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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Napi

Napi era o deus criador da tribo Blackfoot (os Pés-Pretos), cujo nome significa “homem velho”. Tendo feito o mundo e os primeiros homem e mulher do barro, é dito que Napi se retirou para dentro de uma montanha, prometendo retornar no futuro. Enquanto isso, ele foi substituído por Natos, o deus-sol.

Em outras histórias, Napi é um deus trapaceiro capaz de grandes crueldades contra a humanidade. Uma lenda conta que, quando a primeira mulher perguntou a Napi se a humanidade viveria para sempre, Napi jogou um pedaço de madeira num rio, dizendo que, se a madeira flutuasse a morte viria em quatro dias; se afundasse, a morte seria o final. A madeira flutuou, mas a mulher pegou uma pedra, dizendo que, se a pedra flutuasse, eles viveriam para sempre; se ela afundasse, eles morreriam. A pedra afundou, e a morte é agora o final.

domingo, 25 de junho de 2017

Amma

O deus supremo dos povos Dogon de Mali, na África Ocidental, fez o Sol, a Lua, as estrelas, sendo o responsável pelos céus e pelas chuvas. Amma ficou só e se acasalou com a Terra. O primeiro filho foi Ogo (ou Yurugu).

Da segunda gestação, vieram os perfeitos gêmeos divinos, Nommo (ou Nummos), que se tornaram água e luz, a força vital do mundo. Eles acreditavam que as pessoas que nascessem sem um par ficavam com personalidade desequilibrada, como o chacal. Dali em diante, pediram para Amma criar o primeiro homem e a primeira mulher como almas gêmeas, para que todos fosse equilibrados.

O primeiro casal teve mais quatro pares de gêmeos, os antepassados dos Dogon, que roubaram de Amma macho e fêmea de cada animal do Céu e uma amostra de todas as plantas. Tudo foi colocado em uma pirâmide gigante que deslizou até a Terra em um arco-íris. O fogo foi trazido por uma linha presa à pirâmide e ao Sol.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Manu

O primeiro homem, Manu era filho de Brahma e Sarasvati. Na forma de um peixe, Brahma disse a Manu que o mundo seria destruído por um dilúvio e que ele deveria construir um barco e pôr dentro dele as sementes de todos os seres vivos. Quando as águas subiram, tudo ficou submerso e o barco de Manu encalhou no Himalaia. Por fim, as águas baixaram. Manu fez oferendas que se transformaram numa bela mulher, Parsu. Ela e Manu tornaram-se os pais da raça humana.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Ask e Embla

O primeiro homem, criado pelos deuses de uma árvore em cinzas, e a primeira mulher, criada de uma árvore de olmo, feitos pelos três criadores no litoral do mar gigante de Midgard. Odin deu vida ao casal. Vili lhes deu pensamentos e sentimentos e Ve deu-lhes a capacidade de ver e ouvir. Ask e Embla geraram a raça humana e Midgard tornou-se sua morada.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Adapa

Criado por Ea, o primeiro homem, Adapa, era dotado de grande força e sabedoria. Foi ele o inventor da linguagem.

Uma vez, quando navegava pelo Eufrates, o Vento Sul soprou e quase afundou seu navio. Furioso, Adapa rasgou as asas do vento. Quando o deus do céu An chamou Adapa ao céu, para explicar seus atos, Ea aconselhou-o a não comer nem beber nada ali. Adapa recusou a comida e a bebida da imortalidade que Na lhe ofereceu, condenando assim o ser humano à mortalidade.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pachacamac

Pachacamac é o deus inca dos terremotos (pacha = terra; camac = animador). Para a cultura limenha pré-inca, Pachacamac seria aquele que dá vida ao mundo.

Era simbolizado por um totem esculpido em madeira com cerca de 2 metros de altura, conservado em uma câmara escura do templo de Inti (para simbolizar sua invisibilidade), que era forrada de ouro e prata. Esse ídolo tinha duas faces opostas, uma delas decorada com serpentes, a outra com espigas de milho, que possivelmente representavam seus aspectos destruidor e criador, respectivamente. Também era representado em cerâmicas como um grifo (asas e rosto de condor e corpo de puma, duas das grandes divindades animais dos incas).

