terça-feira, 13 de março de 2012

Rusalka

As rusalkas (em russo, o plural é rusalki) são perigosas entidades femininas da água no folclore russo, geralmente consideradas espíritos de jovens mulheres que morreram afogadas ou de outra forma violenta. Mas o destino de uma rusalka pode ser desfeito caso sua morte seja vingada. Essa seria a única forma de libertar o espírito. Também é dito que crianças não-batizadas podiam se tornar rusalkas e só o batismo do espírito as salvariam.

No norte da Rússia, têm a aparência de mulheres nuas cadavéricas, com cabelos escuros como musgo e olhos que brilham com um maligno fogo verde. Ficam na água ou perto dela, à espreita de viajantes descuidados. Arrastam as vítimas para a água, onde as aterrorizam e torturam antes de matá-las. Viajantes espargem algumas folhas de losna (ou absinto) em qualquer coisa que uma rusalka possa querer roubar ou destruir.

Já no sul, aparecem como belas jovens pálidas e loiras em roupas leves com olhos sem pupila. Atraem suas vítimas cantando docemente nas margens dos rios, enquanto trançam seus longos cabelos. Quando a vítima entra n'água para encontrá-la, a rusalka a afoga com uma risada estridente e fatal. É possível que seja a origem do mito da sereia, mas se mistura aos mitos das ninfas gregas e da Banshee celta.

Para sair da água, as rusalkas precisam de um pente, com o qual podem conjurar água quando quiserem para manter o corpo molhado. Alguns dizem que sem o pente, elas secariam e morreriam.

Durante os meses de inverno, as rusalkas vivem no fundo da água, sob o gelo. No verão, principalmente na chamada Rusal'naia (Semana das Rusalkas, no início de junho), podem deixar a água sem seus pentes, tornando-se um grande perigo. Elas trepam aos galhos que pendem sobre a água e à noite, quando o luar ilumina a floresta, descem das árvores e dançam nas clareiras onde a grama cresce mais espessa e o trigo é mais abundante.

Na quinta-feira Rusal'naia, chamada velykden, as pessoas costumam trabalhar para não atormentar as rusalkas que vivem perto das casas que ficam próximas a lagos e rios. Se os espíritos ficam com raiva de alguma pessoa, podem arruinar as colheitas com chuvas torrenciais, rasgar redes de pesca, destruir represas e moinhos d'água e roubar roupas, linho e fios das mulheres humanas (como os vodyanoi). Neste mesmo dia da semana, jovens mulheres fazem grinaldas com losna e alho para as rusalkas dizerem se elas conseguirão casar com homens ricos. Se conseguirem alguma resposta, não devem nadar até o fim do verão, ou serão afogadas e se tornaram uma rusalka.

Até os anos 1930, o enterro ou banimento ritual das rusalkas no final da Rusal'naia permaneceu como um entretenimento comum.

Existe uma ópera tcheca chamada Rusalka que lembra muito a história da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen.

* A palavra rusalka referia-se originalmente às danças de roda das jovens na festa de Pentecostes (mais conhecida, no Brasil, como festa do Divino Espírito Santo).

sexta-feira, 9 de março de 2012

Ciclos harmônicos

As treze ondas harmônicas da história (clique para aumentar)

Gostei desse infográfico acima que mostra os 13 ciclos da história do mundo a partir do calendário maia. Este ano de 2012 é o 13 baktun (medida de anos),que seria o Ciclo de Transformação da Matéria. E se dermos conta do avanço da ciência nos anos que fazem parte deste ciclo, não temos dúvida que realmente transformamos e manipulamos a matéria até seu nível atômico.

Agora é esperar o próximo ciclo e a nova era... o que virá por aí?

sábado, 3 de março de 2012

Heróis na telona


E o filme de Hércules - baseado em uma HQ - está se encaminhando. Parece que Dwayne "The Rock" Johnson (aquele do Escorpião-Rei, Velozes e Furiosos 5 e por aí vai) está quase fechando contrato com a MGM para viver o herói grego. Como os quadrinhos possuem dois arcos de histórias (The Thracian Wars e The Knives of Kush) escritos por Steve Moore é possível que - se o filme der certo - já tenhamos uma sequência planejada. Temos até uma sinopse um pouco mais elaborada, porém ainda não definitiva:
Há mil e quatrocentos anos atrás, caminha pela Terra um atormentado Hércules, o poderoso filho de Zeus, que apenas recebeu sofrimento durante toda a sua vida. Após doze árduos trabalhos, e a perda da sua família, o semideus decide procurar conforto em batalhas sangrentas. Ao longo dos anos, Hércules ganhou a companhia de seis almas similares cujos únicos laços são o amor pelo combate e a presença da morte. Estes homens e mulheres nunca questionam quando ou quem vão combater, apenas como são pagos. Ao saber disto, Cotys, Rei da Trácia, decide contratar os mercenários para treinarem o maior exército de todos os tempos. Quando o exército começa a intervir sobre homens, mulheres e crianças inocentes, Hércules começa a questionar as motivações do Rei e decide impedi-lo.

