Pintura de São Nicolau Igreja de Velikiy Novgorod (Rússia, 1924) |
Nascido na Ásia (estimativamente 250-326 d. C.), teria sido filho de nobres muito ricos que, desde criança, praticava caridade por meio de doações anônimas aos necessitados (como deixar brinquedos nas residências de famílias pobres, o que lhe deu o nome de "amigo das crianças"). Foi consagrado bispo da cidade grega de Mira (hoje Demre, na Turquia) ainda muito jovem. Continuou seu ministério religioso na Palestina e no Egito, por ter sido expulso (e depois perdoado) do Concílio de Nicéia por esbofetear Ário, que pregava que o Filho e o Espírito Santo eram criaturas, não pessoas da Trindade divina. Os documentos oficiais de Nicéia, porém, não citam o incidente nem mencionam um Nicolau entre os bispos presentes. Também teria sido o responsável pela destruição de um magnífico templo de Ártemis na cidade.
Em sua história mais conhecida no Ocidente, Nicolau ajudou as três filhas de um comerciante falido, que pretendia forçá-las à prostituição, jogando um saco de ouro que serviu ao pai de dote para casar a filha mais velha. Depois jogou outro para a segunda filha. O pai o descobriu quando jogou o terceiro e lhe pediu perdão. Em honra dessa lenda, São Nicolau foi geralmente representado na heráldica por três moedas de ouro.
Suas lendas também incluem um estranho milagre: teria ressuscitado três crianças assassinadas por um açougueiro, picadas em pedaços e jogadas num barril para serem servidas como carne salgada durante uma época de fome. Isso tudo gerou uma fama de "justiceiro" a Nicolau (seu nome viria de nikos, vitória, e laos, povo).
Cartão-postal com São Nicolau e Krampus (1901) |
A fama de Nicolau, então, tornou-se um tanto ambígua. Em alemão, nickel pode ser uma contração de Nikolaus, e significa o "capeta". O nome original do metal níquel era Kupfernickel (cobre do capeta), por ser visto como a falsificação da prata por um malicioso duende das minas. Em inglês, Nick ou Old Nick também é sinônimo de capeta.
Um de seus principais papéis é o de patrono dos marinheiros e pescadores, pois sua família possuía uma frota de pesca. Isso explica sua popularidade na Grécia, na cidade italiana de Bari (da qual é patrono e onde seus restos mortais foram levados) e até mesmo na Holanda medieval, mas não em terras distantes do mar.
Como defensor dos injustiçados e oprimidos, teria aparecido em sonho ao imperador Constantino para intervir em favor de três de seus servidores que, embora inocentes, haviam sido condenados à morte. O governante, em seguida, os teria absolvido. É principalmente por esse atributo que Nicolau é venerado na Rússia, da qual também é patrono.
Também era protetor dos estudantes. É principalmente nessa qualidade que ele é conhecido e festejado em Portugal, seguindo uma tradição medieval comum na Europa Ocidental. Suas festas, as Nicolinas, constituem-se de desfiles, danças, músicas e coletas tradicionais que se estendem de 29 de novembro a 7 de dezembro. O ponto culminante é o romântico ritual das maçãs. Rapazes disfarçados e ajudados por "escudeiros" levantam com vigor uma enorme lança enfeitada com laços previamente pedidos às garotas, que por meio de cores, símbolos e mensagens dão suas "dicas" para os rapazes. Com a ponta da lança, maçãs são oferecidas às jovens que esperam nas varandas e devolvem o gesto trocando-as por uma prenda, às vezes com significado especial. Quando acabam as maçãs, a lança é oferecida àquela que o rapaz escolher - por ter lhe dado uma fita "atraente", ou por já ser sua namorada. Caso esta não exista, a lança é oferecida à mãe.
Nicolau é festejado em 6 de dezembro, data de seu falecimento. Um fato curioso: a maioria dos santos da Antiguidade são celebrados na data de seu martírio, mas Nicolau foi um dos poucos a morrer na cama.