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sábado, 19 de março de 2016

Ossanha protege o Jardim Botânico do Rio

No meio da cidade do Rio de Janeiro tem um paraíso chamado Jardim Botânico. E ele é protegido por Ossanha, orixá do verde, belamente representado nessa estátua em resina de 5 metros de altura do artista plástico baiano Tatti Moreno (2004).

sábado, 6 de junho de 2015

Donar

O deus germânico do trovão era Donar. Cultuado pelos celtas, é associado com as grandes florestas de carvalho e leva um machado, símbolo do raio. É comparado ao deus escandinavo Thor - sendo até chamado de Thunnor pelos anglo-saxões - e ao deus eslavo Perun.

sábado, 23 de agosto de 2014

Curupira

Ilustração de Rafamarc
O Curupira é uma entidade protetora das árvores e da caça, senhor dos animais que habitam a floresta. Antes das grandes tempestades percorre a floresta batendo nos troncos das árvores certificando-se de sua resistência e avisando aos animais para se abrigarem. Assemelha-se em suas atribuições à Diana dos romanos e à Ártemis dos gregos, protetoras dos bosques e da caça, inclusive fazendo parte do cortejo lunar ao lado do Saci, do Boitatá e do Uratau.

Seu nome vem do tupi curu, menino e pira, corpo: corpo de menino. É mais conhecido por esse nome na Amazônia, no Maranhão e no Sudeste do Brasil, exceto Espírito Santo. Entidades semelhantes são conhecidas como Caapora ou Caipora, no Nordeste do Brasil e Espírito Santo; Kilaino, no Mato Grosso; Maguare, na Venezuela; Selvaje, na Colômbia; Chudiachaque, no Peru; e Kaná, na Bolívia. Também guarda semelhanças com o mito eslavo do Leshy.

Gravura de Ernst Zeuner, 1963.
Entre os mitos brasileiros, o Curupira é incontestavelmente o mais antigo, possivelmente legado pela população primitiva que habitou o Brasil no período pré-colombiano e que descendia dos invasores asiáticos, tendo passado dos Nauas aos Caraíbas e destes aos Tupis e Guaranis. A mais antiga menção de seu nome foi feita pelo padre José de Anchieta, quando ele escreveu sobre os medos "indígenas", em carta de 30 de maio de 1560:
"É coisa sabida e pela boca de todos corre que há certos demônios que os brasis chamam de Curupira, que acometem aos índios muitas vezes no mato, dão-lhe de açoites, machucam-nos e matam-nos. São testemunhas disto os nossos irmãos, que viram algumas vezes os mortos por eles. Por isso, costumam os índios deixar em certo caminho, que por ásperas brenhas vai ter ao interior das terras, no cume das mais alta montanha, quando por cá passam, penas de aves, abanadores, flechas e outras coisas semelhantes, como uma espécie de oblação, rogando fervorosamente aos Curupiras que não lhes façam mal."

Por ser um mito difundido pelo Brasil inteiro e por parte da América do Sul, suas características físicas variam bastante. Porém, é comumente representado como um moleque (ou um anão) de cabeleira ruiva (vermelha ou alaranjada), orelhas pontudas, dentes verdes, pés invertidos: dedos para trás e calcanhar para frente. Às vezes, sua pele também é descrita como esverdeada e seu cabelo como fogo. Em alguns casos, é calvo, em outros, tem um casco de jabuti. Em algumas regiões do Norte brasileiro, o Curupira não possui órgãos sexuais e possui dentes azulados.


O Curupira gosta de sentar na sombra das mangueiras para comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar cada manga. Mas se percebe que é observado, logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana não consegue acompanhar. Costuma encantar crianças pequenas para morar com ele nas matas. Após ensinar os segredos da floresta por sete anos, devolve os jovens para a família.

No entanto, não tem um gênio bom e é também chamado de espírito da mentira. Seus pés virados deixam rastros falsos no chão, iludindo viajantes e caçadores. Também os confunde com assobios e sinais falsos até eles se perderem. Persegue, tortura e pode até matar os caçadores que atiram em animais sem necessidade ou animais em procriação e amamentação. Quando não morrem, ficam abobalhados para sempre. Lenhadores que derrubam árvores de forma predatória também são alvos de suas travessuras.