Mas não é somente a Grécia que terá seus heróis na telona. O lendário guerreiro celta Cuchulain também vai se arriscar no cinema. Michael Fassbender (o Magneto de X-Men - First Class) produzirá e protagonizará os feitos do herói dotado de força sobre-humana por sua ascendência semidivina e conhecido, entre outros feitos, por ter resistido ao vasto exército enviado pela Rainha Mebh para roubar o premiado touro branco de seu tio Conchobar, rei de Ulaid.

A história deve ser baseada no Ciclo de Ulster, conjunto de prosa e verso do século 8 que trata dos tradicionais heróis da região de Ulaid. É um dos quatro ciclos principais da mitologia celta, ao lado do Ciclo Mitológico, Ciclo de Fenian e o Ciclo Histórico.

Ambos devem ser para 2014. E lá vamos nós!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ano bissexto


Uma das razões da fama do fim do mundo que o ano de 2012 carrega vem do fato dele ser bissexto. Chama-se ano bissexto o ano ao qual é acrescentado um dia extra (ou dia intercalar), ficando ele com 366 dias. Isto ocorre a cada quatro anos com o objetivo de manter o calendário anual ajustado a partir da translação da Terra.

A Terra demora aproximadamente 365,2422 dias solares (1 ano trópico) para dar uma volta completa ao redor do Sol, enquanto o ano-calendário convencionado tem 365 dias solares. Portanto, sobram 0,2422 dia (aproximadamente 6h) a cada ano trópico. As horas excedentes são somadas e adicionadas ao calendário na forma inteira de um dia (4 x 6h = 1 dia).

Os egípcios foram os primeiros a calcular a necessidade de um ano bissexto, mas a prática não chegou à Europa até o reinado do imperador romano Júlio César. Antes disso, o calendário romano operava um modelo lunar confuso que regularmente exigia a adição de um mês a mais para manter a consistência celestial. Finalmente, em 46 a.C., César e o astrônomo Sosigenes renovaram o calendário romano para 12 meses e 365 dias. O Calendário Juliano (45 a.C a 7 d.C.) também foi responsável pelo ano solar ligeiramente mais longo, adicionando um dia bissexto a cada três anos, após o 25º dia de Februarius. No Calendário Augustiano (8 a 1581 d.C., em nome do imperador César Augusto), correções foram feitas e o dia extra passou a ser a cada 4 anos após o 24º dia de Februarius.

O modelo romano ainda deixava um excedente anual de aproximadamente 11 minutos. Essa discrepância diminuta significava que o calendário se desviava em um dia a cada 128 anos e, no século XIV, já havia perdido 10 dias do ano solar. Para corrigir a falha, o Papa Gregório XIII instituiu o Calendário Gregoriano, revisado em 1582 para corrigir os atrasos através dos equinócios (dia e noite iguais) e estabelecer o dia extra fixo no mês de fevereiro, sendo seu 29º dia. Nesse modelo, os anos bissextos ocorrem a cada quatro anos, exceto anos uniformemente divisíveis por 100 e não por 400 (por exemplo, o ano de 1900 não foi bissexto porque era divisível por 100, mas não por 400). Este é o calendário em uso até hoje, mas ainda não é perfeito: os especialistas acreditam que as discrepâncias restantes precisarão ser resolvidas em cerca de 10.000 anos.

Cartão postal (1908)
CARREGADO DE SUPERSTIÇÕES
Para muitos, um ano bissexto é sinônimo de azar, tanto quanto uma sexta-feira 13. Uma tradução errada do termo em latim bis sextum (repetição do sexto dia), usado para se referir ao dia extra, gerou a ideia de "dois sexos". E, consequentemente, algumas lendas...

