigado por ter feito tanto para educar as pessoas no que diz respeito à Lei de Deus. Eu tenho aprendido muito com seu show, e tento compartilhar o conhecimento com tantas pessoas quantas posso. Quando alguém tenta defender o homossexualismo, por exemplo, eu simplesmente o lembro que Levíticos 18:22 claramente afirma que isso é uma abominação. Fim do debate.

Mas eu preciso de sua ajuda, entretanto, no que diz respeito a algumas leis específicas e como seguí-las:

a) Quando eu queimo um touro no altar como sacrifício, eu sei que isso cria um odor agradável para o Senhor (Levíticos 1:9). O problema é os meus vizinhos. Eles reclamam que o odor não é agradável para eles. Devo matá-los por heresia?

b) Eu gostaria de vender minha filha como escrava, como é permitido em Êxodo 21:7. Na época atual, qual você acha que seria um preço justo por ela?

c) Eu sei que não é permitido ter contato com uma mulher enquanto ela está em seu período de impureza menstrual (Levíticos 15:19-24). O problema é: como eu digo isso a ela? Eu tenho tentado, mas a maioria das mulheres toma isso como ofensa.

d) Levíticos 25:44 afirma que eu posso possuir escravos, tanto homens quanto mulheres, se eles forem comprados de nações vizinhas. Um amigo meu diz que isso se aplica a mexicanos, mas não a canadenses. Você pode esclarecer isso? Por que eu não posso possuir canadenses?

e) Eu tenho um vizinho que insiste em trabalhar aos sábados. Êxodo 35:2 claramente afirma que ele deve ser morto. Eu sou moralmente obrigado a matá-lo eu mesmo?

f) Um amigo meu acha que mesmo que comer moluscos seja uma abominação (Levíticos 11:10), é uma abominação menor que a homossexualidade. Você pode esclarecer esse ponto?

g) Levíticos 21:20 afirma que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver algum defeito na visão. Eu admito que uso óculos para ler. A minha visão tem mesmo que ser 100%, ou pode-se dar um jeitinho?

h) A maioria dos meus amigos homens apara a barba, inclusive o cabelo das têmporas, mesmo que isso seja expressamente proibido em Levíticos 19:27. Como eles devem morrer?

i) Eu sei que tocar a pele de um porco morto me faz impuro (Levíticos 11:6-8), mas eu posso jogar futebol americano se usar luvas? (as bolas de futebol americano são feitas com pele de porco)

j) Meu tio tem uma fazenda. Ele viola Levíticos 19:19 plantando dois tipos diferentes de vegetais no mesmo campo. Sua esposa também viola Levíticos 19:19, porque usa roupas feitas de dois tipos diferentes de tecido (algodão e poliéster). Ele também tende a xingar e blasfemar muito. É realmente necessário que eu chame toda a cidade para apedrejá-los (Levíticos 24:10-16)? Nós não poderíamos simplesmente queimá-los em uma cerimônia privada, como deve ser feito com as pessoas que mantêm relações sexuais com seus sogros (Levíticos 20:14)?

Eu sei que você estudou essas coisas a fundo, então estou confiante que possa ajudar. Obrigado novamente por nos lembrar que a palavra de Deus é eterna e imutável.

Seu discípulo e fã ardoroso.

Sinceramente... acho que não há mais nada a declarar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nu Wa e Fu Hsi

Pintura de Nu Wa criadora
A criadora Nu Wa (Nu Gua) era adorada como intermediadora de homens e mulheres e aquela que garante crianças. Inventou o assobio, instituiu o casamento e ensinou à humanidade a construir represas e canais de irrigação. Dizem que foi responsável pela reconstrução do universo e recolocação dos pontos cardeais após a devastação feita pelo monstro Gong Gong. Posteriormente, sua história se mesclou com a de Pan Ku.

O imperador Fu Hsi (Fu Xi) é considerado o fundador da China. Foi o primeiro rei (governando por mais de um século), estabeleu as primeiras leis (sobretudo as do casamento instituído por Nu Wa), inventou os nomes de clãs e famílias e fez o primeiro calendário. Grande inventor mostrou às pessoas como trabalhar os metais, domesticar animais, trabalhar a seda. Também construiu os primeiros instrumentos musicais e criou o primeiro sistema de escrita chinesa.