Pode, contudo, ter contatos amistosos com alguns caçadores, dando-lhes armas e transmitindo certos segredos que, quando revelados, são fatalmente punidos. Isto é feito em troca de comida ou presentes, como fumo e pinga, porque, na verdade, era bem fácil distrai-lo. Para conseguir fugir dele é só fazer um novelo de cipó bem emaranhado e esconder a ponta de forma que o Curupira não a consiga achar. Por ser muito curioso, o Curupira se esquece de seu alvo e fica tentando desemaranhar o novelo.

NUNCA ESQUEÇA UMA CONDIÇÃO...
Uma história conta que o Curupira resolveu comer o coração de um caçador que havia matado um macaco. O esperto caçador entregou ao Curupira um pedaço do coração do macaco, que provou, gostou e quis comer tudo! Pensando em se safar o caçador disse que só daria tudo se o Curupira desse um pedaço de seu coração para ele. Como a entidade acreditara que tinha comido o coração do caçador, pegou uma faca, enterrou em seu peito e tombou sem vida.

O caçador disparou, então, pela floresta e prometeu a si mesmo nunca mais voltar. Durante um ano, não quis saber de entrar na mata, dizendo que estava doente quando lhe perguntavam por que não saía mais da aldeia. Até que sua vaidosa filha pediu o mais diferente colar já visto e o caçador pensou que os dentes do Curupira dariam uma bela joia. Partiu para a floresta e encontrou o esqueleto do gênio encoberto por mato no mesmo lugar onde havia morrido com os dentes verdes brilhando como esmeraldas. Começou, então, a bater com ele no tronco de uma árvore, para que se despedaçasse e soltasse os dentes. Imaginem a sua surpresa quando, de repente, o Curupira voltou à vida! Exatamente como antes, como se nada tivesse acontecido! Por sorte, o Curupira acreditou que o caçador o ressuscitara de propósito e lhe deu um arco e flecha mágicos que nunca errava o alvo. Porém, tinha uma condição: jamais alvejasse uma ave ou animal que estivesse em bando, pois ele seria atacado e despedaçado.

Mesmo sem o colar, o caçador voltou à tribo se sentindo poderoso. Nunca mais faltou caça para a tribo. Por onde passava, era olhado com respeito e admiração. Até que o orgulho o fez esquecer da única condição dada pelo Curupira e flechou um pássaro voando em bando. Imediatamente foi atacado pelo bando enlouquecido e estraçalhado pelos pássaros. Com pena daquele que o ressuscitara, o Curupira arranjou cera derretida e colou os pedaços do caçador, devolvendo-lhe a vida. O gênio avisou que essa seria a única vez que ele poderia ajudá-lo e ele nunca mais poderia beber ou comer coisas quentes para não derreter a vela. Feliz e agradecido voltou para a aldeia sem nada dizer e levou uma vida normal durante muito tempo. Até o dia em que sua mulher preparou uma comida tão apetitosa, que ele não aguentou esperar esfriar e acabou derretendo por inteiro.

domingo, 10 de junho de 2012

Pellervoinen

Pellervoinen é o semeador. Nascido da terra, foi convocado por Vainamoinen para plantar árvores, plantas e flores por todo o canto, criando as florestas, os pântanos e campos. Tornou-se assim o protetor de toda a vegetação, uma força criadora da Natureza. Dessa forma, é frequentemente associado à primavera e à fertilidade da terra.

São inúmeros os rituais para despertá-lo no verão e proteger as colheitas nos meses frios. Os poemas folclóricos contam que três meninas - Inverno, Verão e Primavera - tentam acordá-lo. Primavera é a única a conseguir fazê-lo. Algumas versões desses poemas contam que Pellervoinen apenas insemina a menina Primavera para que ela forneça a fertilidade necessária à toda vegetação. Depois, quando ele finalmente acorda, ele só precisa regar as plantas. Os antigos finlandeses identificam Pellervoinen com toda a fertilidade no mundo, inclusive a dos seres humanos.

Também chamado de Sampsa e Pellervo, alguns acreditavam que Pellervoinen possuía várias formas, como, por exemplo, o deus Pekko (ou Pellonpekko), responsável pelas colheitas e pela agricultura. É comumente descrito como um jovem esbelto e pequeno que transporta ou um saco ou uma cesta em volta do pescoço.

