terça-feira, 23 de março de 2010

Ukemochi

Ukemochi e seu marido Inari,
como uma raposa branca
Também chamada de Ogetsu-himi-no-kami (Grande princesa da comida), Wake-umi-nomi (Jovem mulher com comida) e Toyo-uke-bime (Princesa da rica comida), Ukemochi (Deusa que possui os alimentos) era a deusa do arroz, da nutrição e do banquete no xintoísmo. Pode-se ver que todos os seus nomes derivados são relacionados à comida e ao sustento em geral.

Sua lenda mais conhecida é o da sua relação com Amaterasu, a grande deusa do sol, que é contada no Nihon Shoki ("crônicas japonesas"). Aparece com algumas alterações, mas, basicamente, é o seguinte: Amaterasu utilizou sementes fornecidas por Ukemochi para plantar seus enormes campos de arroz. A grande deusa pediu que seu irmão Tsuki-Yomi (em outras lendas é Susanowo) verificasse suas plantações e o trabalho de Ukemochi, quando estivesse escondida em sua caverna.

Sabendo da visita do deus, Ukemochi resolveu preparar um imenso banquete: vomitou arroz cozido (felicidade e abundância), peixe (sabedoria e abundância) e algas (alegria). Tsuki-Yomi viu a preparação e ficou tão enjoado que a matou. Da cabeça de Ukemochi, saíram bois e cavalos; suas sobrancelhas transformaram-se em bichos da seda; da testa brotou milho e trigo, da barriga saiu arroz e de sua genitália veio o feijão; todos símbolos de agricultura, trabalho, resistência e criatividade. Os feijões são conhecidos no Japão como dissipadores de maus espíritos. É dito que outros alimentos ainda saíram do corpo da deusa, como o arroz doce, a soja e o pão. Com raiva pela morte de Ukemochi, Amaterasu decidiu nunca mais ver seu irmão e, por isso, sol e lua jamais se encontrariam.

Seu nome pode ser escrito como Uke-mochi ou Uki-mochi, e, muitas vezes, a deusa era confundida com Inari em sua versão feminina, uma vez que o deus era seu marido e assumiu suas funções divinas. Também foi associada ao deus Toyuke Okami, responsável pelo vestuário, pela habitação e pela refeições.

terça-feira, 16 de março de 2010

Igaluk e Malina

Igaluk é o Homem da Lua, uma poderosa divindade da mitologia inuíte* associada à passagem das estações do ano e o movimento das marés, que também tinha controle sobre os animais.

Igaluk e sua irmã, Malina, eram muito próximos na infância, mas foram separados na juventude entre o alojamento dos homens e das mulheres. Um dia, Igaluk espiou o alojamento feminino numa noite de danças e descobriu que sua irmã era a mais bela. Desejoso, o rapaz protegeu sua identidade na escuridão, invadiu o alojamento e a violentou. Insatisfeito, Igaluk voltou na noite seguinte, porém Malina estava com as mãos cheias de fuligem e óleo de uma lamparina quebrada e conseguiu marcar seu agressor, que, para sua supresa, descobriu ser seu irmão. Desesperada e quente de raiva, Malina cortou seus seios e os ofereceu para Igaluk comer na frente de todos na aldeia. Em seguida, com uma tocha na mão, saiu fugida. Humilhado e envergonhado, Igaluk saiu atrás dela, seguindo as manchas de sangue, mas escorregou na neve ensanguentada e sua tocha perdeu força. Os dois correram tão rápido que uma lufada de ar os elevou aos céus, onde ela se tornou o Sol com sua chama brilhante e ele, a Lua com sua pouca luz.

A lenda da ascensão aos céus dos irmãos pode sofrer pequenas variações, mas a idéia central é essa.

Igaluk é tão obcecado por sua irmã que frequentemente se esquece de comer e vai afinando (Lua Minguante). Uma vez por mês, o deus some por três dias e desce à terra para poder comer (Lua Nova). Quando ocorre um eclipse, os povos do Ártico se amedrontam, pois acreditam que é mais um estupro. Durante um eclipse solar, os homens são proibidos de sair. Nos eclipses lunares, as mulheres não saem de suas casas. Quando ocorre o fenômeno atmosférico do parélio (halo ao redor do sol - foto), diz-se que Malina está comemorando o nascimento de uma menina ou a morte de um homem.


