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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

HÉRCULES: Vingador expedicionário

Estátua de bronze de Hércules lutando
com Aquelôo em forma de serpente.
Livre. Finalmente Hércules podia seguir sua vida, sentindo-se perdoado pelos erros cometidos no passado. Dirigiu-se a Cálidon, na Etólia, para cumprir sua promessa feita no Hades à sombra de Meleagro. Acabou se apaixonando por Dejanira, filha do Rei Eneu, irmã do herói morto. No entanto, Hércules precisou disputá-la com o terrível deus-rio Aquelôo. A divindade aquática transformou-se em serpente e atacou, mas foi repelido. Virou um touro e Hércules quebrou seus chifres, derrotando-o. Aquelôo quis seus chifres de volta, mas lhe foi oferecido o cordo da cabra Amalteia, que despejava abundância em flores e frutos.

Com Dejanira teve vários filhos, sendo Hilo, seu primogênito. Viveram algum tempo na Etólia, até que o herói matou acidentalmente Êunomo, copeiro e parente do rei Eneu. Mesmo perdoado pelo infortúnio, Hércules preferiu se exilar com sua família em Tráquis, na Fócida.

Hércules e Dejanira. Óleo de Jan Gossaert (1517).

Hércules e o centauro Nesso.
Estátua em mármore de Giambologna, que é um
clássico, porém, não retrata corretamente a lenda.
No caminho para Fócida, quando ele e Dejanira estavam atravessando o rio Eveno, o centauro Nesso (um dos sobreviventes da fúria do herói na casa de Folo) ofereceu-se para transportar sua esposa. No meio da correnteza, o centauro tentou violentá-la. Com uma flecha envenenada certeira no membro de Nesso, Hércules o matou. Antes de morrer, Nesso, simulando arrependimento, incentivou Dejanira a pegar um pouco de seu sêmen misturado ao sangue envenenado de seu ferimento e guardá-lo: se Hércules algum dia parecesse cansado dela, deveria embeber um traje com o elixir e dá-lo para que ele o vestisse; após isso, ele nunca mais olharia para outra mulher.

Hércules e Dejanira com Nesso aos seus pés. Estátua em terracota de Pietro Finelli.

Em Tráquis, foram acolhidos por seu Ceix, seu primo, sobrinho de Anfitrião. Hércules viveu algum tempo na região e teve mais filhos com Dejanira antes de partir em quatro expedições vingadoras.

CONTRA TROIA
Sem se esquecer da traição de Laomedonte, partiu para sua vingança. Ajudado pelo exército de Telamon, rei de Salamina, conquistou a cidade, matou Laomedonte e seus filhos. A princesa troiana Hesíone foi dada a Telamon para casamento (ou escrava) e ela pediu que o caçula Podarces fosse poupado em troca de um véu de ouro bordado por ela. O pequeno ficou conhecido como Príamo, que significaria “comprado” ou “resgatado”, o futuro e mítico rei de Troia.

Hércules e Antágoras. Estátua de bronze em Kós.
No retorno a Grécia, uma curiosa história: conta-se que, com ajuda de Hipnos e Bóreas, Hera pôs Zeus a dormir profundamente e lançou uma tempestade sobre o navio de Hércules, que aportou na ilha de Kós. O herói encontrou Antágoras, filho do Rei Eurípilo, a guardar o rebanho real e, com fome, pediu-lhe um carneiro. O príncipe propôs o animal como prêmio de uma luta justa. Hércules e Antágoras estavam, então, em uma luta amigável, quando os habitantes acharam que o combate era real e atacaram o herói. Para não causar nenhuma morte, o herói fugiu e saiu da ilha disfarçado como mulher.

Uma variante desta história, diz que o barco de Hércules foi recebido de forma hostil pela população da ilha, achando que eram piratas. Zeus teria acordado no meio desta luta e visto Hércules sangrar. Ao perceber que tudo fora obra de sua esposa, desceu do Olimpo e tratou dos ferimentos de seu filho. Tomado de raiva, amarrou os braços de Hera com correntes de ouro e pendurou-a nas nuvens. Ainda colocou duas bigornas em seus pés para aumentar a agonia. Nenhum deus se atreveu a tirar Hera de seu sofrimento com medo da fúria de Zeus. Enquanto isso, o herói tomou o reino de Eurípilo e desposou a princesa Calciopeia.

Após esse episódio, Hércules foi convocado por Zeus e Atena a participar da Gigantomaquia, onde, com suas flechas certeiras, auxiliou a vitória dos deuses sobre os gigantes da vingativa Gaia.

CONTRA NELEU E AUGIAS
Hércules mata os Moliônides. Gravura de
Albert Dürer.
Hércules havia se irritado com Neleu, rei de Pilos, por terem ajudado os Orcômenos contra os tebanos e por ter tentado roubar parte do rebanho de Gerião que ele levava para Micenas. Neleu tinha onze filhos, sendo Periclímeno o primogênito apadrinhado com poderes de metamorfose por Poseidon. Hércules investiu furiosamente contra Neleu e seus filhos com ajuda da deusa Atena, uma vez que o rei contava com ajuda de Poseidon, Hera, Apolo e Ares. A sabedoria estratégica da deusa, fez com que Hércules derrotasse e ferisse todos os deuses: uma flecha no seio de Hera, sua lança na coxa já ferida de Ares e cortes de espada tanto em Poseidon quanto em Apolo. Periclímeno se transformou em uma abelha para picar os cavalos da biga do herói, mas acabou esmagado entre seus dedos. Tomada Pilos, Hércules matou Neleu e seus filhos, deixando apenas o caçula Nestor para tocar o reino.

