quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Inari

Inari (em sua forma feminina) aparece para um
guerreiro com o espírito de uma kitsune
Inari (ou Oinari) é o kami* japonês do alimento, importante no xintoísmo. Pesquisadores acreditam que seu nome derive de ine-nari, traduzido em algo próximo a "arroz em crescimento", apesar de não aparecer nos textos clássicos da mitologia japonesa. Acredita-se que sua adoração começou entre os séculos 8 e 9 d.C.

Depois que Tsuki-Yomi (deus da lua) matou sua esposa Ukemochi (deusa do arroz), Inari assumiu suas funções e tornou-se também responsável pelas safras de arroz. Todo ano ele/ela desce de uma montanha nos primeiros dias da primavera para fertilizar os campos de arroz, às vezes, na forma de uma raposa branca (kitsune). Assim, tornou-se um importante deus da fertilidade e do sucesso na cultura japonesa. É retratado como um senhor de barbas, carregando sacos de arros, mas, por ter assumido as funções de sua esposa, é muitas vezes retratado como um deus andrógino.

Foi adorado como fabricante de espadas e, portanto, protetor deste ofício, dos ferreiros e dos guerreiros. Às vezes era descrito com uma espada, uma foice ou um chicote (que servia para queimar plantações, mas era raramente utilizado). Podia se transformar numa aranha monstruosa quando desejava ensinar lições aos homens. Existem mitos sobre sua transformação em dragão e serpente. As crenças xintoístas e budistas atuais preferem retirar esse lado antropomórfico de Inari, fazendo com que a raposa branca seja sua mensageira. Sua importância fez com que ele fosse associado a uma série de outros deuses, sendo chamado de trindade (Inari sanza) ou coletivo (Inari goza).

Existem muitos templos dedicados a Inari no Japão (aproximadamente 1/3 dos templos), com seus inúmeros toriis (aqueles famosos portais vermelhos) e sempre protegidos pela estátua de uma raposa. O principal é o Fushimi-Inara, em Quioto. Seu festival é na primavera, durante o cultivo do arroz, quando é servido aburage (um tipo de tofu frito), coalhada e feijão frito.

Toriis sequenciados do templo de Fushimi-Inara

* Simplificando, kami é a palavra japonesa para deidade, espíritos, forças naturais. É a essência da fé xintoísta. Farei um post sobre isso.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mito e sonho

Os mitos não possuem autor; pertencem a sabedoria comum da humanidade, conservada pelo inconsciente coletivo sob a forma de símbolos e arquétipos. Pode equivaler a uma ideologia, a crenças coletivas ou a acontecimentos fictícios que evocam sentimentos profundos e expressa o que dá sentido aos valores humanos. Então, corroboremos com Campbell ao dizer que:

Os sonhos são mitos privados. Os mitos são sonhos partilhados.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Hoje é Dia de Iemanjá!

Hoje, dia 2 de fevereiro, é Dia de Iemanjá, a Rainha do Mar.

Segundo o historiador Manuel Passos, no início do século XX, um grupo de cerca de 25 pescadores resolveu fazer oferendas para a Iemanjá, pedindo em troca, fartura de peixes e tranqüilidade nas águas. Há mais de 80 anos, católicos, adeptos do candomblé e turistas participam de ritual semelhante, jogando no mar sabonetes, perfumes, flores, espelhos e bonecas.

Uma lenda conta que Iemanjá, filha de Olokun, casou-se com Olofin-Odudua em Ifé, na Nigéria, e teve dez filhos, todos orixás. Depois de amamentá-los, teria ficado com seios enormes. Cansada de viver em Ifé, Iemanjá fugiu para Abeokutá e se casou novamente, com Okerê. Mas Iemanjá impôs uma condição para o casamento: que o marido jamais a ridicularizasse por conta dos seios. Mas uma ofensa de Okerê causou fúria a Iemanjá, e ela fugiu novamente, encontrando num presente do pai o caminho para as águas. Nunca mais voltou para a terra e tornou-se a Rainha do Mar. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.

Ainda falarei bem mais sobre ela por aqui.

Fúria de Titãs!

Outro dia falei da adaptação dos livros de Percy Jackson para os cinemas, mas não podia deixar de citar o remake de Fúria de Titãs (Clash of the Titans) que estreia no dia 26 de março nos EUA.

O filme original é de 1981, com Harry Hamlin (Perseu), Ursula Andress (Afrodite) e Laurence Olivier (Zeus), e se baseia no mito de Perseu.

Um resumo da história: Zeus ordena que o titã Kraken destrua Argos, depois que o Rei Acrísio tentou matar sua filha Danae e seu neto Perseu, filho de Zeus. Argos e destruída, mas ambos são salvos na Fenícia. Já adulto, Perseu tenta desposar Andrômeda, filha da Rainha Cassiopéia e prometida de Calibos, filho monstruoso da deusa Tétis. Furiosa, Tétis solta o Kraken sobre a cidade, colocando Andrômeda como sacrifício. Perseu sai em busca de um meio de derrotar o titã: a cabeça da Medusa. Por aí se desenvolve o filme.


