Como deusa da pintura e dos tecidos, Ixchabel Yax, foi casada com o grande Itzamna, com quem teve inúmeros deuses celestes. Mesmo casada, Ixchel é conhecida por seus inúmeros amantes. Quando se enchia dos ciúmes deles, ficava invisível por um bom tempo, apenas ajudando mães e seus recém-nascidos. Nessa forma, era representada por uma jovem e um coelho, símbolo de fertilidade e abundância no mundo inteiro.
Existem registros de inúmeros rituais xamanísticos dedicados à deusa no século XVI. Em sua manifestação agressiva, era a deusa das tempestades, representada por uma velha com uma serpente na cabeçamãos e pés em garras e ossos cruzados nas roupas que esvazia os recipientes de cólera sobre o mundo. Seu poder de trabalhar com a serpente do céu para provocar enchentes era muito temido. As inundações seriam produto de sua raiva pelos humanos e a maior delas pode ter sido o Grande Dilúvio que também aparece na mitologia cristã. Seus sacerdotes tentavam acalmá-la com sacrifícios freqüentes. O jarro esvaziando que aparece em várias de suas representações também pode ser referente ao ciclo lunar, uma vez que remete à lua minguante. E essa simbologia possui ligação direta com as funções maias de uma parteira (o jarro esvaziando seria o nascimento) e com o ciclo menstrual.
Possuía templos nas ilhas mexicanas de Cozumel e Isla Mujeres, onde grandes cerimônias eram realizadas em sua honra no sexto dia de lua. De um porto na península de Quintana Roo, partiam as canoas de peregrinos até os templos para solicitar ao oráculo da deusa (um sacerdote que ficava dentro de uma estátua feminina) um bom parto.
Estátua de Ixchel na ponta sul da Isla Mujeres, onde ainda existem ruínas de seu templo.(Foto: Arquivo pessoal) |
Que ambiguidade! A mesma divindade ligada ao nascimento, ao parto, sempre visto como o novo, o recomeço, a alegria, era também uma divindade que esvaziava recipientes cheios de cólera sobre o mundo.
ResponderExcluirAliás, a compreensão da mitologia maia é muito difícil, talvez porque essa civilização já estivesse em processo extinção quando os europeus chegaram e tiraram conclusões, nem sempre pertinentes, daquilo que viram ou ouviram.
Na verdade a ambiguidade é o que faz a roda da vida gerar, a maioria dos deuses pagãos tem esse contraste. Só há vida porque há morte. A destruição, as inundações, as queimadas fazem com que a terra seja mais fértil. Se as gerações passadas não tivessem morrido, não haveria espaço para nossa.
ResponderExcluirPara as civilizações antigas, ligadas a terra, a morte é natural, não é sofrimento ou dor, é a roda da vida girando.
Muitas deusas ligadas ao nascimento também são ligadas a morte, elas tem a chave da vida, logo, também a da morte. A mesma mão que traz a alma do bebê para esse mundo, leva a alma do velho para o outro. As mulheres antigas também entendiam melhor esse conceito, porque o corpo feminino morre e renasce todo o mês, junto com a lua.
Talvez seja difícil para nossa visão cristã-ocidental entender, porque estamos acostumados a julgar a morte como algo ruim e separar a criação da destruição. De um lado o bem, a criação, representado por deus, do outro o mal, destruição, representado pelo demônio.
Desculpem o comentário gigantesco, mas tentei ajudar as pessoas a entender melhor essa deusa maravilhosa, e tantas outras mal compreendidas pelos nossos pré-conceitos.
as mitologias orientais tb nos oferecem outros olhares dessa ambiguidade. no hinduísmo, por exemplo, a deusa da destruição Kali era um avatar de Parvati, esposa de Shiva. é importante lembrar que o ciclo da vida era fundamental para algumas civilizações e, portanto, a morte era vista de outra forma.
ResponderExcluiro objetivo desse blog é afastar qualquer tipo de preconceito - PRÉ-conceito, ou seja, ideais pejorativos de acordo com as crenças alheias - de três formas:
1- apresentando uma explicação o mais neutra possível
2- mostrando semelhanças e pontos em comum entre as diversas mitologias
3- abrindo para comentários livres
assim, espero que todos curtam esse assunto como eu.