quarta-feira, 7 de abril de 2010

Kuan Yin

Kuan Yin (Kwan Yin, Guan Yin ou Guanyin) é uma divindade chinesa vinda da Índia que representa a misericórdia e a compaixão, que se reflete em todos os Budas.

Pela lenda do século XII, do santo budista Miao Shan, acredita-se que ela era filha de um rei por volta de 700 a.C. e foi obrigada a se casar com um príncipe por poder. Mas Kuan Yin decidiu ir para um convento, onde aperfeiçoaria as práticas espirituais. Inconformado com a decisão da filha, o rei pediu às monjas que fossem duras com ela para ver se Kuan Yin desistiria do intento. A jovem percorreu o mundo e viu muita dor, mas manteve suas convicções. E o rei jamais a perdoou. Já velho e doente, mandou chamá-la. Generosa, curou-o com um toque de mão. Além disso, Kuan Yin fez o voto de não ingressar no Nirvana ("paraíso") enquanto um só ser do universo precisasse de sua ajuda (Kwan Shih Yin, "aquela que ouve as lamentações do mundo"). Ela vive, então, na ilha P'u T'o Shan, onde ouve todas as preces. Todos sabem o quanto ela é doce, sutil e poderosa. Somente a menção de seu nome alivia o sofrimento e as dificuldades e, por isso, é adorada em centros de cura (algumas imagens da deusa possuem a mão removível para que esta seja colocada sobre os enfermos).

Conta-se que a jovem segunda esposa de um comerciante chinês maltratou e humilhou a primeira mulher de seu marido, uma devota de Kuan Yin. O desgaste foi tanto que a esposa morreu. Revoltado, seu filho jurou vingança e, anos mais tarde, viu-se diante da situação ideal para matar sua madrasta. Quando se lançou sobre a mulher, esta murmurou o mantra de Kuan Yin, que tantas vezes escutou a primeira esposa proferir. Imediatamente, o filho foi imobilizado por uma força invisível. Sob o impacto do poder da deusa, o jovem saiu correndo e desistiu para sempre da ideia. E a madrasta, consciente de que não merecia ajuda, teve uma mudança radical de atitude, procurando reparar antigos erros e reconhecendo a grande generosidade da deidade.

DEVOÇÃO
Existe ainda muito debate acadêmico relativo à origem da devoção à Kwan Yin. Ela é considerada a forma feminina de Avalokitesvara, bodhisattva da misericórdia do Budismo indiano, cuja adoração foi introduzida na China no terceiro século. Estudiosos acreditam que o monge budista e tradutor Kumarajiva foi o primeiro a se referir à forma feminina de Kwan Yin, em sua tradução chinesa do Sutra do Lótus, em 406 a.C, onde "pelo recurso de uma variedade de formas, viaja pelo mundo, conclamando os seres à salvação". Dos trinta e três aparecimentos do bodhisattva mencionados em sua tradução, sete são femininos. Devotos chineses e budistas japoneses, desde então, associaram o número trinta e três a deusa.

Embora Kwan Yin tenha sido retratada como um homem até o século X, com a introdução do Budismo Tântrico na China no século VIII, durante a dinastia T'ang, a imagem da celestial bodhisattva como uma bela deusa vestida de branco era predominante e o culto devocional a ela tornou-se popular. No século IX havia uma estátua de Kwan Yin em cada monastério budista da China, associada às características femininas de maternidade e proteção, também adorada por casais sem filhos que desejam conceber. Protege mulheres e crianças, e sua simplicidade gera clemência e fraternidade universal aos seus devotos e ao seu redor.

Apesar dessa controvérsia de gênero, a representação de um bodhisattva, ora como deus, ora como deusa, não é inconsistente com a doutrina budista. As escrituras explicam que um bodhisattva tem o poder de encarnar em qualquer forma – macho, fêmea, criança e até animal – dependendo da espécie de ser que ele procura salvar.

