domingo, 21 de fevereiro de 2010

Lox

O ardiloso Lox, segundo o povo Passamaquoddy, é temido tanto pela sua força quanto pela sua esperteza. Segue os caçadores, invade acampamentos e destrói tudo o que pode; o que não consegue quebrar, leva embora e esconde. Aliás, ser glutão, rude e mal-educado são características desse espírito animal.

Normalmente, Lox toma a forma de um texugo, mas aparece também como um guaxinim ou, quando violento, um carcaju (wolverine). É também chamado de Loks ou Luks.

Ele pode ser o princípio de todo o mal e, na verdade, um gigante de nascimento, conforme conhecemos suas histórias.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Vertumno

Estátua em chumbo de Vertumno e Pomona no Hyde Park Corner, em Londres

Inicialmente uma divindade etrusca, o culto a Vertumno chegou a Roma por volta de 300 a.C., tendo um templo construído no Monte Aventino. Dia 13 de agosto acontecia seu festival, as Vertumnalias. Era patrono dos jardins e das árvores frutíferas.

Como deus da mudança das estações e do amadurecimento da vida vegetal, Vertumno transformava as cores das folhas a cada outono. Amava a ninfa Pomona, visitando-a sob diversas formas na tentativa de seduzi-la. Pomona sempre rejeitava suas formas, até que Vertumno apareceu em sua forma real e ela se apaixonou na hora. É também chamado de Vertumnus.

É um mito interessante sobre como às vezes tentamos ser pessoas diferentes para conquistar pessoas e espaços, quando de repente o mais importante é ser nós mesmos.

Vertumno, de Giuseppe Arcimboldo (também considerado o retrato de Rodolfo II da Hungria)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Brasil de todos os deuses e todos os sambas!

É carnaval no Brasil e a Sapucaí sempre traz elementos lendários para a Avenida do Samba. Agora imaginem quando um enredo de uma das escolas de samba é todo sobre religiões? Foi isso que a Imperatriz Leopoldinense trouxe: a fé de um Brasil de todos os deuses! E devemos considerar que é um tema delicado em um mundo de fundamentalismos. Talvez o Brasil tenha uma lição para dar. O carnavalesco Max Lopes disse:
Minha maior preocupação é passar uma mensagem proveitosa para o público. Não é falar somente da religião pela religião, mas antes de tudo louvar a fé do brasileiro de diferentes formas. É um enredo com início, meio e fim.
Até a Madonna e o Jesus ficaram boquiabertos com o samba gostoso e a paradinha de "um minuto de sliêncio" para os atabaques chamarem os orixás! Pena que no vídeo não tem a a paradinha...

Terra abençoada! / Morada divinal / Brilha a coroa sagrada / Reina Tupã, no carnaval... / Viu nascer a devoção em cada amanhecer / Viu brilhar a imensidão de cada olhar / Num país da cor da miscigenação / De tanto Deus, tanta religião / Pro povo, feliz, cultuar
O índio dançou, em adoração / O branco rezou na cruz do cristão / O negro louvou os seus orixás / A luz de Deus é a chama da paz

E sob as bênçãos do céu / E o véu do luar / Navegaram imigrantes / De tão distante, pra semear / Traços de tradições, laços das religiões / Oh, Deus pai! Iluminai o novo dia / Guiai ao divino destino / Seus peregrinos em harmonia / A fé enche a vida de esperança / Na infinita aliança / Traz confiança ao caminhar / E a gente romeira, valente e festeira / Segue a acreditar...

A Imperatriz é um mar de fiéis / No altar do samba, e
m oração / É o Brasil de todos os deuses! / De paz, amor e união...

O carro abre-alas era a Coroa das Divindades, símbolo da escola em meio a cavalos alados e ninfas, que representavam a Festa do Divino. Vinha precedido de uma Comissão de Frente capitaneada por "Deus". Em seguida, cada carro abria uma religião: teve índios, africanos, hindus, japoneses, judeus e muçulmanos.

