sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Samba do grego doido

Hoje estreiou o filme Imortais (Immortals, 2011) e eu estava lá pra conferir, é claro. Então, a partir daqui teremos vários spoilers... muitas das sinopses que coloquei aqui anteriormente possuem alguns erros que vou tentar corrigir.

Basicamente a história é a seguinte: Rei Hipérion quer libertar os Titãs para se vingar dos deuses que não salvaram sua esposa e seu filho da doença. Mas para isso ele precisa do Arco de Épiro forjado por Héracles, que somente a virgem oráculo sabe onde está. Em seu caminho está Teseu. O herói vem sendo aconselhado por Zeus na forma mortal a liderar um exército contra Hipérion, mas ele só quer ir embora em paz. Porém, Hipérion mata sua mãe e ele jura vingança.

É isso. Assim os caminhos se cruzam e a história anda. Mas anda bem devagar. O filme não empolga. Sinceramente... nem as cenas de ação - que todos falaram que se inspirava em 300 - chegam lá. A direção do indiano Tarsem Singh é bem fraca, tentando se apoiar em um visual escuro (favorecido pelo totalmente desnecessário 3D) e os figurinos meio carnavalescos.

Mitologicamente falando, o filme também se perde. O mito de Teseu deveria ser o mote, mas nada chega perto... somente um Minotauro (humano) em um labirinto (que é um templo de adoração...). Teseu não era bastardo de uma mãe estuprada e muito menos da cidade de Koplos: tinha pai, mãe e era ateniense!


Fedra até tem ligações com Teseu (são várias as histórias que a colocam como esposa), mas nada de oráculo virginal. Hipérion também não era um rei mascarado e misógino, mas um Titã! Aliás... a transformação dos titãs em zumbis que não sabem falar é humilhante. Fiquei imaginando que eles eram Oceano, Réia, Cronos, Mnemósine... não dá, né?


Coloquei aqui recentemente a "grande" cena de batalha entre cinco deuses e os Titãs libertos. Mas peguei errada a informação de quem eles eram: seriam Zeus, Atena, Poseidon, Apolo e Héracles. Pois é... Héracles como deus! Isso realmente acontece na mitologia depois que ele morre e Zeus o leva para o Olimpo. No entanto, o personagem é nulo no filme... nem o nome dele é falado! Só que ele deveria ser um dos mais importantes, considerando que o importantíssimo Arco de Épiro (que não existe na mitologia) foi forjado por ele e que os inimigos do filme lutam com o nome de sua cidade! Apolo também é nulo... e ainda tem um Ares com elmo de espadas que é morto por seu próprio pai por ajudar Teseu. Vocês leram certo: deuses morrem!


Falando ainda dessa "grande" cena... alguém consegue me explicar porque os deuses gregos cheios de armas incríveis e poderes miraculosos precisam descer ao Tártaro para matar titãs-zumbis com espadas? E um Tártaro que fica dentro de uma montanha protegida por uma muralha...

Existem alguns questionamentos filosóficos interessantes que ficaram superficiais. Acho que quase não vale como referência mitológica. É uma liberdade poética tão grande que fiquei me perguntando: por que não usar os mitos corretamente - que já são deveras interessantes e cheios de reviravoltas - ao invés dessas adaptações livres e sem sentido?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal!

Um Feliz Natal para todos aqueles que curtem as boas histórias que permeiam a história da humanidade desde o seu início.

Aproveitem para saber um pouco mais sobre esse bom velhinho que já faz parte das tradições natalinas em quase todo o mundo!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O inferno de Perseu

Saiu o trailer do filme Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012). Vejam:



Ao som de Sweet Dreams (música de Eurythmics, cantada por Marilyn Mason), vemos o cabeludo Perseu enfrentando criaturas que cresceram em tamanho e número de dentes! Como ele terá que ir ao Inferno enfrentar Hades e os Titãs, isso é compreensível. É possível ver um ciclope, o retorno de Pégaso, a nova Andrômeda loira, um bicho chifrudo com cara de demônio, um monstro gigante de lava, uma criatura alada com duas cabeças e um guerreiro infernal com dois corpos (hã?). No meio ainda vemos Zeus e Ares, mas e esse novo amor com a agora Rainha Andrômeda? Ele não a desprezou no fim do primeiro filme para ficar com Io?


