domingo, 9 de maio de 2010

Taranis

Taranis (ou Júpiter) com roda e relâmpago
Taranis (ou Tarann ou Taranuo) era o deus do trovão e mestre do céu da antiga Gália. Cruzava os céus em sua carruagem de prata e o trovão era o ruído que faziam as rodas. Os raios eram produzidos pelas fagulhas que saíam dos cascos dos cavalos. A roda, portanto, foi atribuída a ele.

Os romanos acreditavam que ele recebia sacrifícios humanos de seus adoradores. Deriva o seu nome das palavras taran ou toranos, que significam "relâmpago" ou "trovão", e chegou a ser considerado como o deus do fogo. Por isso, também aparecia, às vezes, como uma deidade relacionada com outros elementos essenciais, sobre os quais incidiria como uma espécie de princípio ativo.

Era adorado em quase todo o mundo celta e, pode ter sido associado ao deus romano Júpiter, ao grego Zeus, ao celta Donar e ao nórdico Thor. Mas também foi associado ao ciclope Brontes que criava relâmpagos para Zeus, na mitologia grega.


Rodinhas de metal utilizadas pelos adoradores de Taranis, chamadas de rouelles.
Milhares dessas foram encontradas na Bélgica galesa.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Mati-Syra-Zemlya

Mati-Syra-Zemlya (úmida mãe terra) era a mais antiga e poderosa deusa eslava pré-cristã. Não possuía representação antropormófica, sendo a própria Terra. Não era um espírito, mas a presença em todas as coisas. Um mito dizia que, na noite do dia 24 de cada mês, ela se tornava uma mulher de pele escura, vestida de fitas coloridas, e ia abençoando casas. Em algumas vezes, aparecia como uma ovelha, seu animal sagrado.

As pessoas adoravam-na cavando um buraco no chão e falando nele. Ouvir os sons vindos do buraco era um forma de saber se a deusa traria boas colheitas. Também deixavam pão e derramavam vinho para a deusa. Arar um sulco ao redor da casa, protegia contra pragas. Antes de viagens, era preciso beijar a terra natal e pedir licença à terra que se vai visitar. Também era convocada em juramentos e casamentos com um pouco de terra na cabeça do envolvidos (podia ser comida).

Posteriormente, foi associada a Mokosh e poderia ser sua personificação. É comparada a Gaia grega, e também era chamada de Matka e Matkusha.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Audumla

Manuscrito do século XVIII
A vaca Audumla foi o segundo ser da criação escandinava. Ela se originou da geada que ocorreu em Ginnungagap (o abismo da criação) a partir do encontro entre Muspelheim (terra do fogo) e Niflheim (terra do gelo), assim como o gigante primevo Ymir. De seu úbere corriam quatro rios de leite que forneciam alimento para o gigante e seu filho de seis cabeças.

Audumla se alimentava do sal congelado nas pedra, que ela lambia avidamente. Certa vez, enquanto lambia, apareceu a cabeça de um homem. Ela continuou a lamber até que, depois de três dias, um homem inteiro foi libertado do gelo: o belo e forte Buri, avô de Odin, Vili e Ve.

É possível que Audumla se assemelhe a deusa egípcia Hathor e com a cabra Amaltéia da mitologia grega.

O mito da criação: Ymir, o primeiro gigante, se alimenta de Audumla, que lambeo gelo de onde sai Buri (de Nicolai Abraham Abildgaard, 1790)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quarup

Nativos se apresentando para o Quarup. Noel Villas Bôeas, 1998

Vamos conhecer um pouco sobre a cerimônia do Quarup.

Por ocasião da morte de uma figura ilustre na aldeia, seja por sua linhagem ou liderança – normalmente um cacique –, os povos do alto Xingu realizam o Quarup (ou Kuarup), que representa a ressurreição a salvação de sua alma (guarda semelhanças com a Páscoa cristã, não?). É uma grande honraria que coloca o morto no mesmo nível de seus ancestrais e incorpora uma história mítica de Maivotsinim (ou Mawutzinin), o primeiro homem.

O MITO
O mito é contado da seguinte forma: desejando ressuscitar os mortos, Maivotsinim entrou no mato e cortou três troncos de quarup, fincando-os no centro da aldeia. Ali os pintou e adornou com colares e penas. Chamou duas cutias e dois sapos cururus para cantarem com ele. Também distribuiu peixes e beijus para o povo comer. Os maracá-êp (cantadores), sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos quarup, chamando-os à vida. Mesmo incrédulos, o povo da aldeia começou a se pintar e a gritar. Maivotsinim os impediu de chorarem seus mortos, dizendo que viveriam, e por isso não podiam ser chorados. No dia seguinte, todos queriam ver os quarup, mas Maivotisinim pediu que todos esperassem a transformação por mais um tempo. À noite os troncos começaram a se mexer, como se o vento os balançasse. Os sapos cururu e as cutias, então, cantaram para que, assim que virassem gente, os troncos fossem ao rio se banhar.

Quando o dia clareou, da metade para cima os troncos já tinham forma humana. Os cantos continuaram, e Maivotsinim ordenou que todos na tribo se recolhessem para suas ocas e não saíssem. Ao meio-dia, a transformação já estava quase completa, e o povo pode sair para fazer uma grande festa com gritos de alegria, mas aqueles que tivessem tido relações sexuais durante a noite não tiveram permissão para sair. Um índio foi impedido por isso, mas não aguentou de curiosidade e saiu. O encanto foi quebrado e os quarup voltaram a ser madeira. Zangado, Maivotsinim disse que os mortos não reviveriam mais no Quarup, que seria apenas uma celebração que, no fim, os troncos tinham de ser jogados no rio do jeito que estavam.

