As mais antigas menções às lendas de
Hércules estão na
Ilíada e na
Teogonia de Hesíodo, mas são breves. De modo geral, a maioria das referências textuais antigas se perdeu, restando um resumo tardio escrito pelo Pseudo-Apolodoro no século II. Três tragédias gregas chegaram até os dias de hoje em forma de literatura: duas de Eurípedes (
Héracles e
Os heráclidas) e uma de Sófocles (
As traquinianas). Os documentos iconográficos fornecem mais informações e algumas representam, até mesmo, episódios não relatados em fontes literárias.
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Uni amamenta Hercle. Detalhe em espelho etrusco.
Volterra, séc. III a.C. |
O culto ao herói existia em quase toda a Grécia* e em diversas partes da Eurásia. No panteão etrusco,
Uni é a deusa suprema - identificada posteriormente com a grega
Hera - e mãe do herói
Hercle, possivelmente a origem de todos os mitos greco-romanos.
* Mesmo que escritores helenísticos do mito de Ícaro tenham dito que Hércules construiu um túmulo para o rapaz na ilha de Creta, o herói não era reverenciado por lá.
Antigas fontes romanas indicam que o herói grego veio substituir um antigo pastor mitológico chamado pelos povos da Itália de
Garanus (
Recaranus), que era famoso por sua força. Enquanto o mito de Hércules incorporou muito da iconografia e da própria mitologia do personagem grego (como a
morte de Caco), ele também tinha um número de características e lendas que eram marcadamente romanas. Chegou a ser considerado padroeiro das famílias por tudo que passou com as suas e diz-se que
Carmenta (
Carmentis), uma divindade romana e uma
ninfa da Arcádia, filha do rio Lado, previu o futuro glorioso do herói.
Na Gália,
Segomo ("vitorioso, único poderoso") era cultuado como um deus da guerra que, em tempos de religião gálico-romana, foi igualado a
Marte e Hércules. O líder mítico
Gálates, que constituiu parte da antiga população da Gália central, seria um heráclida.
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Detalhe numa porta de bronze,
por Lee Lawrie, 1939, EUA. |
Já os gauleses associavam
Ogmios a um Hércules mais velho (ou
Hermes). Essa divindade era descrita como um homem calvo com um arco e uma clava liderando um bando de homens aparentemente felizes ostentando correntes presas na língua e nas orelhas. Alguns estudiosos encaram isto como uma metáfora para eloquência, possivelmente relacionadas à práticas dos bardos e à capacidade de persuasão de Hércules.
Os celtas na Irlanda acreditavam que seu ancestral
Celto seria filho de Hércules. Acreditavam em
Ogma, o campeão dos
Tuatha de Dannan, que usava sua maça para defender o povo e teria inventado a linguagem rúnica dos druidas, o
ogham.
O historiador romano Tácito registra uma afinidade especial dos povos germânicos por Hércules associado a
Thunaraz. Ele afirma que existia a memória do herói em celebrações antes de combates com cânticos que acendiam os ânimos. Maças de ouro com inscrições “ao deus Hércules” espalharam-se no período romano. Essas maças foram comparadas à clava de
Donar e ao martelo de
Thor como amuletos.
A lenda de Hércules também avançou pela Ásia. Megástenes, um enviado grego à Índia, comparou a saga do herói aos feitos descritos no
Mahabarata.
Cites, personagem mitológico ancestral dos persas, seria um heráclida. Estudiosos das primeiras civilizações associam o herói mesopotâmico
Gilgamesh e a divindade fenícia
Melqart ao herói grego.