Fiquei ansioso por março de 2012. Enquanto isso, vou me preparando para a estréia de Imortais (Immortals, 2011) no próximo final de semana em território tupiniquim!

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

CORREÇÃO: A mitologia na Mesopotâmia

Em uma rápida pesquisa pela internet, vocês verão que a Babilônia era ou uma cidade, capital da Suméria, ao sul da Mesopotâmia, ou um zigurate (templo ao deus Marduk) com belíssimos jardins suspensos. Mas, na verdade, foi um império formado por vários povos que vivam na região. Sendo assim, estou corrigindo as lupas de Mitologia Babilônica e Mitologia Sumérica, por considerar que ambas são redundantes. A partir de agora, elas serão unidas na lupa de Mitologia Mesopotâmica.

A torre de Babel, pintura de Pieter Bruegel que representaria a Babilônia.

Acredita-se que as primeiras civilizações surgiram na região entre os rios Tigre e Eufrates, na Ásia Ocidental, por volta de 5000 a.C. A essa região deu-se o nome de Mesopotâmia (em grego, "entre rios"). A terra fértil  deste planalto de origem vulcânica foi a responsável pelo estabelecimento de inúmeros povos nômades, como os sumérios, os acadianos, os amoritas, os assírios, os babilônicos, os hititas, os cananeus, os persas, entre outros. Lá construíram cidades, fundaram religiões e inventaram a escrita.


Os registros mitólogicos mais antigos da região (suméricos e acadianos) apresentam um mundo mais harmônico com deuses antropomorfizados que representavam as mais poderosas entidades da natureza. Os mais tardios (assírios e babilônicos) já levantam indagações sobre a vida, sobre a imortalidade, os desastres naturais e as guerras. O Império Persa incorporou a dualidade bem / mal aos mitos plurais da região.

Dessa forma, histórias diferentes sobre a criação e sobre as divindades chegaram até os dias de hoje. Muitas das placas de barro onde os mitos foram registrados se perderam ou foram danificadas, deixando alguns deles incompletos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Mudanças em filmes mitológicos

Dois filmes "mitológicos" tem mudanças à vista.

Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012) tem uma mudança de visual: o Perseu de Sam Worthington não terá mais cabelos curtíssimos, com jeito de raspado. As madeixas cresceram. E a sinopse fala em Hades e Ares se unindo ao titã Cronos para sequestrar Zeus, fazendo o herói semideus descer ao Mundo Subterrâneo para salvá-lo e impedir a destruição da Terra pelos monstros do Tártaro. Acho interessante que o roteiro finalmente inclua os Titãs do título do filme (mesmo que se pareça com as histórias de Percy Jackson!).


E a sequência do filme do Thor anda com alguns problemas na direção. Kenneth Branagh, diretor do primeiro filme, alegou problemas de agenda para o segundo. Uma nova diretora foi escolhida (Patty Jenkins), mas já pediu pra sair por causa de "diferenças criativas". Mesmo que ambos tenham saído de forma amigável, essa situação mostra certa complicação da Marvel. Detalhe: o filme do deus do trovão tem ligação com os outros filmes da editora e ainda nem tem roteiro! A data prevista é novembro de 2013 e, até lá, muita especulação surgirá.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Canto de Oxum

