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terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Panetone


A origem do panetone mais famosa remete a uma lenda típica da época natalina:

Na véspera de Natal do ano 900, na Itália, um humilde assistente de padeiro chamado Toni trabalhava horas a fio para cumprir suas tarefas e conseguir folga no dia seguinte para cuidar de sua mãe doente. Já tarde da noite, seu chefe mandou que preparasse uma fornada de pães e a torta de Natal para servir à sua família e seus convidados. Devido à exaustão, acabou derrubando as uvas passas da torta do seu chefe na vasilha onde descasava a massa de pão. Numa tentativa desesperada de reverter a situação, ele  misturou os outros ingredientes da torta (frutas cristalizadas, manteiga, ovos, leite e açúcar) na mesma massa do pão. Assou a mistura e deixou na mesa para seu chefe castigá-lo somente no dia seguinte. Logo de manhã, o chefe já o esperava na porta. Ao contrário do que imaginava, o padeiro se encantou pela "invenção" e a batizou de "Pane di Toni" (Pão de Toni). E a nova receita fez tanto sucesso que Toni se tornou sócio da padaria.

Existe uma versão mais "romântica" dessa história:

No fim do século 15, o jovem padeiro Toni trabalhava na padaria Della Grazia, em Milão. Apaixonado pela filha do patrão, teria inventado o pão doce para impressionar o pai de sua amada. Os fregueses passaram a pedir o "Pani de Toni", que evoluiu para o panattón (vocábulo milanês), e depois para panettone (italiano para "pãozinho grande").

E, claro, como não podia deixar de ser, Ludovico Sforza (1452-1508) – também conhecido como Ludovico, il Mouro, patrono de Da Vinci e duque de Milão entre 1494 e 1499 – se apropriou da criação do panetone:

Diz-se que, na véspera do Natal de 1945, a sobremesa que havia sido preparada para o grande banquete natalino queimou ao ser assada. Um dos empregados da cozinha, chamado Antonio, havia preparado uma massa fermentada com sobras de ingredientes, que pretendia levar para sua casa. Ofereceu, então, sua massa para servir como sobremesa para a corte. Ludovico apreciou tanto a iguaria que precisava saber o nome daquele pão com frutas. Antonio disse que a sobremesa não tinha nome e Ludovico resolveu chamá-la de "Pani de Toni".

Porém, professores de História da Alimentação da Universidade de Bolonha, na Itália, garantem: apesar de poéticas, nenhuma dessas lendas é verdadeira. Segundo Massimo Montanari, o panetone é uma receita de tradição coletiva e, portanto, não se pode determinar com precisão absoluta seu lugar e data de nascimento. É possível rastrear seu ancestral romano do século 3: um grande pão redondo com frutas (naturais, não secas ou cristalizadas) que simbolizava o sol e era usado em celebrações sazonais. Sabe-se que famílias se reuniam ao redor desse pão doce especial, antes de levá-lo ao forno, e faziam uma cruz no topo para representar as quatro estações e pedir fartura. Depois que o Império Romano se tornou cristão, a cruz no pão deu a conotação natalina que manteve a tradição. Passas e frutas secas teriam entrado na receita somente no início do século 19 e, em 1919, o empresário italiano Angelo Motta industrializou a produção de panetone, incluindo a famosa fita de papel manteiga ao redor da massa que se tornou uma marca registrada e mudou o formato do panetone de achatado para cilíndrico.


Apesar dessa construção coletiva e secular, hoje a receita clássica de panetone é uma só e está protegida por um decreto assinado em 2005 na Itália, que determina as quantidades mínimas de cada ingrediente que devem ser usadas na confecção desse pão!