Existe um enorme sítio arqueológico que leva seu nome em Lima, no Peru (e eu visitei!). A arquitetura do lugar mostra características anti-sísmicas e o templo ao deus era enorme. Do topo, é possível ver duas ilhas rochosas no Pacífico que conta uma lenda...

Pachacamac teria se encantado pela beleza da curandeira Urpe, que vivia nas proximidades de seu templo. Como não podia vir ao reino dos mortais, o deus colocou seu sémen em uma lúcuma (fruta local) que chegou às mãos de Urpe. A curandeira engravidou e deu a luz ao semideus Vichama. Aos 3 anos, Vichama pediu para conhecer seu pai. Pachacamac ouviu as preces de seu filho e decidiu vir à Terra como um mendigo. Quando se apresentou, Urpe se desesperou ao ver que seu filho ficaria desamparado com um pai tão pobre e fugiu na direção do mar. Furioso, Pachacamac os transformou nas pedras que você vê na foto abaixo.


São as explicações humanas para os fenômenos da natureza. Por exemplo, depois da chegada dos conquistadores, Pachacamac acabou sendo sincretizado a um Jesus Cristo de pele escura por causa de vários terremotos a que a estátua sobreviveu (El Señor de los Temblores). Existem inúmeras pinturas de um "Cristo moreno" com histórias de milagres em terremotos, mas ninguém sabe onde está a precursora das lendas.

Existe uma outra lenda que coloca Pachacamac como criador do primeiro homem e da primeira mulher da Terra. No entanto, o deus esqueceu de alimentá-los e o homem morreu de fome. A mulher, então, amaldiçoou Pachacamac e rezou para Inti para engravidar. Furioso, Pachacamac matou o menino que nasceu e o esquartejou. De cada pedaço, surgiu uma fruta ou uma planta comestível. O segundo filho da mulher foi Vichama que escapou da morte. Pachacamac matou, então, a mulher. Vichama vingou-se de sua mãe, vencendo o deus em batalha. Jogou seus pedaços no oceano, que se tornaram peixes. Por essa razão, alguns acreditam que Pachacamac também seja o deus dos peixes e da pesca.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Viracocha

Representação de Viracocha na Puerta del Sol em Tiahuanaco (séc. XII a.C.)

Deus andrógino criado por si mesmo, hermafrodita e imortal, Viracocha teria criado o Universo e tudo que nele existe, e se acreditava que ele estava em toda parte. Era considerado como o esplendor original, o Senhor, Mestre do Mundo, a divindade invisível criadora de toda a cosmovisão andina. É o arquétipo da ordem do universo no homem.

Estátua em miniatura da trindade inca
que representa os mundos:
o condor, o puma e a serpente.
(Acervo Pessoal)
Acredita-se que Viracocha saiu do Lago Titicaca para trazer ordem ao caos. Ele dividiu o Universo em três mundos: Hanan Pacha (o mundo de acima, o céu representado pelo condor), Kay Pacha (o mundo daqui, a terra representada pelo puma) e Uchu Pacha (o mundo subterrâneo representado pela serpente). É importante notar que, se Viracocha saiu do Lago Titicaca e o lago é a representação de Mama Cocha, a deusa seria ainda mais primeva que o deus criador.

Iniciou, então, sua obra no mundo antigo, talhando na pedra com sua respiração as figuras dos primeiros seres humanos, homens e mulheres que se tornaram o fundamento de seu trabalho. Quando o deus colocava estas estátuas gigantes nos vários lugares que lhes correspondiam, eles ganhavam vida na escuridão. Kay Pacha, o mundo visível, estava incompleto, uma vez que Viracocha postergou a criação das coisas para se ater aos seres humanos. Apenas o claror de Titi - um puma flamejante que vivia no alto do mundo - era percebido. A raça de gigantes começou a desobedecer Viracocha, que enraivecido, lançou um dilúvio que lavou a terra e transformou os gigantes novamente em pedra (formando montanhas, morros, montes...).