Prestando homenagens a Oxum em seu dia (8 de dezembro), ouçam Canto de Oxum, de Toquinho e Vinícuis de Moraes:
Nhem-nhem-nhem / Nhem-nhem-nhem-xorodô / Nhem-nhem-nhem-xorodô / É o mar, é o mar / Fé-fé xorodô...
Xangô andava em guerra, / Vencia toda a terra, / Tinha ao seu lado Iansã / Pra lhe ajudar.
Oxum era rainha, / Na mão direita tinha / O seu espelho onde vivia / A se mirar.
Quando Xangô voltou, / O povo celebrou. / Teve uma festa que / Ninguém mais esqueceu.
Tão linda Oxum entrou, / Que veio o rei Xangô / E a colocou no trono / Esquerdo ao lado seu.
Iansã apaixonada / Cravou a sua espada / No lugar vago que era / O trono da traição.
Chamou um temporal / E no pavor geral / Correu dali gritando / A sua maldição (Epahei Iansã!)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Consequências da crise na Grécia...

  • Lula recomenda demissão de Zeus e indica Zéus Dirceu para o cargo. Zeus, então, vende o seu trono para uma multinacional coreana.
  • Depois de ser presa por transformar pessoas em pedras para vender na Cracolândia, Medusa faz trabalho comunitário na ala dos ofídios em um zoológico local.
  • Narciso vende seus espelhos para pagar a sua dívida do cheque especial.
  • Aquiles vai tratar o seu calcanhar no SUS.
  • Eros e Pan inauguram um prostíbulo.
  • Hércules suspende os seus 12 trabalhos por falta de pagamento.
  • O Minotauro está puxando carroça para ganhar a vida.
  • Acrópole é vendida e em seu lugar é inaugurada uma farmácia.
  • Afrodite teve que montar uma banquinha de produtos afrodisíacos para pagar as contas, enquanto estuda a possibilidade de posar nua para a Playboy.
  • Sócrates inaugura Cicuta's Bar para tentar ganhar uns trocados.
  • Dionísio vende seus vinhos na beira da estrada de Marathónas.
  • Hermes está entregando o currículo para trabalhar nos correios. Especialidade: entrega rápida.
  • Caronte anuncia que a partir da próxima semana passará a aceitar o bilhete único.
  • Ilha de Lesbos abre resort hétero.
  • Para economizar energia, Diógenes apaga sua lanterna.
  • Oráculo de Delfos vaza números do orçamento e provoca pânico nas Bolsas.
  • Ares foi pego em flagrante desviando armamento para a milícia carioca.
  • Sócrates, Aristóteles e Platão negam envolvimento na rebelião da USP: "Estamos na pindaíba, mas ainda não descemos a esse ponto".
  • A caverna de Platão está abrigando milhares de sem teto.
  • O porquê da crise? Os economistas estão falando grego!

Uma piadinha para compensar minha ausência nos últimos tempos...

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Kratos em quadrinhos

A Panini Comics lançou neste mês o encadernado God of War, incluindo as edições 1 a 6 dos quadrinhos americanos, com 148 páginas, roteiro do lendário Marv Wolfman e arte de Andrea Sorrentino. Se você ainda não conhece a saga de Kratos, leia este post antes.

A história se passa em dois momentos: inicia-se logo após ele ter se tornado o novo Deus da Guerra e mostra lembranças de um período quando Kratos ainda era guerreiro espartano. Esses momentos são conectados pela mesma jornada, encontrar a Ambrosia de Esculápio capaz de curar qualquer doença... até mesmo ressuscitar deuses.

No presente, o Fantasma de Esparta enfrenta criaturas demoníacas e gigantes mitológicos para atingir seus objetivos. No passado, ele está, na verdade, participando sem saber de um torneio mortal tramado pelos deuses.

Leitura mais interessante para os fãs do jogo, mas com uma ótima representação de um hecatônquiro.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

As últimas da mitologia por aí

A Warner Bros. parece bem confiante com o sucesso da sequência de Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010) - que estréia em março de 2012. O estúdio já contratou os roteiristas para o próximo filme! Isso mesmo... uma trilogia desponta no horizonte grego!

