quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Flora / Clóris

Flora (1913), óleo de Louise Abbéma.

Flora é a deusa romana que encarna toda a natureza e cujo nome se converteu na designação de todo o reino vegetal. Cuidava da primavera e fazia plantas e árvores darem flores, sendo assim, adorada por todos os agricultores. Seus festivais (as Floralias) aconteciam no fim de abril com muitos rituais de fecundidade e danças de acasalamento.

Possuía uma flor que engravidava toda mulher. Teria sido dessa forma que Juno deu à luz Marte sem ajuda de seu marido Júpiter, após uma crise de ciúmes por ele sozinho ter dado à luz Minerva. Flora também teria ofertado o mel e as sementes florais aos homens.

Para os romanos, as rosas foram uma criação da deusa. Quando uma de suas ninfas morreu, Flora a transformou em flor com ajuda de outros deuses: Febo deu a vida, Baco jorrou o néctar e Pomona criou seu fruto. Abelhas se sentiram atraídas pela flor e Cupido atirou suas flechas para espantá-las. As flechas se transformaram em espinhos e, assim, criou-se a rosa.

É identificada com a ninfa Clóris da mitologia grega e, assim, teria sido amante de Zéfiro, o vento oeste. Após o casamento público, foi Zéfiro quem a nomeou rainha de todas as flores e lhe concedeu o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais. Formaram um casal de deuses alegres e jovens que deslizavam pelos céus, enfeitados com coroas de flores, e tocavam com suas asas os casais de namorados nos dias frescos de primavera.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eos

Eos, óleo de Evelyn de Morgan (1895)
Filha do titã Hiperion com sua irmã Téa, a jovem deusa do alvorecer Eos tinha Selene (deusa da lua) e Helios (deus do sol) como irmãos. Sua tarefa era abrir todas as manhãs os portões do céu para a saída da carruagem de Helios (alguns mitos falam de Apolo) e terminava sua função com o titã Oceano. Também ficava responsável por trazer a brisa da manhã, aspergir o orvalho sobre os campos e despertar todas as criaturas. Portanto, é considerada a deusa dos novos começos. Em algumas lendas, foi considerada mãe de todas as estrelas e suas lágrimas teriam dado origem a ninfa do orvalho.

Era conhecida como Aurora de Dedos Rosados, porque, normalmente, tinha longos cabelos loiros e unhas pintadas de rosa - a cor do céu ao amanhecer -, sempre vestida com um manto cor de açafrão tecido com flores e uma tiara. Às vezes, utilizava uma carruagem púrpura puxada por dois cavalos alados (Lampo e Faetonte, também chamados de Claridade e Brilho) em arreios multicoloridos, mas costumava cruzar os céus com suas belas e ágeis asas. Essa caracterização expressa seu caráter de jovem caprichosa e despreocupada, que vive amores intensos e efêmeros.

Aurora, pintura de William-Adolphe Bouguereau (1881)
Aliás, são inúmeros os casos retratados na mitologia grega e, na maioria das vezes, com mortais, pois Eos havia sido amaldiçoada por Afrodite. A deusa do amor ficou enciumada de vê-la flertando com Ares e a puniu com paixão eterna. Foi amante de Órion, Astreus e do próprio Zeus.

Entre os amores de Eos estão Titono e Céfalo. Eos amou tanto Titono que o raptou para a Etiópia e solicitou aos deuses que lhe dessem a vida eterna. Desejo concedido, Eos se deu conta que esqueceu de pedir juventude eterna também. Com isso, Titono se tornou um velho decrépito incapaz de morrer. Eos pediu que os deuses o transformassem em uma cigarra (ou gafanhoto ou louva-a-deus). Com ele, foi mãe de Emation e Memnon. Memnom lutou e pereceu na Guerra de Tróia. Imagens de Eos alada segurando seu filho - assim como de Tétis e Ísis - podem ser as referências para a Pietá cristã.

Céfalo foi mais sofrido. Eos o raptou de sua esposa Procris, e teve dois filhos, Faetonte e Hesperus. Mas o rapaz, filho de Hermes e com a ninfa Orvalho (portanto, neto de Eos), pediu para ser libertado. A deusa o fez, só que Procris ficou tão enciumada que seguiu Céfalo em uma de suas caçadas e acabou morta por uma de suas flechas. Arrasado, Céfalo se jogou ao mar. Comovido, Zeus transformou ambos em estrelas.

Os romanos a ligaram diretamente a deusa Aurora deles. Por acompanhar seu irmão ao longo de seu percurso diário, foi fundida posteriormente a Hemera, deusa do dia.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O caos japonês

Por eras e eras a fio só havia o Caos, inimaginavelmente ilimitado e sem forma definida. Dessa massa sem fronteiras e amorfa emergiu algo leve e transparente e formou a Planície dos Céus Elevados, na qual se materializou Ame-no-Minaka-Nushi (Deidade-do-Augusto-Centro-do-Céu). Logo depois os Céus deram a luz a uma deidade chamada Takami-Musubi (Elevada-Augusta-Deidade-Produtora-de-Maravilhas), seguida de uma terceira chamada Kammi-Musubi (Divina-Deidade-Produtora-de-Tesouros). Estes três seres divinos foram chamados de As Três Deidades Criadoras.

