Ebisu é o deus japonês dos pescadores, um dos Sete Deuses da Sorte do xintoísmo, o único de origem
japonesa. Importantíssimo para uma nação insular, é responsável pela
navegação segura e por uma pesca abundante, garantindo prosperidade nas
negociações marítimas. É comumente associado a Daikoku, outro dos
sete deuses, para garantir abundância tanto na terra quanto no mar.
Inclusive, algumas lendas colocam Ebisu como filho de Daikoku.
Prém, na verdade, ele foi Hiruko, o primeiro filho de Izanagi e Izanami. A deusa Izanami teria comprometido as leis do cortejo ao falar primeiro no encontro dos deuses e, assim, seu primogênito nasceu sem ossos, parecendo um sanguessuga. Hiruko era tão monstruoso que foi abandonado ao mar em um barco de junco, onde, acabou se transformando em uma divindade. Talvez seja essa a origem do velho costume japonês dos pais comemorarem o nascimento de seus primeiros filhos, colocando uma estatueta em um barquinho de junco no mar.
É comumente apresentado como um homem gordo, sorridente e barbudo vestindo roupas formais de juiz ou as vestes de caça de um cortesão. Está sempre segurando uma vara de pescar na mão direita com um pargo vermelho preso na linha (que está na mão esquerda), simbolizando sorte. Se estiver segurando um leque, representa concessão de desejos e tomada de decisões. Diz-se que Ebisu era um pouco surdo. Assim, surgiu o costume de bater palmas antes de orar para ele a fim de ganhar sua atenção.
Por ter nascido sem ossos e superado essa condição ao se tornar uma divindade, Ebisu também é protetor das crianças que nascem com problemas e é associado às águas-vivas.
OBS.: Os outros deuses da sorte são: Benten, Bishamon, Daikoku, Fukurokuju, Hotei e Jurojin.
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Ebisu
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
Cernunnos
Cernunnos é, possivelmente, a mais antiga divindade do panteão celta. Há sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões celtas. Independentemente de sua origem, o Deus Cornudo (ou Galhudo, ou Cornífero),
desempenha uma função importante não só por se tratar do Senhor dos Animais - domésticos e selvagens -, mas também da fertilidade e da abundância - regulando as colheitas dos grãos e das frutas - e Mestre das Caças. Ele conectava a Terra, o Céu e o Mar no centro sagrado do mundo, como a representação da Natureza. Posteriormente, foi considerado também o deus do dinheiro e, em alguns momentos, é associado ao Sol.
Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho da Grande Deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício de verão e se apaixona pela Deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a engravida. Quando a Deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um símbolo do poder natural da vida e da morte.
Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda, registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da Grande Deusa sem seus chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se casou e ambos reinavam no subterrâneo - onde encaminhavam as almas. Porém, Epona precisava vir à Terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade, lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre traíções e chifres.
Sua primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça e dois torques em cada braço. O torque - espécie de argola aberta torcida com as extremidades em forma de esferas - é um atributo de poder e realeza utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta.
Ao lado desta imagem estava desenhada uma serpente com cabeça de carneiro - símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então, que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros, que se alimentam de um grande saco que tem em seu poder, ou por serpentes que se alimentam da fruta oferecida entre suas pernas. Em algumas ocasiões - como no caldeirão Gundestrup (foto) encontrado na Dinamarca -, aparece sentado de pernas cruzadas.
Os deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra, masculinidade etc. É possível que a idéia de "coroa real" venha daí. Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem maças da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres, mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em cerimônias religiosas.
Cernunnos foi muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha - onde foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a Pã, mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o paganismo.
Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho da Grande Deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício de verão e se apaixona pela Deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a engravida. Quando a Deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um símbolo do poder natural da vida e da morte.
Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda, registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da Grande Deusa sem seus chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se casou e ambos reinavam no subterrâneo - onde encaminhavam as almas. Porém, Epona precisava vir à Terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade, lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre traíções e chifres.
