domingo, 14 de fevereiro de 2010

Assisti Percy Jackson

Então, fui ver Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Pra início de conversa, valeu a iniciativa de trazer a mitologia de volta a mídia. Me parece que houve um grande esforço em manter tudo o mais próximo do que é conhecido dentro da mitologia. É um bom filme de ação/humor/adolescente, com bons efeitos e trilha sonora bem pop.

Mas agora vamos aos comentários direcionados... cheios de spoilers! Portanto, se você não viu ainda, leia essa parte depois:

TUDO CERTO...
  • Realmente os deuses viviam às turras. Qualquer coisinha, já era briga e sobrava pra humanidade.
  • Brandon T. Jackson, o sátiro Grover Underwood, está muito bem. Seus trejeitos e tiradas de humor estavam no tom perfeito do filme.
  • Os detalhes dos relacionamentos de Medusa com Atena e Poseidon foram curtos, porém corretos. Aliás, tudo relacionado a Medusa estava ótimo... até quando Uma Thurman era só uma cabeça!
  • O problema entre Poseidon e Atena também passou rapidinho, mas estava correto.
  • Um Parthenon em Nashville! Por que eu não sabia disso?
  • Excelente Hidra! Desde o "jogral" até a criatura!
  • Eu não entendi, o Cassino Lótus e tudo relacionado a ele no filme com relação à mitologia. Mas uma rápida pesquisa me informou sobre os lotófagos da Odisséia de Ulisses. Falarei sobre eles. Mais um aprendizado!
  • Para quem conhece mitologia, o verdadeiro ladrão de raios faz o maior sentido, afinal, Hermes também é o protetor dos ladrões. Tal pai... tal filho!
  • Numa sociedade de hoje com inúmeros pais separados e filhos que desconhecem um dos genitores, o filme parece vir na corrente certa. Afinal, todos os semideuses teriam sido abandonados por um deles.

TUDO ESTRANHO...
  • Que lei de Zeus é essa de que deuses não podem entrar em contato com seus filhos semideuses? Isso já deve ter sido parte da ficção.
  • Olha... a linhagem semidivina é grande porque os deuses adoravam passear pelos mortais... mas aquele acampamento só prova que os deuses eram ninfomaníacos super férteis! A quantidade de semideuses é absurda! E por que só Percy manifesta algum tipo de poder?
  • E deuses não conseguem encontrar semideuses por causa do CHEIRO de outras pessoas mortais? Hã?
  • E se são tão onipotentes, não conseguem encontrar um raio? Hã?
  • Morte rápida do Minotauro, não?
  • Pierce Brosnan estava bem nos efeitos especiais do centauro Quíron, mas parecia não saber o que fazer com o cajado... atuação mediana... e ainda ficou com cara de Dumbledore ao chamar Percy de "aluno preferido". Se lembrarmos que o acampamento se chamava Half-Blood, temos todos os links para compararmos a Harry Potter.
  • Nunca ouvi falar das pérolas de Perséfone...
  • Do sangue que sai do corpo da Medusa, nasce Pégaso... acredito que veremos isso no filme Fúria de Titãs, mas aqui nem se falou nada.
  • Tenho certeza que Percy largou o escudo quando lutava contra a Hidra. Alguém se lembra dele ter pegado de volta? Eu não...
  • Percy não sabe nada sobre a Hidra mas sabe tudo sobre a Medusa... parece que a dislexia dele é forte!
  • Hades foi "jogado" para o mundo inferior? Não me lembro bem disso... que eu saiba foi um acordo entre irmãos. Vou investigar.
  • Vou investigar também o inferno grego. Que eu saiba, a concepção de inferno flamejante é de outras religiões. E o Rio Estige? Cadê? Gente... cadê o Cérbero? Que oportunidade perdida!
  • Poxa... Perséfone sempre foi uma deusa sofrida e não uma louca ninfomaníaca e traidora. Rosario Dawson é ótima atriz, mas acabaram com a deusa.
  • Porque todos os deuses resolveram migrar para os Estados Unidos da América? Até a entrada do Hades está lá!
  • É tão fácil assim segurar o raio mestre de Zeus?
  • Pra onde foi toda a água que Percy usou contra Luke? Caiu em cima das pobres pessoas que passavam?
  • Parece que a adaptação ao cinema, tirou um pouco da fidelidade do livro. Percy Jackson tem 12 anos no primeiro livro, mas parece ter uns 16 na telona. E sumiram com Cronos, Ares e por aí vai... Planejo lê-lo para poder falar mais sobre isso.
Do jeito que escrevi parece que tem mais contras do que prós. Mas talvez seja porque gosto demais do assunto. Por isso repito aqui: vale a iniciativa e o programa! É um bom começo para as pessoas gostarem do assunto e resolverem se aprofundar. Ah... e cinema é sempre a maior diversão!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tiamat