É comparado às divindades escandinavas Frey e Njord, mesmo não recebendo diretamente o epíteto de deus.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Cernunnos

Cernunnos é, possivelmente, a mais antiga divindade do panteão celta. Há sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões celtas. Independentemente de sua origem, o Deus Cornudo (ou Galhudo, ou Cornífero), desempenha uma função importante não só por se tratar do Senhor dos Animais - domésticos e selvagens -, mas também da fertilidade e da abundância - regulando as colheitas dos grãos e das frutas - e Mestre das Caças. Ele conectava a Terra, o Céu e o Mar no centro sagrado do mundo, como a representação da Natureza. Posteriormente, foi considerado também o deus do dinheiro e, em alguns momentos, é associado ao Sol.

Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho da Grande Deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício de verão e se apaixona pela Deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a engravida. Quando a Deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um símbolo do poder natural da vida e da morte.

Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda, registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da Grande Deusa sem seus chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se casou e ambos reinavam no subterrâneo - onde encaminhavam as almas. Porém, Epona precisava vir à Terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade, lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre traíções e chifres.

Sua primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça e dois torques em cada braço. O torque - espécie de argola aberta torcida com as extremidades em forma de esferas - é um atributo de poder e realeza utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta.

Ao lado desta imagem estava desenhada uma serpente com cabeça de carneiro - símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então, que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros, que se alimentam de um grande saco que tem em seu poder, ou por serpentes que se alimentam da fruta oferecida entre suas pernas. Em algumas ocasiões - como no caldeirão Gundestrup (foto) encontrado na Dinamarca -, aparece sentado de pernas cruzadas.

Os deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra, masculinidade etc. É possível que a idéia de "coroa real" venha daí. Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem maças da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres, mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em cerimônias religiosas.

Cernunnos foi muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha - onde foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a , mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o paganismo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Saci

O Saci de Ziraldo.
Dia 31 de outubro é conhecido mudialmente como o Dia das Bruxas, mas aqui no Brasil também é o Dia do Saci.

Famoso por aprontar com todo mundo, o Saci é uma entidade fantástica brasileira que tem sua origem em mitos tupi-guarani. Os tupis contavam a história de Matitaperê, um curumim perneta de cabelo-de-fogo que protegia as florestas. Sua função era de guardião das sabedorias e técnicas de preparo e uso de beberagens e medicamentos feitos a partir de ervas medicinais. A ele também era atribuído o domínio das matas e costumava confundir as pessoas que não pediam a ele a autorização para a coleta destas ervas. Já os guaranis falavam de Cambai (ou Cambay), um pequeno "índio" de perna torta (viria daí a expressão "cambaio", que significa manco) com o poder de se tornar invisível, que vivia nos bosques e protegia os animais, escondendo-os dos caçadores.

A ave saci (Tapera naevia)
Alguns crêem que ele ou é filho do Curupira ou um mistura de lendas entre esses seres. Alguns o identificam como um pequeno pássaro de mau agouro que pula numa perna só, o Saci, e seu nome seria uma onomatopéia do pio desta ave. Feiticeiros e pajés se transformam nesse pássaro para se transportarem de um lugar para outro e exercerem suas vinganças.

O píleo.
Os colonizadores portugueses achavam que o Saci era um duende idealizado pelos nativos brasileiros como um apavorante guardião das florestas que perturbava o silêncio da mata com assovios estridentes e encantava crianças e adultos. Carregava um bastão mágico, como uma varinha de condão. Como foi difícil encontrar um nativo brasileiro com cabelos vermelhos, os portugueses acharam que ele na verdade usava um píleo, um chapéu cônico muito usado na Europa ou o barrete frígio, símbolo da liberdade adotado pelos republicanos franceses que lutaram pela queda da Bastilha, em 1789.

Quando os escravos africanos chegaram ao Brasil, a lenda do Saci foi mesclada às histórias sobre os povos Pigmeus. Assim, o Saci tornou-se o negrinho travesso com uma perna só que todos nós conhecemos: vivia fumando cachimbo e usava um gorro vermelho mágico capaz de transformá-lo em um redemoinho de vento. Ele se faz anunciar por um assobio estridente. Ainda é dito que possui orelhas pontudas, olhos alaranjados e mãos furadas.