Fu Hsi e os trigrams,
pintura de Ma Lin (séc. XIII)
Fu Hsi tornou-se um héroi tão importante que alguns mitos o colocam como irmão e/ou marido de Nu Wa. Depois de um grande dilúvio, o único sobrevivente teria sido Fu Hsi, que teve seu corpo transformado em serpente por Nu Wa. Seus filhos foram as plantas e animais do mundo. Numa outra versão do mito, os irmãos Fu Hsi e Nu Wa sobreviveram ao dilúvio que ocorreu após a separação do Céu e da Terra e pediram permissão aos deuses ancestrais para criar uma nova humanidade a partir da terra molhada.

No entanto, existem muitos mitos que colocam Nu Wa como única criadora da humanidade e a Grande Mãe. Cansada da solidão, Nu Wa teria começado a criar os humanos a partir do barro. Percebendo que iria levar muito tempo para povoar a Terra, Nu Wa mergulhou uma corda na lama e espalhou gotas de lama por todas os lados. Dizem que aqueles que foram criados pelas mãos da deusa tornaram-se ricos e poderosos, enquanto aqueles que se formaram das gotas espalhadas são pessoas pobres e fracas.

Quando Nu Wa e Fu Hsi são representados juntos, suas caudas de dragão estão entrelaçadas. Nu Wa carrega uma bússola (símbolo da Terra) e Fu Hsi segura um esquadro (símbolo do Céu) e um painel com os oito tigrams da escrita chinesa.

Tecido com as representações de Nu Wa e Fu Hsi entrelaçados (séc. VIII)

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ungambikulas do Tempo do Sonho

Espíritos do Tempo do Sonho, pintura acrílica de Collen Wallace Nungari

A mitologia dos aborígenes australianos gira em torno do Tempo do Sonho. No início, a Terra era plana e escura. Não havia vida ou morte, sol, lua ou estrelas. Todos dormiam embaixo da Terra, junto aos ancestrais eternos. Um dia, o sol se levantou e todos os outros acordaram de sua eternidade para viajar por todo território, fazendo rios e planícies, andando como homens, animais, plantas ou seres híbridos, espalhando guruwari, a semente da vida.

Dois deles - os Ungambikulas, que haviam se criado a partir do nada - começaram a enxergar pessoas parcialmente criadas pelos ancestrais, que jaziam disformes, inacabadas, semitransformadas, híbridas de animais ou plantas. Então, com suas facas de pedra, a dupla começou a esculpir cabeça, corpo e membros terminando a obra. Por essa razão, acredita-se que todo ser humano possui um totem ou animal ou vegetal de onde foi esculpido.

Tudo finalizado, todos os ancestrais voltaram ao Tempo do Sonho. Alguns se transformaram em rochas e árvores para marcar o caminho sagrado que eles uma vez fizeram. O Tempo do Sonho não é só um período da história passada. Ele está sempre presente, manifestando-se em rituais sagrados. Sacerdotes tornam-se ancestrais nessas cerimônias para contar essas viagens pelo território australiano.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Temas recorrentes para a criação

Há semelhanças entre as muitas histórias que falam sobre a criação do universo e da humanidade, batalhas divinas, a destruição do cosmo, dilúvios, deuses ardilosos e aventuras heróicas. O que é dito como bem e mal difere de uma sociedade para a outra, mas todas as mitologias incluem seres que trazem dor e problemas às pessoas, assim como aquelas que as protegem e confrontam. Um monstro maligno será derrotado pela coragem, força e astúcia, onde as ações dos heróis e vilões servem para mostrar aos povos os benefícios de escolher entre o comportamento o bom e o mau, a recompensa e o castigo.

Em geral, os mitos da criação do mundo e do universo começam com o caos, uma escuridão vazia e infinita. Desse vazio surgem ou o criador primevo (como o deus egípcio Ptah ou a deusa finlandesa Ilmater) ou dois seres primordiais. São esses criadores que dão forma ao universo, ordenando o movimento das estrelas, da Lua, e criando a Terra de variadas maneiras. Por sua vez, os primeiros criadores cedem lugar a outras divindades, que continuam o processo de criação, fazendo as plantas, os animais e a raça humana.