Sua primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça e dois torques em cada braço. O torque - espécie de argola aberta torcida com as extremidades em forma de esferas - é um atributo de poder e realeza utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta.
Ao lado desta imagem estava desenhada uma serpente com cabeça de carneiro - símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então, que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros, que se alimentam de um grande saco que tem em seu poder, ou por serpentes que se alimentam da fruta oferecida entre suas pernas. Em algumas ocasiões - como no caldeirão Gundestrup (foto) encontrado na Dinamarca -, aparece sentado de pernas cruzadas.
Os deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra, masculinidade etc. É possível que a idéia de "coroa real" venha daí. Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem maças da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres, mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em cerimônias religiosas.
Cernunnos foi muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha - onde foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a Pã, mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o paganismo.
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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Thor: Filho de Asgard
Hoje trago a vocês a animação Thor: O filho de Asgard (Thor: Tales of Asgard, 2011, 77') É uma animação feita pela Marvel e, portanto, sua mitologia é mais próxima aos quadrinhos e ao filme. Mesmo assim, são interessantes as referências mitológicas. A sinopse é a seguinte:
Apesar de agradar aos fãs de HQs, é um excelente começo para os jovens interessandas na mitologia escandinava. São raras as mitologias que contam a juventude de seus deuses e essa animação cria uma história fictícia sem fugir de importantes pontos. Estão lá os Nove Reinos (principalmente Asgard, Jotunheim e Svartalfheim), as relações familiares entre Odin, Thor e Loki, além de Thrym, Heimdall, Brunhilda e as Valquírias. Até Sleipnir (o cavalo de oito patas de Odin) e a carruagem do trovão puxada pelos carneiros Tanngnostr e Tanngrisnir. Vale a pena!
Antes de erguer seu poderoso martelo, um jovem Thor sai em busca da lendária espada perdida de Surtur pelos Nove Reinos. Faminto por aventura, Thor secretamente embarca na viagem da sua vida, acompanhado por seu fiel irmão Loki, um feiticeiro do bem com um talento especial para evitar conflitos. Com eles também estão os três guerreiros lendários - Fandral, Hogun e Volstaag - e a bela Sif, que formam um grupo de viajantes poderosos. Mas o que parecia uma inofensiva caça ao tesouro torna-se rapidamente uma aventura perigosa. Agora Thor, tem de mostrar-se digno de seu destino, tendo que defender Asgard dos Gigantes do Gelo.
Apesar de agradar aos fãs de HQs, é um excelente começo para os jovens interessandas na mitologia escandinava. São raras as mitologias que contam a juventude de seus deuses e essa animação cria uma história fictícia sem fugir de importantes pontos. Estão lá os Nove Reinos (principalmente Asgard, Jotunheim e Svartalfheim), as relações familiares entre Odin, Thor e Loki, além de Thrym, Heimdall, Brunhilda e as Valquírias. Até Sleipnir (o cavalo de oito patas de Odin) e a carruagem do trovão puxada pelos carneiros Tanngnostr e Tanngrisnir. Vale a pena!
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sábado, 14 de janeiro de 2012
CORREÇÃO: Polinésia e as ilhas do Pacífico
A partir de agora, vocês verão aqui ao lado a lupa de Mitologia Polinésia, que, na verdade, é uma correção. Este blog começou com a lupa de Mitologia Havaiana, que depois mudou para Mitologia Maori, mas ambas as denominações eram incompletas.
Polinésia vem do grego "muitas ilhas". É um arquipélago de origem vulcânica (as maiores) e coralina (as menores) no Oceano Pacífico estendido sobre uma superfície de 298 mil km² de área e 4,5 milhões de habitantes. A maior parte das ilhas pertence aos Estados Unidos (Havaí, Atol de Midway e Samoa Americana), à Nova Zelândia (Ilhas Cook e Tokelau), à França (as Ilhas Marquesas, Tuamotu, Tubuai e as ilhas que formam a Polinésia Francesa) e ao Chile (Ilha da Páscoa, Sala e Gómez). É possível que ainda aparecam nesta lupa mitos da Micronésia e da Melanésia, outros arquipélagos do Pacífico.