O panetone foi trazido para o Brasil por imigrantes italianos no século 19. Mas sua popularização só aconteceu mesmo a partir de 1948, quando Carlo Bauducco, dono da Bauducco, começou a vender em São Paulo. Como não podia ser diferente, aqui as coisas se misturaram e surgiram os chocotones e os panetones salgados. O chocotone, aliás, também é uma invenção da família Bauducco: foi o neto mais velho de Carlo, que, em 1978, sugeriu a troca das frutas por chocolate. Apesar de reticentes em alterar uma receita tradicional, o rapaz convenceu seus familiares. Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor de panetones no mundo (perdendo apenas para a Itália) e terceiro maior consumidor (atrás de Itália e Peru).


Obs: Existe também o pandoro, ou "pão de ouro", que é um bolo veneziano de massa amanteigada porém sem frutas cristalizadas. Seu formato é bem característico: um cone com base de estrela de 8 pontas, parecendo uma árvore de Natal. A receita foi registrada no escritório de patentes em 1894 pelo padeiro de Verona, Domenico Melegatti.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Assur

O maior de todos os deuses assírios, Assur era deus da Terra, do ar e do sol. Os assírios adaptaram a mitologia babilônica, tornando-o marido de Ishtar. Mas seu papel mais importante era o deus da guerra, e os prisioneiros de guerra desfilavam pelas ruas em sua homenagem.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Mawu e Lisa

O povo Fon, do Benin, acreditava que o deus da criação Nana Buluku era também chamado de Mawu-Lisa, que poderia ser, na verdade, a divisão de seus gêneros ou os nomes de seus filhos gêmeos, Mawu e Lisa. Nana Buluku teria se retirado após a criação, deixando o controle do mundo a cargo de seus filhos.

Mawu, deusa da lua, vivia no oeste e regia a noite; Lisa, o deus-sol controlador do dia, vivia no leste. Durante um eclipse, eles se encontraram e geraram outros sete pares de deuses-gêmeos, entre eles os que governam a terra, as tempestades, o ferro e o mar. Cada par tem sua língua, conhecida só por ele e seus sacerdotes.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Tonatiuh

No antigo mito centro-americano dos Cinco Sóis (as cinco eras mundiais), Tonatiuh representava a Quinta Era. Esse deus governava o mundo de Tonatiuhican, o céu asteca, um paraíso espiritual reservado apenas aos mais dignos, como os guerreiros mortos em batalhas e as mulheres que morriam ao dar à luz.

Como deus do oriente e do sol, seu poder era constantemente desafiado pela luta enfrentada em seu nascimento diário, com sua passagem pelos céus durante o dia e sua morte à noite. Feroz e belicoso, Tonatiuh era também uma divindade guerreira que fortalecia os soldados no calor e nos esforços das batalhas.

As esferas de influência de Tonatiuh indicavam que seu poder sofria ameaças constantes. A humanidade só poderia mantê-lo se exercitasse a virtude de elevada moral – junto com um ciclo interminável de sacrifícios humanos. Os apetites do deus estão graficamente representados em suas imagens. Seu corpo, no centro de um grande disco solar cheio de raios, é vermelho, e ele usa um cocar de penas de águia. Sua língua tem a forma da faca sacrifical que os sacerdotes astecas usavam para arrancar o coração das vítimas vivas – oferenda que as presas gigantes de Tonatiuh seguram firmemente. A violência deste deus era tão grande que os astecas atribuíram seu nome ao mais cruel dos conquistadores espanhóis, Pedro de Alvarado.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Hespérides

A rigor, o termo Hespérides designa dois grupos distintos de divindades. O primeiro e mais antigo é o das três deusas primaveris que personificam a luz da tarde e o ciclo do entardecer, representando o espírito fertilizador da natureza. Eram filhas de Nix (a noite) e Érebo (a escuridão). Em outras versões, eram filhas de Éter (luz celeste) e Hemera (luz do dia). Egle (a brilhante), Eritia (a vermelha) e Hespéria (a crepuscular) passeavam pelos céus, encarregando-se de iluminar todo o mundo com a luz vespertina. O séquito celeste era regido por Helio (Sol), Eos (Aurora) e Selene (Lua). Portanto, o ciclo do dia se abria com Hemera, passando pelas Hespérides e finalizando com Nix.