O Tupã indígena
Os jesuítas conquistadores
Os deuses da cultura africana
As religiões orientais
O bezerro de ouro e as menorahs
A mesquita muçulmana e os fiéis que se ajoelhavam e rezavam
O carro da Índia com a Trindade Védica

No fim, a paz no futuro para todas as religiões, com um mapa mundi na forma de uma pirâmide esotérica

A Unidos da Tijuca também trouxe alguns elementos conhecidos, como a Biblioteca de Alexandria (e seu incêndio ilusório), a Arca da Aliança (com a referência visual do filme do Indiana Jones), o Cavalo de Tróia e os incríveis Jardins Suspensos da Babilônia.



Outras escolas também trouxeram Ganeshas, dragões, unicórnios, sátiros, centauros e outros seres mitológicos. Ou seja, pra quem gosta do assunto, os desfiles são um prato cheio!

Mais sobre o carnaval no meu blog, Philos+Hippos.

PS.: Os vídeos do desfile e a foto da comissão de frente são da Globo.com.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Assisti Percy Jackson

Então, fui ver Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Pra início de conversa, valeu a iniciativa de trazer a mitologia de volta a mídia. Me parece que houve um grande esforço em manter tudo o mais próximo do que é conhecido dentro da mitologia. É um bom filme de ação/humor/adolescente, com bons efeitos e trilha sonora bem pop.

Mas agora vamos aos comentários direcionados... cheios de spoilers! Portanto, se você não viu ainda, leia essa parte depois:

TUDO CERTO...
  • Realmente os deuses viviam às turras. Qualquer coisinha, já era briga e sobrava pra humanidade.
  • Brandon T. Jackson, o sátiro Grover Underwood, está muito bem. Seus trejeitos e tiradas de humor estavam no tom perfeito do filme.
  • Os detalhes dos relacionamentos de Medusa com Atena e Poseidon foram curtos, porém corretos. Aliás, tudo relacionado a Medusa estava ótimo... até quando Uma Thurman era só uma cabeça!
  • O problema entre Poseidon e Atena também passou rapidinho, mas estava correto.
  • Um Parthenon em Nashville! Por que eu não sabia disso?
  • Excelente Hidra! Desde o "jogral" até a criatura!
  • Eu não entendi, o Cassino Lótus e tudo relacionado a ele no filme com relação à mitologia. Mas uma rápida pesquisa me informou sobre os lotófagos da Odisséia de Ulisses. Falarei sobre eles. Mais um aprendizado!
  • Para quem conhece mitologia, o verdadeiro ladrão de raios faz o maior sentido, afinal, Hermes também é o protetor dos ladrões. Tal pai... tal filho!
  • Numa sociedade de hoje com inúmeros pais separados e filhos que desconhecem um dos genitores, o filme parece vir na corrente certa. Afinal, todos os semideuses teriam sido abandonados por um deles.

TUDO ESTRANHO...
  • Que lei de Zeus é essa de que deuses não podem entrar em contato com seus filhos semideuses? Isso já deve ter sido parte da ficção.
  • Olha... a linhagem semidivina é grande porque os deuses adoravam passear pelos mortais... mas aquele acampamento só prova que os deuses eram ninfomaníacos super férteis! A quantidade de semideuses é absurda! E por que só Percy manifesta algum tipo de poder?
  • E deuses não conseguem encontrar semideuses por causa do CHEIRO de outras pessoas mortais? Hã?
  • E se são tão onipotentes, não conseguem encontrar um raio? Hã?
  • Morte rápida do Minotauro, não?
  • Pierce Brosnan estava bem nos efeitos especiais do centauro Quíron, mas parecia não saber o que fazer com o cajado... atuação mediana... e ainda ficou com cara de Dumbledore ao chamar Percy de "aluno preferido". Se lembrarmos que o acampamento se chamava Half-Blood, temos todos os links para compararmos a Harry Potter.
  • Nunca ouvi falar das pérolas de Perséfone...
  • Do sangue que sai do corpo da Medusa, nasce Pégaso... acredito que veremos isso no filme Fúria de Titãs, mas aqui nem se falou nada.
  • Tenho certeza que Percy largou o escudo quando lutava contra a Hidra. Alguém se lembra dele ter pegado de volta? Eu não...
  • Percy não sabe nada sobre a Hidra mas sabe tudo sobre a Medusa... parece que a dislexia dele é forte!
  • Hades foi "jogado" para o mundo inferior? Não me lembro bem disso... que eu saiba foi um acordo entre irmãos. Vou investigar.
  • Vou investigar também o inferno grego. Que eu saiba, a concepção de inferno flamejante é de outras religiões. E o Rio Estige? Cadê? Gente... cadê o Cérbero? Que oportunidade perdida!
  • Poxa... Perséfone sempre foi uma deusa sofrida e não uma louca ninfomaníaca e traidora. Rosario Dawson é ótima atriz, mas acabaram com a deusa.
  • Porque todos os deuses resolveram migrar para os Estados Unidos da América? Até a entrada do Hades está lá!
  • É tão fácil assim segurar o raio mestre de Zeus?
  • Pra onde foi toda a água que Percy usou contra Luke? Caiu em cima das pobres pessoas que passavam?
  • Parece que a adaptação ao cinema, tirou um pouco da fidelidade do livro. Percy Jackson tem 12 anos no primeiro livro, mas parece ter uns 16 na telona. E sumiram com Cronos, Ares e por aí vai... Planejo lê-lo para poder falar mais sobre isso.
Do jeito que escrevi parece que tem mais contras do que prós. Mas talvez seja porque gosto demais do assunto. Por isso repito aqui: vale a iniciativa e o programa! É um bom começo para as pessoas gostarem do assunto e resolverem se aprofundar. Ah... e cinema é sempre a maior diversão!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tiamat