Percebe-se, então, porque usar somente o Havaí como referência é diminuir uma cultura tão vasta. Assim como, usar Maori, que é o nome de um povo nativo da Nova Zelândia.
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Oro
Representação da lança de Oro em madeira e fibra vegetal. (Museu Britânico, séc. XVIII) |
Quando decidiu se casar, Oro criou um arco-íris entre o céu e a terra e o atravessou até um lugar conhecido como Montanhas Vermelhas. Lá conheceu Vai-Raumati, filha de Ta'ata, o primeiro homem, e a fez sua esposa. Com ela, teve três filhas que adoravam provocá-lo para que ele continuasse irritado: Toi-Mata ("Olho de Machado"), Ai-Tupuai ("Comedora de Cabeças") e Mahu-Fatu-Rau ("Fuga de centenas de pedras"). Seu único filho, Hoa-Tapu ("Amigo Fiel"), tornou-se um grande governante, apesar de não gostar ser contrariado.
Nas Ilhas Cook, dizia-se que Oro era filho de Tangaroa e seu temperamento era um pouco diferente.
Oro também era patrono de um culto taitiano de artistas e animadores chamado Areoi. Os sacerdotes do culto honram o deus com festivais que incluem ofertas públicas de penas vermelhas e do sacrifício de porcos jovens.
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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012
Dia de Reis
Obra de Andrea Mantegna (entre 1495 e 1505) |
- MELCHIOR ("meu Rei é luz"), um senhor de aproximadamente setenta anos, calvo com cabelos e barbas brancas, que veio da Mesopotâmia e entregou-Lhe ouro em reconhecimento a Sua realeza;
- GASPAR ("aquele que vai inspecionar"), um robusto rapaz de uns vinte anos que veio de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio e entregou-Lhe incenso em reconhecimento a divindade e espiritualidade de Jesus como sacerdote; e
- BALTASAR ("Deus manifesta o Rei"), um mouro, de barba cerrada e uns quarenta anos, que veio da região do Golfo Pérsico e entregou-Lhe mirra em reconhecimento a humanidade, mesmo que fosse um símbolo de imortalidade, já que era usada para embalsamar corpos.
Adoração aos Magos obra de Murillo (entre 1655 e 1660) |
Apenas três presentes foram registrados no Evangelho segundo Mateus, então, diz-se tradicionalmente que tenham sido apenas três, embora haja um número específico. Desses presentes, surgiu a tradição de trocar presentes no Natal para celebrar o nascimento de Jesus. Em alguns países de língua espanhola, os presentes são trocados no dia 6 de janeiro e os pais se fantasiam de reis.
Nesta data, também se encerram os festejos natalícios, sendo o dia em que são desarmados os presépios e as árvores de Natal. A noite do dia anterior (5 de janeiro) e madrugada do dia 6 é conhecida como Noite de Reis.
Bolo de Reis preparado na Pâtisserie Douce France, em São Paulo (Fotos: Folha de São Paulo) |
Em alguns países, é estimulada entre as crianças a tradição de, antes de dormir, se deixar sapatos na janela com capim (ou outras ervas) para que os camelos dos Reis Magos possam se alimentar e retomar viagem. Em troca, eles deixariam doces. Em Portugal, é costume "cantar os reis" de porta em porta para receber guloseimas. Há ainda festivais com Companhias de Reis (grupo de músicos e dançarinos) que cantam músicas referentes ao evento. No Brasil, são conhecidos como Folia de Reis ou Terno de Reis.
A simpatia mais conhecida do dia é a das sementes de romã - que muitas vezes é feita no dia de Natal e/ou na virada dos anos:
- Pegue 3 sementes para cada rei (total de nove sementes).
