Hoje é dia de
São Cosme e São Damião, os famosos santos gêmeos ligados aos doces. Também são considerados no Brasil os santos padroeiros dos farmacêuticos e médicos e, é claro, das crianças.
Há relatos que iniciam sua história no Oriente, filhos de uma família nobre e cristã, no século III. Seus nomes verdadeiros seriam
Acta e
Passio, e não se sabe se eram gêmeos. Desde de muito pequenos questionavam a existência de um único Deus responsável por cuidar de todos. A partir dessa dúvida, passaram a curar animais. Mais tarde, conheceram um homem chamado Levi que mostrou formas diferentes de cura e foram capazes de fazer um transplante e um homem voltar a andar. Estudaram, então, na Síria – um, Medicina, e o outro, Farmácia – e foram praticar na Egéia e na Ásia Menor. Diziam "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder", unindo fé e ciência. Com isso, seus tratamentos e curas a doentes, muitas vezes à beira da morte, eram vistos como verdadeiros milagres.
Um certo dia, os santos foram chamados para atender Paládia, uma senhora acometida de uma doença incurável a quem todos os médicos recusaram-se a tratar. Pela fé, oração e conhecimentos dos irmãos, em pouco tempo a senhora levantou-se de seu leito, com perfeita saúde, para agradecer a Deus. Desejando recompensar seus médicos de algum modo, Paládia presenteou Passio com três ovos, dizendo "Aceite este pequeno presente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Ao ouvir o nome da Santíssima Trindade, o santo médico não ousou recusar o presente. No entanto, quando Acta soube o que acontecera, entristeceu-se, pois seu irmão teria quebrado o voto de caridade.
Há várias versões para suas mortes, mas nenhuma comprovada por documentos históricos. Um relato diz que teriam despertado a ira do Imperador Diocleciano, implacável perseguidor do povo cristão, que exigiu que ambos fossem amarrados e jogados em um despenhadeiro sob a acusação de feitiçaria e de serem inimigos dos deuses romanos. Outra versão diz que, na primeira tentativa de matá-los, foram afogados, mas salvos por anjos. Na segunda, foram queimados, mas o fogo não lhes causou dano algum. Apedrejados na terceira vez, as pedras voltaram para trás, sem atingi-los. Por fim, morreram decapitados. Muitos fiéis transportaram seus corpos para Roma, que foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV (526-30), a pedido do Imperador Justiniano, na Basílica no Fórum de Roma.
As imagens dos santos ainda criança se referem a outra lenda: existia num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles que em troca pediam doces, balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximo a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão. Pedia sempre a Deus que o levasse para perto do irmão, até que, sensibilizado pelo pedido, Deus resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisavam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.
Alguns estudiosos de mitologia grega concentram seus esforços para demonstrar que Cosme e Damião não existiram de fato, que eram apenas a versão cristã dos filhos gêmeos de
Zeus,
Castor e Pólux.
Nas religiões afro-brasileiras, São Cosme e São Damião são associados aos
ibejis, gêmeos amigos das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces e guloseimas. Estas religiões os celebram enfeitando seus templos com bandeirolas e alegres desenhos, tendo-se o costume – principalmente no Rio de Janeiro – de dar doces e brinquedos às crianças que lotam as ruas em busca dos agrados. Na Bahia, as pessoas comemoram oferecendo caruru, vatapá, doces e pipoca para a vizinhança.
É HOJE MESMO?
A Igreja Católica Apostólica Romana, até 1969, celebrava a festa dos santos no dia 27 de setembro. Porém, São Vicente de Paulo era celebrado no mesmo dia e tinha a data de 27 de setembro como certa de sua morte, enquanto não se tinha certeza da data de morte dos gêmeos. Então, com a reforma litúrgica, passou-se a comemorá-los no dia 26. Ainda assim, católicos tradicionalistas, devotos mais antigos e as religiões afro-brasileiras continuam a comemorá-los no dia 27.
Três pares de santos Cosme e Damião são celebrados pela Igreja Ortodoxa. O mais comumente associado aos santos médicos da Síria é celebrado em 1º de novembro como Santos Cosme e Damião da Ásia Menor. Mas há uma celebração em 17 de outubro dos Santos Cosme e Damião da Cilícia, e outra em 1º de julho dos Santos Cosme e Damião de Roma. Os três pares são da classe dos santos anárgiros ("desapegados do dinheiro").