quinta-feira, 27 de maio de 2010

O mito de Perseu

Estátua em mármore de Perseu segurando a cabeça de Medusa.
Antonio Canova, 1800 (Museu do Vaticano)

O Rei Acrísio de Argos era pai da linda Danae, mas estava desapontado por não ter um herdeiro homem. Foi consultar, então, o Oráculo de Delfos e soube jamais teria um filho homem e que seu neto o mataria. Por isso, trancou Danae numa torre de bronze (ou masmorra), onde ninguém poderia encontrá-la. Mas Zeus - já apaixonado pela princesa - foi até ela em forma de chuva de ouro. Desse encontro, Perseu nasceu escondido pela ama de Danae. Ao saber do ocorrido pelo choro do recém-nascido, Acrísio matou a serviçal, enfiou Danae e seu neto numa urna e jogou-os ao mar. Protegida por Zeus, a urna foi levada à ilha de Serifo e encontrada pelo pescador Dictis, irmão do Rei Polidectes, que os acolheu como familiares. Perseu teria estudado com os sábios centauros e se tornado um forte e belo rapaz que protegia sua mãe de forma ciumenta.

O Rei Polidectes enlouqueceu de paixão por Danae em visita a seu irmão Dictis. Temendo o filho semideus, Polidectes enviou Perseu secretamente para Líbia (África) com intuito de matar a górgona Medusa como presente a ele, na esperança de que ele perecesse na expedição, uma vez que a górgona podia transformar uma pessoa em pedra com um olhar. Algumas histórias contam que, na verdade, Perseu teria oferecido trazer a cabeça da Medusa como presente a ele e Polidectes teria aproveitado a oportunidade para tentar se livrar do jovem.

Perseu pediu ajuda aos deuses: Hermes deu-lhe sandálias aladas e sua espada feita por Hefestos, Hades emprestou-lhe o capacete da invisibilidade e Atena entregou-lhe seu escudo polido. O jovem guerreiro voou até a caverna da górgona com as sandálias aladas e, com auxílio do capacete, enganou as Gréias que guardavam a entrada. Ainda com o capacete, Perseu se aproximou de Medusa sem que ela percebesse, usando o escudo de Atena como um espelho, de modo que não precisou olhar diretamente para Medusa. Do corpo morto, nasceu Pégaso e Crisaor.
Algumas lendas dizem que as armas de Perseu foram dadas por ninfas e não pelos deuses, e seriam uma capa da escuridão, uma bolsa de couro capaz de guardar a cabeça e botas aladas. Hermes teria guiado Perseu em sua jornada e teria emprestado uma foice para decapitar a górgona. Atena - ainda raivosa da górgona (explico melhor depois ) - teria aparecido com um espelho de bronze para ajudá-lo. Nessa lenda, por causa da bolsa, não há respingos de sangue e, portanto, não há serpentes. Pégaso também não é cavalgado, pois as botas aladas são o transporte.
Gravura de Perseu e Andrômeda
com o monstro morto
Perseu, então, cavalgou Pégaso para retornar a Grécia e encontrou o gigante Atlas que não queria permitir sua passagem. Perseu petrificou o gigante e, no embate, algumas gotas do sangue de Medusa caíram no deserto africano e se transformaram em víboras venenosas. Em seguida, o herói passou pelo rochedo onde Andrômeda fora acorrentada nua. Ela era a filha mais velha do Rei Cefeu e da Rainha Cassiopéia da Etiópia que tivera a temeridade de se julgar mais bela que Hera. Sempre vingativa, a deusa pediu que Poseidon liberasse um horrível monstro para devastar o reino de Cefeu. Algumas lendas, dizem que a ofensa de Cassiopéia foi ao próprio Poseidon, dizendo-se mais bela que as ninfas do mar.

Consultado o oráculo de Ammon, Cefeu soube que era preciso sacrificar Andrômeda ao monstro marinho. Persuadido da inocência de Andrômeda, Perseu livra-a dos grilhões e petrifica parte do monstro com a cabeça da Medusa, facilitando o trabalho de sua espada. Querendo desposar Andrômeda, Perseu ainda teve que utilizar da górgona para petrificar o pretendente Fineu e seus seguidores. De volta com Andrômeda em seus braços, Perseu entregou o presente a Polidectes que, incrédulo, abriu a encarou a górgona, tornando-se um rochedo. Em seguida, Perseu consagrou a cabeça da górgona a Atena, que pediu a Hefestos para fixá-la em seu escudo.

O herói levou Andrômeda e Danae para Argos, onde esperavam a reconciliação com Acrísio. Ainda temeroso, o rei fugiu para Tessália sem nem ver seu neto crescido. Participando dos jogos fúnebres do rei da Larissa, Perseu confirmou o Oráculo de Delfos: fazendo um lançamento desastroso, acertou acidentalmente seu avô sem saber que ele estava ali como espectador. Perseu se recusou a governar Argos, deixando-a para seu primo Megapentes, e foi para Tirinto, onde acabou por fundar a cidade de Micenas.

Acredita-se que todo o armamento divino de Perseu seja uma alegoria dos poetas: as asas de Hermes seriam um bom navio; o capacete de Hades seria o segredo dessa expedição mortal; e o escudo seria a grande cautela de Perseu. Modernos escritores dizem que Perseu foi um chefe fenício que teria roubado três cavalos na Líbia que eram chamados de Górgones. Pesquisadores encontram também referência a três navios mercantes que comerciavam na costa africana e teriam sido tomados pelo corsário Perseu. O monstro marinho teria sido um pirata que quis roubar a filha de Cefeu. Perseu venceu o pirata em um combate naval.