- Faça um pedido para cada um dos reis (total de três pedidos).
- Jogue três semente pra trás, coma três e guarde outras três na carteira.
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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
1+1 = Nós!
Na Numerologia, o 2 é um número de colaboração. Prega a harmonia e o equilíbrio. Ao mesmo tempo, é da dualidade, da polaridade e dos conflitos que podem ser construtivos ou destrutivos. É também o número de anos que este humilde blog está no ar! Por essas razões, estou abrindo o e-mail mitographos@gmail.com para que todos possam se comunicar comigo, trocando informações, sugestões, críticas e muito mais sobre as mitologias de todo o mundo.
E assim começa 2012, ano de Xangô, do Dragão de Água e dos deuses da Lua!
E assim começa 2012, ano de Xangô, do Dragão de Água e dos deuses da Lua!
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
O calendário Maia e o fim do mundo
O ano de 2012 é um ano Maia. Afinal... é por causa da civilização maia que só se fala em fim do mundo no dia 21/12/2012.
Os maias não foram os primeiros a usarem um calendário, mas o deles é bem complicado de se entender, até porque, na verdade, são vários calendários que são combinados e utilizados de forma diferente! Mas, graças à exatidão desses calendários - os mais perfeitos entre os povos mesoamericanos -, os maias eram capazes de organizar suas atividades cotidianas e registrar simultaneamente a passagem do tempo, historiando os acontecimentos políticos e religiosos que consideravam cruciais. Eles acreditavam que o deus Itzamna ensinara aos maias primordiais a ciência do calendário.
Estudiosos acreditam que eles estabeleceram um dia zero* em 13 de agosto de 3113 a.C., mas não se sabe o que aconteceu para isso**. A partir deste dia os ciclos - contados de vinte em vinte, ou integrados por cinqüenta e dois anos - se repetiam e dominavam a linearidade do tempo. Podiam acontecer coisas diferentes nas datas de cada ciclo, mas cada seqüência era exatamente igual à outra, passada ou futura. Na perspectiva maia, passado, presente e futuro estão em uma mesma dimensão. Essa concepção circular do tempo, atrapalha os estudiosos. Por exemplo, a invasão tolteca do século X se confunde nas crônicas maias com a invasão espanhola que ocorreu 500 anos depois.
O calendário Tzolkin foi o primeiro a ser utilizado pelos maias. A divisão em trezenas de 20 dias (260 no total) pode ser pelo tempo da gestação humana (pouco mais de 8 meses), pelas Plêiades ou pelo cultivo do milho. Os números 13 e 20 eram importantes na cultura maia: 20 é o número de dedos (possivelmente eles usavam tanto os das mãos quanto os dos pés para contar) e 13 é o número de juntas do corpo (um pescoço, dois ombros, dois cotovelos, dois pulsos, dois quadris, dois joelhos e dois calcanhares) e o número de níveis do Paraíso onde os deuses reinavam. Para entender seu funcionamento, pense em duas engrenagens trabalhando em conjunto: uma possui os hieróglifos correspondentes aos 20 dias e outra os números de 1 a 13. Este calendário era considerado sagrado porque determinava as caracterísitas das datas de nascimento (como um horóscopo), as datas de cultivo, das chuvas e de cerimônias religiosas.
O calendário Haab - equivalente ao dos antigos egípcios e com algumas semelhaças ao gregoriano (o nosso) - se baseia no ano solar, ou seja, o tempo que a Terra leva para dar a volta no Sol. Era o caledário civil, utilizado para a agricultura e para a economia. Também era dividido em 20 dias, mas em 18 períodos, totalizando 360 dias. Ao perceberem que esse total de dias não completava o ano solar, os maias criaram o mês Uayeb, os "cinco dias sem nome" conhecido por ser o período de descanso dos deuses e, portanto, uma época de muitos perigos e mau agouro. Os portais entre o reino mortal e o submundo se dissolviam, e nenhum limite impedia que deidades mal-intencionadas causassem desastres. Os maias realizavam cerimônias durante o Uayeb na esperança de que os deuses retornassem. Por exemplo, as pessoas evitavam sair de casa e não lavavam ou penteavam os cabelos.