Tiamat vs. Marduk

Inicialmente, quando o mundo cultuava a Grande Deusa, Tiamat era a mãe dos elementos, responsável por tudo que existe, o caos primitivo da mitologia babilônica e sumérica.

Seu marido Apsu era o deus do abismo das águas doces e ela era a deusa dos oceanos. Do encontro da água doce e da água salgada, nasceram os primeiros deuses: Lachmu e Lachamu. No Enuma Elish - poema épico da criação patriarcal babilônica, escrito em sete tábuas de argila (2000 a.C) -, ficamos sabendo que a primeira prole de deuses gerou novas divindades, que irritavam tanto Apsu quanto Tiamat, mas a deusa os perdoava por serem seus familiares. Mas Apsu queria matá-los para que a tranquilidade reinasse novamente. Com medo de Apsu, os deuses pediram que o deus Ea o mattase antes. E ele assim o fez.

Enfurecida, Tiamat se casou com seu filho Kingu e deu à luz uma grande lista de seres, como dragões, sereias, escorpiões e serpentes aquáticas. Com Kingu no comando, o exército de Tiamat atacou os deuses, que deseperados pediram ajuda ao poderoso Marduk, filho de Ea. Marduk disse que, se vencesse a batalha, queria ser coroado rei dos deuses (princípio monoteísta). Ele, então, teceu uma rede e apanhou Kingu e todos os monstros, acorrentou-os e os atirou no Submundo. Partiu, então, para matar Tiamat transformada em dragão. Primeiro, cegou-a o dragão com seu disco mágico (possivelmente representado pelo próprio sol). Depois feriu-a mortalmente com sua lança invencível, símbolo da vontade criativa e procriação. O herói teve ainda o auxílio dos sete ventos para destruir a deusa-dragão. Com metade do corpo dela, fez o céu, e com a outra metade, a terra. De sua saliva formou as nuvens e de seus olhos fez fluir os rios Tigre e Eufrates. Finalmente de seus seios criou grandes montanhas.

Essa batalha entre Tiamat e Marduk é o épico Bem vs. Mal, Ordem vs. Caos, a superiorização de um deus sobre os outros, o patriarcalismo supremo. Era anualmente comemorada nos festivais de fim de ano.

Outros mitos, descrevem o processo de criação como um fluxo contínuo de energias originadas do sangue menstrual de Tiamat, armazenado no Mar Vermelho (Tiamat, em árabe). Foi essa a razão pela qual, mesmo após a interpretação patriarcal do mito, na qual foi acrescentada a figura de Marduk, foi mantido na Babilônia durante muito tempo o calendário menstrual, nomeando os meses do ano de acordo com as fases da Lua.

Mesmo sem muitas referências que comprovem sua descrição física, era na maioria das vezes representada como um dragão fêmea ou uma serpente do mar, por causa dessa batalha épica. Ela pode ser a origem do monstro Leviatã do Antigo Testamento. E é possível que tenha sido referência para o poderoso dragão da série animada Caverna do Dragão.