Atlas e as Hespérides, óleo de John Singer Sargent (1924).
O outro grupo é o das sete ninfas do Poente mais comumente ditas como filhas do titã Atlas com Héspera, deusa do entardecer. Também são descritas com filhas de Zeus e Têmis ou de Fórcis e Ceto. Elas eram Aretusa, Cinosura, Ciparissa, Clete, Egéria, Hespéria e Hespéris. Elas possuíam o dom da profecia, da metamorfose e de controlar a vontade dos animais. Eram consideradas guardiãs da ordem natural, dos tesouros dos deuses, das fronteiras entre o dia e a noite e entre os três mundos (Terra, paraíso e mundo subterrâneo). São mais conhecidas por serem as guardiãs dos Jardins de Hera, situados no extremo ocidental do mundo (mais precisamente na Mauritânia, África Ocidental), morando em um palácio em frente à árvore dos pomos dourados.

É possível perceber que a mitologia de Hércules se baseia em ambos os grupos para a penúltima tarefa do herói, quando diz que são três Hespérides, filhas de Atlas, que guardam os jardins.

O Jardim de Roma. Gravura de Giovanni Battista Falda (1680).

sábado, 20 de junho de 2015

Nzambi

Nzambi é o deus-sol do povo bacongo, no Zaire. Em Angola, Nzambi era reverenciado como deus criador.

Fonte de bondade, governa e sustenta o universo, “a maravilha das maravilhas”. Protege e dirige os homens, vinga injustiças e mostra-se gentil com todos, até mesmo com os mais destituídos de boas maneiras. É também o supremo juiz após a morte. O deus-sol, por ser inacessível, não tem culto.

Segundo uma lenda, Nzambi criou o primeiro casal mortal e deu-lhe a inteligência. No início, esse casal era um ser andrógino com forma de uma palmeira e depois se separou em dois. Por essa razão, frequentemente o casal é esculpido em madeira, com rosto feminino e seios de um lado do corpo, e barba do outro.

Outra lenda diz que uma vez Nzambi caiu do céu e morou na terra, mas depois ficou com medo dos homens e voltou ao céu, subindo por uma teia de aranha.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Surya

O deus do sol Surya - filho do deus do firmamento Dyaus e da deusa-mãe Aditi - segura nas mãos flores de lótus enquanto atravessa os céus em sua carruagem puxada por sete cavalos. Seu cocheiro é Aruna, a aurora, que anuncia pela manhã a chegada do deus-sol.

De baixa-estatura e com o corpo cor de cobre, Surya brilhava com tanta força que sua esposa Sanjna se transformou numa égua e fugiu para a floresta para escapar do calor e do brilho excessivos do marido – forçando-o a assumir a forma de um cavalo para procurá-la. Outra esposa de Surya foi Lakshmi, deusa da beleza e da abundância.

Seus filhos são Yama (deus da morte), Yamuna (deusa do rio), Manu (antiga divindade criadora), Revanta (deus caçador) e sua filha homônima Surya, também uma divindade solar.

terça-feira, 16 de junho de 2015

Saule

Saule era a deusa báltica do Sol que abrasa pelo ar em uma carruagem com rodas de cobre puxada por cavalos ígneos que nunca cansam. Acredita-se que o Sol é um jarro ou concha, e seus raios, um líquido dourado que verte dele. Sagrado para Saule são as zaltys, serpentes verdes que representam fertilidade. A morte de uma zaltys a faz lamentar, e dizem que os frutos vermelhos nas encostas são suas lágrimas.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Nefertum

Na mitologia egípcia, Nefertum (ou Nefertem) era uma divindade primeva da cidade de Mênfis, deus solar dos perfumes. Seu nome poderia ser traduzido como "o Todo ressurgiu" ou "o recém-surgido é completo". De acordo com um mito de criação antigo, Nefertum teria surgido do oceano primevo sobre um botão azul de lótus, tornando-se "aquele que traz a luz", o primeiro raio de sol.

