quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Shamash

Relevo na parte superior da estela do Código de
Hamurabi, mostrando Shamash entregando as leis.
Na Babilônia, Shamash (Sama) era o deus sol e também o deus da justiça. Ele representava a luz brilhante do sol que retorna diariamente para iluminar a vida, a força que aquece e faz com que as plantações cresçam. Os raios de sol eram seus julgamentos: podiam queimar os malfeitores ou produzir uma rede onde os injustos eram apanhados. Carregava uma espada serrilhada para "cortar a verdade". Hamurabi teria dedicado seu código de leis ao deus.

Junto com sua mãe Nanna e sua irmã gêmea Inanna (em alguns registros, também esposa), formava a Tríade Celeste (Sol, Lua e Vênus). Sua consorte era conhecida como Aya (ou Sherida), entretanto, raramente é mencionada em inscrições, não havendo textos sobre ela, exceto em combinação com o deus. Nergal já foi considerado pai de Shamash ou um aspecto sinistro do deus-sol, personificando sol escaldante do meio-dia e os solstícios.

Todos os dias surgia de uma porta na montanha do leste e conduzia sua carruagem para a montanha do oeste. À noite, viajava na direção leste por baixo da terra, de modo a estar de volta pela manhã. No submundo, julgava as cuasa humanas e decidia o destino dos mortos. Aparece no poema de Gilgamesh, invocando os sete heróis do tempo para defender o mundo. Alguns povos, diziam que Shamash era também um sábio guerreiro.

Na suméria, era chamado de Utu, a personificação da luz que bane o mal. No Grande Dilúvio sumério, após sete dias de tempestade, Utu apareceu numa barca para trazer de volta a luz.

Tábua de Shamash com representação do deus frente seu disco solar, realizando julgamentos.

Havia diversos templos dedicados ao deus, porém seus principais centros de adoração (E-babbara, "casa brilhante") eram em Larsa (atual Senkerah) e Sippar (cidade de Abu Habba), sendo este último o mais famoso.

Alguns estudiosos acham que, inicialmente, Shamash era uma divindade secundária, provavelmente subordinada à lua, dado ao fato que os povos predecessores dos Sumérios eram nômades e usavam a lua e as estrelas para se orientar. Entretanto com o advento da agricultura, o sol ganhou importância e se tornou um dos principais deuses do panteão. Há ainda relatos de deuses solares secundários que o auxiliavam em suas tarefas, tais como Bunene (que dirigia a carruagem solar), Mesahru (o Direito) e Kettu (a Justiça em si).

No judaísmo, shamash é o nome da vela que acende as outras velas da menorah. Fica sendo a nona vela e não deve ser apagada. Como é proibido utilizar as luzes de Chanukah para qualquer função, a shamash fica disponível para usos emergenciais.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Heróis do Olimpo - O herói perdido

Li o primeiro livro da nova saga de Rick Riordan, Os heróis do Olimpo. Em O Herói Perdido somos apresentados a novos semideuses, mas também revemos velhos conhecidos. Anteriormente, falei sobre esse livro, mas ainda não tinha informações sobre ele, mas, quando falei sobre o lançamento do segundo livro, vi que tinha algumas pistas do que vinha por aí... como um novo acampamento e um Percy Jackson longe do livro. Isso mesmo: Percy é só um nome neste livro. Talvez o título merecesse uma revisão...

É importante saber que agora se cruza mitologia grega com a romana. A ideia é que os deuses mudam de aparência, de atributos e de personalidade para refeletir a cultura em que estão inseridos. Em Roma, os deuses teriam se tornado "mais militares".

Riordan mergulha no imaginário mitológico, tirando deuses, personagens e criaturas das duas mitologias. Dessa vez temos Medéia, Midas, Bóreas, Éolo, gigantes e muito mais. Tudo para livrar Hera das garras do gigante Porfírion.

Mas vamos deixar bem claro que o autor não foi muuuito inspirado desta vez. A premissa desta saga é a mesma da primeira: fazer de tudo para não acabar acordando o grande vilão. Primeiro era Cronos, agora é Gaia. Temos novamente três protagonistas: antes Percy (filho de Poseidon), Annabeth (filha de Atena) e Grover (um sátiro); agora Jason (filho de Júpiter), Piper (filha de Afrodite) e Leo (filho de Hefesto). Voltamos a ter uma saga relacionada com a Teogonia grega: antes Titanomaquia; agora a Batalha dos Gigantes, a Gigantomaquia.

