terça-feira, 30 de março de 2010

Seshat

Conhecida como Rainha da Biblioteca e Guardiã dos Arquivos Celestiais, Seshat era mulher de Ptah, filha de Thot e irmã gêmea de Mafdet. Era escriba dos deuses e anotava os impostos coletados e os espólios obtidos nas guerras. Também registrava todos os discursos de coroação dos faraós. Está associada à matemática, à astronomia e aos esquemas de construção quer permeiam a arquitetura e a engenharia. Era dito que seu pai era o responsável pelo conhecimento oculto, enquanto Sheshat representava o conhecimento visível.

Aparece com um papiro de sete pontas como enfeite de cabeça (ou uma roseta - um símbolo de fertilidade do Nilo) e um vestido de pele de leopardo (veste funerária, onde as pintas representam as estrelas do céu e, portanto, a eternidade), segurando um ramo de palmeira onde marca os anos de reinado dos faraós. Seu nome significa - literalmente - "mulher escriba". Era também chamada de Dama do Destino.

Os rituais para a deusa eram liderados por um sacerdote letrado que utilizava cordas para obter dimensões que garantiam os alinhamentos sagrados do universo e, assim, o conhecimento técnico sobre as construções das cidades e - até mesmo - da elevação do Nilo. É possível que tenha sido a grande deusa da sabedoria do Egito Antigo até o culto a Thot crescer ao ponto de "rebaixá-la". Em momentos, chegou a ser vista como uma sacerdotisa.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Nergal

Nergal (ou Nirgal, Nirgali) é o deus babilônico do submundo, filho primogênito de Enlil, deus do ar, com Ninlil, deusa dos cereais. Nasceu do estupro sofrido por sua mãe, diante dos portões do reino infernal de Ereshkigal. Com aspecto de touro e leão, é um deus do mal que traz guerra, peste, febre, devastação e morte.

Ele é o tema de um poema acadiano, que descreve sua transição do céu para o inferno. Viveu toda a sua infância e juventude entre os deuses, sempre provocando-os e ofendendo-os. Sua impáfia era diversão para os deuses, até o dia em que ofendeu Namtar, a representante de Ereshkigal. Todos sabiam que a rainha do Inferno não o deixaria sair livre. Aconselhado por Enki, deus da sabedoria, a pedir desculpas, Nergal construiu um trono de cedro sagrado para entregar a deusa em seus reinos. Despido de suas armas e brasões reais, Nergal precisava recusar qualquer presente ou ajuda oferecida.

Mas, achando que estava falando com uma deusa velha, Nergal fez tudo diferente: após atravessar os nove portais do grande palácio de cristal e lápis-lazuli de Ereshkigal e ajoelhar perante o trono da deus - que estava escondida por um manto negro - Nergal puxou uma arma e mentiu dizendo que fora enviado pelo grande An para tomar os reinos da deusa. Fingindo-se ameaçada, Ereshkigal disse que só iria se decidir após um banho. Nergal foi espiá-la e se submeteu a fenomenal beleza da deusa, comendo, bebendo e aceitando todos os encantos disponíveis por seis dias. No sétimo dia, lembrou das palavras de Enki e fugiu em segredo com medo do que viria a acontecer. Mas Namtar viu a fuga e contou para a deusa. Furiosa e magoada, Ereshkigal enviou Namtar até a morada dos deuses para trazer o deus. Mesmo apaixonado, Nergal temia perder a vida gloriosa que tinha entre os deuses, então, Enki interveio se utilizando de um encanto para mudar sua aparência. Namtar não pôde reconhecê-lo e voltou de mãos vazias. Como retaliação, Ereshkigal tornou a terra infértil e provocou fome na humanidade. Temerosos, os deuses pediram que An solucionasse o problema e o grande deus obrigou Nergal a retornar ao Inferno para se casar com Ereshkigal e governar ao seu lado.

Algumas placas sumérias contam que Nergal teria traído seu irmão Marduk, unindo-se a Ninurta e Nannar-Sin na grande batalha pelo controle da Terra em 2000 a.C.

O centro principal de seu culto era a cidade Kuthu e seus atributos eram a maça e a foice. Por ser uma divindade desértica, muitas vezes foi considerado o aspecto sinistro do deus sol Shamash (seria o sol escaldante do meio-dia e os solstícios). Na mitologia greco-romana, era Ares ou Marte, mas também foi associado ao herói Hércules em seus momentos coléricos. Sendo de uma religião pagã que rivalizava com o Cristianismo e com o Judaísmo, Nergal foi identificado como Satã, chefe das soldados infernais e espião de Belzebu.

terça-feira, 23 de março de 2010

Ukemochi

Ukemochi e seu marido Inari,
como uma raposa branca
Também chamada de Ogetsu-himi-no-kami (Grande princesa da comida), Wake-umi-nomi (Jovem mulher com comida) e Toyo-uke-bime (Princesa da rica comida), Ukemochi (Deusa que possui os alimentos) era a deusa do arroz, da nutrição e do banquete no xintoísmo. Pode-se ver que todos os seus nomes derivados são relacionados à comida e ao sustento em geral.