Para prevenções e registro histórico, os maias queriam um calendário maior, pois o Tzolkin e o Haab eram menores que um ano. Então, combinados, esses dois calendários ofereciam 18.890 dias únicos, um período de tempo de cerca de 52 anos, que era suficiente para identificar uma data para a satisfação da maior parte das pessoas, já que era muito acima da expectativa de vida geral da época. Esse Ciclo de Calendário foi o mais longo da Mesoamérica. O fim de cada Ciclo de Calendário era um período de tensão e má sorte entre os maias, que faziam rituais para ver se os deuses concederiam outro ciclo de 52 anos.
Os maias queriam registrar a história de sua civilização para as gerações futuras. Para isso, precisavam de um calendário que os levaria através de centenas ou até milhares de anos. Aqui entra o Katun, o Calendário de Longa Contagem, ou o Grande Ciclo, que dura aproximadamente 5125 anos! Sua divisão é diferente, feita da seguinte forma:
A interpretação incorreta deste calendário forma a base da crença em um cataclismo que determinaria o fim do mundo no dia 21 de dezembro de 2012***. Esta data é apenas o último dia do 13º baktun (data 13.0.0.0.0), ou seja, o fim de um ciclo e não o fim dos tempos. Mas os maias acreditavam que, no final de cada ciclo pictun o universo era destruído e recriado. Portanto, marquem nas agendas: o fim do mundo será em 12 de Outubro de 4772!
Ainda haveria dois outros importantes calendários: do Ciclo Lunar (trezes de 28 dias) e do Ciclo Venusiano (com 584 dias). Muitos eventos nestes ciclos eram vistos como sendo inauspiciosos e perniciosos. Ocasionalmente, as guerras e coroações eram planejadas para coincidir com estágios destes ciclos. Outros ciclos, combinações e progressões de calendários menos prevalentes ou pouco compreendidos, também eram seguidos, como uma contagem de 819 dias que aparece em algumas poucas inscrições e intervalos de 9 e 13 dias associados com diferentes grupos de deidades, animais e outros planetas.
Entenda melhor o funcionamento desses calendários na Wikipedia, no How stuff works e no blog Doismiledoze.
* Acredita-se que o Maias tenham criado o número zero, representado por uma concha!
** Não se tem certeza se foi 11, 12 ou 13 de agosto. Essas informações estão no Código Dresden, um dos quatro documentos mais que sobreviveram à Inquisição.
*** O filme 2012, sobre o fim do mundo, usa a data 23 de dezembro por causa de uma pedra encontrada no México. Mas essa pedra, na verdade, acaba provando que o mundo passa dessas datas apocalípticas.
Os maias não foram os primeiros a usarem um calendário, mas o deles é bem complicado de se entender, até porque, na verdade, são vários calendários que são combinados e utilizados de forma diferente! Mas, graças à exatidão desses calendários - os mais perfeitos entre os povos mesoamericanos -, os maias eram capazes de organizar suas atividades cotidianas e registrar simultaneamente a passagem do tempo, historiando os acontecimentos políticos e religiosos que consideravam cruciais. Eles acreditavam que o deus Itzamna ensinara aos maias primordiais a ciência do calendário.
Estudiosos acreditam que eles estabeleceram um dia zero* em 13 de agosto de 3113 a.C., mas não se sabe o que aconteceu para isso**. A partir deste dia os ciclos - contados de vinte em vinte, ou integrados por cinqüenta e dois anos - se repetiam e dominavam a linearidade do tempo. Podiam acontecer coisas diferentes nas datas de cada ciclo, mas cada seqüência era exatamente igual à outra, passada ou futura. Na perspectiva maia, passado, presente e futuro estão em uma mesma dimensão. Essa concepção circular do tempo, atrapalha os estudiosos. Por exemplo, a invasão tolteca do século X se confunde nas crônicas maias com a invasão espanhola que ocorreu 500 anos depois.
