segunda-feira, 24 de maio de 2010

Fúria dos homens!


Assisti o filme Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010). Mas antes assisti o filme de 1981 para ter uma noção melhor do mito e das diferenças. E são muitas! Quando falei sobre eles, eu ainda não tinha idéia do que vinha por aí.

Pra início de conversa, seria legal fazer uma reverência a Ray Harryhausen, responsável pelos efeitos especiais a base de stop motion e bonequinhos de massa, que criaram um novo universo de fantasia em uma época que George Lucas já tinha apresentado Star Wars. A entrevista que o diretor do novo filme - o francês Louis Leterrier - deu para o Omelete prova isso. Mas dessa vez ele ficou definitivamente no passado... a tecnologia e a maquiagem de hoje dão uma veracidade às criaturas mitológicas que chegam à credibilidade. E nada de 3D! Pra quê 3D??? Esqueçam o 3D!!! Mesmo que o filme peque em roteiro, não precisamos de mais uma coisa atrapalhando nosso filme.

O filme parece ter sido feito com uma cabeça iluminista, quando os homens estavam questionando as teorias teocêntricas e acreditando nas capacidades do próprio homem. São os homens sendo capazes de derrotar os deuses, pois - afinal - somos nós que damos imortalidade a eles com nossas preces, com nosso credo. Só que esqueceram que esses mitos foram criados exatamente com o fim de endeusar ainda mais tais indivíduos. Acaba ficando estranho. O filme de 1981 parece tentar manter essa aura. O novo não. E isso foi defendido por Sam Worthington (Perseu) em uma entrevista ao Omelete. Alexa Davalos (Andrômeda) também foi por aí.

Bom... vamos lá, vamos falar de ambos... mas vai ter spoilers:
  • Quem disse que Zeus enganou seu irmão Hades? E quem disse que Hades era monstruoso? Hades ganhou o Submundo por ser o caçula na partilha com Zeus e Poseidon e, mesmo assim, é lá que estão as maiores riquezas da terra. Sem contar que seu reino dos mortos é o maior de todos!
  • E que história é essa de Hades se transformar em harpias? Harpias são seres únicos e não uma reles mágica.
  • No filme de 1981, os olimpianos parecem ser representados por Zeus, Hera, Atena, Poseidon, Hefestos... e Tétis? Ursula Andress é Afrodite, mas não abre a boca! É um choque, uma vez que foi uma grande Bond girl... no entanto, no novo filme, os olimpianos aparecem... quer dizer... eles estão lá, como pano de fundo. Você só sabe quem está mesmo nos créditos finais: Deméter, Héstia... Apolo, Poseidon, Zeus e Hades são os únicos que falam. Mas Hera e - principalmente - Atena tem participação essencial no mito de Perseu.
  • O Monte Olimpo de 81 é mais belo. É mais tradicional. Achei o novo modernoso demais, meio futurista. Mas a sala dos deuses é bem legal com o mundo abaixo deles.
  • Os bonequinhos de argila de 81 foram mantidos! Eu adorava aquilo e a ideia de que os deuses brincavam de bonecos de argila em um anfiteatro, mas, na verdade, estavam controlando os homens. O novo filme mostra os bonecos somente como uma belíssimo fundo de colecionáveis, que é destruído quando o Kraken é solto.
  • Erros graves no mito de nascimento de Perseu do filme novo. É dito que Zeus teria se transformado no Rei Acrísio e dormido com a rainha Danae. Acrísio não aceita a traição e lança a esposa e o recém-nascido ao mar. Nesse momento, uma raio o atinge e ele fica deformado, transformando-se em Calibos. Perseu é salvo por pescadores, com Danae morta. Tudo errado... Danae é FILHA de Acrísio! O rei descobriu que seu neto iria matá-lo, então resolveu trancá-la longe dos olhos humanos. Zeus, em forma de chuva dourada, encontrou Danae e ambos geraram Perseu. Acrísio descobriu e os lançou ao mar. Danae e Perseu sobreviveram na ilha de Polidectes.
  • Calibos não existe. Em 81, ele é filho de Tétis, amaldiçoado por Zeus por ter matado animais sagrados. Em 2010, ele é o Rei Acrísio também amaldiçoado por Zeus e protegido por Hades. É dito que ele é baseado em uma peça de Shakespeare.
  • Io, uma guerreira? Ela foi uma das ninfas amantes de Zeus! Não tem nada a ver com Perseu! Gemma Arterton - atriz que a interpretou - falou que sua presença era para dar mais força às mulheres no filme, pois anteriormente elas eram "donzelas em perigo". Como assim? E as manipuladoras Hera e Tétis? E Atena? E por que Andrômeda não terminou com Perseu no novo filme? Eu hein...
  • E os novos companheiros de Perseu? Draco, Ixas, Eusébio e Solon são inexistentes. Os dois guerreiros árabes que matam tudo nem nome tem! Aparecem, desaparecem e reaparecem. No filme original, Perseu é acompanhado por guerreiros sem nome e Talos, do qual também não tenho referências. Aliás... os pais do novo Perseu também não existem...
  • Djins? Seres mágicos do deserto que cavalgam escorpiões gigantes? Essa foi de doer... que eu saiba djins são espíritos da mitologia árabe!
  • Bubo, a coruja tecnológica do filme de Harryhausen, não existe. E Ray também não gostava dela. Por isso, a brincadeirinha no novo filme. Mas a coruja é até hoje um símbolo de sabedoria, consagrada a Atena.
  • A lenda de Pégaso é uma grande questão que ainda terei que pesquisar melhor. Que eu saiba, Pégaso nasce da cabeça de Medusa, após ela ser cortada por Perseu. No original, é contado que Calibos matou a manada de cavalos alados de Zeus, sobrevivendo apenas Pégaso. No novo, existem vários cavalos alados, sendo Pégaso o maior deles. Normalmente, Pégaso é branco. No novo filme, é preto. Mas um detalhe: fiquei com uma vontade de cavalgar esse Pégaso novo... sensacional! Só tive essa sensação uma vez: com o dragão Falcon de História sem Fim!
  • Falando em Medusa... podem rir, mas depois de Uma Thurman em Percy Jackson, não consigo pensar em outro rosto pra górgona! Mas ela não pode ser bela como Uma... nem como a nova Medusa. Ela tem que ser horrenda como a Medusa de Harryhausen. As lendas são diferentes: em 81, Afrodite foi a responsável pela transformação, mas, em 2010, o correto vem à tona com o desdém de Atena e o estupro de Poseidon.
  • Outra coisa que não sei se está certo é a localização do templo de Medusa. O rio Estige - usado corretamente nos dois filmes - leva os mortos ao reino de Hades, no Submundo. No entanto, é dito que Medusa fica por lá. Que eu saiba, ela fica próxima aos Jardim das Hespérides, possivelmente em Cabo Verde.
  • Já falei que o Kraken é um monstro da mitologia escandinava... então, como pode nesse novo filme, ele ser um titã? E pior... ter sido criado da carne de Hades! Aliás, em ambos os filmes, Medusa é chamada de titã... ERRADO! Os titãs eram filhos de Gaia, antes dos deuses e dos homens!
  • Argos é destruída no início do filme de 81 pelo Kraken. O resto da história ocorre em Jopa, cidade fenícia. No filme novo, tudo acontece em Argos. Mas o mito se passa na Etiópia!
É isso... são muitas - e ainda tem mais - questões, mas, incongruências a parte, é mitologia no cinema! Esqueçam os personagens perdidos com atuações insossas e curtam todos os efeitos especiais que temos direito! A continuação já está prevista para 2012... hã? Como assim? Sei lá... vai ter bastante roteiro mitológico adaptado.