Viracocha trouxe, então, a luz para o mundo, fazendo o Sol (Inti), a Lua (Mama Quilla) e as estrelas nascerem do Lago Titicaca, até cobrir toda a abóboda celeste. Depois fez novos seres humanos do barro e os deixou em cavernas, de onde saíram para a superfície da terra. Satisfeito com esses novos homens, o deus definiu o tempo ao ordenar que Sol se movesse sobre a Lua.

Em seguida, foi dando vida aos animais e as plantas. Nesse caso específico, são inúmeros os relatos de que ou Viracocha teve dois filhos ou que criou dois seres especiais responsáveis por criar fauna e flora na terra: Imahmana Viracocha e Tocapo Viracocha. No entanto, é mais provável que o próprio deus ou tenha se dividido em dois ou tenha somente mudado de nome de acordo com a direção que seguiu no mundo.

As representações de Viracocha o adornavam com uma coroa de sol, raios (ou báculos) nas mãos e lágrimas saindo de seus olhos, mostrando sua ligação com as variações climáticas. Existem versões que o apontam como um homem branco de estatura mediana que usa vestes brancas e carrega um cajado e um livro. Nestes casos, é possível que seja o momento que Viracocha se infiltra na civilização para ensinar e ajudar.

Uma história interessante pode nos mostrar como são criadas as mitologias. É dito que Inti era o supremo deus sol dos incas, até que Pachacutec, o nono governante do império inca e seu primeiro imperador, observando seu movimento no céu, disse para seus servos:
— Eu sou o imperador e vocês me obedecem. Se eu mando vocês andarem daqui para ali, vocês me obedecem. O grande Inti viaja pelos céus todo dia de leste para oeste. Então, alguém ainda maior deve mandar ele fazer isso e ele obedece. Esse alguém é Viracocha e dele sou herdeiro.
Essa é uma lenda contada pelo povo peruano que nos mostra perfeitamente a origem humana de todas as mitologias e divindades do mundo.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Tane

Tane Mahuta, uma kauri (Agathis australis), árvore conífera australiana que leva o nome do deus por causa de sua altura.

Deus das florestas, Tane foi o responsável por a separar seus pais Rangi (Céu) e Papa (Terra). O casal primordial se abraçava com tanta força que seus filhos vivam sufocados entre os dois. Os irmãos de Tane queriam matá-los, mas, por ser o mais forte de todos, foi ouvido. Firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força. Essa seria uma representação das árvores com suas raízes fincadas na terra e seus galhos apontando para os céus.

Com pena de seus pais nus e separados, Tane começou a vesti-los. Primeiro, pintou o Céu de vermelho, mas não gostou do resultado. Então, cobriu-o com o manto negro da noite. Para sua mãe, arranjou algumas árvores invertidas, ou seja, com as raízes para cima, mas o efeito não o agradou. Resolveu fazer um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas para cobrir todo seu corpo.

Um de seus irmãos, Uru, não ganhou nenhuma função divina e chorava enrolado no manto de seu pai. Para que ninguém visse suas lágrimas, Uru as guardava em cestas. Mas Tane acompanhou a tristeza do irmão é pediu os cestos emprestados. Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru não quis dar, mas Tane avançou e derramou uma delas no manto de seu pai. Suas lágrimas era luzes brilhantes que se tornaram as crianças-luz, as estrelas. Feliz com o ocorrido, Uru deu suas outras cestas a Tane, que foi criando a Via Láctea.

Tane abre a cesta de Uru. (Kipper)

Acreditava-se que seu maior rival era seu irmão Tawhiri, deus das tempestades. Ele teria perseguido alguns filhos de Tane por toda a terra e eles acabaram se escondendo no mar, onde se tornaram peixes a mando de Tangaroa. Outros colocam Tangaroa como seu maior rival, criando uma dualidade entre mar e terra.

