segunda-feira, 13 de junho de 2011

É lenda!


Cinco lendas brasileiras foram abordadas no encarte Globinho do último sábado, num período do ano que o folclore nacional é festejado. Vou transcrever aqui a interessante matéria de Leonardo Cazes com ilustrações de André Melo:
Desde muito, muito tempo atrás, os homens criam histórias para tentar compreender as coisas ao seu redor. Por que a Lua possui quatro fases? Como surgiu o guaraná? Se hoje temos o Google para tirar nossas dúvidas, eles contavam apenas com a própria imaginação. E assim nasceram as lendas, transmitidas de pai para filho por gerações, até os tempos atuais.

No Brasil, houve uma grande mistura de lendas dos índios, que já viviam aqui, com outras africanas e europeias trazidas pelos escravos e colonizadores. Alguns personagens ficaram mais conhecidos, como a Cuca e o Saci Pererê, principalmente por sua divulgação na obra de Monteiro Lobato. Mas existem muitas outras, como o Carbúnculo e o Uirapuru, que você pode conhecer melhor aqui ao lado, em resumos que fizemos a partir do livro "As 100 melhores lendas do folclore brasileiro".

O autor da obra, A. S. Franchini, explica que as lendas brasileiras tem um papel parecido com a mitologia na Grécia Antiga, pois são uma forma de interpretar o mundo. Há milhares de anos, por exemplo, quando uma chuva alagava toda a cidade, os gregos acreditavam que era um castigo dos deuses, chateados com as atitudes dos homens na Terra.

— As lendas brasileiras são, de certo modo, a nossa mitologia, já que lidam com divindades indígenas e com mitos que falam da nossa nacionalidade. Todos lidam com os mesmos temas, comuns a todas as raças e povos, como amor, morte, sobrevivência, ambição, generosidade - explica Franchini.

Se você já escutou mais de uma versão sobre uma lenda, não se assuste. Essa é, inclusive, uma de suas características. Por serem transmitidas oralmente, elas assumem diferentes formas de acordo com a época e o lugar.

— Isso não só é natural e inevitável, como vital para a sobrevivência das lendas - diz o autor.

CARBÚNCULO
Ele é um lagarto mágico que, reza a lenda, vive no Rio Grande do Sul e possui um diamante na cabeça. O carbúnculo tem o poder de dar riqueza infinita a quem o possui e, à noite, transforma-se em uma bela mulher. Até hoje ele vive com seu único dono, um ex-sacristão, nos morros que ficam na divisa do Brasil com o Uruguai.

A ESCADA DE FLECHAS
Os índios kaigangs contam que seus ancestrais construíram uma escada de flechas pra chegar aos céus. O objetivo era fugir das onças que aterrorizavam a aldeia. O deus Tupã até ajudou, criando degraus de cipó. Mas, quando os índios foram subir, viram que os felinos já estavam lá em cima. Para evitar que as onças descessem e fizessem mais vítima, um casal valente foi até o céu, cortou a escada e nunca mais foi visto.

UIRAPURU
Moema e Juçara eram muito amigas, mas disputavam o amor de Peri, o índio mais bonito da aldeia. Para decidir com quem se casaria, ele sugeriu um duelo: quem acertasse com uma flecha o pássarp apontado por ele, seria sua esposa. Juçara venceu, e Moema fugiu para a mata, lamentando. O deus Tupã, com pena dele, resolveu transformá-la numa ave que teria o canto mais belo, o Uirapuru, que em tupi significa "pássaro que nao é pássaro". Quando o Uirapuru canta, a floresta toda fica em silêncio.

NEGRINHO DO PASTOREIO
Negrinho era um escravo encarregado de cuidar dos cavalos de um fazendeiro. Os animais são roubados, o menino leva uma surra e é obrigado a procurar os bichos. Sem sucesso, leva outra surra e morre. O fazendeiro manda, então, jogar o corpo num formigueiro. Dias depois, quando volta ao local, vê o garoto, sem nenhum machucado, se levantar e montar um cavalo. Daí em diante, o Negrinho vaga pelos campos e ajuda pessoas a encontrar coisas perdidas. Essa lenda prega contra a escravidão.

POR QUE ONÇA NÃO GOSTA DE GENTE?
Os índios kayapós explicam de uma maneira curiosa o porquê das onças não gostarem de gente. Na sua tradição, os animais dominavam o fogo e o arco e flecha, ainda desconhecidos pelos indígenas. Um dia, uma onça levou um índio até sua casa e ensinou a ele tudo o que sabia. Ambicioso, este voltou para a aldeia, contou o que aprendeu e voltou para roubar toda a carne que o animal tinha caçado com seus instrumentos. Reza a lenda que o bicho nunca aceitou a trição, e passou a perseguir os homens.
Bem legal! Não só as lendas (não conhecia algumas) como o texto todo!

Um comentário:

  1. Que coincidência! Recentemente manifestei minha surpresa com a lagartixa da mitologia australiana (agradeço o comentário posterior) e hoje me deparo com o Carbúnculo, um lagarto mágico das lendas brasileiras. Será que a explicação estaria no fato da grande incidência desses répteis, sobretudo no hemisfério Sul?

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