Enquanto isto, o que era pesado e opaco neste vazio gradualmente se precipitou e se transformou na terra, mas levou um tempo imensamente longo para se condensar suficientemente e formar um solo sólido. Em seu estágio primordial, por milhões e milhões de anos, a terra se assemelhava a uma mancha de óleo flutuante, como uma água-marinha na superfície da água. De repente, como que jorrando por um tubo, dois seres imortais nasceram. Eles eram Umashi-Ashi-Kahibi-Hikoji (Príncipe-Primogênito-do-Agradável-Jorro-do-Tubo) e Ame-no-Tokotachi (Celestial-Eternamente-Pronta). Muitos deuses então nasceram em sucessão, e assim, eles cresceram em número.

De todas essas divindades primordiais, Takami-Musubi foi a que teve mais registros posteriores. Alguns mitos o colocam como mensageiro e principal assistente de Amaterasu, funcionando como porta-voz da deusa. Outros dizem que ele é marido da deusa e avô de Ninigi-no-mikoto, fundador da dinastia imperial japonesa. Também existem registros de Takami-Musubi ser mulher e deusa do Sol Admirável.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nu Wa e Fu Hsi

Pintura de Nu Wa criadora
A criadora Nu Wa (Nu Gua) era adorada como intermediadora de homens e mulheres e aquela que garante crianças. Inventou o assobio, instituiu o casamento e ensinou à humanidade a construir represas e canais de irrigação. Dizem que foi responsável pela reconstrução do universo e recolocação dos pontos cardeais após a devastação feita pelo monstro Gong Gong. Posteriormente, sua história se mesclou com a de Pan Ku.

O imperador Fu Hsi (Fu Xi) é considerado o fundador da China. Foi o primeiro rei (governando por mais de um século), estabeleu as primeiras leis (sobretudo as do casamento instituído por Nu Wa), inventou os nomes de clãs e famílias e fez o primeiro calendário. Grande inventor mostrou às pessoas como trabalhar os metais, domesticar animais, trabalhar a seda. Também construiu os primeiros instrumentos musicais e criou o primeiro sistema de escrita chinesa.

Fu Hsi e os trigrams,
pintura de Ma Lin (séc. XIII)
Fu Hsi tornou-se um héroi tão importante que alguns mitos o colocam como irmão e/ou marido de Nu Wa. Depois de um grande dilúvio, o único sobrevivente teria sido Fu Hsi, que teve seu corpo transformado em serpente por Nu Wa. Seus filhos foram as plantas e animais do mundo. Numa outra versão do mito, os irmãos Fu Hsi e Nu Wa sobreviveram ao dilúvio que ocorreu após a separação do Céu e da Terra e pediram permissão aos deuses ancestrais para criar uma nova humanidade a partir da terra molhada.

No entanto, existem muitos mitos que colocam Nu Wa como única criadora da humanidade e a Grande Mãe. Cansada da solidão, Nu Wa teria começado a criar os humanos a partir do barro. Percebendo que iria levar muito tempo para povoar a Terra, Nu Wa mergulhou uma corda na lama e espalhou gotas de lama por todas os lados. Dizem que aqueles que foram criados pelas mãos da deusa tornaram-se ricos e poderosos, enquanto aqueles que se formaram das gotas espalhadas são pessoas pobres e fracas.

Quando Nu Wa e Fu Hsi são representados juntos, suas caudas de dragão estão entrelaçadas. Nu Wa carrega uma bússola (símbolo da Terra) e Fu Hsi segura um esquadro (símbolo do Céu) e um painel com os oito tigrams da escrita chinesa.

Tecido com as representações de Nu Wa e Fu Hsi entrelaçados (séc. VIII)

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Skanda

Conta-se que a humanidade estava sob julgo dos demônios (asuras) de Taraka. O grande Brahma tentou barganhar com o demônio, que pediu invulnerabilidade absoluta para livrar o mundo de seus malefícios. Não confiando nas palavras de Taraka, Brahma concedeu seu desejo com um pequeno detalhe: ele poderia ser morto por um filho de Shiva, que estava viúvo e sem filhos, no momento. Taraka, então, passou a se considerar a criatura mais poderosa do universo e continuou a realizar suas maldades. Até mesmo alguns deuses foram combatidos e vencidos. Quando Shiva foi chamado para resolver essa situação, lançou algumas centelhas de fogo de seus olhos (que representavam sua própria personalidade) e gerou seis poderosas crianças que dominaram Taraka e seus demônios e devolveram a paz ao universo.