Foi o último trabalho de animação e efeitos especiais feito pelo mestre do stop motion, Ray Harryhausen. Eu tenho o DVD e independente da diferença que temos hoje com a tecnologia ainda é incrível ver o que ele foi capaz de fazer. Veja um pedacinho, onde Calibos que se vingar de Perseu e fura o saco onde está a cabeça de Medusa para que do sangue da górgona nasçam os escorpiões gigantes:


No novo filme, Perseu é Sam Worthington (queridinho atual de Hollywood após Exterminador do Futuro 4 e Avatar) e ainda tem Liam Neeson e Ralph Fiennes, como Zeus e Hades respectivamente. A história muda um pouco: Perseu nasce entre os deuses, mas passa a viver entre os mortais. Quando perde sua família para Hades, Perseu decide enfrentar o deus do submundo e acaba se metendo em uma guerra entre ele e Zeus, que pode resultar na destruição da Terra.


Veja um trailer que mostra os escorpiões bem vitaminados e a monstruosidade do Kraken:


Uma curiosidade: Kraken, chamado de titã no filme, na verdade é um monstro da mitologia escandinava.

Parece que os cinemas gostam de Perseu... afinal "Percy" seria diminutivo de Perseu. Bom... independente da história, do mito, do herói, é mitologia nos cinemas! Vamos lá!

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Perun

Deus do trovão e dos raios da mitologia eslava pré-cristã, Perun era particularmente venerado pelos russos, que chegaram a compará-lo ao Zeus grego. De acordo com as primeiras crônicas russas, Perun era a divindade máxima do panteão pagão antes da cristianização em 988 por St. Vladimir I, Grande Príncipe de Kiev. Por isso, suas associações eram inúmeras: ao firmamento, ao fogo, ao carvalho, às montanhas e às águias. O número 9 é relacionado a ele, mas não se sabe se haviam nove versões do deus ou se eram nove filhos.

Filho de Svarog e Lada, irmão de Kalvis, Stribog, Svarozvich, Tiermes, Ursula e Milda, Perun fazia serviços para seu pai na Terra. Perun e Tiermes usavam seus irmãos para conseguir favores de seus pais e pareciam ser os mais fortes dentre eles e, dessa forma, Perun teria subjulgado seu pai para se tornar o maior deus do panteão russo. No entanto, ao seduzir a deusa dos rios Ros (possivelmente daonde veio o nome "Rússia"), seu filho com ela, Dazhbog, acabaria por subjulgá-lo, tornando-se deus das tempestades.

Em seu papel de deus da guerra, cavalgava os céus numa carruagem puxada por um bode gigantesco (semelhante ao deus nórdico do trovão Thor), empunhando um arco de pedra que atirava seus raios (ditos como flechas de pedra ou meteoritos) e seu martelo (ou machado) do trovão, que sempre voltava para sua mão quando lançado contra o mal. Podia usar também poderosas maças douradas que eram, na verdade, bolas de raios (um raro fenômeno atmosférico). Armas de pedra e de metal eram associadas a ele.

Gromoviti znaci, ou marcas do trovão, como essas, são antigos símbolos de Perun que eram gravados nos telhados das casados para proteger das tempestades. Esse formato hexagonal pode ser um sinal da existência das maçãs do trovão e, portanto, do fenômeno das bolas de raios.

Com sua barba cobreada, era uma divindade criativa que trazia fertilidade e chuva aos campos. Mas as chuvas eram também a representação da batalha divina entre Perun e seu arqui-inimigo Veles. A deusa do sol era casada com ambos. O tempo escuro e chuvoso seria uma manifestação tanto da raiva de Perun quanto dos poderes de Veles que tentava se esconder de Perun para atacá-lo. Os raios e os trovões seriam os ataques de Perun e o fim da chuva significava que Veles tinha sido derrotado. Essa dicotomia "bem contra o mal" facilitou a cristianização.

Era comumente representado por uma estátua de madeira com cabeça prateada e bigode de ouro. Galos e bodes eram sacrificados a ele, mas também ursos e touros em florestas de carvalho, quando os rituais eram maiores. Prisioneiros de guerra podiam ser sacrificados a ele durante sua festa sagrada que durava nove dias de verão.

Era comparado a Perkons (Letônia) e a Perkunas (Lituânia), variações da raiz proto-eslava perk-/perg- ("atacante") ou de perkwu ("carvalho"), uma vez que seu nome pouco aparecia na literatura. Povos búlgaros possuíam diversos nomes de entidades naturais a partir de Perun: Pirin, Perunac, Perunovac, Perunika, Perunička Glava, Peruni Vrh, Perunja Ves, Peruna Dubrava, Perunuša, Perušice, Perudina e Perutovac. Após a conversão ortodoxa russa, Perun foi sincretizado ao profeta Elias que atravessava os céus em sua carruagem de fogo. Na Roma católica, Perun seria o arcanjo Miguel. Perun também apareceu em histórias em quadrinhos da Marvel Comics como parte de um grupo soviético de protetores que ficavam entre o heroísmo patriótico comunista e a vilania capitalista, seguindo a Guerra Fria.