Acredita-se que Nefertum possa ser a criança que, ao amadurecer, se torna o deus . Ou, então, seria a flor sobre o nariz desse deus, perfumando e iluminando seus caminhos. No Livro dos Mortos está escrito:
Levanta-te como Nefertem do lótus azul, para as narinas de Ra, o deus solar criador, e saia no horizonte a cada dia.
Alguns egiptólogos acreditam que a influência do deus foi reduzida posteriormente, e ele teria se unido a Horus para formar uma única divindade solar.

Na cosmogonia de Heliópolis, o deus era associado a Atum, sendo visto como a manifestação deste deus quando criança que saiu da flor de lótus que apareceu no monte primordial que emergiu das águas. De acordo com o relato, as lágrimas derramadas por este menino deram origem à humanidade. O nome nefer-tum seria "belo Atum".

Já no Delta do Nilo, ele seria o filho original de Wadjet, uma deusa-serpente que assume a forma de leão.

Pertence a uma tríade junto a seu pai Ptah e sua mãe Sekhmet, a deusa-leoa. É representado por vezes com uma cabeça de leão ou como um jovem sentado sobre uma flor que desabrocha. Veste uma coroa em forma de lótus, ornada por duas plumas e dois colares, símbolos de fertilidade. Por vezes ele próprio está sobre um leão inclinado, carregando um sabre. Foram encontrados diversos amuletos com a figura do deus.

É considerado patrono da artes cosméticas, das flores curativas (inclusive dos narcóticos e afrodisíacos) e da aromaterapia. Por ser o raio de sol de todas as manhãs, também era associado ao renascimento e, portanto, patrono de vários ingredientes utilizados no processo de mumificação.

A lótus azul (Nymphaea caerulea)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Shamash

Relevo na parte superior da estela do Código de
Hamurabi, mostrando Shamash entregando as leis.
Na Babilônia, Shamash (Sama) era o deus sol e também o deus da justiça. Ele representava a luz brilhante do sol que retorna diariamente para iluminar a vida, a força que aquece e faz com que as plantações cresçam. Os raios de sol eram seus julgamentos: podiam queimar os malfeitores ou produzir uma rede onde os injustos eram apanhados. Carregava uma espada serrilhada para "cortar a verdade". Hamurabi teria dedicado seu código de leis ao deus.

Junto com sua mãe Nanna e sua irmã gêmea Inanna (em alguns registros, também esposa), formava a Tríade Celeste (Sol, Lua e Vênus). Sua consorte era conhecida como Aya (ou Sherida), entretanto, raramente é mencionada em inscrições, não havendo textos sobre ela, exceto em combinação com o deus. Nergal já foi considerado pai de Shamash ou um aspecto sinistro do deus-sol, personificando sol escaldante do meio-dia e os solstícios.

Todos os dias surgia de uma porta na montanha do leste e conduzia sua carruagem para a montanha do oeste. À noite, viajava na direção leste por baixo da terra, de modo a estar de volta pela manhã. No submundo, julgava as cuasa humanas e decidia o destino dos mortos. Aparece no poema de Gilgamesh, invocando os sete heróis do tempo para defender o mundo. Alguns povos, diziam que Shamash era também um sábio guerreiro.

Na suméria, era chamado de Utu, a personificação da luz que bane o mal. No Grande Dilúvio sumério, após sete dias de tempestade, Utu apareceu numa barca para trazer de volta a luz.

Tábua de Shamash com representação do deus frente seu disco solar, realizando julgamentos.

Havia diversos templos dedicados ao deus, porém seus principais centros de adoração (E-babbara, "casa brilhante") eram em Larsa (atual Senkerah) e Sippar (cidade de Abu Habba), sendo este último o mais famoso.