O RITUAL
Tronco de Quarup pintado para a celebração (Sandra Zarur)
Os preparativos começam 15 dias antes do evento. São realizadas grandes pescarias, pois o grupo organizador tem que oferecer uma boa alimentação para os grupos convidados. Uma semana antes, são cortados os troncos que representam os mortos. Eles ficam escondidos na mata até a véspera do cerimonial. O ápice do ritual é precedido por uma série de atividades: preparação dos alimentos derivados da mandioca, busca dos troncos e preparo dos ornamentos. Os responsáveis por fazerem o convite da cerimônia são os pariat (mensageiros), que saem convidando as outras aldeias.

E a celebração – tipicamente – se inicia com a chegada de povos de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças e se acomodam na periferia da aldeia. Depois alguns "índios" vão ao mato e cortam um tronco de quarup, fazem uma cabana de palha em frente à Casa dos Homens, e a frente dela fincam o tronco no chão. O tronco recebe uma decoração, acompanhada de cantoria que elogia quem está sendo homenageado. Arma-se, então, uma fogueira em frente ao tronco, onde sucedem-se danças e cantos para Tupã, organizados pelo pajé. Terminando a evocação, os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos após recolherem uma chama para acender as fogueiras dos outros grupos. À noite acontece a ressurreição simbólica do homenageado. As carpideiras começam o choro ritual sem que os cantos sejam interrompidos.


Aos primeiros raios do sol do dia seguinte, o choro e o canto cessam, e começa a Dança da Vida, executada pelos atletas das tribos, cada um trazendo uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade. Os atletas formam um grande círculo ao redor do quarup para reverenciá-lo. Depois o grande círculo se dispersa, e vários grupos são formados, representando cada um uma tribo. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens. Então o chefe da aldeia que sedia o Quarup se ajoelha diante dos chefes de cada tribo visitante e, em sinal de boas vindas, lhes oferece peixe e beiju para distribuírem entre os seus. Terminadas as lutas ocorre um ritual de troca (moitará), onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade. O ritual é encerrado com o tronco sendo lançado às águas.

Luta durante o Quarup. Noel Villas Bôas, 1998

Os mitos da área do rio Xingu foram documentados pelo indigenista Orlando Vilas-Boas (1914-2002), o "cacique branco" do Xingu.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Jano

Busto de Jano no Museu do Vaticano
Com duas cabeças olhando para direções opostas, Jano é o deus romano das entradas, portões e começos. Era o porteiro celestial - toda porta tem dois lados -, representando os términos e começos, passado e futuro.

Era o responsável por abrir os anos (deu seu nome ao mês de Janeiro - januarius) e costumava ser o primeiro deus a ser mencionado nas cerimônias religiosas. Era adorado no início da época de colheita, plantio, casamento, nascimento, e outros tipos de origens, especialmente os começos de acontecimentos importantes na vida de uma pessoa. Também representa a transição entre a vida primitiva e a civilização, entre o campo e a cidade, a paz e a guerra, e o crescimento dos jovens.

Seu santuário mais famoso foi um portal sobre o Fórum Romano, através do qual os legionários romanos entraram em guerra. Em seus templos, as portas principais ficavam abertas em tempos de guerra e eram fechadas em tempos de paz. Tornou-se, então, patrono dos exércitos.

Originalmente, uma face possuía barba e a outra não, e, às vezes, era masculino e feminino - provavelmente um representação do sol e da lua (Janus e Jana). No entanto, é mais fácil encontrar duas faces com barba. Existem, no entanto, em alguns locais, representações suas com quatro faces. Raramente, mostravam seu corpo, mas se fosse feito possuía uma chave na mão direita. A cabeça dupla face aparece em muitas moedas romanas, então, é dito que ele teria inventado o dinheiro.

Uma lenda romana conta que teria chegado a Tessália, onde foi saudado pela princesa Camese do Lácio. Casaram-se, dividiram o reino e tiveram vários filhos, dentre os quais Tiberinus (o deus do rio Tibre). Após a morte de Camese tornou-se o único governante e trouxe as pessoas um tempo de paz e bem-estar, a Idade de Ouro. Ele introduziu o dinheiro, o cultivo dos campos, e as leis. Também teria abrigado Saturno, quando este fugia de Júpiter e, como recompensa, ganhou o poder de enxergar passado e futuro. Após sua morte, foi deificado. Quando Rômulo e seus companheiros raptaram as virgens sabinas, Roma foi atacada. Mas Janus fez um geiser fervente irromper da terra e os agressores fugiram da cidade. Tornou-se então protetor da cidade. Posteriormente, passou a ser símbolo da cidade de Gênova.

Mesmo não tendo representações análogas em outras mitologias, muitas vezes os romanos associavam Janus com a divindade etrusca Ani e com os gregos Zeus e Hermes. É possível, que suas representações o liguem a São Pedro, "porteiro" no Cristianismo, mas seu nome pode ter derivado o nome do profeta bíblico Jonas (Yonah, em hebraico) e ter a origem na mesopotâmica Uanna.