O calendário Tzolkin foi o primeiro a ser utilizado pelos maias. A divisão em trezenas de 20 dias (260 no total) pode ser pelo tempo da gestação humana (pouco mais de 8 meses), pelas Plêiades ou pelo cultivo do milho. Os números 13 e 20 eram importantes na cultura maia: 20 é o número de dedos (possivelmente eles usavam tanto os das mãos quanto os dos pés para contar) e 13 é o número de juntas do corpo (um pescoço, dois ombros, dois cotovelos, dois pulsos, dois quadris, dois joelhos e dois calcanhares) e o número de níveis do Paraíso onde os deuses reinavam. Para entender seu funcionamento, pense em duas engrenagens trabalhando em conjunto: uma possui os hieróglifos correspondentes aos 20 dias e outra os números de 1 a 13. Este calendário era considerado sagrado porque determinava as caracterísitas das datas de nascimento (como um horóscopo), as datas de cultivo, das chuvas e de cerimônias religiosas.
O calendário Haab - equivalente ao dos antigos egípcios e com algumas semelhaças ao gregoriano (o nosso) - se baseia no ano solar, ou seja, o tempo que a Terra leva para dar a volta no Sol. Era o caledário civil, utilizado para a agricultura e para a economia. Também era dividido em 20 dias, mas em 18 períodos, totalizando 360 dias. Ao perceberem que esse total de dias não completava o ano solar, os maias criaram o mês Uayeb, os "cinco dias sem nome" conhecido por ser o período de descanso dos deuses e, portanto, uma época de muitos perigos e mau agouro. Os portais entre o reino mortal e o submundo se dissolviam, e nenhum limite impedia que deidades mal-intencionadas causassem desastres. Os maias realizavam cerimônias durante o Uayeb na esperança de que os deuses retornassem. Por exemplo, as pessoas evitavam sair de casa e não lavavam ou penteavam os cabelos.
Os hieróglifos correspondentes aos 18 períodos (meses) do Haab mais o Uayeb. |
Para prevenções e registro histórico, os maias queriam um calendário maior, pois o Tzolkin e o Haab eram menores que um ano. Então, combinados, esses dois calendários ofereciam 18.890 dias únicos, um período de tempo de cerca de 52 anos, que era suficiente para identificar uma data para a satisfação da maior parte das pessoas, já que era muito acima da expectativa de vida geral da época. Esse Ciclo de Calendário foi o mais longo da Mesoamérica. O fim de cada Ciclo de Calendário era um período de tensão e má sorte entre os maias, que faziam rituais para ver se os deuses concederiam outro ciclo de 52 anos.
Os maias queriam registrar a história de sua civilização para as gerações futuras. Para isso, precisavam de um calendário que os levaria através de centenas ou até milhares de anos. Aqui entra o Katun, o Calendário de Longa Contagem, ou o Grande Ciclo, que dura aproximadamente 5125 anos! Sua divisão é diferente, feita da seguinte forma:
- kin (1 dia)
- winal (20 dias ou 20 kins)
- tun (360 dias ou 18 winals)
- katun (7200 dias ou 20 tuns ou 19,7 anos)
- baktun (144 mil dias ou 20 katuns ou 394,3 anos)
- pictun (20 baktuns ou 7885 anos)
- calabtun (20 pictuns ou 157.704 anos)
- kinchiltun (20 calabtuns ou 3.154.071 anos)
- alutun (20 kinchiltun ou 63.081.429 anos, período próximo ao desaparecimento dos dinossauros)
A interpretação incorreta deste calendário forma a base da crença em um cataclismo que determinaria o fim do mundo no dia 21 de dezembro de 2012***. Esta data é apenas o último dia do 13º baktun (data 13.0.0.0.0), ou seja, o fim de um ciclo e não o fim dos tempos. Mas os maias acreditavam que, no final de cada ciclo pictun o universo era destruído e recriado. Portanto, marquem nas agendas: o fim do mundo será em 12 de Outubro de 4772!