Parece que o segundo livro é finalmente sobre Percy, enquanto o terceiro livro está por vir (e deve se chamar A marca de Atena). É mantido o estilo infanto-juvenil e a pegada - o que é sempre válido como porta de entrada para novos leitores e amantes de mitologia -, mas em algum lugar fica aquela sensação de que não precisava mais livros. Vou aguardar uma reviravolta.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Organizando...

Com a entrada deste blog no Facebook, estou aproveitando para dar um organizada nas postagens anteriores e fazer um inventário para tudo ficar bem registrado. Com isso, surgiram algumas atualizações e rediagramações, como, por exemplo, em Tezcatlipoca.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

domingo, 6 de janeiro de 2013

La Befana

Neste 6 de janeiro, comemora-se o Dia de Reis. De certa forma, devemos aos Três Reis Magos a tradição cristã de trocar presentes no Natal. Segundo à tradição, hoje é dia de desmontar toda a decoração natalina, inclusive a árvore.

Em outros países, o dia de hoje carrega outras lendas. As crianças italianas, por exemplo, penduram suas meias e costumam deixar um copo de vinho e uma tangerina para a Befana, um personagem místico que, na noite de 5 e 6 de janeiro, montada em uma vassoura coloca doces nas meias das crianças que se comportaram bem e para quem aprontou ela deixa um carvão. Ela passa pelos telhados e entra nas chaminés para encher as meias penduradas pelas crianças, não sem antes comer a refeição gentilmente deixada e dar uma varrida na bagunça que fez. É dito que ela não gosta de ser vista e dá uma vassourada na cabeça daqueles que tentam encontrá-la (uma forma de manter as crianças na cama enquanto seus pais enchem as meias).

Alguém aí lembrou do Papai Noel?

Segundo uma história popular, os Reis magos dirigiam-se a Belém para levar os presentes à Jesus, mas não conseguiam encontrar o caminho. Na estrada encontram uma velhinha e pediram informações para ela. Mesmo sem saber, a velhinha - considerada e melhor dona de casa e anfitriã da regiã - ofereceu abrigo Agradecidos pela ajuda, os Reis convidaram a senhora para acompanhá-los, mas ela decidiu não ir por causa de seus afazeres. Arrependida, preparou um cesto de doces e foi procurar os Reis e o menino Jesus, mas não os encontrou. Na esperança de encontrar o pequeno Jesus, foi distribuindo doces em todas as casas onde encontrava uma criança. Desde então, gira o mundo dando presentes para as crianças.

Existe uma lenda cristã um pouco diferente. Befana seria uma mulher comum que teria enlouquecido ao perder sua amada criança. Ao saber do nascimento de Jesus, resolveu ir atrás dele achando que seria seu filho morto. Ela conseguiu encontrar Jesus e o presenteou. O piedoso menino se encantou pelos presentes, a curou de sua loucura e a nomeou mãe de todas as crianças na Itália.

Sua representação é fixa: uma senhora idosa usando saias escuras e largas, um avental com bolsos, um xale, um lenço ou um chapéu na cabeça, um par de chinelos usados, todos bem estampados. Sempre carrega um saco recheado de brinquedos, chocolates e outros doces, mas no fundo tem uma boa dose de cinzas e carvão.

A palavra "Befana" deriva do grego "epifania" que quer dizer aparições, manifestações. Em Roma, o ponto de encontro das crianças é a Piazza Navona, onde é possível comprar uma uma meia cheia de doces chamada befana. Estudiosos crêem que possa ser uma sincretização da deusa romana Strenea.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Ménage à trois

Título sexualizado (pra dar um tempero polêmico), mas o termo em francês significa "moradia a três". E é isso que esse blog continua tentando representar nesses três anos de vida: uma casa pra mim, pra você e para a mitologia!

Em 2012, abri um e-mail (mitographos@gmail.com) para nos aproximarmos ainda mais e agora está sendo estudada a possibilidade de entrarmos nas redes sociais. Foi o ano com mais postagens até agora (107), mas nem 50% foram verbetes mitológicos. As explicações são várias: desde falta de tempo para pesquisar à viagem para Chichen Itzá... das inúmeras notícias de entretenimento voltadas ao assunto até as inúmeras postagens sobre o fim do mundo.

