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domingo, 1 de abril de 2012

Fúria sentida

O título do post puxa pela ambiguidade da palavra "sentida". Tanto pode ser o particípio do verbo "sentir", uma vez que eu vi o filme que tem o slogan "Sinta a fúria", como pode ser um adjetivo que significa "sensível", "lamentoso", "melindrado". Essa foi a sensação após ver Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012). Vamos por partes então... com spoilers a partir daqui:

AO FILME
Sofrido...
No primeiro filme, Perseu (Sam Worthington) é um herói que não sabe que é semideus e, portanto, crê na sua mortalidade. Ele odeia os deuses por terem matado sua família e – com sua rebeldia apresentada em seus cabelos raspados – vai pra cima de qualquer um como se nada mais tivese a perder. Nem mesmo o fato de saber que o grande Zeus é seu pai, muda seu rumo. Tudo isso muda no novo filme... com as madeixas maiores e uma invulnerabilidade inacreditável, Perseu tem um filho que se torna sua motivação, sua sensibilidade exagerada e é responsável por mudar sua relação com seu pai divino.

"Filho, tenho orgulho de você"... "Ó papi"...
Aliás, a relação entre pais, filhos e irmãos é o enredo do filme. Veja o drama: Cronos, o poderoso titã, pai de Zeus, Hades e Poseidon, quer sair de sua prisão no Tártaro e para isso consegue que um ciumento Ares, filho de Zeus (e consequentemente meio-irmão de Perseu), se una ao cheio-de-remorsos-Hades para trair Zeus e Poseidon. Ou seja, espere um monte de "você ama mais ele do que eu", "você é meu irmão e eu te perdôo" e por aí vai... e até rola um sonho premonitório que me deixou com a pulga atrás da orelha: estaria eu lendo Percy Jackson?

Quando saiu o primeiro trailer desse filme, ficamos sabendo que haveria um romance entre Perseu e a Rainha Andrômeda que foi desprezada na primeira película. Eu fiquei me perguntando onde estava Io, mas isso é respondido na primeira cena: morta. Aí fiquei me perguntando porque trocaram a atriz que fazia a rainha. Isso eu não sei... mas não funcionaria a anterior assim como essa não funcionou. Explico: neste filme Andrômeda é uma rainha guerreira, que controla um exército contra monstros do inferno! Alexa Davalos (a primeira rainha) era de uma beleza ímpar, mas "modelo" demais. Rosamund Pike não é tão bonita e convence ainda menos. Em uma cena de comemoração pela vitória, ela dá um grito masculinizado que chega a ser vergonhoso.

As criaturas do filme são bem interessantes. O Pégaso continua lindo, dando vontade de voar nele. A representação do Minotauro como um híbrido entre um homem e um touro (ao invés de um homem com cabeça de touro) ficou bem interessante. Não conhecia os Makhai, mas me fez ficar intrigado sobre esses guerreiros demoníacos. A quimera fez juz ao monstro. Já os ciclopes pareciam ter saído de Harry Potter... Mas sabe qual foi o real problema de todos? A direção do filme! Esses monstros são tão velozes no filme que é quase impossível de entendê-los! Não sei se isso foi para esconder "defeitos especiais" ou para aumentar a tensão de enfrentar essas criaturas mitológicas. Mas ficou ruim! O Minotauro só tem um close... quando morre! Nem aparece o corpo do bicho! Os Makhai giram tanto que só depois de algum tempo você consegue ver que são dois em um só corpo! A quimera talvez tenha sido a mais explorada, no entanto, também ficou para os seus últimos momentos.

Pégaso encarando Cronos
Makhai
Minotauro

Apesar disso tudo, Liam Neeson faz a gente torcer pelos deuses: ele fez de Zeus um protagonista e não somente um coadjuvante de luxo (como o Poseidon de Danny Huston). Junto ao Hades de Ralph Finnes, ganhamos ótimas cenas de drama (ambos discutindo a relação fraterna) e ação (ver Zeus e Hades juntando forças contra Cronos valeu meu ingresso!).