Tiamat vs. Marduk

Inicialmente, quando o mundo cultuava a Grande Deusa, Tiamat era a mãe dos elementos, responsável por tudo que existe, o caos primitivo da mitologia babilônica e sumérica.

Seu marido Apsu era o deus do abismo das águas doces e ela era a deusa dos oceanos. Do encontro da água doce e da água salgada, nasceram os primeiros deuses: Lachmu e Lachamu. No Enuma Elish - poema épico da criação patriarcal babilônica, escrito em sete tábuas de argila (2000 a.C) -, ficamos sabendo que a primeira prole de deuses gerou novas divindades, que irritavam tanto Apsu quanto Tiamat, mas a deusa os perdoava por serem seus familiares. Mas Apsu queria matá-los para que a tranquilidade reinasse novamente. Com medo de Apsu, os deuses pediram que o deus Ea o mattase antes. E ele assim o fez.

Enfurecida, Tiamat se casou com seu filho Kingu e deu à luz uma grande lista de seres, como dragões, sereias, escorpiões e serpentes aquáticas. Com Kingu no comando, o exército de Tiamat atacou os deuses, que deseperados pediram ajuda ao poderoso Marduk, filho de Ea. Marduk disse que, se vencesse a batalha, queria ser coroado rei dos deuses (princípio monoteísta). Ele, então, teceu uma rede e apanhou Kingu e todos os monstros, acorrentou-os e os atirou no Submundo. Partiu, então, para matar Tiamat transformada em dragão. Primeiro, cegou-a o dragão com seu disco mágico (possivelmente representado pelo próprio sol). Depois feriu-a mortalmente com sua lança invencível, símbolo da vontade criativa e procriação. O herói teve ainda o auxílio dos sete ventos para destruir a deusa-dragão. Com metade do corpo dela, fez o céu, e com a outra metade, a terra. De sua saliva formou as nuvens e de seus olhos fez fluir os rios Tigre e Eufrates. Finalmente de seus seios criou grandes montanhas.

Essa batalha entre Tiamat e Marduk é o épico Bem vs. Mal, Ordem vs. Caos, a superiorização de um deus sobre os outros, o patriarcalismo supremo. Era anualmente comemorada nos festivais de fim de ano.

Outros mitos, descrevem o processo de criação como um fluxo contínuo de energias originadas do sangue menstrual de Tiamat, armazenado no Mar Vermelho (Tiamat, em árabe). Foi essa a razão pela qual, mesmo após a interpretação patriarcal do mito, na qual foi acrescentada a figura de Marduk, foi mantido na Babilônia durante muito tempo o calendário menstrual, nomeando os meses do ano de acordo com as fases da Lua.

Mesmo sem muitas referências que comprovem sua descrição física, era na maioria das vezes representada como um dragão fêmea ou uma serpente do mar, por causa dessa batalha épica. Ela pode ser a origem do monstro Leviatã do Antigo Testamento. E é possível que tenha sido referência para o poderoso dragão da série animada Caverna do Dragão.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Inari

Inari (em sua forma feminina) aparece para um
guerreiro com o espírito de uma kitsune
Inari (ou Oinari) é o kami* japonês do alimento, importante no xintoísmo. Pesquisadores acreditam que seu nome derive de ine-nari, traduzido em algo próximo a "arroz em crescimento", apesar de não aparecer nos textos clássicos da mitologia japonesa. Acredita-se que sua adoração começou entre os séculos 8 e 9 d.C.

