segunda-feira, 7 de março de 2016

Deuses do Egito

Deuses do Egito (Gods of Egypt, 2016) é um filme errado por inúmeras razões.

A principal delas talvez seja a polêmica gerada pela falta de atores negros no elenco de um filme que deve representar o Egito Antigo. E essa polêmica está no auge de Hollywood. Na verdade, até tem um personagem negro com certa importância (o deus Thot, de Chadwick Boseman), mas é perceptível que os papéis principais ficaram com atores brancos de pele bronzeada – e ainda tem uma cota com uma atriz vietnamita (Elodie Yung, a deusa Hator). Aconteceu algo invertido no primeiro filme do Thor... Mas eu preciso fazer um destaque importante:
Veja pinturas do Egito Antigo e você não encontrará pessoas negras! Elas eram pintadas de um alaranjado (às vezes puxando pro vermelho, às vezes para o amarelo). Quem disse que naquele tempo o Egito só tinha negros? Só por que é na África. Não. A probabilidade é que o tom de pele da época seja um marrom avermelhado, uma pele árabe bronzeada de sol. Nas pinturas egípcias, a cor negra estava associada tanto à noite e à morte, quanto à fertilidade e à regeneração, uma vez que o solo do Rio Nilo era enegrecido. A cor era usada em sobrancelhas, olhos e detalhes.
Bom... outro erro está nas atuações. Eu realmente gostaria de saber o que levou Geoffrey Rush () Gerard Butler (Set) e Nikolaj Coster-Waldau (Horus) a aceitarem os papéis principais nesse filme. Se foi dinheiro, eles devem repensar suas estratégias de carreira porque o filme custou U$140 milhões e não rendeu nem 30. Todos parecem estar em "modo automático/over" e Butler ainda tem um momento Leônidas de Esparta... Se foi para alavancar a carreira do jovem casal protagonista que nem vale citar o nome, também não deu.


Mas esse erro pode estar no próprio roteiro do filme. O irmão ciumento (Set) que toma tudo do irmão bonzinho (Osíris) e vira um ditador que quer dominar absolutamente tudo é comum e foi mal trabalhado, pois ficou raso e sem propósito, gratuito mesmo. As motivações e conexões entre os personagens também não possuem desenvolvimento ou profundidade e vão do 8 ao 80 em segundos. O amor do ladrão a la Indiana Jones e da jovem puríssima não engrena, assim como o amor entre os deuses não convence. Não que eu tenha ido ao cinema ver uma obra-prima do cinema, mas nem os efeitos especiais e os cenários exuberantes chamam atenção.


Mas vamos à mitologia em si...

Começo dizendo o seguinte: a mitologia egípcia não é de grandes sagas e histórias como as mitologias grega, escandinava, japonesa, celta... Que eu saiba, a mais importante é realmente essa relação entre Osíris, Set, Ísis e Horus. Assim que puder, pesquisarei melhor sobre isso... mas essa situação acaba por tornar todo o filme um erro. Nem mesmo a história entre esses deuses ficou boa.

As representações dos deuses egípcios realmente tinham uma versão humana e outra zoomorfizada, ou seja, com cabeça de animal, mas nada de armaduras Transformers! O fato de serem maiores do que os humanos é uma livre interpretação do "Peso da Alma", uma regra artística que coloca deuses e faraós (representantes divinos na Terra) maiores do que as pessoas comuns em pinturas. Mas sangue de ouro... isso é coisa de Percy Jackson. Já as serpentes gigantes que soltam fogo, parecem coisa de Fúria de Titãs.


Já o além-vida é realmente uma das partes mais importantes da religião/mitologia egípcia: praticamente todos os deuses possuíam alguma relação com o pós-vida. Anúbis (o deus-chacal que talvez seja a cara mais conhecida dessa mitologia) e o Salão das Duas Verdades (onde uma pena é usada como medida de peso) fazem parte da caminhada de toda alma. Porém, aquela passagem luminosa que parecia um olho e levava as almas após a pesagem não existe. O sistema é outro que planejo descrever aqui um dia.

Acho que o filme serve para mostrar que esses deuses também existem. A correlação deles está correta: Rá é o deus-sol, Horus é o céu, Hator é a deusa do amor (entre outras coisas), Thot é o deus da sabedoria, Apep (Apófis) é um grande demônio, etc etc. Confesso que não sei qual roteiro tornaria esses deuses atrativos por causa da ligação com a morte, mas merecia mais.

12 comentários:

  1. Parece que houve uma decepção generalizada não só entre os que conhecem alguma coisa sobre a mitologia egípcia, como também, entre os que simplesmente acham "cinema uma boa diversão". Diante disso vou repensar se vou assistir.

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  2. Fala Filipe... Nessa época de vacas magras e dinheiro curto, já corto esse filme da minha lista de "assistíveis"... Acho que vou me guardar para ver o World of Warcraft.

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  3. O estranho não era o fato de os atores principais não serem negros mas sim serem loiros de olhos azuis, eu estava muito esperançoso em ver um filme de mitologia egípcia pelo menos razoável mas infelizmente diretores e produtores ruins jogaram o dinheiro investido no filme diretamente no lixo.

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    1. loiros de olhos azuis tb é exagero. thot foi interpretado por um negro e hathor por uma vietnamita. geoffrey rush tb não é loiro nem tem olhos azuis... de resto, eu concordo: dinheiro jogado no lixo, pois dos 140 milhões investidos, nem 40 voltaram.

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  4. A verdade me decepciona muito! O filme é incontestavelmente ruim. O roteiro não inova em nada, está cheio de clichês, utiliza muitas soluções extremamente convenientes e é demasiado expositivo em alguns momentos. Os efeitos especiais são extremamente mal feitos, mesmo uma pessoa leiga verá que eles não são convincentes. As atuações também estão bem fracas, nem mesmo o Gerard Butler (ator do óptimo Tempestade: Planeta em Fúria) se salva. Mas, apesar disso tudo, eu não consigo dizer que não gostei do filme. É tudo tão absurdo que eu não conseguia parar de rir. E como não rir?! As cores em geral são extremamente exageradas e brilhantes, mas com destaque especial para o dourado, que compõe quase que a totalidade do cenário (inclusive o sangue dos deuses). Algumas cenas de luta combinam slowmotion e 360° em volta dos combatentes. E o diretor, Alex Proyas (Cidade Das Sombras), não teve medo de representar os elementos da mitologia egípcia de forma fantástica, ele definitivamente não se preocupa que esse universo pareça crível.

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    1. taí... talvez o filme devesse ter sido anunciado como uma comédia de ação. hihihi

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  5. Vcs reclamam de d+ pq n vam fze um filme melhor, e so mais um filme chega disso pessoal blz abraço...

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    1. não é reclamação. é a constatação de um fato. o filme é ruim e pronto. fora isso, não sei se você percebeu, mas este blog faz correlações com a mitologia e esse é outro ponto que mostra o quanto o filme é uma porcaria. e ponto final.

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    2. O Hilário que até coisas que estão na mitologia viraram mimimi, principalmente o sangue dourado, algo que até na mitologia grega existia. Icor

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    3. Esse blog não faz "mimimi", coisas da geração atual. É apenas a constatação de um fato. Mesmo que o ícor existisse na mitologia grega, não há referência de sangue dourado na mitologia egípcia. Independente disso, o filme é ruim e ponto final. Isso não é mimimi.

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  6. O filme não é ruim, da para assistir de boa, mas que sua história é completamente distorcida da mitologia egípcia é verdade.

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