Não posso prometer um 2013 com mais verbetes, mas vou tentar manter o ritmo neste ano de Saturno, de Obaluaê e da Serpente de Água! Que comece a nova era!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Desperte para o primeiro dia


O primeiro dia do ano se tornou uma celebração universal festejada nas mais variadas formas em várias culturas e tradições. É consagrado, entre outros, às entidades greco-romanas do destino - as Parcas e as Moiras -, à deusa tríplice celta Morrigan, aos deus romano Jano e às divindade japonesas protetoras das casas e das famílias.

Para garantir o sucesso e a abundância no ano que se seguia, antigamente eram feitos rituais e chamamentos às divindades, purificando-se e expulsando o mal, pois este momento era propício às interferências das forças negativas e às atuações de seres malignos e de fantasmas.

Na antiga Babilônia, por exemplo, festejava-se a deusa Nashe com procissões de barcos enfeitados de flores e repletos de oferendas, similares aos festejos atuais de Iemanjá no Brasil. Acendiam-se fogueiras e lamparinas, as famílias usavam roupas novas, reuniam-se, trocavam presentes e festejavam com comidas tradicionais e vinho. Nos templos, havia cerimônia de purificação com fogo, oferendas e libações para as divindades e adivinhações sobre as perspectivas do próximo ano.

Os antigos gregos celebravam à deusa Hera, padroeira dos casamentos, com o festival de Gamélia. Ofereciam-lhe figos de mel e guirlandas de ouro, chamando seus bênçãos durante os inúmeros casamentos realizados neste dia.

Na Roma antiga, era realizado o Festival Strenia à deusa Anna Perenna, durante o qual trocavam-se presentes. Neste dia, faziam-se também oferendas para a deusa Fortuna, chamando suas bênçãos de boa sorte e de prosperidade para todo o ano.

É preciso lembrar que o primeiro dia do ano não é necessariamente o 1º de janeiro. Precisamos considerar os calendários e religiões de cada civilização para contextualizar esse dia. A comemoração ocidental tem origem num decreto do governador romano Júlio César em 46 a.C., que fixou o 1º de janeiro como o Dia do Ano Novo. Os romanos dedicavam esse dia a Jano e o nome do mês deriva do desse deus.

A celebração dos eventos de mudança de ano é também chamada de Réveillon, termo oriundo do verbo francês réveiller, que significa "despertar". Então, espero que seu "despertar" tenha sido cheio de simpatias que farão seu novo ano ser ainda melhor!

domingo, 30 de dezembro de 2012

Ouroboros

O nome vem do grego antigo: oura significa "cauda" e boros significa "devora". Assim, a palavra ouroboros (oroboro ou uroboro) designa "aquele que devora a própria cauda". É representado por uma serpente ou um dragão que morde a própria cauda, simbolizando a eternidade. Por vezes é representado como dois animais míticos, mordendo o rabo um do outro. Está relacionado com a alquimia, e é possível que o símbolo matemático de infinito tenha tido sua origem a partir da imagem de dois ouroboros, lado a lado.

O ouroboros também simboliza o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo, a roda da existência, a dança sagrada de morte e reconstrução. Contém as ideias de movimento, continuidade, autofecundação e, em consequência, o eterno retorno. Estudiosos crêem que seja um símbolo da criação do universo, já que uma serpente enrolada em um ovo era um símbolo comum para egípcios, druidas celtas e hindus. Outros interpretam o símbolo como a serpente do mundo infernal e a forma circular do mundo celeste.

Geralmente, em livros antigos, o símbolo vem acompanhado da expressão hen to pan ("um é o todo"). Mas a primeira aparição conhecida da imagem foi em um texto funerário egípcio na tumba de Tutankamon que se refere às ações do deus Ra e sua união com Osíris no submundo. Em uma ilustração, duas serpentes segurando seus rabos na boca estão sobre a cabeça e sob os pés de uma divindade enorme que representa a unidade Ra-Osíris. As duas serpentes simbolizam Mehen, deus que protegia Rá durante sua jornada contra Apep.

Vale registrar que, na tentativa de encontrar a raiz etimológica da palavra, percebeu-se que em copta (idioma do Antigo Egito) “ouro” significa “rei” e em hebraico “ob” significa “serpente”.