Eu espero dar conta de todas essas histórias por aqui!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ixchel

Ixchel ou Ix Chel ("A de pele branca" ou, talvez, "Arco-Íris") era a deusa do amor, da gestação, dos trabalhos têxteis e da lua. Possivelmente, a maior deusa na mitologia maia, era também conhecida como Lady Arco-Íris, Mãe-Terra e Caverna da Vida. Muitos crêem que ela era a deusa jaguar da medicina e do parto na antiga cultura maia.

Como deusa da pintura e dos tecidos, Ixchabel Yax, foi casada com o grande Itzamna, com quem teve inúmeros deuses celestes. Mesmo casada, Ixchel é conhecida por seus inúmeros amantes. Quando se enchia dos ciúmes deles, ficava invisível por um bom tempo, apenas ajudando mães e seus recém-nascidos. Nessa forma, era representada por uma jovem e um coelho, símbolo de fertilidade e abundância no mundo inteiro.

Existem registros de inúmeros rituais xamanísticos dedicados à deusa no século XVI. Em sua manifestação agressiva, era a deusa das tempestades, representada por uma velha com uma serpente na cabeçamãos e pés em garras e ossos cruzados nas roupas que esvazia os recipientes de cólera sobre o mundo. Seu poder de trabalhar com a serpente do céu para provocar enchentes era muito temido. As inundações seriam produto de sua raiva pelos humanos e a maior delas pode ter sido o Grande Dilúvio que também aparece na mitologia cristã. Seus sacerdotes tentavam acalmá-la com sacrifícios freqüentes. O jarro esvaziando que aparece em várias de suas representações também pode ser referente ao ciclo lunar, uma vez que remete à lua minguante. E essa simbologia possui ligação direta com as funções maias de uma parteira (o jarro esvaziando seria o nascimento) e com o ciclo menstrual.