Cena para os fãs de mitologia: Zeus e Hades indo encarar seu pai Cronos

Apesar de não ser fã de filmes 3D, esse talvez tenha sido o primeiro filme que me fez desviar de algo que estava vindo na minha direção. O primeiro filme tinha sido convertido para 3D e ficou péssimo, mas esse foi pensado a partir dessa tecnologia e teve excelentes resultados. As cenas do Tártaro, do labirinto e de Cronos são a prova disso. Mesmo preferindo filmes 2D, acho que esse valeu a pena ter sido visto com os malditos óculos.

À MITOLOGIA
Vou colocar aqui em itens:
  • Esse filme usa a Titanomaquia como norte. Cronos que se libertar do Tártaro, prisão imposta por seus filhos Zeus, Hades e Poseidon após a batalha com os Titãs. No filme, eles usam a Lança Trium, que seria a junção das poderosas armas divinas: o Raio de Zeus, o Tridente de Poseidon e o Garfo de Hades. Na mitologia não existe essa arma.
  • Tártaro não é exatamente uma prisão... mas é o lugar mais profundo do reino de Hades. Portanto, não teria como Hefesto ter construído o lugar. Falando em Hefesto... coitado do deus... ele já é coxo e "corno" na mitologia. No filme, virou um louco que nem todo mundo conhece. Podiam ter aproveitado mais uma briga entre ele e Ares, já que foi o deus da guerra que o traiu com sua esposa Afrodite.
  • Pobre Hefesto...
  • E Hefesto não era arquiteto era ferreiro! Então, nada de ter construído o labirinto também! O lugar foi construído por Dédalo para o Rei Minos em Creta. Não tem nenhuma ligação entre Tártaro e labirinto (mas ficou legal no filme).
  • Falando em labirinto, claro que teria um Minotauro. Como disse acima, uma das representação mais interessantes que já vi. Mas... que história é essa de imitar vozes e mudar de forma? Aliás, quem confrontou e matou o monstro foi Teseu e não Perseu.
  • Quando Hefesto é jogado ainda bebê do Olimpo por sua mãe Hera, ninfas o salvam e ele passa a morar numa ilha vulcânica (ou sob o Monte Etna) onde constrói sua forja e se torna o deus do fogo e do ferro. No filme, essa ilha se chama Kail, que fica no Havaí, ou seja, impossível não?
  • Antes de conhecer Hefesto, os heróis enfrentam ciclopes. Os gigantes cessam o ataque ao ver o tridente de Poseidon. Gostei disso porque os ciclopes realmente tinham ligações com os dois deuses: Poseidon é pai de alguns ciclopes e Hefesto utilizava a mão-de-obra deles em suas forjas.
  • E somos apresentados a um novo semideus, Agenor, filho de Poseidon. Tipo... quem? Ladrão e alívio cômico do filme, esse personagem não possui referências divinas na mitologia grega. Aparece apenas como um rei, pai de Europa.
Agenor quem?

CONCLUSÃO
Peguei pesado nas críticas. Talvez pela óbvia expectativa que eu tinha. Fico com os mesmos questionamentos que tive ao ver Imortais (Immortals, 2011): pra quê inventar tanto com a mitologia se ela por si só já é tão maravilhosa? Mas ainda acho válida a tentativa... por exemplo, alguns rapazes conversavam na saída do filme que gostaram mais do Imortais. Mesmo tendo achado-o confuso, fiquei pensando que pelo menos a mitologia estava virando assunto de interesse de uma nova geração.

Portanto, peguem suas pipocas e seus óculos 3D e mergulhem num mundo de fantasia-quase-mitológica sem esperar muito. Desviem das pedras, da lava e do chororô de Perseu.

2 comentários:

  1. esqueceu de mencionar que quem mata o minotauro é o Teseu e não o Perseu... Ótima crítica, concordo com quase tudo suhausha mais, gosto é como C@ kkkkk

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  2. valeu anônimo! devidamente acrescentado! e divida suas opiniões sobre o filme conosco!

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