Suas travessuras favoritas são perseguir viajantes pedindo fumo ou criando armadilhas, esconder objetos domésticos e espantar o gado. Também gosta de montar em cavalos para trançar a crina e o rabo, e surra-los até a exaustão. As galinhas costumam ser suas vitimas: gosta de jogá-las pra cima e chacoalhar os ovos até gorarem. Mas o Saci não atravessa água corrente.


Essas características o fizeram ser sincretizado com o Capeta, dando a ele medo de imagens de santos e rosários. Rezando um credo, a entidade desapareceria numa fumaça vermelha para sempre. Mas o Saci nunca foi uma entidade maldosa, somente brincalhona. Em alguns lugares, como às margens do rio São Francisco, adquiriu duas pernas e a personalidade de um demônio rural que gosta de enganar pessoas. É o famoso Romão ou Romãozinho. Na zona fronteiriça ao Paraguai, ele é um anão loiro do tamanho de um menino de 7 a 8 anos, que gosta de roubar criaturas dos povoados e largá-las em lugar de difícil acesso.

Existem duas formas de se capturar o Saci: pegando seu gorro mágico ou prendendo-o em uma garrafa quando ele está transformado em vento. Essa segunda opção lembra as histórias sobre os gênios arábicos, uma vez que, capturado, o Saci passa a receber ordens de seu dono.

Em 1917, Monteiro Lobato propôs a abertura de um inquérito sobre a existência do Saci-Pererê. Através do jornal O Estado de São Paulo, pediu aos leitores que enviassem cartas contando suas experiências sobre o mito do Saci-Pererê. Esse material rendeu o livro O Sacy-Pererê, resultado de un inquérito. Em 1921, Monteiro Lobato popularizou a lenda ao escrever o livro O Saci, onde Pedrinho consegue capturar o negrinho. Em troca de liberdade, ele leva o menino para uma aventura, onde conhece outros seres míticos brasileiros. O sucesso da publicação transformou o Saci em um personagem de seu Sítio do Pica-pau Amarelo.

Ilustração de José Wasth Rodrigues para a capa do "Inquérito" e nanquim de Monteiro Lobato para o livro "O Saci".

É ainda chamado de Maty, Matin, Matinta-Pereira, Mati-Taperê, Taperê, Yaci-Yaterê e Sá Pereira.

A MANUTENÇÃO DA LENDA
No final dos anos 1990 um grupo de pessoas, preocupadas com a quase extinção do saci, criou a Ancsaci, Associação Nacional dos Criadores de Saci. Sediada em Botucatu (SP), e tendo como patrono Monteiro Lobato, partia do princípio de que cada vez que você conta uma história de saci para uma criança, você está criando um novo saci, e assim ele se perpetua. O movimento se expandiu nos meios acadêmicos, propícios a embates culturais. Em Botucatu, teve Festival Nacional do Saci, que acontece todo mês de agosto. Em outras cidades foram criados núcleos de defesa do folclore, envolvendo educadores, artistas e simpatizantes. Várias escolas, ocupadas pela invasão do Halloween, de origem americana, fizeram ações de recuperação do saci, com bons resultados.

Em 2003 foi fundada a Sosaci – Sociedade dos Observadores de Saci, no município de São Luiz do Paraitinga (SP), que criou o Dia do Saci, sendo seguido por outros, no dia 31 de outubro (data do Halloween) como data de combate aos estrangeirismos, simbolizado pelo simpático perneta.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tapio

Tapio era o grande patriarca dos deuses das florestas na mitologia finlandesa. Uma lenda conta que Tapio teria sido a primeira árvore. Era casado com a Mielikki, a Dama das Florestas, com quem teve Nyyrikki e Tuulikki.

Apesar de ser chamado de Rei Urso (talvez se transformasse nesse animal), Tapio é descrito tendo um corpo verde humanóide, com barba e sobrancelhas de líquen e musgo, e chifres de gravetos na cabeça. Diz-se que se cobria com um manto de folhas para camuflagem.

Vivia rodeado pelas divindades dos bosques, a quem os habitantes adoravam a fim de garantir o êxito nas caçadas. Algumas vezes, Tapio era considerado mortal: quando alguma floresta ou bosque era violado, ele escurecia o local e sufocava até a morte as pessoas que degradaram a natureza.

O antigo nome da Finlândia, Tapiola, vêm de seu nome.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Tane

Tane Mahuta, uma kauri (Agathis australis), árvore conífera australiana que leva o nome do deus por causa de sua altura.