Algumas lendas dizem que Tane foi o criador do primeiro homem, Tiki, a partir do barro. Outras dizem que ele se acasalava com árvores e animais, gerando todo tipo de monstro, como serpentes e dragões, porque sua mãe não permitia que ele tivesse uma esposa - uma punição pela separação à força. Até que um dia, ela se apiedou de Tane e sugeriu que ele fizesse para si uma esposa com a areia da praia. Ele seguiu a ideia de Papa e soprou no nariz de sua criação arenosa, que espirrou, e se tornou Hine-hau-one, a primeira mulher (mudando o paradigma da criação masculina).

É dito também que Tane acabou se casando com sua filha, Hine-titama, sem saber quem ela era. Quando eles souberam, ela fugiu para o subterrâneo e se tornou a deusa da morte, chamada de Hine-nui-te-po. Tane desceu ao subterrâneo para pedir perdão e se colocar à disposição da deusa, que pediu que ele voltasse ao mundo e criasse seus filhos até que eles voltassem à ela.

Todos os que usam madeira veneravam o deus, particularmente os construtores de canoas. Uma noite antes de começar a cortar as árvores para fazer as canoas, os artesãos rezavam para Tane e descansavam os machados no seu templo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Djanggawuls

Clãs do norte da Austrália falam de um trio de deuses - duas irmãs, Djanggau e Djunkgao, e um irmão, Bralbral - chamados Djanggawuls que chegaram a Terra por Beralku (ou Bralgu), a ilha dos espíritos mortos.

Dizia-se que as irmãs viviam grávidas por estupros de seu irmão. Elas iam gerando animais, plantas e os primeiros humanos enquanto andavam pela Terra. A cada nascimento, partes de suas vulvas caíam no solo e se tornavam objetos sagrados. Seu irmão recolheu os objetos, destituíndo-as de seus poderes divinos. As duas preferiram a reclusão ao sul da Austrália.

Outra lenda diz que elas eram Miralaid e Bildjiwararoju, as rubras e plumadas filhas do deus-sol. Elas modelaram a paisagem usando ranggas (bastões sagrados especiais), que depois foram deixados em locais sagrados. Também eram consideradas deusas da fertilidade, possivelmente numa relação incestuosa com o pai.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Tirawa

Deus supremo dos Pawnees, Tirawa (ou Atius Tirawa) está presente em todas as coisas, associado, principalmente, às estrelas, aos ventos, à chuva, aos raios e ao trovão. Seu ruído, segundo a lenda, é o som dos deuses voltando para a terra, depois de terminado o inverno.

No início, existia apenas um grande conselho divino presidido por Tirawa e sua esposa, Atira. Foi ele que definiu a posição de cada um e colocou as estrelas no céu (em forma de tijela) para sustentá-lo.

Ele também é responsável pela criação do primeiro homem e da primeira mulher. Ele pediu para Sakuru (sol) iluminar o leste com todo o seu calor e para Pah (lua) iluminar a escuridão assim que ela surgisse. Desse encontro de luzes, surgiu o homem. Em seguida, Tirawa pediu a Tcuperakata (estrela vespertina) para ser a grande mulher de todas as tribos e pediu para Operikata (estrela da manhã) ser o grande guerreiro condutor das tribos.. As duas estrelas deram forma a primeira mulher. Em seguida, Tirawa mostrou-lhes como viver e como fazer o primeiro altar de um crânio de búfalo. Também ensinou sobre linguagem, tatuagem, criação do fogo, caça, agricultura, vestuário e rituais sagrados.

Seu poder chega ao auge no verão. É representado como um homem alto de pele bronzeada, olhos castanhos-dourados e um cabelo ondulado como uma juba de leão. Veste-se com um roupa justa de couro e está sempre descalço, em contato com a terra.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quarup

Nativos se apresentando para o Quarup. Noel Villas Bôeas, 1998

Vamos conhecer um pouco sobre a cerimônia do Quarup.

Por ocasião da morte de uma figura ilustre na aldeia, seja por sua linhagem ou liderança – normalmente um cacique –, os povos do alto Xingu realizam o Quarup (ou Kuarup), que representa a ressurreição a salvação de sua alma (guarda semelhanças com a Páscoa cristã, não?). É uma grande honraria que coloca o morto no mesmo nível de seus ancestrais e incorpora uma história mítica de Maivotsinim (ou Mawutzinin), o primeiro homem.