Na Irlanda, por volta do século V, Santa Brígida teria feito uma reclamação em alto e bom tom a São Patrício, questionando ao padroeiro irlandês porque as mulheres tinham que esperar tanto por um pedido de casamento. São Patrício sensibilizado "criou" a tradição para que, em todo ano bissexto, as mulheres (e não os homens como de costume) tinham o direito de escolher quem desejassem para marido!

Esse leap year chegou a ser oficializado pela Rainha Margareth da Escócia em 1288, declarando inclusive que se o escolhido não concordasse com o casamento, era obrigado a pagar uma multa de respeito ou presenteá-la com um belo e caro presente!

Cartão postal (1908)
Cartão postal (1908)
Mas alguns preferem afastar as crendices de azar e dizer que o dia 29 de fevereiro é o Dia do Sim, ou seja, toda oportunidade que surgir neste dia deve ser recebida de forma positiva sem pensar nas consequências. Na numerologia, por exemplo, o dia 29 é número 11 e, portanto, especial. É um número associado ao planeta Urano, que rege a amizade, a modernidade, a coletividade e a criatividade. Os nascidos neste dia costumam ser idealistas e visionários.

Uma mosca incomoda até os deuses!

A premiada animação russa The God (2003) mostra uma estátua de bronze de Shiva às voltas com uma mosquinha. Ou seria mais?

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Mais monstros furiosos

Novo trailer do filme Fúria de Titãs 2 traz um monte de criaturas mitológicas.



Falta pouco!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Alegorias divinas

Como eu disse, as alegorias e adereços mostraram a força dos mitos e lendas por todo o mundo, sendo capazes de se relacionar com quaisquer enredo. As mitologias africana e greco-romana e - é claro - as lendas do folclore brasileiro nunca faltam. Vejam algumas representações:

A Medusa de Caravaggio apareceu para falar das influências do pintor Romero Britto no desfile da Renascer de Jacarepaguá.
Uma integrante da Portela veio de Iemanjá no reino subaquático da Bahia de Clara Nunes.
Mães de santo vieram na comissão de frente da Portela com Milton Gonçalves representando todos os orixás.
A Bahia de Jorge Amado (da Imperatriz Leopoldinense) também teve Iemanjá representando os mares que inspiravam o autor.
Este carro da Imperatriz tinha Xangô sobre sua tartaruga e o dourado de Oxum.
A loba romana na ala da Porto da Pedra.
A quimera mitológica do abre-alas da Beija-Flor de Nilópolis.
Na comissão de frente da Beija-Flor, a serpente encantada que fica sob São Luís do Maranhão.
Acadêmicos do Salgueiro trouxe o céu, o inferno, lobisomens e mulas sem cabeça para falar da literatura de cordel.
A comissão de frente da Estação Primeira de Mangueira era um terreiro com todos os orixás.
Oxóssi veio como orixá guerreiro, protetor das florestas e do Cacique de Ramos da Mangueira.

Incrível, não? Já mostrei no blog as referências nos desfiles de 2010 e 2011. Agora é esperar a campeã de 2012 e as próximas viagens carnavalescas.

PS.: Todas as fotos são do Globo.com ou da Folha.com.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Sambas divinos

Todo ano o Carnaval do Rio traz a mitologia nos desfiles das escolas de samba. Já até mostrei fotos sobre isso em 2010 e 2011. Esse ano vou mostrar as referências nos sambas-enredo:
  • IEMANJÁ: Essa é "arroz de festa"! Dificilmente ela é esquecida. Em 2012, ela está na Portela e na Imperatriz Leopoldinense (ambas com enredo sobre a Bahia).
  • OXALÁ E OXUM: Os dois orixás aparecem no samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense sobre a Bahia de Jorge Amado.
  • XANGÔ: A Beija-Flor de Nilópolis pede luz ao orixá em seus rituais que cantam a história de São Luís do Maranhão.
  • HERA: O polêmico enredo sobre o iogurte rendeu a Porto da Pedra muitas críticas e a deusa Hera ganhou uma frase no samba-enredo e "tece o caminho das estrelas".
  • LOBA: A loba que amamentou Rômulo e Remo - ditos como filhos do deus Ares e fundadores de Roma - é citada na Porto da Pedra.
  • OXÓSSI: O orixá guerreiro protege o Cacique de Ramos e a Estação Primeira de Mangueira.
Essas são apenas as citações nos sambas-enredo, mas eu garanto que muito mais vai aparecer entre as alegorias e adereços das escolas. Por exemplo, a Vila Isabel com um enredo sobre Angola deve trazer mais coisas sobre a mitologia africana, assim como a União da Ilha - que vai falar sobre Londres - garantiu a Távola Redonda e outras histórias inglesas.