Alguns estudiosos acham que, inicialmente, Shamash era uma divindade secundária, provavelmente subordinada à lua, dado ao fato que os povos predecessores dos Sumérios eram nômades e usavam a lua e as estrelas para se orientar. Entretanto com o advento da agricultura, o sol ganhou importância e se tornou um dos principais deuses do panteão. Há ainda relatos de deuses solares secundários que o auxiliavam em suas tarefas, tais como Bunene (que dirigia a carruagem solar), Mesahru (o Direito) e Kettu (a Justiça em si).

No judaísmo, shamash é o nome da vela que acende as outras velas da menorah. Fica sendo a nona vela e não deve ser apagada. Como é proibido utilizar as luzes de Chanukah para qualquer função, a shamash fica disponível para usos emergenciais.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Parabéns... Sol!

Dia 25 de dezembro é o dia de celebrar o nascimento de Jesus Cristo. Mas a data real da natividade é incerto (e, certamente, um equívoco) por conta de questões históricas e geográficas. Nos primeiros séculos da nossa era, havia na Palestina até mesmo cristãos que comemoravam o nascimento de Jesus em maio. As primeiras celebrações históricas do natal cristão ocorreram ao findar o século II, partindo do oriente, no dia 6 de janeiro. Esse dia, porém, nunca foi reconhecido pela Igreja do Ocidente.

A tradição de se festejar o Natal durante o inverno europeu foi estabelecida no século IV. O Cristianismo foi englobando uma série de comemorações e tradições do período para fortalecer seu principal personagem e suprimir os rituais pagãos.

Na Idade Média, havia duas versões da festa de fim de ano (Yule) entre os povos germânicos: ao norte de Danevirk (a muralha que separava os dinamarqueses dos francos, os cristãos dos pagãos), toda a aldeia se reunia em um templo para fazer um sacrifício animal para Odin; enquanto, ao sul, rezava-se uma missa para São Nicolau em uma igreja. Mesmo com essas diferenças, em ambas, as casas eram decoradas com frutos vermelhos de azevinho e ramos de pinheiro e as famílias se juntavam para beber e celebrar.

O dia 21 de dezembro evocava a festa romana do Sol Vitorioso (Natalis Solis Invictus), em homenagem ao aniversário de Mitra, o deus solar persa cujo culto e influência estenderam-se por todo o império romano. Ela acontecia durante as Saturnálias, uma celebração carnavalesca, quando os druidas celtas dos povos germânicos usavam muitas luzes, tochas e velas para garantir que o mundo não saísse dos eixos devido à longa escuridão invernal (Solstício de Inverno no Hemisfério Norte). Novamente os cristãos se apoderaram desse simbolismo de luzes, pois, no Antigo Testamento, o Salvador é, de fato, "a luz que virá ao mundo".

Em 336, o 25 de dezembro foi mencionado oficialmente pela primeira vez como o aniversário de Jesus. Alguns dizem que a data decisiva para o cálculo foi o 25 de março (Equinócio da Primavera no Hemisfério Norte), quando dia e noite têm duração igual. A data já era destinada à celebração do sol em vários cultos pagãos, como, por exemplo, o grande e popular Horus da mitologia, Krishna entre os hindus, além de Dioniso (que era chamado "salvador", soter) e Adônis na Grécia. Os cristãos tomaram posse da data, como o dia em que o anjo anunciou a Maria que ela teria um filho. Nove meses depois, e estamos no dia 25 de dezembro.

Mas a adesão não foi simples, uma vez que as festividades pagãs eram intensas e muitos consideravam grandes arruaças. Por exemplo, em 1644, os puritanos ingleses, após deporem o rei Carlos I em meio a uma Guerra Civil, simplesmente proibiram o Natal por considerarem-no “pagão”. A lei só seria derrubada com o retorno da monarquia, em 1660. Os escoceses foram além e reprimiram o Natal entre 1640 e 1958, quando voltou a ser feriado!

Feliz aniversário, então, para todos os mitos nascidos no dia de hoje! Parabéns... Sol!