A lenda da ilha sagrada de P'u T'o Shan (no arquipélago de Chusan, ao largo da costa de Chekiang) surgiu no século XII por monges budistas, que souberam que Miao Shan viveu na ilha por nove anos, curando e salvando marinheiros de naufrágios. Sua devoção a Kwan Yin espalhou-se ao longo do norte da China e a pitoresca ilha tornou-se o centro principal de adoração à deusa. Multidões de peregrinos viajavam dos mais remotos cantos da China e até mesmo da Manchúria, Mongólia e Tibet para assistir às cerimônias religiosas: houve época em que havia mais de cem templos na ilha e mais de mil monges. As tradições narram inúmeras aparições e milagres de Kwan Yin na ilha, sendo relatado que ela aparecia aos fiéis em uma certa gruta local.


Na seita "Terra Pura" do Budismo, Kwan Yin faz parte de uma tríade governante que é representada freqüentemente em templos e é um tema popular na arte budista: o Buda da Luz Ilimitada (Amitabha) está no centro; à sua direita está Mahasthamaprapta, o bodhisattva da força ou poder; e à sua esquerda está Kwan Yin, personificando a misericórdia infinita. Algumas vezes é chamada de "Capitã do Barco da Salvação", guiando as almas ao Paraíso Oeste de Amitabha, a tal "Terra Pura", terra das bençãos, onde as almas podem renascer para continuar recebendo instruções até alcançar a iluminação e a perfeição. Por essa razão, também é a padroeira dos viajantes.

REPRESENTAÇÕES
A iconografia de Kwan Yin a descreve de muitas formas, cada uma revelando um aspecto único de sua misericordiosa presença. Como a sublime Deusa da Misericórdia, cuja beleza, graça e compaixão vieram a representar o ideal de feminilidade do Oriente, ela é retratada freqüentemente como uma mulher esbelta em um esvoaçante manto branco, carregando em sua mão esquerda um lótus branco, símbolo de pureza. Está enfeitada com ornamentos simbolizando suas realizações como bodhisattva, ou é mostrada sem ornamentos, como um sinal de sua grande virtude. A figura de Kwan Yin é retratada freqüentemente como "doadora de crianças" que são encontradas em casas e templos. Um grande véu branco cobre sua forma inteira e ela pode estar sentada em um lótus. Freqüentemente ela é representada com uma criança em seus braços, próxima a seus pés, ou sobre seus joelhos, ou, ainda, com várias crianças ao seu redor. Neste papel, a ela se referem como "a honrada de branco vestida". Às vezes estão à sua direita e à sua esquerda dois auxiliares, Shan-ts'ai Tung-tsi, o "homem jovem de capacidades excelentes", e Lung-wang Nu, a "filha do Dragão-rei".

Algumas vezes, é representada como uma figura muito armada, tendo em cada mão um símbolo cósmico diferente ou expressando uma posição ritual específica (mudras). Frequentemente, suas mãos formam o Yoni Mudra, que simboliza o útero (princípio feminino universal) como a porta de entrada para este mundo. Carregaria um livro ou um pergaminho de orações, simbolizando o dharma (ensinamentos) do Buda ou o sutra (texto budista) o qual Miao Shan, dizia-se, recitava constantemente.

Como Avalokitesvara, ela também é descrita com mil braços e números variados de olhos, mãos e cabeças, às vezes com um olho na palma de cada mão, e é chamada "bodhisattva de mil braços, de mil olhos". Nessa forma ela representa a mãe onipresente, olhando simultaneamente em todas as direções, sentindo as aflições da humanidade e estendendo seus muitos braços para as aliviar com expressões infinitas de sua misericórdia.

Muitas figuras de Kwan Yin podem ser identificadas pela presença de uma pequena imagem de Amitabha em sua coroa. Acredita-se que a misericordiosa redentora Kwan Yin expressa a compaixão do Buda da Luz Ilimitada de uma forma mais direta e pessoal, e que as preces a ela dirigidas são atendidas mais rapidamente. Um rosário adornando seu pescoço, através do qual ela clamava aos Budas por socorro, tornou-se amuleto entre seus seguidores. Descrições de seu nascimento afirmam ter ela nascido com um rosário cristalino branco em sua mão direita e uma flor branca de lótus na esquerda. É ensinado que as contas do rosário representam todos os seres vivos e o manuseio delas simboliza que os está conduzindo para fora de seu estado de miséria e da roda de repetidos renascimentos para o nirvana.