Hoje tem e amanhã continua!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

É carnaval!

Curtam bastante essa festa que tem ligações com a mitologia greco-romana e os deuses Saturno e Baco / Dionísio!

Se quiser saber mais sobre a festa clique AQUI. Tem outras postagens sobre o assunto AQUI.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O dia de São Valentim

Dia 14 de fevereiro é o dia de São Valentim (Valentine's Day) em vários países e também o Dia dos Namorados.

O bispo Valentim teria lutado contra as ordens do imperador romano Cláudio II, o Gótico, que proibia o casamento durante as guerras acreditando que os solteiros eram melhores combatentes. Além de continuar celebrando casamentos, ele mesmo teria se casado secretamente. A prática foi descoberta e Valentim foi preso e condenado à decapitação. Muitos jovens lhe enviavam flores e bilhetes de apoio. Alguns fizeram até jejum. Na prisão, ele se apaixonou por Astérias, a filha cega de um carcereiro (ou juiz), e, milagrosamente, devolveu-lhe a visão. Antes de sua execução (decapitação) no dia 14 de fevereiro de 269, Valentim escreveu uma mensagem de adeus para ela, na qual assinava "De seu Valentim" (from your Valentine).

Mas, por mais verdadeira que pareça, essa história tende a ser falsa...

A Igreja Católica chegou a considerar Valentim um mártir, mas começou a duvidar de sua identidade e de sua existência a partir de 1969. Nas mais antigas listas de mártires confeccionadas nos primeiros séculos da era cristã, existem pelo menos três santos com nome de Valentim: dois bispos sepultados em diferentes locais de Roma, e um terceiro que teria sido torturado e morto na África, todos eles lembrados em 14 de fevereiro. Estudiosos afirmam que os dados que chegaram até hoje sobre esses três supostos mártires são escassos, insuficientemente fundamentados e de data muito posterior à época em que se supõe que tenham vivido. Acreditam, então, que ao longo dos séculos esses três Valentins foram se unificando na memória popular, dando lugar assim a uma tradição a partir de alguém que de fato nunca existiu. Várias igrejas do mundo, na Espanha, Irlanda, Polônia, Itália e Grécia, afirmam ter pelo menos parte dos restos do santo.

O 14 de fevereiro também marcava a véspera da Lupercalia, festa anual celebrada na Roma antiga em honra a Juno e Fauno. Um dos rituais desse festival era a passeata da fertilidade, em que sacerdotes caminhavam pela cidade batendo em todas as mulheres com correias de couro de cabra para assegurar a fecundidade. Em 5 d.C., o Papa Gelásio I se apropriou da data para cortar os rituais pagãos, mas a associação de todos esses eventos com o amor romântico só teria acontecido após o fim da Idade Média, quando tal conceito foi formulado a partir do dia de acasalamento dos pássaros.

A primeira referência romântica que se conhece é o poema O Parlamento dos Pássaros, do inglês Geoffrey Chaucer (1343-1400). Ele relacionava o acasalamento das aves, que aconteceria perto do dia de São Valentim, a uma data particularmente auspiciosa para os amantes – amores entre damas e cavaleiros, o "amor cortês". A lenda foi crescendo e, no século 15 já se dizia que ele havia casado soldados para que não fossem para a guerra.

A Inglaterra é a grande responsável pela difusão da lenda, mas nem todos os países relacionaram São Valentim aos namorados. Na Grécia, ele é celebrado apenas como um mártir. Na Eslovênia, é o padroeiro dos criadores de abelhas. Na América Latina, o dia também vale para amigos. O costume já havia sido adotado antes da Revolução Industrial em países da Europa Ocidental. Israel tem o Dia do Amor (Tu B'Av) e a China tem o Festival do Amantes (Qing Ren Jie).

NO BRASIL, NADA DE ROMANTISMO
O conservadorismo brasileiro não permitia uma data de comemoração de namoro. O que havia era cada um em um canto do sofá, com a mãe no meio. Historiadores acreditam que somente a partir das décadas de 1920 e 1930 que o namoro começou a ser permitido. Somando isso à tradição de Santo Antônio, casamenteiro em Portugal e mencionado como mediador de parcerias, o costume de celebrar São Valentim nunca foi instalado por aqui.