Ainda haveria dois outros importantes calendários: do Ciclo Lunar (trezes de 28 dias) e do Ciclo Venusiano (com 584 dias). Muitos eventos nestes ciclos eram vistos como sendo inauspiciosos e perniciosos. Ocasionalmente, as guerras e coroações eram planejadas para coincidir com estágios destes ciclos. Outros ciclos, combinações e progressões de calendários menos prevalentes ou pouco compreendidos, também eram seguidos, como uma contagem de 819 dias que aparece em algumas poucas inscrições e intervalos de 9 e 13 dias associados com diferentes grupos de deidades, animais e outros planetas.
Entenda melhor o funcionamento desses calendários na Wikipedia, no How stuff works e no blog Doismiledoze.
* Acredita-se que o Maias tenham criado o número zero, representado por uma concha!
** Não se tem certeza se foi 11, 12 ou 13 de agosto. Essas informações estão no Código Dresden, um dos quatro documentos mais que sobreviveram à Inquisição.
*** O filme 2012, sobre o fim do mundo, usa a data 23 de dezembro por causa de uma pedra encontrada no México. Mas essa pedra, na verdade, acaba provando que o mundo passa dessas datas apocalípticas.
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domingo, 1 de janeiro de 2012
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Samba do grego doido
Hoje estreiou o filme Imortais (Immortals, 2011) e eu estava lá pra conferir, é claro. Então, a partir daqui teremos vários spoilers... muitas das sinopses que coloquei aqui anteriormente possuem alguns erros que vou tentar corrigir.
Basicamente a história é a seguinte: Rei Hipérion quer libertar os Titãs para se vingar dos deuses que não salvaram sua esposa e seu filho da doença. Mas para isso ele precisa do Arco de Épiro forjado por Héracles, que somente a virgem oráculo sabe onde está. Em seu caminho está Teseu. O herói vem sendo aconselhado por Zeus na forma mortal a liderar um exército contra Hipérion, mas ele só quer ir embora em paz. Porém, Hipérion mata sua mãe e ele jura vingança.
É isso. Assim os caminhos se cruzam e a história anda. Mas anda bem devagar. O filme não empolga. Sinceramente... nem as cenas de ação - que todos falaram que se inspirava em 300 - chegam lá. A direção do indiano Tarsem Singh é bem fraca, tentando se apoiar em um visual escuro (favorecido pelo totalmente desnecessário 3D) e os figurinos meio carnavalescos.
Mitologicamente falando, o filme também se perde. O mito de Teseu deveria ser o mote, mas nada chega perto... somente um Minotauro (humano) em um labirinto (que é um templo de adoração...). Teseu não era bastardo de uma mãe estuprada e muito menos da cidade de Koplos: tinha pai, mãe e era ateniense!
Fedra até tem ligações com Teseu (são várias as histórias que a colocam como esposa), mas nada de oráculo virginal. Hipérion também não era um rei mascarado e misógino, mas um Titã! Aliás... a transformação dos titãs em zumbis que não sabem falar é humilhante. Fiquei imaginando que eles eram Oceano, Réia, Cronos, Mnemósine... não dá, né?
Coloquei aqui recentemente a "grande" cena de batalha entre cinco deuses e os Titãs libertos. Mas peguei errada a informação de quem eles eram: seriam Zeus, Atena, Poseidon, Apolo e Héracles. Pois é... Héracles como deus! Isso realmente acontece na mitologia depois que ele morre e Zeus o leva para o Olimpo. No entanto, o personagem é nulo no filme... nem o nome dele é falado! Só que ele deveria ser um dos mais importantes, considerando que o importantíssimo Arco de Épiro (que não existe na mitologia) foi forjado por ele e que os inimigos do filme lutam com o nome de sua cidade! Apolo também é nulo... e ainda tem um Ares com elmo de espadas que é morto por seu próprio pai por ajudar Teseu. Vocês leram certo: deuses morrem!