Como a bodhisattva protetora de P'u-t'o Shan, é a Senhora do Mar do Sul e protetora dos pescadores. Como tal, é mostrada cruzando o mar sentada ou em pé sobre um lótus ou com seus pés na cabeça de um dragão.

Os símbolos mais associados a deusa são, portanto, o lótus branco, o vaso de néctar da longa vida e da felicidade (ou orvalho doce), o galho de salgueiro (com o qual esparge o néctar), a pedra (ou pérola) que realiza todos os desejos, um pássaro branco (fecundidade), o mar e os peixes.

O coreógrafo chinês Zhang Jigang criou uma apresentação de dança para permitir ao público contemplar a "Kuan Yin de Mil Braços" em comemoração ao Ano Novo Chinês. A dança foi apresentada por 21 dançarinas surdas integrantes da "Companhia de Arte Performática Chinesa de Deficientes Físicos." Posicionadas numa longa fila, as bailarinas conseguem dar aos espectadores a ilusão de que os movimentos de seus múltiplos braços e pernas pertencem à figura de uma única deusa. Vejam AQUI.

No Vietnã, é conhecida como Quan'Am; no Japão, é Kannon; no Tibete, Tara; e em Bali, Kanin. Na mitologia grega, é associada a Ártemis e, no Catolicismo, é associada a Virgem Maria.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Chocolate


Como sou um chocólatra assumido, resolvi investigar o mito divino do chocolate, afinal o nome científico do cacaueiro é Theobroma cacao e theobroma significa "alimento dos deuses" em grego. Mesmo com sua origem remetendo a mais de 1000 anos antes de Cristo, o nome da planta só foi dado em 1729 pelo botânico sueco Lineu, mas a razão fica óbvia!

Muito antes dos espanhóis chegarem às Américas - possivelmente 1500 a.C. -, os olmecas foram o primeiro povo a utilizar o fruto do cacaueiro, o "cacahuaquchtl". Com ele, faziam um líquido escuro - chamado de xocoatl (xococ = "amargo" + atl = "água") - temperado com baunilha e pimenta que combatia o cansaço e a diarréia. A parte branca que envolve os grãos de cacau era usada como fonte de açúcares fermentáveis para uma bebida alcoólica. Documentos maias dizem que o xocoatl também era usado por sacerdotes para fins cerimoniais e medicinais, e também era misturado a milho moído para fazer um mingau. Posteriormente, os astecas - acreditando que as sementes eram do deus Quetzalcoatl - prensavam o cacau em massas de pequenos tamanhos para que pudessem servir de alimento em expedições. O imperador asteca Montezuma apreciava a bebida amarga em copos de ouro sempre novos. A cada vez que esvaziava um copo, ele o jogava fora, para mostrar que valorizava mais a bebida que o ouro.

Cristóvão Colombo teria sido o responsável por levar o cacau para a Europa - que não conhecia o fruto - em 1502, em virtude de sua quarta viagem às Américas. Mas o rei Fernando II não teria prezado muito essa descoberta no meio de tantas outras riquezas.

Em 1519, o conquistador espanhol Hernán Cortez chegou ao México com suas intenções camufladas por um pacifismo comercial e foi recebido pelo imperador asteca Montezuma. Cortez, então, conheceu o valor monetário do cacau e, após a dominação, obrigou os nativos a plantarem cacau. Em 1528, ao retornar a Espanha, Cortez levou seus lucros (um escravo africano valia cem grãos de cacau!) e as ferramentas necessárias para o preparo da bebida amarga (um lenda conta que a receita da bebida foi literalmente arrancada de um sacerdote, pois estava tatuada na virília dele! ui...). Os espanhóis trataram de adocicar e esquentar a bebida que - aí sim - caiu no gosto da nobreza. Ao longo dos 150 anos seguintes, a novidade se espalhou pelo resto da Europa, e vários ingredientes foram agregados: vinho, cerveja, outras especiarias etc., mas sempre para consumo da elite. As colônias americanas (do continente e as ilhas de Trinidad e Haiti) e africanas (Costa do marfim, Gana, Nigéria e Camarões) continuaram com as plantações.

