terça-feira, 15 de junho de 2010

K'uei Hsing

Deus dos exames e da burocracia, K'uei Hsing (Kui Xing) foi muito popular nos tempos imperiais, quando os exames eram um requisito importante para um bom emprego no poderoso funcionalismo público chinês. Era auxiliar do deus da literatura, Wen Chang, junto com Chu Yi.

As lendas dizem que o professor Chung K'uei passou com excelência em seus exames de qualificação, mas teve suas honras (uma rosa dourada) e direitos negados pelo imperador quando este viu sua feiúra. Deprimido, tentou se suicidar, atirando-se ao mar, mas acabou sendo salvo por um animal marinho (tartaruga ou peixe).

Um outra lenda, diz que seu talento era equivalente a sua feiúra. Pensando em seus estudos constantemente, distraiu-se e caiu de um penhasco, mas foi salvo por um dragão e recebeu o título de Ministro da Negociação Literária.

Em geral, aparece como um homem baixo e feio (muitas vezes, um anão corcunda), equilibrando-se em um pé sobre a cabeça de uma criatura marinha. Segura uma caneta tinteiro (para sublinhar os nomes dos bem sucedidos) e um alqueire (para medir o talento dos competidores). Dizem que também carrega o selo oficial do Imperador de Jade, Yu Ti.

É referenciado como uma estrela da constelação de Ursa Maior e, por isso, seu nome significaria "chefe estelar". Hoje, dizem que seria a divindade responsável pelas máquinas de fax e pelos e-mails.

Imagens de K'uei Hsing

sábado, 12 de junho de 2010

Ushas

Deusa da alvorada, filha do céu e irmã da noite, Ushas era adorada como o elo entre o céu e a Terra. A jovem e bela deusa renascia a cada manhã (e, por isso, muitas vezes era tratada no plural, as alvoradas), quando atravessava o céu em sua carruagem de ouro puxada por sete vacas (que representariam os sete dias da semana) e vestida com um robe laranja avermelhado e um véu amarelo-açafrão.

Ushas também é descrita como "o meio do despertar", ou seja, através dela, deuses evoluiam em seus caminhos para iluminação plena. Essa descrição pode ser pelo fato da alvorada anteceder a chegada do Sol, da luz para o mundo após a escuridão. Chegava a ser o sopro da vida para os Vedas. Também é representada por sete pombas brancas que afastam os maus espíritos. Seus dedos seriam serpentes em tons róseo-dourados que simbolizavam grande sabedoria e seus raios de luz.

Eos (grego) e Aurora (romana) são suas representações em outras mitologias.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Tefnut

A generosa Tefnut (ou Tefnet, que deve vir de tef, "cuspida" ou "úmida") era a deusa da umidade e das nuvens, podendo estar ligada às chuvas e à fertilidade da terra. Também está relacionada às noites úmidas e à névoa. Foi irmã e esposa de Shu, mãe de Geb e Nut, avó de Osíris, Ísis, Seth e outros. Juntos, Tefnut e Shu tornaram-se o primeiro casal divino, os olhos do deus-sol: enquanto seu irmão afastava a fome, ela afastava a sede.

Existem três lendas sobre sua criação. Na mais comum, ela foi criada a partir da saliva de . Em outra, Rá teria espirrado: o ar era Shu e a umidade era Tefnut. E uma terceira lenda ainda diz que Rá se masturbou e seu sémen deu forma a Tefnut e de sua respiração ofegante surgiu Shu.

Certa vez, com raiva de Rá, Tefnut fugiu para Núbia, abandonando o Egito à seca e findando o Antigo reinado dos faraós. Como leoa, iniciou uma matança. O deus Thoth foi convocado a trazer a deusa de volta para restaurar o brilho do Egito.

Tefnut era retratada de muitas formas, inclusive como mulher com cabeça de leoa, usando uma coroa solar com a serpente uraeus e um ankh (sinais de grande poder), ou uma leoa completa. Raramente aparece somente como uma mulher. É associada ao advento da monarquia, sendo por isso representada como uma serpente a surgir do cetro do faraó. Conta-se também que ela teria construído um lago para o faraó, para que ele lavasse os pés. Nefertiti se dizia encarnação de Tefnut.

Heliópolis foi o centro de seu culto, onde era considerada uma enneade, ou seja, uma das nove divindades originais da criação.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Zu

Tábua com imagem de Zu
Zu era o pássaro das tempestades e a personificação do vento do sul que trazia nuvens carregadas de trovão. Aparecia tanto como pássaro quanto como homem alado com poderosas garras (possivelmente de leão, como um grifo
Certa vez, roubou as Tábuas do Destino e a coroa de poder de Enlil, tornando-se o dirigente do mundo. O poderoso An exigiu que os deuses recuperasse as tábuas. Algumas lendas dizem que todas as divindades temiam o pássaro (considerado um demônio) e somente Marduk conseguiu mata-lo. Outros dizem que o indignado deus da guerra Ninurta aproveitou as nuvens carregadas de Zu para atirar flechas contra ele. Já caído, Zu teve suas asas rasgadas e Ninurta ainda o decapitou, devolvendo, em seguida, as tábuas a Enlil. Por fim, Zu foi levado a julgamento diante do supremo Ea.

Gravura de Ninurta contra o pássaro Zu

Sua versão babilônica - com grandes semelhanças mitológicas - era Anzu. O nome Zeus pode ter derivado deste nome, lembrando que uma águia é o animal sagrado a esse deus grego.

Estudos indicam que Zu poderia ser também um dos demônios Pazuzu dos ventos. Pra quem não está reconhecendo este nome, Pazuzu é o demônio que aparece nos filmes do Exorcista.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Ungambikulas do Tempo do Sonho

Espíritos do Tempo do Sonho, pintura acrílica de Collen Wallace Nungari

A mitologia dos aborígenes australianos gira em torno do Tempo do Sonho. No início, a Terra era plana e escura. Não havia vida ou morte, sol, lua ou estrelas. Todos dormiam embaixo da Terra, junto aos ancestrais eternos. Um dia, o sol se levantou e todos os outros acordaram de sua eternidade para viajar por todo território, fazendo rios e planícies, andando como homens, animais, plantas ou seres híbridos, espalhando guruwari, a semente da vida.

Dois deles - os Ungambikulas, que haviam se criado a partir do nada - começaram a enxergar pessoas parcialmente criadas pelos ancestrais, que jaziam disformes, inacabadas, semitransformadas, híbridas de animais ou plantas. Então, com suas facas de pedra, a dupla começou a esculpir cabeça, corpo e membros terminando a obra. Por essa razão, acredita-se que todo ser humano possui um totem ou animal ou vegetal de onde foi esculpido.

Tudo finalizado, todos os ancestrais voltaram ao Tempo do Sonho. Alguns se transformaram em rochas e árvores para marcar o caminho sagrado que eles uma vez fizeram. O Tempo do Sonho não é só um período da história passada. Ele está sempre presente, manifestando-se em rituais sagrados. Sacerdotes tornam-se ancestrais nessas cerimônias para contar essas viagens pelo território australiano.