Temos vivido um período intenso se falarmos de religião. Terreiros de candomblé sendo destruídos,
uma intolerância ignorante dos evangélicos, uma disputa por direitos civis que esbarra em fundamentalismos cristãos... E, pra finalizar, tivemos recentemente a estranha renúncia do Papa, o líder católico, revelando a política que controla a fé.
Por essas razões, acabei me lembrando de uma crise recente que a Igreja Católica passou quando
Dan Brown lançou, em 2003,
O Código Da Vinci (
Ed. Sextante, 2004) e o transformou em um sucesso estrondoso.
No best-seller, Dan Brown expõe ao mundo suas teorias sobre a humanidade de
Jesus, colocando o simbologista Robert Langdon em busca do Santo Graal. Sua jornada o leva a descoberta que Jesus foi casado com
Maria Madalena e teve filhos, ou seja, existiria uma linhagem sanguínea que viria do filho de Deus. Brown ainda culpa a Igreja pela demonização da mulher, que levou a transformação da esposa de Jesus em uma prostituta. Tudo por causa do
I Concílio de Nicéa, onde homens do clero decidiram dizer como seriam as coisas dali pra frente, inclusive sumindo com Evangelhos de alguns apóstolos e criando seitas secretas. Ou seja... Brown provava que o homem estava por trás de tudo, e não Deus.
A Igreja tentou impedir o lançamento do livro e, posteriormente, boicotar a estréia do filme estrelado por Tom Hanks. Mas 80 milhões de livros foram vendidos e sei lá quantos outros milhões já assistiram ao filme. Vários documentários e outros livros foram gerados para tentar explicar, entender ou desmistificar as obras de Leonardo Da Vinci. Até o
Museu do Louvre chegou fazer um caminho de visitação específico para as obras presentes no livro.
E o pior ainda estava por vir, pois esse livro abriu caminho para a obra anterior de Dan Brown,
Anjos e Demônios (Ed. Sextante, 2005), do ano 2000, que criava uma conspiração dentro do Vaticano por conta da
partícula divina. OPA! O Papa é assassinado, um conclave é formado e o carmelengo assume? Mais seitas secretas e uma dúvida sobre a divindade do Big Bang? O novo filme? Mais sucesso? A primeira aventura de Robert Langdon era tudo que a Igreja
NÃO precisava... Claro que ela tentou embarreirar os dois novamente, mas, como sofreu muito da primeira vez, preferiu fazer um discurso de lamento e força dogmática. Aos interessados na atual renúncia papal, o livro contém descrições do conclave que escolhe o novo líder da instituição.
Talvez pra tentar melhorar um pouco sua relação com a Igreja Católica, Brown resolveu lançar um livro que coloca Deus e a Bíblia como o novo
Graal. Mas como ele é polêmico (e muito!), resolveu mostrar todas as ligações possíves da famigerada Francomaçonaria com o Cristianismo! Mesmo que ele passe o tempo inteiro provando que ambos possuem raízes pagãs, a mistura com magia negra e sacrifícios com sangue pioraram a situação do escritor. E como mexe com a cúpula americana também (viu como ele é polêmico?), duvido que ele consiga fazer um filme d'
O Símbolo Perdido (Ed. Sextante, 2009). Sorte da Igreja... No entanto, vale destacar que este livro repetidamente enfatiza que a interpretação humana talvez seja o grande mal em torno das religiões.
O discurso deste blog sempre foi exatemente esse: a humanidade da religião a torna passível de erros e interpretações particulares. É isso que Dan Brown faz ao expor a humanidade da Igreja em seus livros. Eu acho que é um bom momento para relê-los ou rever os filmes, seja por diversão, informação, argumentação (contrária ou a favor) ou preparação... porque Dan Brown está preparando a quarta aventura de Langdon onde abordará a
Divina Comédia de Dante Alighieri. Esperem intrigas no Inferno, no Purgatório, no Paraíso - e principalmente - na Igreja!