Deus das florestas, Tane foi o responsável por a separar seus pais Rangi (Céu) e Papa (Terra). O casal primordial se abraçava com tanta força que seus filhos vivam sufocados entre os dois. Os irmãos de Tane queriam matá-los, mas, por ser o mais forte de todos, foi ouvido. Firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força. Essa seria uma representação das árvores com suas raízes fincadas na terra e seus galhos apontando para os céus.

Com pena de seus pais nus e separados, Tane começou a vesti-los. Primeiro, pintou o Céu de vermelho, mas não gostou do resultado. Então, cobriu-o com o manto negro da noite. Para sua mãe, arranjou algumas árvores invertidas, ou seja, com as raízes para cima, mas o efeito não o agradou. Resolveu fazer um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas para cobrir todo seu corpo.

Um de seus irmãos, Uru, não ganhou nenhuma função divina e chorava enrolado no manto de seu pai. Para que ninguém visse suas lágrimas, Uru as guardava em cestas. Mas Tane acompanhou a tristeza do irmão é pediu os cestos emprestados. Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru não quis dar, mas Tane avançou e derramou uma delas no manto de seu pai. Suas lágrimas era luzes brilhantes que se tornaram as crianças-luz, as estrelas. Feliz com o ocorrido, Uru deu suas outras cestas a Tane, que foi criando a Via Láctea.

Tane abre a cesta de Uru. (Kipper)

Acreditava-se que seu maior rival era seu irmão Tawhiri, deus das tempestades. Ele teria perseguido alguns filhos de Tane por toda a terra e eles acabaram se escondendo no mar, onde se tornaram peixes a mando de Tangaroa. Outros colocam Tangaroa como seu maior rival, criando uma dualidade entre mar e terra.

Algumas lendas dizem que Tane foi o criador do primeiro homem, Tiki, a partir do barro. Outras dizem que ele se acasalava com árvores e animais, gerando todo tipo de monstro, como serpentes e dragões, porque sua mãe não permitia que ele tivesse uma esposa - uma punição pela separação à força. Até que um dia, ela se apiedou de Tane e sugeriu que ele fizesse para si uma esposa com a areia da praia. Ele seguiu a ideia de Papa e soprou no nariz de sua criação arenosa, que espirrou, e se tornou Hine-hau-one, a primeira mulher (mudando o paradigma da criação masculina).

É dito também que Tane acabou se casando com sua filha, Hine-titama, sem saber quem ela era. Quando eles souberam, ela fugiu para o subterrâneo e se tornou a deusa da morte, chamada de Hine-nui-te-po. Tane desceu ao subterrâneo para pedir perdão e se colocar à disposição da deusa, que pediu que ele voltasse ao mundo e criasse seus filhos até que eles voltassem à ela.

Todos os que usam madeira veneravam o deus, particularmente os construtores de canoas. Uma noite antes de começar a cortar as árvores para fazer as canoas, os artesãos rezavam para Tane e descansavam os machados no seu templo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Boitatá


Boitatá é um termo tupi-guarani – o mesmo que Baitatá, Biatatá, Bitatá e Batatão –, usado para designar, em todo o Brasil, o fenômeno do fogo-fátuo* e deste derivando algumas entidades míticas. O termo seria a junção das palavras tupis boi e tatá, significando cobra e fogo, respectivamente - ou ainda de mboi, a coisa ou o agente. Significa, assim, cobra de fogo, fogo da cobra, em forma de cobra ou coisa de fogo.

Dessa forma, no folclore brasileiro, o Boitatá é uma gigantesca cobra-de-fogo que protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Vive nas águas, protegendo os rios e lagoas de pescadores que prejudicam a vida dos peixes. Pode se transformar também numa tora em brasa, queimando aqueles que põem fogo nas matas e florestas. Apesar das inúmeras representações, o Boitatá teria olhos flamejantes que só enxergam no escuro e um couro transparente que cintila na escuridão.

Este mito antigo foi registrado por José de Anchieta em 1560:
"Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (in: Cartas, Informações, Framentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933)
A versão mais elaborada deste mito vem do Rio Grande do Sul, no sul do país. Narra-se um período de noite sem fim nas matas com uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais (possível relação com o dilúvio bíblico). Não havia estrelas, vento ou barulhos de animais; era um completo silêncio, somente quebrado pelos gritos do Quero-Quero (especie de gaivota). Os homens não saíam de casa e os braseiros começaram a apagar. Assustados, os animais se protegeram em ponto mais elevados, mas muitos morreram.