E falando em filme com a mitologia grega, Imortais (Immortals) estreiou esta semana nos EUA. Só chega dia 23 de dezembro no Brasil, mas vejam uma violentíssima e estilizada cena com os deuses Zeus, Ares, Poseidon, Afrodite e Apolo descendo para decapitar e sangrar.




Lembrando que esse filme é sobre Teseu, então, um Minotauro não poderia faltar, certo? Mas parece que a criatura não é exatamente o que conhecemos: deve ser um homem mascarado.

E depois de toda essa violência grega, ainda temos o jogo Asura's Wrath, que lançou um vídeo de jogabilidade onde vemos o anti-herói distribuindo pontapés e cabeçadas em divindades hindus... sem os dois braços!



Ai!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Guaraná


Uma lenda conta que um casal de nativos pertencente a tribo Maués vivia junto por muitos anos sem ter filhos mas desejava muito ser pais. Um dia eles pediram a Tupã para dar a eles uma criança para completar aquela felicidade. Sabendo que o casal era cheio de bondade, o deus lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo e inteligente menino chamado Alupá.

A partir de seu nascimento, os Maués venciam todas as guerras, as pescas eram ótimas e a doença era rara. Eles acreditavam que o bem-estar da tribo vinha do bonito e generoso curumim e, por essa razão, ele era o mais protegido de todos.

Porém, qualidades tão boas despertaram a inveja e o ódio de Jurupari, uma entidade do mal, que tomou a forma de uma serpente e deu um bote certeiro em Alupá, quando ele colhia frutos na floresta. A tribo entrou em lamentação e desespero. Trovões ecoaram nos céus.

Pintura em seda de Laila Bastos Andrade Guimarães
Tupã atendeu a todo aquele lamento e pediu que a tribo plantasse os olhos do curumim e os regasse com lágrimas durante 4 luas. Deles nasceria uma planta que daria força aos jovens e revigoraria os velhos, trazendo a felicidade de volta. Os pajés não duvidaram e fizeram o ordenado. Nasceu, então, uma nova planta com hastes escuras e sulcadas como os músculos dos guerreiros da tribo. Quando ela frutificou, seus frutos eram de negro azeviche, envoltos de um arilo branco com duas cápsulas de cor vermelho-vivas, que os nativos diziam ser "os olhos do príncipe". Era o Guaraná (do tupi wara’ná).

Outra lenda diz que existiam três irmãos: Okumáató, Ikuamã e Onhiamuaçabê, que era mulher solteira e cobiçada por todos os animais da floresta, causando ciúmes aos irmãos que a queriam sempre como companhia por causa dos conhecimentos que possuía sobre plantas medicinais. Certo dia, uma cobra ficou à espreita no caminho da "índia" e a tocou levemente em uma das pernas, engravidando-a. Mais tarde, nasceu um curumim bonito e forte. Na idade de entender as coisas, o curumim ouviu da mãe que, ao senti-lo no ventre, plantara para ele uma castanheira no Noçoquém (lugar sagrado onde ficavam todos os animais e plantas úteis), mas que seus irmãos tomaram o terreno e a expulsaram por causa da gravidez. O curumim, então, decidiu comer as castanhas, mas o lugar estava sob a guarda da cutia, da arara e do periquito – que avisaram aos irmãos. No dia seguinte, quando o pequeno curumim voltou, seus tios o esperavam para matá-lo. Pressentindo a morte do filho, Onhiamuçabê correu para defendê-lo, mas o curumim já havia sido decapitado. Desesperada, sobre o cadáver da criança jurou dar continuidade à sua existência. Arrancou-lhe o olho esquerdo e o plantou na terra. O fruto desse olho não prestou: era o guaraná-rana (guaraná falso). Em seguida, arrancou-lhe o olho direito e deste nasceu o verdadeiro guaraná. E como o sentisse vivo ainda, exclamou: “tu, meu filho, serás a maior força da natureza; farás o bem a todos os homens e os curarás e livrarás das doenças”.