Povos no Alaska consideram Igaluk a divindade máxima do panteão. Na Groenlândia, é também chamado de Aningan.

* Inuit significa "pessoas" (singular, inuk) no idioma das civilizações que vivem no Ártico. São os chamados esquimós, que, na verdade, é um termo pejorativo entre os povos do Ártico que significa "comedores de carne crua".

segunda-feira, 15 de março de 2010

Tohil

O deus do fogo e do sacrifício maia era Tohil, o obsidiano (tipo de vidro vulcânico). Podia ser escrito como Tojil, um poderoso deus da guerra, do clima e das montanhas. Os cervos era associados a ele, chegando a ser chamado de "Grande Lorde Cervo".

Segundo a lenda da criação maia no épico quechua Popul Vuhu, a primeira era do mundo terminou quando o fogo e a água destruíram tudo. No começo da segunda era, os ancestrais dos humanos surgiram num lugar chamado Sete Cavernas, onde eles encontraram Tohil pela primeira vez.

Os adoradores de Tohil, além do próprio sangue, sacrificavam prisioneiros de guerra. Acreditava-se que Tohil precisava do sangue jorrado a partir de corações arrancados, assim como bebês precisam do aleitamento materno. Na época da conquista espanhola, Tohil foi o grande patrono da guerra que fazia parte da trindade formada com Awilix e Jacawitz. Sua força era tão grande que, às vezes, toda a trindade era chamada de Tohil.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Chuichu

Chuichu era o auxiliar de Inti, deus do sol, e de sua esposa, Mama-Quilla, a lua, que utilizava o arco-íris para enviar as mensagens divinas. O arco-íris era também considerado uma ponte entre o mundo dos mortais e o mundo divino, assim como a Bifrost nórdica.

Os incas dependiam muito do sol e da chuva para colher boas safras, portanto, um deus que aparecia em momentos de sol e chuva era considerado extremamente poderoso. Suas cores eram um símbolo de poder capaz de elevar o espírito (como os chakras). Por essa razão, a capital do Império Inca (Cusco) utiliza as cores do arco-íris como sua bandeira. As montanhas sagradas de Machu Picchu posuem bandeiras de arco-íris em seus topos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Jaci

Na cosmologia de alguns povos nativos do Brasil, Jaci é a Lua, irmã e também esposa de Coaraci, o Sol.

Assim diz a lenda que pode nos revelar a origem do nome da deusa (o lago) e entender como a Iara, poderia ser irmã de Jaci em alguns contos:
Irmã se apaixonou pelo irmão e o visitava cada noite em sua rede, misteriosamente, protegida pelas trevas. Para descobrir quem era aquela que o despertava para o amor, o irmão umedeceu-lhe as faces com urucum. E ela que habitava as margens do lago Iaci, espelhou-se em suas águas e viu que estava marcada para sempre. Manejando o arco, despediu flecha após flecha, até formar uma longa vara, e por ela subiu para se transformar na Lua. O irmão que habitava o alto da serra, indo vê-la e não a encontrando, de dor metamorfoseou-se em mutum (um pássaro). Ela agora vem mensalmente mirar-se nos espelhos dos lagos para ver se desapareceram as manchas.
Mas, para divinizá-la, algumas lendas fizeram com que o deus maior, Tupã, fosse responsável pela sua criação para ser a rainha da noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Em outras, Coaraci teria transformado a mais bela "indígena" criada por ele na Lua.

Ela aparecia em duas formas: Jacy Omunhã (Lua Nova) e Jacy Icaua (Lua Cheia). É dito que Sumá, deusa guerreira da ira, era sua filha com Tupã. Também teria sido mãe de Araci com o mortal Itaquê.

Tornou-se mãe dos frutos, presidindo a vida vegetal, e controlava os gênios das florestas como o Saci, o Boitatá e o Curupira. Ela teria ensinado ao primeiro pajé como apaziguar os espíritos malignos e conversar com as almas dos antepassados. É também protetora dos amantes e da fertilidade, sendo comprada a Ártemis, na mitologia grega, a Vishnu, na mitologia hindu, e a Ísis, na mitologia egípcia.