Diz-se que a jibóia albina é a boigauaçú enfraquecida,
a Boitatá de dia.
A boiguaçu - uma grande cobra que vivia em repouso - despertou faminta e passou a se alimentar dos olhos dos animais mortos. A cada olho que comia, também ficava com um pouco da luz do último dia de sol que os bichos tinham visto antes da grande noite. Com tanta luz ingerida, seu corpo foi ficando transparente. Com o passar de algum tempo, a grande cobra temida por todos enfraqueceu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas não lhe deram sustância. Foi então que a luz que estava presa escapou e o sol foi aparecendo novamente. A boiguaçu só reaparece para comer. Diz-se que quem encontra esse ser fantástico nas campinas pode ficar cego, morrer e até enlouquecer. Assim, para evitar o desastre os homens acreditavam que precisavam ficar parados, sem respirar, de olhos bem fechados. A tentativa de escapar da cobra apresenta riscos porque o ente pode imaginar que se está fugindo por ter ateado fogo nas matas.

Em Santa Catarina, a entidade pode aparecer como um touro gigante com um olho flamejante no meio da testa. Segundo outras interpertações, o Boitatá seria uma alma penada que castiga incestos e outros pecados com um fogo purificador.
* Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim) é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos, etc. resultado da inflamação espontânea de gás metano da decomposição de seres vivos típicos deste ambiente. Este fogo não queima o mato seco e nem tampouco esquenta a água dos rios. Ele simplesmente rola, gira, corre, arrebatando-se até se apagar. Esse fenômeno gerou equivalentes míticos no mundo todo, como, por exemplo, o Hinkypunk (espírito do aml inglês), o Pwca (monstro enganador galês) e a hitodama (esfera que contém a alma no folclore japonês).

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Leshy


Leshy é o espírito Senhor da Floresta, protetor de toda vida selvagem, dos animais às arvores e arbustos. São também chamados de Lesy, Lesny, Lechy, Lesovy, Lesovik, Leshak , Lesun ou Leszy. Esses nomes tiveram origem do eslavo comum, significam "ele da floresta". Uma lenda diz que ele é filho de um demônio com uma mulher. Outra diz que ele tem uma família: sua esposa Leshachikha (Leszachka), e suas crianças Leshanki (ou Leshonky).

Geralmente aparece como um camponês alto que utiliza sapatos em pés trocados que não tem sombra. É capaz de mudar seu tamanho, desde uma lâmina de erva a uma árvore muito alta. Tem cabelos, sobrancelhas e barba feitos a partir da grama vivente e das vinhas. Tem a pele pálida e azulada por causa de seu sangue azul, contrastando com seus brilhantes olhos verdes. É freqüentemente representado em companhia de lobos cinzentos e ursos. Costuma carregar um pedaço de madeira para expressar que é o mestre dos vegetais. No Dictionnaire Infernal, é descrito como um demônio humanóide de pele azul, cabelos e barba verde e dois grandes chifres que carrega um porrete e um chicote.

É um espírito pernicioso que gosta de seqüestrar jovens, imitando vozes humanas conhecidas ou se transformando em animais dóceis. Dá indicações erradas a quem entra na floresta, mas viajantes espertos se livram dele vestindo suas roupas de trás para frente. No caso de um Leshy começar a correr atrás de alguém, é preciso fazer algo contra a floresta (iniciar um incêndio, por exemplo) para que o espírito se preocupe com outra coisa e esqueça da perseguição. Sua terrivel risada pelas árvores é a constatação de que alguém se perdeu e provavelmente, morreu. Seu choro é ainda pior e determina alguma maldade com seus protegidos.

Se por um acaso, alguém acabar ajudando um Leshy, o espírito ensinará vários segredos mágicos das florestas. Agricultores e pastores vivem tentando agradá-los. Adeptos do cristianismo diziam que era preciso entregar ao Leshy um crucifixo para que uma comunhão de paz (ou seu banimento) fosse realizada.

São inúmeras as ligações com o mito do Curupira no folclore brasileiro. Camuflagens militares que envolvem fantasias florestais com óculos noturnos são chamadas de Leshy Suit.