Afternoon of a Faun
Apollon Musagetes
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Por ser talvez o heroi da mitologia clássica mais conhecido universalmente, Hércules é um dos que teve mais sorte entre os artistas desde a Antiguidade. Seus trabalhos, assim como outras lendas ligadas ao herói, são figurados já desde o começo do séc. VII a.C., quando surge na cerâmica grega a técnica da decoração em negro. As divindades e os herois eram representados em figuras negras e contornos entalhados contra o fundo alaranjado da argila, em composições inspiradas em obras pictóricas (madeira e afrescos) que se perderam, mas cuja existência é atestada por fontes literárias. Entre os muitos exemplos, destacam-se uma ânfora ática do século VI a.C. com a Disputa pela Corça da Cerineia entre Héracles, Apolo e Ártemis, sob o olhar de Atena (Museu do Vaticano) e duas ânforas do início do século V a.C. (Museu do Louvre) que mostram Hércules golpeando a Hidra de Lerna com um machado e Hércules luta contra as aves estinfálidas. Nestes dois exemplos, são bem visíveis os atributos tradicionais do heroi: a pele do Leão da Nemeia e a clava. Às vezes, o semideus também é representado com uma espada (presente de Hermes) ou com arco e flechas (dados por Apolo).
Outros herois e deuses da mitologia clássica reapareceram na arte durante o século XV, no Renascimento italiano. Já então visto como encarnação do bem que triunfa sobre o mal, segundo a interpretação neoplatônica da lenda, Hércules se torna mais uma vez um assunto popular, destinado a perdurar. O escultor e pintor Antonio del Pollaiolo foi um dos primeiros a utilizar temas exclusivamente mitológicos. Por volta de 1460 pintou, a pedido de Lourenço o Magnífico, três grandes telas sobre os trabalhos de Hércules, que infelizmente se perderam. Duas madeirinhas de Pollaiolo com Hércules e a Hidra e Hércules e Anteu (Galleria degli Uffizi) são consideradas evocações dessas obras. Nelas, já não vemos o linearismo* e a bicromia das representações dos vasos antigos, mas uma restituição clássica da anatomia unida às poderosas figuras masculinas da estatuária antiga, que estava sendo redescoberta no decorrer do século XV pelos artistas humanistas. As cenas são impregnadas de energia, graças as nervosas linhas de contorno que compõe a figura de Hércules e as dos seus adversários. Em Hércules e a Hidra, a pele de leão se infla com o enérgico salto do heroi para a frente e a ponta do manto descreve uma curva, assim como os longos pescoços da Hidra e sua cauda que se enrola a uma perna de Hércules. Além disso, as cenas não se recortam mais sobre o fundo monocromático, abstrato, mas sobre um paisagem a perder de vista, conquista da pintura flamenga e dos estudos sobre a perspectiva.* Linearismo se baseia na consistência mais expressiva e física da linha de cor e do chiaoscuro para uma definição mais clara e limpa da forma às custas da sensação de profundidade. Essa tendência artística se desenvolveu por volta do século XV e teve em Botticelli um de seus expoentes.O mesmo Pollaiolo representa Hércules e Anteu num pequeno bronze de c. 1475. Vicenzo de Rossi, escultor florentino do século XVI, dá sua versão do tema num grupo escultórico que hoje se encontra no Palazzo Vecchio, em Florença; em 1599, Giambologna realiza o grupo marmóreo com Hércules e o centauro Nesso. Alguns anos mais tarde, Rubens pinta Héracles estrangulando o leão da Nemeia (várias versões) e Héracles no jardim das Hespérides (Galleria Sabauda, Turim); o pintor espanhol Francisco de Zurbarán fornece suas versões para os trabalhos de Hércules em telas (veja aqui sua tela de Hércules e Cérbero).