Falando ainda dessa "grande" cena... alguém consegue me explicar porque os deuses gregos cheios de armas incríveis e poderes miraculosos precisam descer ao Tártaro para matar titãs-zumbis com espadas? E um Tártaro que fica dentro de uma montanha protegida por uma muralha...
Existem alguns questionamentos filosóficos interessantes que ficaram superficiais. Acho que quase não vale como referência mitológica. É uma liberdade poética tão grande que fiquei me perguntando: por que não usar os mitos corretamente - que já são deveras interessantes e cheios de reviravoltas - ao invés dessas adaptações livres e sem sentido?
Basicamente a história é a seguinte: Rei Hipérion quer libertar os Titãs para se vingar dos deuses que não salvaram sua esposa e seu filho da doença. Mas para isso ele precisa do Arco de Épiro forjado por Héracles, que somente a virgem oráculo sabe onde está. Em seu caminho está Teseu. O herói vem sendo aconselhado por Zeus na forma mortal a liderar um exército contra Hipérion, mas ele só quer ir embora em paz. Porém, Hipérion mata sua mãe e ele jura vingança.
É isso. Assim os caminhos se cruzam e a história anda. Mas anda bem devagar. O filme não empolga. Sinceramente... nem as cenas de ação - que todos falaram que se inspirava em 300 - chegam lá. A direção do indiano Tarsem Singh é bem fraca, tentando se apoiar em um visual escuro (favorecido pelo totalmente desnecessário 3D) e os figurinos meio carnavalescos.
Mitologicamente falando, o filme também se perde. O mito de Teseu deveria ser o mote, mas nada chega perto... somente um Minotauro (humano) em um labirinto (que é um templo de adoração...). Teseu não era bastardo de uma mãe estuprada e muito menos da cidade de Koplos: tinha pai, mãe e era ateniense!
Fedra até tem ligações com Teseu (são várias as histórias que a colocam como esposa), mas nada de oráculo virginal. Hipérion também não era um rei mascarado e misógino, mas um Titã! Aliás... a transformação dos titãs em zumbis que não sabem falar é humilhante. Fiquei imaginando que eles eram Oceano, Réia, Cronos, Mnemósine... não dá, né?
Coloquei aqui recentemente a "grande" cena de batalha entre cinco deuses e os Titãs libertos. Mas peguei errada a informação de quem eles eram: seriam Zeus, Atena, Poseidon, Apolo e Héracles. Pois é... Héracles como deus! Isso realmente acontece na mitologia depois que ele morre e Zeus o leva para o Olimpo. No entanto, o personagem é nulo no filme... nem o nome dele é falado! Só que ele deveria ser um dos mais importantes, considerando que o importantíssimo Arco de Épiro (que não existe na mitologia) foi forjado por ele e que os inimigos do filme lutam com o nome de sua cidade! Apolo também é nulo... e ainda tem um Ares com elmo de espadas que é morto por seu próprio pai por ajudar Teseu. Vocês leram certo: deuses morrem!
Falando ainda dessa "grande" cena... alguém consegue me explicar porque os deuses gregos cheios de armas incríveis e poderes miraculosos precisam descer ao Tártaro para matar titãs-zumbis com espadas? E um Tártaro que fica dentro de uma montanha protegida por uma muralha...
Existem alguns questionamentos filosóficos interessantes que ficaram superficiais. Acho que quase não vale como referência mitológica. É uma liberdade poética tão grande que fiquei me perguntando: por que não usar os mitos corretamente - que já são deveras interessantes e cheios de reviravoltas - ao invés dessas adaptações livres e sem sentido?
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