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Ciranda Coraci

A criação do mundo "indígena" é recriada repleta de cor e movimento na HQ Ciranda Coraci (Ed. Nemo, 2011), através de um texto poético de Wellington Srbek e das belíssimas imagens de Will.

Coraci (o sol) é o fio condutor da história. Jaci (a lua) obviamente aparece, mas com uma história diferente.

É um livro com aplicação escolar sem um tom didático, mesmo que nele a escola passe a ser um personagem da trama, já que o narrador conta a história para alunos em uma sala de aula.

Aprendi coisas bem bacanas como a representação do "Criador de Todas as Coisas" e a sombra abandonada de Coraci. Aliás - que eu saiba - Coraci é também chamado de Coaraci, mas investigarei melhor quando falar especificamente da divindade solar do nosso Brasil.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Kinich-Ahau

O deus-sol dos maias era Kinich-Ahau, o Senhor do Olho do Sol. Como tantos outros deuses do sol, de dia tinha uma identidade diferente da noturna. Durante o dia, enquanto viajava pelo céu, Kinich-Ahau podia aparecer tanto na forma jovem quanto na velha, mas em geral era retratado vesgo com um grande nariz aquilino. Alguns diziam que nesse momento, ele seria o avatar diurno de Itzamna, o Pássaro Dourado (Arara) Flamejante, o Dragão Celeste. Era também deus da música e da poesia, relacionando-se com os cervos, os colibris (energia sexual) e as águias (caráter guerreiro).

Mas à noite, em sua viagem noturna pelo mundo subterrâneo, transformava-se no Deus Jaguar, governante maior do Xibalba, símbolo de poder do rei e da fertilidade da terra. Essa transição diária também o colocava como o Criador do Tempo, a Origem do Porvir.

Em seu lado irado, era o patrono das doenças, das guerras e da seca na terra. Sacerdotes vestiam a pele do jaguar e traziam essas qualidades de volta à vida em cerimônias (muitas próximas do Ano Novo) destinadas a curar, a trazer chuvas ou a levar sucesso às caçadas e aos combates.

Possível escultura de Kinich Ahau no Templo das Máscaras em Kohunlich, sítio arqueológico na península de Yucatán.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Vucub-Caquix e seus filhos

No Popol Vuh - antigo documento quechua -, Vucub-Caquix ("sete araras") era um monstruoso e gigantesco pássaro-demônio que pretendia ser o astro-rei da antiga criação (antes da atual, logo depois do dilúvio). Carregava um falso sol em seu bico, causando infelicidade pelo mundo.*

O demoníaco abutre foi abatido pelos irmãos gêmeos heróis, Xbalanque e Hunahpu, que o atingiram com dardos de zarabatanas. O monstro caiu dos céus em chamas para o Xibalba (inferno maia) e se tornou um deus da morte.

Outra lenda conta que os gêmeos herói se irritaram com a arrogância do deus-demônio e dediriam matá-lo. Para tal, se esconderam sob a árvore favorita dele e o atacaram com suas zarabatanas. Enfurecido, Vucub-Caquix arrancou o braço de Hunahpu e escapou. Os gêmeos, então, convenceram um casal de idosos para posar como curandeiros, oferecendo-se para curar seus olhos e dentes. O velho casal enganou o pássaro, dizendo-lhe que precisaram substituir seus olhos de metal e seus dentes de jóias e turquesas. O abutre concordou, e eles substituíram por grãos de milho. Vucub Caquix perdeu seu poder e morreu rapidamente.


É também chamado de Vucab-Cakix, Vucub-Came e Gucup-Caquix.

Com sua esposa Chimalmat, teve dois filhos tão malignos quanto ele: os gigantes montanhosos Cabrakán, deus dos terremotos, e Zipacná, o empilhador de terra. Ambos também tiveram seu fim pelas armadilhas dos gêmeos. Cabrakán foi enterrado depois de comer galinhas envenenadas e Zipacná foi esmagado por uma montanha enquanto comia um caraguejo preparado pelos heróis.