O ovo cósmico
Antes da criação do universo, as divindades primevas permanecem inertes, à espera do momento inicial. Os mitos falam muitas vezes de deuses ou de forças criativas confinados dentro de um imenso ovo cósmico que parte ao meio no devido momento. Uma das metades forma o céu e a outra se torna a terra. Os criadores saem da casca e começam a dar à luz outros deuses, ou a criar a humanidade. Os chineses, os astecas, o povo dogon da África e diversas tribos do Pacífico possuem variações desse mito. O criador chinês Pan Ku, por exemplo, morre depois de tremendo esforço para separar o céu da terra, mas Rangi e Pao, o céu e a terra dos maori, sobrevivem e produzem divindades e seres humanos.



Um antiga pintura da Ilha de Páscoa feita em uma pedra, mostra um deus com cabeça de pássaro segurando o ovo cósmico.


A serpente do mundo
Às vezes é dito que que as forças fantásticas envolvidas na criação do mundo foram geradas por um poderoso animal mítico, como a Serpente do Mundo. Essa serpente colossal habitaria as profundezas do oceano e conteria energia criativa em seu corpo fabuloso. Um mito egípcio nos conta como a serpente Amduat foi a fonte de toda a criação, uma vez que o deus-sol nasceu de seu corpo. A Serpente do Mundo pode ser incubada no ovo cósmico, como acontece na antiga lenda grega de Ófion, ou pode ser a Cobra Arco-Íris, criatura comum tanto em mitos africanos quanto australianos - uma criadora de animais ou de rios e oceanos. Na mitologia hindu, Vishnu está descansando sobre a serpente Ananta quando uma flor de lótus surge de seu umbigo. A flor desabrocha e o deus Brahma criador surge de dentro dela.


Nesta pintura asteca, vemos o deus Tezcatlipoca usando o seu pé como isca para tirar a Serpente do Mundo do fundo do mar. O monstro se feriu e de seu corpo foi feita a terra.



A formação do cosmo
O primeiro ato da criação - a ruptura do ovo cósmico ou o nascimento do criador primevo - pode ocorrer de forma rápida, mas o restante da criação em geral se dá durante um longo período. O processo às vezes envolve muitas gerações de deuses e deusas, cujas famílias acabam formando grandes panteões. A terra, então, torna-se habitável com a criação de rios, oceanos, plantas e animais, antes que seja criada a humanidade. Em muitas mitologias, o processo de criação é repetido sem descanso por muito tempo. Mitos astecas e dos índios norte-americanos falam de uma sucessão de diferentes eras, nas quais o mundo é recriado num ciclo interminável, sempre repetido com ligeiras variantes. Esses atos de criação produzem uma espantosa variedade de mundos mitológicos. Em muitos mitos africanos, os quatro pontos cardeais tinham grande importância e estavam associados aos elementos (água, terra, ar e fogo), explicando porque o universo é como é.

Povoamento do mundo
Quase sempre o ser humano aparece relativamente tarde no processo de criação. Pode-se dizer que a chegada da humanidade é uma idéia que chega após o trabalho prioritário de criar o cosmo e as divindades. Em geral, é um ato deliberado de deuses e deusas, que pode ser descrito por meio de alguma atividade humana familiar. Por exemplo, em muitos mitos africanos, os deuses moldaram a primeira pessoa do barro, como se fosse um pote de cerâmica. A mitologia chinesa descreve o surgimento do primeiro ser humano de modo parecido. Às vezes, a criação dos humanos é descrita como um acidente resultante de alguma outra ação dos deuses. Na mitologia do Antigo Egito, os humanos foram criados pelas lágrimas derramadas pelo deus-sol quando reencontrou seus filhos Chu e Tefnut. A criação dos índios norte-americanos, descreve as pessoas sendo atraídas para a superfície terrestre vindas do subterrâneo. Os antigos gregos tinham um mito semelhante que dizia que Pelasgo, o primeiro homem, nascera do solo da Arcádia. Existiram até mitos que diziam que a humanidade cresceu como plantas.


Sozinha, a deusa chinesa Nu Wa começou a moldar o homem e a mulher em barro. Em seguida, soprou vida dentro dos moldes e a humanidade começou a se formar.