E OS FILMES, AFINAL?
  • Vê-se que é fundamental que Danae saia viva da urna, pois ela é o alvo da paixão louca que engatilha a expedição de Perseu. No filme de 81, a expedição é um teste divino, enquanto, no novo filme, é preciso matar o Kraken.
  • Interessante ver que, na mitologia, Perseu PEDE ajuda aos deuses, enquanto, em ambos os filmes, os deuses DÃO ajuda espontaneamente.
  • Pégaso realmente nasceu após a cabeça cortada da górgona. As sandálias aladas de Hermes foram substituídas por Pégaso, que realmente fica bem melhor na telona. Mas porque escorpiões e não as serpentes da mitologia? Afinal, serpentes fazem mais sentido se você pensar na estética da Medusa. É bem verdade que os escorpiões ficaram ótimos na telona também.
  • O capacete da invisibilidade (ou capa da escuridão) é o melhor presente. No filme de 81, ele precisou ser perdido, se não ia ficar fácil matar a Medusa no cinema. No novo filme, nem sinal do capacete, até porque Hades era o grande vilão e ele não iria dar um presentinho desses pra Perseu. Aliás... eu tinha dito que Hades não tinha participação nenhuma no mito de Perseu... me enganei e vou corrigir lá.
  • As gréias que guardavam a entrada do templo de Medusa são as bruxas de um olho só do filme. Eles nunca tiveram poderes precognitivos... falarei delas e de Medusa depois. No filme de 81, quem protege o templo é Dioskilos, um cão de duas cabeças - do qual não tenho referências.
  • Confirmado que o templo de Medusa não tinha relação com o Rio Estige no Mundo Subterrâneo. Mas poderia ser uma metáfora dos filmes a essa expedição mortal secreta. O templo pode ser na Líbia ou em Cabo Verde, ainda estou pesquisando melhor sobre isso e falarei mais quando falar da górgona.
  • Fiquei com a impressão de que Perseu cruza sem querer com Andrômeda na mitologia, o que difere totalmente dos filmes, quando ela chega a ser protagonista. O problema é que Líbia, Etiópia e Cabo Verde são distantes no mapa e ficaria difícil de entender esse percurso. Pelo menos, no filme de 81, eles falam que a ação ocorre em Jopa, na Fenícia, civilização que pode ter relações com a Líbia ou com os escritos modernos desse mito.
  • É possível que o enorme monstro seja uma baleia responsável por ondas gigantes, e não o Kraken, uma vez que o monstro é teria sido transformado na constelação de Baleia após sua petrificação.
  • Acrísio realmente morre pelas mãos de seu NETO Perseu, mas não como Calibos do novo filme.
  • Alguns historiadores dizem que a palavra "herói" deriva de um filho da deusa Hera. Herói teria sido um guerreiro de inúmeros feitos ilustres que ganhou um culto distinto dos deuses. Não consistia em sacrifícios e libações, mas numa espécie de pompa fúnebre onde se celebravam seus grandes feitos. É bem possível que isso tenha sido o mote para o roteiro de guerra entre deuses e homens do novo filme.
  • Viram que não existe Draco, Ixas, Eusébio, Io, Calibos, Talos, Bubo...?
  • No filme de 81, Ammon é guia de Perseu. No novo filme só vi esse nome nos créditos, mas nem vi. Agora a gente sabe que Ammon era um oráculo.

5 comentários:

  1. Nossa: dessa vez você foi fundo na pesquisa.
    Fiquei com uma dúvida: para mim as serpentes eram os cabelos da Medusa. Que história é essa de respingos de sangue + serpentes?
    Aguardo os esclarecimentos para não sair por aí dizendo bobagens.

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  2. falarei sobre a Medusa depois pq descobri um monte de lenda diferente em torno dela, mas ela tinha uma ligação estreita com os ofídios. os cabelos, com certeza, eram serpentes. talvez o corpo tb. as gotas de sangue tornaram-se serpentes ao cair no chão.
    a questão é: as lendas sobre Perseu possuem diferenças sutis capazes de mudar tudo. por exemplo, ele usou ou não usou uma bolsa pra carregar a cabeça? isso não ficou muito claro. se ele usou, só faz sentido pingar sangue quando ele utilizou a cabeça em Atlas. mas se ele não usou, pingou sangue em toda a África.

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  3. Verifiquei que das cerca de 2500 espécies de ofídios a maior parte vive nas zonas tropicais e subtropicais,sendo assim e conhecendo a região climática africana, voto no não uso da bolsa para levar a cabeça, daí o número imenso de serpentes venenosas ou não na África.
    Faz sentido?

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  4. Hollywood e sua salada mista com as mitologias...Aff. Concordo que o Pegasus preto ficou bem bonito e com "cara de mal" rsrs, mas é branco pow... e acho que ele é um ser único mesmo, não é?

    Mas a minha dúvida mesmo é sobre Andrômeda, na mitologia grega há alguma referência sobre uma Andrômeda andrógina? Já ouvi falar algo disso, mas nunca encontrei. (Não, não foi nos Cavaleiros do Zodíaco :P)

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  5. até agora, não encontrei nada sobre androgenia para Andrômeda. caso venha a encontrar, falarei aqui.

    ps.: só no CDZ mesmo... rsrs

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