Depois que Tsuki-Yomi (deus da lua) matou sua esposa Ukemochi (deusa do arroz), Inari assumiu suas funções e tornou-se também responsável pelas safras de arroz. Todo ano ele/ela desce de uma montanha nos primeiros dias da primavera para fertilizar os campos de arroz, às vezes, na forma de uma raposa branca (kitsune). Assim, tornou-se um importante deus da fertilidade e do sucesso na cultura japonesa. É retratado como um senhor de barbas, carregando sacos de arros, mas, por ter assumido as funções de sua esposa, é muitas vezes retratado como um deus andrógino.

Foi adorado como fabricante de espadas e, portanto, protetor deste ofício, dos ferreiros e dos guerreiros. Às vezes era descrito com uma espada, uma foice ou um chicote (que servia para queimar plantações, mas era raramente utilizado). Podia se transformar numa aranha monstruosa quando desejava ensinar lições aos homens. Existem mitos sobre sua transformação em dragão e serpente. As crenças xintoístas e budistas atuais preferem retirar esse lado antropomórfico de Inari, fazendo com que a raposa branca seja sua mensageira. Sua importância fez com que ele fosse associado a uma série de outros deuses, sendo chamado de trindade (Inari sanza) ou coletivo (Inari goza).

Existem muitos templos dedicados a Inari no Japão (aproximadamente 1/3 dos templos), com seus inúmeros toriis (aqueles famosos portais vermelhos) e sempre protegidos pela estátua de uma raposa. O principal é o Fushimi-Inara, em Quioto. Seu festival é na primavera, durante o cultivo do arroz, quando é servido aburage (um tipo de tofu frito), coalhada e feijão frito.

Toriis sequenciados do templo de Fushimi-Inara

* Simplificando, kami é a palavra japonesa para deidade, espíritos, forças naturais. É a essência da fé xintoísta. Farei um post sobre isso.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Mito e sonho

Os mitos não possuem autor; pertencem a sabedoria comum da humanidade, conservada pelo inconsciente coletivo sob a forma de símbolos e arquétipos. Pode equivaler a uma ideologia, a crenças coletivas ou a acontecimentos fictícios que evocam sentimentos profundos e expressa o que dá sentido aos valores humanos. Então, corroboremos com Campbell ao dizer que:

Os sonhos são mitos privados. Os mitos são sonhos partilhados.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Hoje é Dia de Iemanjá!

Hoje, dia 2 de fevereiro, é Dia de Iemanjá, a Rainha do Mar.

Segundo o historiador Manuel Passos, no início do século XX, um grupo de cerca de 25 pescadores resolveu fazer oferendas para a Iemanjá, pedindo em troca, fartura de peixes e tranqüilidade nas águas. Há mais de 80 anos, católicos, adeptos do candomblé e turistas participam de ritual semelhante, jogando no mar sabonetes, perfumes, flores, espelhos e bonecas.

Uma lenda conta que Iemanjá, filha de Olokun, casou-se com Olofin-Odudua em Ifé, na Nigéria, e teve dez filhos, todos orixás. Depois de amamentá-los, teria ficado com seios enormes. Cansada de viver em Ifé, Iemanjá fugiu para Abeokutá e se casou novamente, com Okerê. Mas Iemanjá impôs uma condição para o casamento: que o marido jamais a ridicularizasse por conta dos seios. Mas uma ofensa de Okerê causou fúria a Iemanjá, e ela fugiu novamente, encontrando num presente do pai o caminho para as águas. Nunca mais voltou para a terra e tornou-se a Rainha do Mar. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.

Ainda falarei bem mais sobre ela por aqui.