Uma lenda conta que um casal de nativos pertencente a tribo Maués vivia junto por muitos anos sem ter filhos mas desejava muito ser pais. Um dia eles pediram a Tupã para dar a eles uma criança para completar aquela felicidade. Sabendo que o casal era cheio de bondade, o deus lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo e inteligente menino chamado Alupá.
A partir de seu nascimento, os Maués venciam todas as guerras, as pescas eram ótimas e a doença era rara. Eles acreditavam que o bem-estar da tribo vinha do bonito e generoso curumim e, por essa razão, ele era o mais protegido de todos.
Porém, qualidades tão boas despertaram a inveja e o ódio de Jurupari, uma entidade do mal, que tomou a forma de uma serpente e deu um bote certeiro em Alupá, quando ele colhia frutos na floresta. A tribo entrou em lamentação e desespero. Trovões ecoaram nos céus.
Pintura em seda de Laila Bastos Andrade Guimarães |
Outra lenda diz que existiam três irmãos: Okumáató, Ikuamã e Onhiamuaçabê, que era mulher solteira e cobiçada por todos os animais da floresta, causando ciúmes aos irmãos que a queriam sempre como companhia por causa dos conhecimentos que possuía sobre plantas medicinais. Certo dia, uma cobra ficou à espreita no caminho da "índia" e a tocou levemente em uma das pernas, engravidando-a. Mais tarde, nasceu um curumim bonito e forte. Na idade de entender as coisas, o curumim ouviu da mãe que, ao senti-lo no ventre, plantara para ele uma castanheira no Noçoquém (lugar sagrado onde ficavam todos os animais e plantas úteis), mas que seus irmãos tomaram o terreno e a expulsaram por causa da gravidez. O curumim, então, decidiu comer as castanhas, mas o lugar estava sob a guarda da cutia, da arara e do periquito – que avisaram aos irmãos. No dia seguinte, quando o pequeno curumim voltou, seus tios o esperavam para matá-lo. Pressentindo a morte do filho, Onhiamuçabê correu para defendê-lo, mas o curumim já havia sido decapitado. Desesperada, sobre o cadáver da criança jurou dar continuidade à sua existência. Arrancou-lhe o olho esquerdo e o plantou na terra. O fruto desse olho não prestou: era o guaraná-rana (guaraná falso). Em seguida, arrancou-lhe o olho direito e deste nasceu o verdadeiro guaraná. E como o sentisse vivo ainda, exclamou: “tu, meu filho, serás a maior força da natureza; farás o bem a todos os homens e os curarás e livrarás das doenças”.