Possuía templos nas ilhas mexicanas de Cozumel e Isla Mujeres, onde grandes cerimônias eram realizadas em sua honra no sexto dia de lua. De um porto na península de Quintana Roo, partiam as canoas de peregrinos até os templos para solicitar ao oráculo da deusa (um sacerdote que ficava dentro de uma estátua feminina) um bom parto.

Estátua de Ixchel na ponta sul da Isla Mujeres, onde ainda existem ruínas de seu templo.(Foto: Arquivo pessoal)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Glooskap

De acordo com várias tribos norte-americanas, a mãe-terra teve os gêmeos Glooskap - bom, sábio e criativo - e Malsum - mau, egoísta e destrutivo. Quando sua mãe morreu, Glooskap imediatamente começou a criar plantas, animais e os seres humanos de seu corpo. Em contrapartida, Malsum criou plantas venenosas, répteis e insetos.

Cansado de disputar com seu irmão, Malsum planejou matá-lo. Malsum contou que apenas as raízes de uma samambaia poderiam fazer mal a ele. Sempre verdadeiro e leal, Glooskap revelou que penas de coruja poderiam machucá-lo. Malsum, então, fez um dardo de penas de coruja e matou seu irmão. Mas Glooskap era tão poderoso que ressuscitou planejando vingança, mostrando que o bem pode ser corrompido. Glooskap utilizou raízes de samambaia para prender Malsum que acabou morrendo. No mundo subterrâneo, Malsum vinha atormentar os homens como um lobo espiritual somente à noite.

É também conhecido como Gluskabe, Glooscap, Gluskabi, Kluscap ou Kloskomba. Seu nome pode significar "o homem que veio do nada" ou "o homem criado a partir da palavra". Costuma ser associado à força e à sabedoria dos líderes.

Para os povos Abenaki, Tabaldak foi o criador do mundo. A poeira de suas mãos gerou os irmãos gêmeos Glooscap e Malsumis, o bem e o mal. Glooscap teria feito de tudo para proteger a humanidade, fosse liberando animais para caça, fosse consertando as variações climáticas impostas por um grande pássaro mitológico. Para os Mi'kmaq, Glooskap tinha utilizava seu incrível poder de transformação para impedir as maldades de seu irmão maligno. Os Penobscot admiravam Gluskabe por ter criado os primeiros seres humanos e salvo o mundo de uma rã monstruosa que havia engolida toda a água existente.

É dito que Glooskap é o responsável pelo primeiro trato ambiental que teria feito com que seres humanos e a Natureza vivessem em harmonia. Mas isso perdeu sua validade com a chegada do homem branco, que Glooskap não aceita.

domingo, 9 de maio de 2010

Taranis

Taranis (ou Júpiter) com roda e relâmpago
Taranis (ou Tarann ou Taranuo) era o deus do trovão e mestre do céu da antiga Gália. Cruzava os céus em sua carruagem de prata e o trovão era o ruído que faziam as rodas. Os raios eram produzidos pelas fagulhas que saíam dos cascos dos cavalos. A roda, portanto, foi atribuída a ele.

Os romanos acreditavam que ele recebia sacrifícios humanos de seus adoradores. Deriva o seu nome das palavras taran ou toranos, que significam "relâmpago" ou "trovão", e chegou a ser considerado como o deus do fogo. Por isso, também aparecia, às vezes, como uma deidade relacionada com outros elementos essenciais, sobre os quais incidiria como uma espécie de princípio ativo.

Era adorado em quase todo o mundo celta e, pode ter sido associado ao deus romano Júpiter, ao grego Zeus, ao celta Donar e ao nórdico Thor. Mas também foi associado ao ciclope Brontes que criava relâmpagos para Zeus, na mitologia grega.


Rodinhas de metal utilizadas pelos adoradores de Taranis, chamadas de rouelles.
Milhares dessas foram encontradas na Bélgica galesa.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Mati-Syra-Zemlya

Mati-Syra-Zemlya (úmida mãe terra) era a mais antiga e poderosa deusa eslava pré-cristã. Não possuía representação antropormófica, sendo a própria Terra. Não era um espírito, mas a presença em todas as coisas. Um mito dizia que, na noite do dia 24 de cada mês, ela se tornava uma mulher de pele escura, vestida de fitas coloridas, e ia abençoando casas. Em algumas vezes, aparecia como uma ovelha, seu animal sagrado.

As pessoas adoravam-na cavando um buraco no chão e falando nele. Ouvir os sons vindos do buraco era um forma de saber se a deusa traria boas colheitas. Também deixavam pão e derramavam vinho para a deusa. Arar um sulco ao redor da casa, protegia contra pragas. Antes de viagens, era preciso beijar a terra natal e pedir licença à terra que se vai visitar. Também era convocada em juramentos e casamentos com um pouco de terra na cabeça do envolvidos (podia ser comida).

Posteriormente, foi associada a Mokosh e poderia ser sua personificação. É comparada a Gaia grega, e também era chamada de Matka e Matkusha.