* Uma curiosidade: acredita-se que esse monstro esteja representado na constelação de Cygnus (Cisne), onde em seu "bico" existe uma estrela misteriosa (X-1) que se tornou uma supernova e, consequentemente, um buraco negro.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Cernunnos

Cernunnos é, possivelmente, a mais antiga divindade do panteão celta. Há sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões celtas. Independentemente de sua origem, o Deus Cornudo (ou Galhudo, ou Cornífero), desempenha uma função importante não só por se tratar do Senhor dos Animais - domésticos e selvagens -, mas também da fertilidade e da abundância - regulando as colheitas dos grãos e das frutas - e Mestre das Caças. Ele conectava a Terra, o Céu e o Mar no centro sagrado do mundo, como a representação da Natureza. Posteriormente, foi considerado também o deus do dinheiro e, em alguns momentos, é associado ao Sol.

Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho da Grande Deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício de verão e se apaixona pela Deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a engravida. Quando a Deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um símbolo do poder natural da vida e da morte.

Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda, registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da Grande Deusa sem seus chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se casou e ambos reinavam no subterrâneo - onde encaminhavam as almas. Porém, Epona precisava vir à Terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade, lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre traíções e chifres.

Sua primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça e dois torques em cada braço. O torque - espécie de argola aberta torcida com as extremidades em forma de esferas - é um atributo de poder e realeza utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta.

Ao lado desta imagem estava desenhada uma serpente com cabeça de carneiro - símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então, que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros, que se alimentam de um grande saco que tem em seu poder, ou por serpentes que se alimentam da fruta oferecida entre suas pernas. Em algumas ocasiões - como no caldeirão Gundestrup (foto) encontrado na Dinamarca -, aparece sentado de pernas cruzadas.

Os deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra, masculinidade etc. É possível que a idéia de "coroa real" venha daí. Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem maças da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres, mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em cerimônias religiosas.

Cernunnos foi muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha - onde foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a , mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o paganismo.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Inti

Inti (Intu ou Apu-Punchau) era o poderoso deus inca do Sol, irmão e marido de Mama-Quilla, a deusa da Lua, e filho de Viracocha e Mama Cocha. Também foi casado com Pacha Mama, deusa da Terra. Sua importância era tamanha que alguns o adoravam como deus supremo e criador de tudo e invertiam a genealogia, colocando-o como pai de Viracocha.

Inti cruza os céus diariamente, proporcionando luz e calor, até mergulhar no mar ocidental. Após seu mergulho subterrâneo e subaquático, ele resurge toda manhã. Quando havia eclipses, achavam que Inti estava zangado. Costuma ser retratado como um um disco solar de ouro com face humana tendo raios e chamas ao redor. Aparece nas bandeiras da Argentina e do Uruguai.

Depois da criação, enviou seu filho Manco Capac para ser rei e ensinar às pessoas a arte da civilização. Todos os reis incas posteriores se diziam descendentes de Manco Capac e eram adorados como parte da família do próprio Sol, protetor da casa real. Inti tinha um templo enorme na capital inca, Cuzco, no Peru, onde as múmias dos imperadores eram colocadas quando morriam. As muralhas do templo eram forradas de ouro, que os incas acreditavam ser o suor do sol.

O Inti Rami, o Festival do Sol, era celebrado no solstício de inverno. Uma vez que Inti regia as estações do ano e o ciclo agrícola, ofereciam-lhe uma fogueira, onde queimavam uma vítima em sacrifício, junto com folhas de coca e milho, para dar boas-vindas.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Wakahirume

Wakahirume era a grande tecelã responsável pelas roupas dos deuses. Diz-se também que tecia sonhos e visões e enviava aos homens em seu sono.

Seus mitos estão ligados aos de Amaterasu, a Grande Deusa do Sol. Quando o deus Susanoo atirou um cavalo morto na sala onde as duas teciam, Wakahirume acabou caindo do tear e morreu, levando Amaterasu a se esconder em uma caverna (e desencadear um dos maiores mitos japoneses).