Sua lenda mais conhecida é o da sua relação com Amaterasu, a grande deusa do sol, que é contada no Nihon Shoki ("crônicas japonesas"). Aparece com algumas alterações, mas, basicamente, é o seguinte: Amaterasu utilizou sementes fornecidas por Ukemochi para plantar seus enormes campos de arroz. A grande deusa pediu que seu irmão Tsuki-Yomi (em outras lendas é Susanowo) verificasse suas plantações e o trabalho de Ukemochi, quando estivesse escondida em sua caverna.

Sabendo da visita do deus, Ukemochi resolveu preparar um imenso banquete: vomitou arroz cozido (felicidade e abundância), peixe (sabedoria e abundância) e algas (alegria). Tsuki-Yomi viu a preparação e ficou tão enjoado que a matou. Da cabeça de Ukemochi, saíram bois e cavalos; suas sobrancelhas transformaram-se em bichos da seda; da testa brotou milho e trigo, da barriga saiu arroz e de sua genitália veio o feijão; todos símbolos de agricultura, trabalho, resistência e criatividade. Os feijões são conhecidos no Japão como dissipadores de maus espíritos. É dito que outros alimentos ainda saíram do corpo da deusa, como o arroz doce, a soja e o pão. Com raiva pela morte de Ukemochi, Amaterasu decidiu nunca mais ver seu irmão e, por isso, sol e lua jamais se encontrariam.

Seu nome pode ser escrito como Uke-mochi ou Uki-mochi, e, muitas vezes, a deusa era confundida com Inari em sua versão feminina, uma vez que o deus era seu marido e assumiu suas funções divinas. Também foi associada ao deus Toyuke Okami, responsável pelo vestuário, pela habitação e pela refeições.

terça-feira, 16 de março de 2010

Igaluk e Malina

Igaluk é o Homem da Lua, uma poderosa divindade da mitologia inuíte* associada à passagem das estações do ano e o movimento das marés, que também tinha controle sobre os animais.

Igaluk e sua irmã, Malina, eram muito próximos na infância, mas foram separados na juventude entre o alojamento dos homens e das mulheres. Um dia, Igaluk espiou o alojamento feminino numa noite de danças e descobriu que sua irmã era a mais bela. Desejoso, o rapaz protegeu sua identidade na escuridão, invadiu o alojamento e a violentou. Insatisfeito, Igaluk voltou na noite seguinte, porém Malina estava com as mãos cheias de fuligem e óleo de uma lamparina quebrada e conseguiu marcar seu agressor, que, para sua supresa, descobriu ser seu irmão. Desesperada e quente de raiva, Malina cortou seus seios e os ofereceu para Igaluk comer na frente de todos na aldeia. Em seguida, com uma tocha na mão, saiu fugida. Humilhado e envergonhado, Igaluk saiu atrás dela, seguindo as manchas de sangue, mas escorregou na neve ensanguentada e sua tocha perdeu força. Os dois correram tão rápido que uma lufada de ar os elevou aos céus, onde ela se tornou o Sol com sua chama brilhante e ele, a Lua com sua pouca luz.

A lenda da ascensão aos céus dos irmãos pode sofrer pequenas variações, mas a idéia central é essa.

Igaluk é tão obcecado por sua irmã que frequentemente se esquece de comer e vai afinando (Lua Minguante). Uma vez por mês, o deus some por três dias e desce à terra para poder comer (Lua Nova). Quando ocorre um eclipse, os povos do Ártico se amedrontam, pois acreditam que é mais um estupro. Durante um eclipse solar, os homens são proibidos de sair. Nos eclipses lunares, as mulheres não saem de suas casas. Quando ocorre o fenômeno atmosférico do parélio (halo ao redor do sol - foto), diz-se que Malina está comemorando o nascimento de uma menina ou a morte de um homem.


Povos no Alaska consideram Igaluk a divindade máxima do panteão. Na Groenlândia, é também chamado de Aningan.

* Inuit significa "pessoas" (singular, inuk) no idioma das civilizações que vivem no Ártico. São os chamados esquimós, que, na verdade, é um termo pejorativo entre os povos do Ártico que significa "comedores de carne crua".

segunda-feira, 15 de março de 2010

Tohil

O deus do fogo e do sacrifício maia era Tohil, o obsidiano (tipo de vidro vulcânico). Podia ser escrito como Tojil, um poderoso deus da guerra, do clima e das montanhas. Os cervos era associados a ele, chegando a ser chamado de "Grande Lorde Cervo".

Segundo a lenda da criação maia no épico quechua Popul Vuhu, a primeira era do mundo terminou quando o fogo e a água destruíram tudo. No começo da segunda era, os ancestrais dos humanos surgiram num lugar chamado Sete Cavernas, onde eles encontraram Tohil pela primeira vez.

Os adoradores de Tohil, além do próprio sangue, sacrificavam prisioneiros de guerra. Acreditava-se que Tohil precisava do sangue jorrado a partir de corações arrancados, assim como bebês precisam do aleitamento materno. Na época da conquista espanhola, Tohil foi o grande patrono da guerra que fazia parte da trindade formada com Awilix e Jacawitz. Sua força era tão grande que, às vezes, toda a trindade era chamada de Tohil.