Na Inglaterra - que tinha suas plantações nas Índias Ocidentais -, a bebida podia ser comprada por qualquer um. E foi em Londres que, em 1657, foi inaugurada a primeira chocolateria do mundo! Em 1689, o médico escocês Hans Sloane estava na Jamaica e colocou leite na bebida, tornando-se (talvez) o maior responsável pelo o que é o chocolate hoje. No início do século XVIII, as chocolaterias já rivalizavam com as tradicionais casas de chá e café inglesas. Em 1765, foi fundada a primeira fábrica de chocolate nos EUA, então colônia inglesa. Os holandeses também se tornaram fabricantes de chocolate ao plantarem em suas colônias nas Índias Orientais (Indonésia).

Até a Revolução Industrial, o processo de fabricação da bebida era o mesmo e, em 1795, os ingleses criaram máquinas à vapor para espremer os grãos cacau que permitiram a produção em larga escala da bebida. Trinta anos depois - mais precisamente em 1828 - um fabricante holandês de chocolate, Conrad van Houtten, desenvolveu uma prensa hidráulica para extrair a gordura dos grãos de cacau moídos e transformá-la em manteiga de cacau. Depois os pedaços duros de cacau remanescentes eram novamente moídos e transformados em um pó, que se dissolvia facilmente na água quente. Daí ao desenvolvimento de bebidas achocolatadas foi um passo rápido. Em 1847, a firma inglesa Fry and Sons começou a desenvolver chocolate em barras com a manteiga de cacau. Mas foi em 1895 que um fabricante suíço misturou leite fresco à manteiga de cacau e deu início ao vício mundial. No Brasil, a primeira fábrica foi fundada em 1891 pelos irmãos Franz e Max Neugebauer em Porto Alegre.

Essa história é a mais citada por aí, mas encontrei uma outra história... bom... parece piada, mas vou postar assim mesmo: em suas viagens pela Ásia, o explorador italiano Marco Polo teria conhecido o cacau, ainda sem nome. Ao ser recebido por Kublai Khan, ofertou alguns frutos que teriam sido entregues ao cozinheiro Xang K. Kal. O cozinheiro experimentou todas as possibilidades do fruto, fazendo sucos, pudins, cremes, molhos e uma pasta. O imperador Khan se lambuzou das iguaris ficando realmente encantado pela pasta, a qual teria batizado de "manteiga de K. Kal".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Prajapati

Prajapati é uma divindade suprema do início da construção da religião hindu, aparecendo nos hinos da criação do universo (Sukta Nasadiya) como o Grande Arquiteto (Viswakarma). Foi a personificação do fogo, do sol e do tempo. Seria um ser andrógino de quatro cabeças, cada qual produzindo seres: Deva (deuses), Rsi (sábios), Ptri (ancestrais) e Nara (humanos).

Em sânscrito, seu nome significa "senhor das criaturas". Teria criado a si próprio a partir do oceano primevo, mas, quando viu o vazio à sua volta, chorou e suas lágrimas viraram continentes. Portanto, é a representação da auto-criação e do auto-sacrifício, uma vez que se criou sozinho do nada e depois se sacrificou para gerar e sustentar vida. Mais tarde, sua personalidade fundiu-se com a de Brahma. Dessa forma, também foi identificado na trindade com Shiva e Vishnu. Era o guardião dos órgãos sexuais e da fusão dos elementos da mente com o discurso.

Brahma teria criado os 10 governantes do mundo responsáveis pelo universo e os chamado de Prajapatis. São eles: Marichi, Atri, Angiras, Pulastya, Pulaha, Kratu, Vasishtha, Prachetas (ou Daksha), Bhrigu e Nārada. O Mahabarata menciona 14 prajapatis, guardiões dos 14 mundos. No sistema clássico de 33 deuses, Prajapti era o 34º, aquele que englobava a todos.

terça-feira, 30 de março de 2010

Seshat

Conhecida como Rainha da Biblioteca e Guardiã dos Arquivos Celestiais, Seshat era mulher de Ptah, filha de Thot e irmã gêmea de Mafdet. Era escriba dos deuses e anotava os impostos coletados e os espólios obtidos nas guerras. Também registrava todos os discursos de coroação dos faraós. Está associada à matemática, à astronomia e aos esquemas de construção quer permeiam a arquitetura e a engenharia. Era dito que seu pai era o responsável pelo conhecimento oculto, enquanto Sheshat representava o conhecimento visível.