Por vezes, Wakahirume é considerada a Deusa do Sol Nascente, irmã mais nova de Amaterasu, ou então uma versão jovem da deusa, imediatamente anterior ao mito da caverna.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Belenus

O deus do Sol e do fogo Belenus era um dos principais da mitologia celta. Era também ligado à ciência, à cura, às fontes térmicas, ao sucesso, à prosperidade e, até mesmo, à colheita e à agricultura. Era casado com Belisama, deusa das forjas e do artesanato.

A palavra bel (brilhante) aparece como radical de diversos nomes divinos (como o deus guerreiro Belatucadrus), o que pode significar várias faces do mesmo deus. Belenus era invocado em batalhas para garantir a vitória aos corajozos e ferozes guerreiros, uma vez que as batalhas eram consideradas os momentos "mais brilhantes" na vida de um guerreiro. Era dito que o deu ficava lado a lado com quem o invocou, passando sua força até a vitória. Mas também era visto como o deus da iluminação, da sabedoria, e, portanto, acompanhava os grandes líderes e estrategistas.

Seus símbolos são o cavalo e a roda. Dia 1º de maio ocorria o Beltane (Fogo de Bel), festival do deus onde se sacrificavam animais em grandes piras. É também conhecido como Belanus, Belen, Belinus, Belenos. Comparado ao Apolo grego, também está relacionado com Ares (Marte) em sua versão guerreira.

terça-feira, 16 de março de 2010

Igaluk e Malina

Igaluk é o Homem da Lua, uma poderosa divindade da mitologia inuíte* associada à passagem das estações do ano e o movimento das marés, que também tinha controle sobre os animais.

Igaluk e sua irmã, Malina, eram muito próximos na infância, mas foram separados na juventude entre o alojamento dos homens e das mulheres. Um dia, Igaluk espiou o alojamento feminino numa noite de danças e descobriu que sua irmã era a mais bela. Desejoso, o rapaz protegeu sua identidade na escuridão, invadiu o alojamento e a violentou. Insatisfeito, Igaluk voltou na noite seguinte, porém Malina estava com as mãos cheias de fuligem e óleo de uma lamparina quebrada e conseguiu marcar seu agressor, que, para sua supresa, descobriu ser seu irmão. Desesperada e quente de raiva, Malina cortou seus seios e os ofereceu para Igaluk comer na frente de todos na aldeia. Em seguida, com uma tocha na mão, saiu fugida. Humilhado e envergonhado, Igaluk saiu atrás dela, seguindo as manchas de sangue, mas escorregou na neve ensanguentada e sua tocha perdeu força. Os dois correram tão rápido que uma lufada de ar os elevou aos céus, onde ela se tornou o Sol com sua chama brilhante e ele, a Lua com sua pouca luz.

A lenda da ascensão aos céus dos irmãos pode sofrer pequenas variações, mas a idéia central é essa.

Igaluk é tão obcecado por sua irmã que frequentemente se esquece de comer e vai afinando (Lua Minguante). Uma vez por mês, o deus some por três dias e desce à terra para poder comer (Lua Nova). Quando ocorre um eclipse, os povos do Ártico se amedrontam, pois acreditam que é mais um estupro. Durante um eclipse solar, os homens são proibidos de sair. Nos eclipses lunares, as mulheres não saem de suas casas. Quando ocorre o fenômeno atmosférico do parélio (halo ao redor do sol - foto), diz-se que Malina está comemorando o nascimento de uma menina ou a morte de um homem.


Povos no Alaska consideram Igaluk a divindade máxima do panteão. Na Groenlândia, é também chamado de Aningan.

* Inuit significa "pessoas" (singular, inuk) no idioma das civilizações que vivem no Ártico. São os chamados esquimós, que, na verdade, é um termo pejorativo entre os povos do Ártico que significa "comedores de carne crua".