O MITO
O mito é contado da seguinte forma: desejando ressuscitar os mortos, Maivotsinim entrou no mato e cortou três troncos de quarup, fincando-os no centro da aldeia. Ali os pintou e adornou com colares e penas. Chamou duas cutias e dois sapos cururus para cantarem com ele. Também distribuiu peixes e beijus para o povo comer. Os maracá-êp (cantadores), sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos quarup, chamando-os à vida. Mesmo incrédulos, o povo da aldeia começou a se pintar e a gritar. Maivotsinim os impediu de chorarem seus mortos, dizendo que viveriam, e por isso não podiam ser chorados. No dia seguinte, todos queriam ver os quarup, mas Maivotisinim pediu que todos esperassem a transformação por mais um tempo. À noite os troncos começaram a se mexer, como se o vento os balançasse. Os sapos cururu e as cutias, então, cantaram para que, assim que virassem gente, os troncos fossem ao rio se banhar.

Quando o dia clareou, da metade para cima os troncos já tinham forma humana. Os cantos continuaram, e Maivotsinim ordenou que todos na tribo se recolhessem para suas ocas e não saíssem. Ao meio-dia, a transformação já estava quase completa, e o povo pode sair para fazer uma grande festa com gritos de alegria, mas aqueles que tivessem tido relações sexuais durante a noite não tiveram permissão para sair. Um índio foi impedido por isso, mas não aguentou de curiosidade e saiu. O encanto foi quebrado e os quarup voltaram a ser madeira. Zangado, Maivotsinim disse que os mortos não reviveriam mais no Quarup, que seria apenas uma celebração que, no fim, os troncos tinham de ser jogados no rio do jeito que estavam.

O RITUAL
Tronco de Quarup pintado para a celebração (Sandra Zarur)
Os preparativos começam 15 dias antes do evento. São realizadas grandes pescarias, pois o grupo organizador tem que oferecer uma boa alimentação para os grupos convidados. Uma semana antes, são cortados os troncos que representam os mortos. Eles ficam escondidos na mata até a véspera do cerimonial. O ápice do ritual é precedido por uma série de atividades: preparação dos alimentos derivados da mandioca, busca dos troncos e preparo dos ornamentos. Os responsáveis por fazerem o convite da cerimônia são os pariat (mensageiros), que saem convidando as outras aldeias.

E a celebração – tipicamente – se inicia com a chegada de povos de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças e se acomodam na periferia da aldeia. Depois alguns "índios" vão ao mato e cortam um tronco de quarup, fazem uma cabana de palha em frente à Casa dos Homens, e a frente dela fincam o tronco no chão. O tronco recebe uma decoração, acompanhada de cantoria que elogia quem está sendo homenageado. Arma-se, então, uma fogueira em frente ao tronco, onde sucedem-se danças e cantos para Tupã, organizados pelo pajé. Terminando a evocação, os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos após recolherem uma chama para acender as fogueiras dos outros grupos. À noite acontece a ressurreição simbólica do homenageado. As carpideiras começam o choro ritual sem que os cantos sejam interrompidos.


Aos primeiros raios do sol do dia seguinte, o choro e o canto cessam, e começa a Dança da Vida, executada pelos atletas das tribos, cada um trazendo uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade. Os atletas formam um grande círculo ao redor do quarup para reverenciá-lo. Depois o grande círculo se dispersa, e vários grupos são formados, representando cada um uma tribo. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens. Então o chefe da aldeia que sedia o Quarup se ajoelha diante dos chefes de cada tribo visitante e, em sinal de boas vindas, lhes oferece peixe e beiju para distribuírem entre os seus. Terminadas as lutas ocorre um ritual de troca (moitará), onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade. O ritual é encerrado com o tronco sendo lançado às águas.

Luta durante o Quarup. Noel Villas Bôas, 1998

Os mitos da área do rio Xingu foram documentados pelo indigenista Orlando Vilas-Boas (1914-2002), o "cacique branco" do Xingu.