Aparece com um papiro de sete pontas como enfeite de cabeça (ou uma roseta - um símbolo de fertilidade do Nilo) e um vestido de pele de leopardo (veste funerária, onde as pintas representam as estrelas do céu e, portanto, a eternidade), segurando um ramo de palmeira onde marca os anos de reinado dos faraós. Seu nome significa - literalmente - "mulher escriba". Era também chamada de Dama do Destino.

Os rituais para a deusa eram liderados por um sacerdote letrado que utilizava cordas para obter dimensões que garantiam os alinhamentos sagrados do universo e, assim, o conhecimento técnico sobre as construções das cidades e - até mesmo - da elevação do Nilo. É possível que tenha sido a grande deusa da sabedoria do Egito Antigo até o culto a Thot crescer ao ponto de "rebaixá-la". Em momentos, chegou a ser vista como uma sacerdotisa.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Nergal

Nergal (ou Nirgal, Nirgali) é o deus babilônico do submundo, filho primogênito de Enlil, deus do ar, com Ninlil, deusa dos cereais. Nasceu do estupro sofrido por sua mãe, diante dos portões do reino infernal de Ereshkigal. Com aspecto de touro e leão, é um deus do mal que traz guerra, peste, febre, devastação e morte.

Ele é o tema de um poema acadiano, que descreve sua transição do céu para o inferno. Viveu toda a sua infância e juventude entre os deuses, sempre provocando-os e ofendendo-os. Sua impáfia era diversão para os deuses, até o dia em que ofendeu Namtar, a representante de Ereshkigal. Todos sabiam que a rainha do Inferno não o deixaria sair livre. Aconselhado por Enki, deus da sabedoria, a pedir desculpas, Nergal construiu um trono de cedro sagrado para entregar a deusa em seus reinos. Despido de suas armas e brasões reais, Nergal precisava recusar qualquer presente ou ajuda oferecida.

Mas, achando que estava falando com uma deusa velha, Nergal fez tudo diferente: após atravessar os nove portais do grande palácio de cristal e lápis-lazuli de Ereshkigal e ajoelhar perante o trono da deus - que estava escondida por um manto negro - Nergal puxou uma arma e mentiu dizendo que fora enviado pelo grande An para tomar os reinos da deusa. Fingindo-se ameaçada, Ereshkigal disse que só iria se decidir após um banho. Nergal foi espiá-la e se submeteu a fenomenal beleza da deusa, comendo, bebendo e aceitando todos os encantos disponíveis por seis dias. No sétimo dia, lembrou das palavras de Enki e fugiu em segredo com medo do que viria a acontecer. Mas Namtar viu a fuga e contou para a deusa. Furiosa e magoada, Ereshkigal enviou Namtar até a morada dos deuses para trazer o deus. Mesmo apaixonado, Nergal temia perder a vida gloriosa que tinha entre os deuses, então, Enki interveio se utilizando de um encanto para mudar sua aparência. Namtar não pôde reconhecê-lo e voltou de mãos vazias. Como retaliação, Ereshkigal tornou a terra infértil e provocou fome na humanidade. Temerosos, os deuses pediram que An solucionasse o problema e o grande deus obrigou Nergal a retornar ao Inferno para se casar com Ereshkigal e governar ao seu lado.

Algumas placas sumérias contam que Nergal teria traído seu irmão Marduk, unindo-se a Ninurta e Nannar-Sin na grande batalha pelo controle da Terra em 2000 a.C.

O centro principal de seu culto era a cidade Kuthu e seus atributos eram a maça e a foice. Por ser uma divindade desértica, muitas vezes foi considerado o aspecto sinistro do deus sol Shamash (seria o sol escaldante do meio-dia e os solstícios). Na mitologia greco-romana, era Ares ou Marte, mas também foi associado ao herói Hércules em seus momentos coléricos. Sendo de uma religião pagã que rivalizava com o Cristianismo e com o Judaísmo, Nergal foi identificado como Satã, chefe das soldados infernais e espião de Belzebu.