Amuleto gnóstico com
ouroboros circulando
um escaravelho com
palavras mágicas.
O ouroboros entrou no Ocidente através da Grécia e foi adotado pelo Gnosticismo, pelo Hermetismo e pela Alquimia, sobrevivendo até o período medieval e a Renascença. O químico alemão August Kekulé pensou na forma hexagonal do benzeno depois de ter sonhado com um ouroboros.

Ouroboros também está ligado à mitologia nórdica – pois Jormungand, a serpente do mundo, está mordendo a própria cauda – bem como a mitologia hindu através do conceito da kundalini.

Carl Jung diz que o ouroboros é um arquétipo universal: "Os alquimistas, a sua maneira, sabiam mais sobre a natureza do processo de individuação do que os modernos e expressavam esse paradoxo através do símbolo dos Ouroboros, a serpente que come sua própria cauda, com significado de infinito ou totalidade. Na imagem encontra-se o pensamento de devorar-se e transformar-se em um processo circulatório, pois ficou claro para os mais astutos que a matéria prima da arte era o próprio homem. O Ouroboros é um símbolo dramático para a integração e assimilação do oposto, ou seja, da sombra. Este processo de feedback é ao mesmo tempo um símbolo da imortalidade, já que ele se mata e se traz à vida, fertiliza-se e dá a luz a si mesmo. Ele simboliza o Um, que procede do choque de opostos, e ele, portanto, constitui o segredo da matéria prima que indubitavelmente se origina do inconsciente do homem."
Mas essa postagem é para desejar um excelente 2013 para todos os leitores do blog. Afinal, os maias predisseram que terminamos um ciclo e iremos começar uma nova era. Abracem o novo!

sábado, 29 de dezembro de 2012

Uma jornada de fé


Todos aqueles que acompanham este blog deveriam assistir As aventuras de Pi (The life of Pi, 2012). Os questionamentos que Yann Martel (inspirado em Max e os Felinos, do autor brasileiro Moacyr Scliar) faz sobre religião, ciência e - principalmente - fé são descritos com maestria pelo diretor Ang Lee e sua trupe de efeitos especiais. Por isso, antes de continuar a ler essa postagem, sugiro que você vá ao cinema e depois volte para ler e comentar. Daqui em diante haverá um número bem grande de revelações do filme...



Logo nos primeiros 20/30 minutos do filme, religião e razão são colocadas da balança. Hinduísmo, Cristianismo, Islamismo ou Medicina Ocidental? Tentando se encontrar, o jovem Pi (Suraj Sharma) se permite experimentar e misturar um pouco de cada um sem preconceitos ou amarras familiares. Claro que o personagem é de uma curiosidade e perseverança ímpar: mesmo quando ele não entende e não vê significado na religião, ele continua se perguntando e indo a fundo até se satisfazer. Aqui tem um momento interessante quando ele explica sua forma de ver o tapete islâmico, dizendo que sobre ele o solo se torna sagrado independente de onde ele esteja.

Pode não parecer de início, mas é importante sabermos que Pi é bom em natação e enxerga a alma dos animais. A entrada de Richard Parker (o perfeito tigre digital de Bengala) é também um divisor de águas na infância do personagem. Mas o que dá start na história toda é um escritor (Rafe Spall)que precisa arrumar o enredo para um novo livro e descobre que Pi tem algo surpreendente a contar. Pi (como adulto, interpretado por Irrfan Khan), então, começa a narrar sua vida onde ele promete para o escritor que, no final, irá encontrar Deus. E sua vida muda completamente quando o navio que levava sua família e os animais do zoológico afunda em uma terrível tempestade no meio do Oceano Pacífico.

Pi sobrevive em um bote com uma zebra, uma hiena, um orangotango e Richard Parker. Aliás, o termo "sobrevivência" é elevado a última potência ao enfrentar fome, sede, tubarões, baleias, cardumes de peixes voadores, tempestades, calmarias, devaneios, ilhas carnívoras (e que ilha, hein?) e o próprio relacionamento entre as diferentes espécies. Somos apresentados à imagens de beleza ímpar que só a natureza poderia nos proporcionar. Aliás, por um momento, fiquei achando que um dia só nos restará imagens da natureza em 3D...

A jornada de fé de Pi também é feita de altos e baixos. Ele chega a se render algumas vezes, mas sempre dá um novo passo. Entender que a existência de um tigre o fazia ficar vivo e são não só pelo medo, mas também pela necessidade de alimentá-lo é de uma grandeza inexplicável. Mesmo nas vezes que ele tem a vida de Richard Parker nas mãos, ele opta pela vida. Quando ele mata para comer, Pi valoriza a vida. Sua fé lhe dá esperança.