Hércules atleta vitorioso.
Estátua romana de mármore.
Hércules também não esqueceu dos atos de Augias e seguiu com seu exército para destroná-lo em nome do honesto Fileu, que o defendeu anteriormente. Alguns mitógrafos relatam que a primeira investida do herói foi derrotada pelos moliônides, com Íficles saindo gravemente ferido do combate. Somente em uma segunda expedição, Hércules matou Augias e seus aliados. Fileu lhe ofereceu um pedaço de terra perto do rio Peneu, onde o herói construiu um templo para Zeus e um grande estádio. Chamou o local de Olímpia e organizou uma competição atlética em homenagem a seu pai durante os festivais na Élida. Todas as cidades gregas concordaram em honrar Zeus durante os jogos que ocorriam de quatro em quatro anos em disputas de corrida, corrida de carros, boxe, luta livre e pentatlo. Nos primeiros Jogos Olímpicos, Hércules competiu e ganhou todas as provas.

CONTRA ESPARTA
Em Esparta reinava Hipocoonte e seus vinte filhos, os hipocoôntidas, após exilar seu irmão, Tíndaro. O motivo alegado para essa guerra foi de repor no trono o príncipe afastado, mas Hércules queria vingança por Hipocoonte ter ajudado Neleu e por seus filhos terem espancado Eono (Oeonus), sobrinho de Alcmena, até à morte pelo rapaz ter apedrejado o cão deles que o atacava. Com o exército da Arcádia, Hipocoonte e os hipocoôntidas foram mortos, porém a vitória sangrenta terminou de forma amarga: seu irmão Íficles, o Rei Cefeu e seus vinte filhos pereceram em combate. Após o reestabelecimento de Tíndaro no poder, Hércules se dirigiu ao templo de Deméter em Taígeto, onde foi curado por Asclépio de um grave ferimento na mão. Por fim, mandou erguer em Esparta dois templos, um em honra a Atena e outro em homenagem a Hera, que nenhuma atitude hostil tomara contra ele nesta campanha.

Morte de Eono. Afresco em Florença.

CONTRA OS LÁPITAS E OS DRÍOPES
Egímio, rei dos Dórios, pediu ajuda a Hércules para derrotar os violentos Lápitas comandados por Corono que ameaçavam seu reino. Como prêmio, Egímio prometeu ⅓ de tudo que tinha. O herói se prontificou a ajudá-lo porque os Lápitas estavam aliados aos Dríopes, cujo rei Teiódamas não só recusou comida para a família de Hércules durante sua saída de Cálidon como feriu Dejanira no embate. Hércules contou com a ajuda de Apolo que queria se vingar de Laógoras, novo líder dos Díopes, que havia profanado um de seus templos. Assim, o herói facilmente se livrou dos guerreiros, mas pediu que sua recompensa fosse dada a seu primogênito, Hilo, o que foi cumprido à risca posteriormente.

Diz-se que no retorno à Lídia, Hércules ainda passou em Ormínion, no Monte Pélion, para tomar a cidade de Amintor pelo simples fato do rei não ter dado passagem ao herói. Uma variante dessa história, diz que Hércules pedira em casamento Astidâmia, filha do rei, que não consentiu as núpcias por estar o herói unido a Dejanira. Irado, Hércules tomou a cidade e a princesa, com quem teve Ctesipo e Lépreas. Enquanto Ctesipo aparece na Odisseia, diz-se que Lépreas desafiava constantemente o próprio pai, porém Hércules foi sempre vencedor. No entanto, num acesso de embriaguez colérica, acabou morto em combate pelo pai, que declarou legítima defesa dos desafios.


PARTE: I - II - III - IV - V
TRABALHO: I - II - III - IV - V - VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII
PARTE: VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII - XIII - Livro

Um comentário:

  1. Não é uma descoberta e sim uma constatação: a vingança é um sentimento, se não o mais forte, no mínimo um dos mais frequentes na natureza humana. Embora Hércules fosse um semi deus levava com ele toda a carga vingativa dos deuses gregos. E vejam bem, essa presença constante da vingança não é privilégio dessa ou daquela mitologia e pode ser encontrado no Velho Testamento, escrito por dezenas de mãos e construindo um deus do castigo, um deus da vingança.
    Embora a síntese dos 10 mandamentos("amai ao próximo como a ti mesmo"), o Novo Testamento e muitos dos escritos de Maomé (depois alterados e reinterpretados) tenham tentado conter essa índole vingativa, infelizmente ela está aí, diante dos nossos olhos. Conseguiremos domá-la? Não sei, tenho dúvidas, mas um novo ano que surge é sempre um renascer da esperança.
    Feliz Ano Novo ao Mito + Graphos e todos os seus seguidores.

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