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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

HÉRCULES: Atitudes e consequências

Mais do que convencido da origem divina de Alcides, Anfitrião providenciou-lhe a melhor educação da época: condução de carros de guerra (ele mesmo o ensinou), luta, armas (por Castor), música (por Eumolpo) e canto, sendo estas duas últimas as habilidades que o rapaz não conseguia ser o melhor. Durante o ensino da escrita e da lira por Lino, filho de Apolo com a musa Urânia, Alcides matou seu professor. Conta-se que os dedos grossos do rapaz sempre arrebentavam as cordas do instrumento e, certa vez, Lino começou a praguejar e bater em Alcides. Foi o suficiente para ele arremessar a lira quebrada na cabeça do professor com uma força letal. Alcides foi levado a um tribunal, mas seus conhecimentos do política ("aquele que é atacado tem o direito de retaliar") o livraram da punição.

Após essa explosão de ira, Anfitrião decidiu enviá-lo para um treinamento com pastores e caçadores. Ensinado por Êurito, rei da Ecália, rapidamente dominou o arco e suas flechas nunca erravam o alvo. Num pastoreio, fui visitado por duas ninfas que lhe ofereceram duas escolhas de vida: uma confortável e fácil, a outra gloriosa e brutal. Ele teria decidido pela segunda opção.

Sua primeira façanha deu-se aos 18 anos quando se dirigia a Beócia: perseguiu e matou (partindo-lhe a espinha) um enorme leão que devorava os rebanhos de Anfitrião e de Téspio. A caçada durou cinquenta dias consecutivos no Monte Citéron, durante os quais o herói foi hóspede de Téspio e se uniu a cada uma das cinquenta filhas do rei. Posteriormente, isso iria criar uma aguerrida descendência entre os Tespíadas, que se espalharam até a Sardenha.*
* Téspio prometera a Alcides que sua primogênita, Prócris, o esperaria na cama enquanto a caçada pelo leão durasse. Porém, o herói chegava tão fatigado que não percebia que o rei mandava uma filha diferente por noite, objetivando uma poderosa descendência. A potência sexual de Hércules tornou-se mitologicamente incomparável.
Alcides, seu sobrinho Iolau e seus amigos Hilas e Poias participaram da jornada pelo velocino de ouro a bordo do navio Argo. Durante uma parada dos Argonautas em Mísia (na Ásia menor), Hilas foi atraído por náiades para as profundezas de um lago. Alcides voltava do bosque onde fora buscar madeira para refazer seu remo partido, quando tomou conhecimento do sumiço de seu amigo. Abandonou, então, a expedição para procurá-lo e o navio acabou zarpando sem ele.

Hilas e as ninfas. Óleo de John William Waterhouse (1896)

De volta a Tebas*, Alcides decidiu livrar a cidade do tributo de cem vacas anuais a ser pago por antigos conflitos com Ergino, rei dos Orcômenos. Ao encontrar-se com os cobradores, o jovem semideus arrancou-lhes as orelhas e os narizes, pendurou-os em torno do pescoço de cada um e os enviou de volta a Ergino, que declarou guerra contra Tebas. Durante o combate, Anfitrião foi morto, deixando Alcides furioso: matou Ergino a flechadas, desviou um rio e afogou o exército inimigo. Por fim, ele inverteu e dobrou o pagamento do tributo. O rei de Tebas, Creonte, em agradecimento, entregou sua filha Megara à aliança com o herói, que se tornou, assim, o soberano de Tebas. Com Megara, Alcides teve três filhos**: Terímaco, Creontíades e Deicoon.
* Diz-se que a caminho de Tebas, Hércules teria encontrado duas belas mulheres, Hedoné (o Prazer) e Areté (a Virtude). Hedoné tentou seduzi-lo com seus olhos gulosos, mas as palavras centradas da modesta e pudica Areté o convenceram e, a partir da quele momento, o herói seguiria uma vida sofrida porém virtuosa.

