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sábado, 9 de janeiro de 2010

O poder do mito

Dizem que o que todos procuramos é um sentido para a vida. Não penso que seja assim. Penso que o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior do nosso ser e da nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos.

Não poderia deixar de citar aqui o grande Joseph Campbell, pesquisador de línguas, mitologias e religiões. Seus estudos são referência. Seu exaustivo trabalho de quatro volumes As Máscaras de Deus (Mitologia Primitiva, Mitologia Ocidental, Mitologia Oriental e Mitologia Criativa) cobre a mitologia através do mundo, da mitologia antiga à moderna, focando nas variações históricas e culturais do monomito*. Já O Herói de Mil Faces foca nas idéias elementares da mitologia. Em outras palavras, enquanto que O Herói de Mil Faces baseia-se principalmente na psicologia, As Máscaras de Deus baseia-se mais na antropologia e história.

As idéias de Campbell fizeram sucesso nos anos 70, quando se tornou um ícone para os hippies que pregavam o compromisso social com tolerância e respeito ao outro e paz como metáfora religiosa e elemento de ligação entre o ser e o mistério. Não por acaso, Campbell é o autor que inspirou George Lucas na saga Guerra nas Estrelas – e o ponto culminante do primeiro filme, quando Luke Skywalker vai destruir a Estrela da Morte e os equipamentos falham, é a “voz da consciência” do herói que pede que ele não acredite nos aparelhos (assim como não deveríamos acreditar nas histórias míticas ou no que diz qualquer pretenso salvador) e acredite em si mesmo. As histórias mitológicas deveriam servir como metáforas para nossas vidas. Mas o poder de alguns homens sobre as religiões subverte essa dinâmica.

Após sua morte, a Fundação Joseph Campbell mantém os estudos e a preserva seu trabalho.

* Monomito é o conceito da "jornada do herói" criado por Campbell. Para ele, todos os mitos seguem uma estrutura dividida em três grandes seções: Partida, Iniciação e Retorno. O termo foi cunhado por James Joyce, autor preferido de Campbell.

Um comentário:

  1. O que começou como obrigação legal - incluir a História da África nos programas escolares - está se transformando num enorme prazer.
    Numa das leituras encontrei um provérbio africano, provavelmente dos Malês (negros islamizados do Norte da África e de grande valor no tráfico de escravos por sua cultura, daí serem usados até como professores de filhos de senhores brasileiros)e que diz o seguinte: "Uma chama não perde nada ao acender outra chama".
    O que isso tem a ver com o tema Mitologia? Tudo.
    Os mitos de todos os povos sempre buscaram explicar o mundo e ordenar as relações humanas.
    O que faz a Ciência hoje? O que faz o Estado hoje, com suas legislações? E o curioso é que cada vez mais os mitos tem se transformado na mola propulsora de diversas pesquisas.
    Mas isso não é novo. Vocês podem gostar ou não de Freud mas vamos combinar que ele foi um dos maiores pesquisadores do comportamento humano e recorreu incansavelmente aos mitos. Aos que tiverem alguma dúvida leiam "Totem e Tabu", escrito no início da 2a década do século XX. É, para mim, o paradígma do uso do Mito como chave para o entendimento do Humano.

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