Parvati, mulher de Shiva, passou a amar tanto essas crianças e os abraçava com tamanha força que eles se transformaram num só deus de seis cabeças e doze braços. Assim, Skanda tornou-se o deus dos exércitos e das batalhas no lugar de Indra e Agni, um deus gerado de Shiva, sem mãe.

Alguns escritos contam outra história. Shiva ainda estava de luto pela morte de sua esposa Sati, até que os deuses a trouxeram de volta como Parvarti. Mas, em seu celibato, Shiva não queria ter filhos. Os deuses Kama e Agni conseguiram encontrar algumas gotas do sêmen do deus, mas não conseguiram carregá-la, deixando-as cair entre as seis estrelas Plêiades. Lá nasceu Skanda que desenvolveu seis faces, uma para cada mãe estelar.

Skanda é o irmão de Ganesha por parte de Shiva e Parvati. É dito que se casou com Devasena, mas a maior parte dos registros de Skanda são de um deus misógino que só se interessava por aventuras bélicas.

Costuma ter um pavão a seu lado e está sempre segurando várias armas em suas doze mãos, como o dardo da proteção, o disco da sabedoria e da verdade, a maça da força, o arco da vitória e - principalmente - sua poderosa lança Vel.

É tambem chamado de Karttikeya, Murugan, Kumara e Subrahmanya. Na verdade, esses nomes podem ser o mesmo em diferentes idiomas ou podem ser de diferentes deuses que são retratados em inúmeros poemas épicos hindus como os Vedas e o Ramayana, mas se assemelham a Skanda em suas funções.

No budismo, Skanda faz parte da mitologia chinesa como um poderoso general de guerra que protege o dharma.

sábado, 21 de agosto de 2010

Wepwawet

Paleta de Narmer, com estandartes de Wepwawet sendo levados para o Duat.

Na antiga mitologia egípcia, Wepwawet (Upuaut) era um deus da guerra do Alto Egito, com cabeça de chacal ou lobo, também adorado na cidade grega de Licópolis ("cidade de lobos") . Seu nome significa "o que abre caminhos" e acreditava-se que ele era o responsável por limpar as rotas dos exércitos. Em grego, era Ophois.

Estandarte com chacais
Suas ligações com guerras acabaram associando-o também à morte. Wepwawet tornou-se o responsável por guiar as almas dos mortos atráves do submundo egípcio (Duat) e ajudava a pesar seus corações no julgamento final. Por essa razão, foi confundido com Anúbis na unificação egípcia, mas Wepwawet seria um ajudante desse deus. Algumas lendas colocam Wepwawet como aquele que garantiu que as faculdades mentais dos humanos no pós-vida, ao realizar uma cerimônia de "abertura da boca". Em textos mais recentes, Wepwawet também é confundido com o grande Ra, o que abre os caminhos do céu. Parece que todos os inícios egípcios contavam com a presença desse deus.

Era retratado com um chacal grisalho ou um lobo que acompanhava os faraós como seus guardiãos e protetores de suas conquistas. Por essa razão, estandartes com chacais eram comumente vistos. Raramente em forma humana, tinha cabeça canina e utilizava armamentos de guerra, como uma maça ou um arco, além da coroa uraeus com a serpente real.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Novas lupas!

Quem não sabe ainda, aqui do lado esquerdo tem lupas para cada mitologia que, se você clicar nela, você verá todos os posts referentes. Acabo de colocar mais duas: Mitologia Australiana e Mitologia Finlandesa.

Aproveitem!

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Ashnan e Lahar

Os irmãos Ashnan e Lahar eram a deusa do trigo e o deus do gado, respectivamente. Filhos de Enlil, foram criados para fornecer-lhes comida e roupas. No entanto, como viviam se embriagando e disputando suas posses, os deuses criaram os humanos para servi-los. Enviaram, então, os irmãos para a Terra para levar a prosperidade aos seus servos. Só que constantemente grandes deuses, como seu pai Enlil e Enki, eram chamados para separar as brigas e reestabelecer a paz entre eles.

Lahar costuma ser representado segurando um arco ou uma maça, com um carneiro ao seus pés. Ashnan tem espigas de milho em seu vestuário (imagem).

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Haumea

Tela à óleo de Isa Maria
Deusa havaiana dos nascimentos e da fertilidade e poderosa feiticeira, Haumea se renovava nascendo e renascendo constantemente. Era tão habilidosa com partos, que seus filhos nasciam de várias partes de seu corpo. Foi mãe de Pele, Kapo e Namaka, entre outras divindades. Acredita-se que Haumea ensinou à humanidade o parto natural, pois antes eram realizadas formas primitivas de cesárea que matavam a maioria das mulheres.

Dizia-se que tinha um pomar com várias árvores que davam diferentes criaturas, como porcos e peixes, além de frutas. Sempre gentil e calma, costumava utilizar sua varinha mágica para povoar as águas com cardumes de peixes.

Representada pelo elemento "pedra", é relacionada com Papa, antiga deusa Mãe-Terra, podendo ser uma versão dela. É também o nome de um planeta-anão de nosso sistema solar.