No fim, somos surpreendidos como uma outra história. Diferente do que acabamos de ver, mas equivalente e fácil de correlacionar. O escritor toma o nosso lugar de espectador incrédulo assim que tomamos conhecimento de uma versão mais realista do ocorrido. Mas Pi resumidamente pergunta: "você prefere a história fantástica com o tigre ou a história real?" O escritor/espectador dá a resposta que todos damos em uníssono e Pi pontua com a frase de ouro: "Assim é com Deus". É o slogan do filme: "Acredite no inacreditável".


Não li livro, mas andei lendo que o final da história era mais denso. Que seja. Independente da religião que cada ser humano na face deste planeta, somos todos unidos e iguais pela fé. E é nesse conceito que devemos nos olhar como irmãos e não como inimigos. Nossas diferenças ficam reduzidas perante nossa mortalidade e insignificância. O termo "tolerância" jamais deveria ser ligado às diferentes religiões. Os termos corretos são "respeito", "coexistência" e "compreensão".

O filme do ano para este blog.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Parabéns... Sol!

Dia 25 de dezembro é o dia de celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Mas a data real da natividade é incerto (e, certamente, um equívoco) por conta de questões históricas e geográficas. Nos primeiros séculos da nossa era, havia na Palestina até mesmo cristãos que comemoravam o nascimento de Jesus em maio. As primeiras celebrações históricas do natal cristão ocorreram ao findar o século II, partindo do oriente, no dia 6 de janeiro. Esse dia, porém, nunca foi reconhecido pela Igreja do Ocidente.

A tradição de se festejar o Natal durante o inverno europeu foi estabelecida no século IV. O Cristianismo foi englobando uma série de comemorações e tradições do período para fortalecer seu principal personagem e suprimir os rituais pagãos.

Na Idade Média, havia duas versões da festa de fim de ano (Yule) entre os povos germânicos: ao norte de Danevirk (a muralha que separava os dinamarqueses dos francos, os cristãos dos pagãos), toda a aldeia se reunia em um templo para fazer um sacrifício animal para Odin; enquanto, ao sul, rezava-se uma missa para São Nicolau em uma igreja. Mesmo com essas diferenças, em ambas, as casas eram decoradas com frutos vermelhos de azevinho e ramos de pinheiro e as famílias se juntavam para beber e celebrar.

O dia 21 de dezembro evocava a festa romana do Sol Vitorioso (Natalis Solis Invictus), em homenagem ao aniversário de Mitra, o deus solar persa cujo culto e influência estenderam-se por todo o império romano. Ela acontecia durante as Saturnálias, uma celebração carnavalesca, quando os druidas celtas dos povos germânicos usavam muitas luzes, tochas e velas para garantir que o mundo não saísse dos eixos devido à longa escuridão invernal (Solstício de Inverno no Hemisfério Norte). Novamente os cristãos se apoderaram desse simbolismo de luzes, pois, no Antigo Testamento, o Salvador é, de fato, "a luz que virá ao mundo".

Em 336, o 25 de dezembro foi mencionado oficialmente pela primeira vez como o aniversário de Jesus. Alguns dizem que a data decisiva para o cálculo foi o 25 de março (Equinócio da Primavera no Hemisfério Norte), quando dia e noite têm duração igual. A data já era destinada à celebração do sol em vários cultos pagãos, como, por exemplo, o grande e popular Horus da mitologia, Krishna entre os hindus, além de Dioniso (que era chamado "salvador", soter) e Adônis na Grécia. Os cristãos tomaram posse da data, como o dia em que o anjo anunciou a Maria que ela teria um filho. Nove meses depois, e estamos no dia 25 de dezembro.

Mas a adesão não foi simples, uma vez que as festividades pagãs eram intensas e muitos consideravam grandes arruaças. Por exemplo, em 1644, os puritanos ingleses, após deporem o rei Carlos I em meio a uma Guerra Civil, simplesmente proibiram o Natal por considerarem-no “pagão”. A lei só seria derrubada com o retorno da monarquia, em 1660. Os escoceses foram além e reprimiram o Natal entre 1640 e 1958, quando voltou a ser feriado!

Feliz aniversário, então, para todos os mitos nascidos no dia de hoje! Parabéns... Sol!