** Segundo Apolodoro, Hércules e Megara tiveram três filhos, porém, conforme Píndaro, foram oito e outras versões dizem que foram cinco ou sete. Independente da quantidade, o gênero sempre foi masculino, numa reflexão de "homem gera homens".
Anos mais tarde, Alcides detinha-se diante de uma lareira prestes a sacrificar um cordeiro em oferenda aos deuses quando Hera enviou Lýssa (a raiva) e Anóia (a demência) para exacerbar seu temperamento explosivo. Transtornado e enlouquecido, o herói acaba substituindo os cordeiros por seus filhos, lançando-os na fogueira. Lançou-se, em seguida, contra os filhos de Íficles e matou dois deles, enquanto seu irmão Íficles retirava Megara, seu primogênito Iolau e todos os outros do palácio. Passado o rompante, Alcides adormeceu. Ao despertar e tomar conhecimento de seus atos, entregou Megara a Iolau* e decidiu partir ao Oráculo de Delfos em busca de uma possível forma de purificação para um crime tão hediondo.
* Alguns dizem que Iolau era não só sobrinho, mas também o jovem amante (eromenos) de Alcides e, por essa razão, avançou sobre ele. Existem versões desta história que Iolau salva Megara da fúria do herói. Posteriormente, ele permitiu que seu sobrinho se casasse com sua mulher num rito de passagem para a vida adulta.
Hércules e Iolau, mosaico romano, séc. I a.C.
Ruínas do Templo em Delfos.
Hera queria dar uma punição bem severa ao bastardo, então, procurou aconselhar Apolo*, deus responsável pelo oráculo. Então, a pitonisa de Delfos disse que Alcides precisaria se submeter humildemente às ordens de seu primo Euristeu**. Adorador de Hera e por ela induzido, o covarde Rei Euristeu começou a dar tarefas impossíveis e mortais para que o herói sucumbisse.
* Apolo também foi aconselhado por Atena, protetora de Hércules, e, assim, foi garantido perdão e imortalidade no fim das tarefas. Esta imortalidade pode ser uma reflexão sobre a eternidade do mito e não exatamente longa vida,

** Existem outras variantes dessa submissão de Hércules a Euristeu. Uma delas relata que o herói abandonou Tebas e pediu para retornar a Argos. Euristeu concordou com a condição que ele libertasse o Peloponeso de determinados monstros. Uma outra apresenta Hércules como amante do rei e estava somente realizando os caprichos de seu amado.
Outra versão conta que a loucura de Alcides é ação de Até a mando de Hera. A deusa traiçoeira sobrevoou a cabeça do herói com um véu invisível que transformou seus filhos em dragões. Usando mesas e cadeiras, ele destruiu todo o salão e esmagou a cabeça dos dragões. Quando Até retirou o véu, Alcides chorou. Creonte o baniu de Tebas e Megara o abandonou. O rei Téspio recebeu o arrependido herói até que um mensageiro de Micenas apareceu com uma mensagem de Euristeu ordenando que Alcides passasse a servi-lo, confirmando a profecia de Zeus. Téspio aconselhou Alcides a procurar o Oráculo de Delfos para ter certeza de suas próximas ações. A resposta afirmativa aliviou o herói e, assim, aconteceram os famosos Doze Trabalhos.


PARTE: I - II - III - IV - V
TRABALHO: I - II - III - IV - V - VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII
PARTE: VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII - XIII - Livro

Um comentário:

  1. Entre os vários aspectos interessantes dessa postagens uma me chamou a atenção especialmente. É o argumento de defesa de Alcides quando do julgamento pelo assassinato de seu professor: "aquele que é atacado tem o direito de retaliar". Isso nos remete ao Código de Hamurabi ("olho por olho dente por dente"). Parece que, de fato, houve influência sumeriana nas demais civilizações surgidas paralela ou posteriormente.

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