Até 1948 ainda não existia data no calendário para festejar o romance entre namorados, pretendentes e apaixonados. Como o mês de junho era um mês fraco para o comércio, a extinta loja Clipper em São Paulo teria contratado uma agência de propaganda (Standart Propaganda) para melhorar suas vendas. O publicitário João Dória sugeriu, então, a mudança da data de 14 de fevereiro para 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio.

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E, assim, o Dia dos Namorados brasileiro se tornou uma data comercial, celebrada somente aqui.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Ptah

São muitos os mitos que cercam Ptah, o Grande Escultor. Na cosmogonia de Mênfis (uma das capitais do Antigo Egito), ele era o Deus Criador, filho de Nun e Naunet, espíritos dos mares primevos. Criou o mundo pelo verbo. Teria criado os primeiros deuses somente com o ato de pensar neles e dar-lhes nome.

Também teria criado outros seres a partir da pedra, da madeira e do metal, usando suas habilidades como escultor. Para os egípcios, o coração (a origem do pensamento) e a voz (o sopro de vida) eram vistos como uma prova da presença de Ptah. Por essa razão, no momento do nascimento de uma criança, gritava-se "Ptah!" e a alma (ka) passava a habitar seu corpo e a criança chorava.

Formava uma tríade divina com sua esposa Sekhmet e seu filho Nefertum. Imhotep e Maahes também eram seus filhos. Acreditava-se que o faraó Ramsés II teria sido esculpido por Ptah em metal para governar o Egito. Mas com a ascensão de outros faraós e mudança de capital do império, Ptah perdeu importância, tornando-se o Divino Artesão, patrono dos ourives, dos escultores e dos ferreiros, sendo comparado ao Hefesto grego.

Na maioria das vezes, é retratado como um homem de pele clara com uma barba curta, vestindo um sudário branco bem justo (ou poderia estar mumificado). Usa na cabeça uma calota (como um solidéu) e segura um cetro que combina o ankh (símbolo da vida), o was (representação de força e poder) e o djed (pilar da estabilidade). Muitas vezes aparece com grandes orelhas por ter fama de atender às súplicas da humanidade. É também um símbolo da fertilidade masculina.

Ptah foi associado a diversos outros deuses do panteão egípcio (Hapi, Osíris, Tatenen, Seker etc.) e ao boi Ápis. Por essa razão, muito se vê sobre ele. Encontra-se também muitos estudos que ligam sua teogonia ao que veio a ser a religião judaico-cristã, com um deus acima dos outros.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Odoyá!

Vocês já sabem que dia é hoje, certo?

Iemanjá Rainha do Mar (por Maria Bethânia)
Quanto nome tem a Rainha do Mar? Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Inaê, Sereia, Mucunã, Maria, Dona Iemanjá.
Onde ela vive? Onde ela mora?
Nas águas, na loca de pedra, num palácio encantado, no fundo do mar.
O que ela gosta? O que ela adora?
Perfume, flor, espelho e pente. Toda sorte de presente pra ela se enfeitar.
Como se saúda a Rainha do Mar? Como se saúda a Rainha do Mar?
Alodê, Odofiaba, Minha-mãe, Mãe-d'água, Odoyá!
Qual é seu dia, Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro quando na beira da praia eu vou me abençoar.
O que ela canta? Por que ela chora?
Só canta cantiga bonita, chora quando fica aflita se você chorar.
Quem é que já viu a Rainha do Mar? Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Pescador e marinheiro que escuta a sereia cantar. É com o povo que é praiero que dona Iemanjá quer se casar.


PS.: A imagem deste post faz parte do projeto Iconografias do Maranhão, coordenado por Raquel Noronha, contemporânea minha da ESDI e agora professora na UFMA.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Ebisu

Ebisu é o deus japonês dos pescadores, um dos Sete Deuses da Sorte do xintoísmo, o único de origem japonesa. Importantíssimo para uma nação insular, é responsável pela navegação segura e por uma pesca abundante, garantindo prosperidade nas negociações marítimas. É comumente associado a Daikoku, outro dos sete deuses, para garantir abundância tanto na terra quanto no mar. Inclusive, algumas lendas colocam Ebisu como filho de Daikoku.

Prém, na verdade, ele foi Hiruko, o primeiro filho de Izanagi e Izanami. A deusa Izanami teria comprometido as leis do cortejo ao falar primeiro no encontro dos deuses e, assim, seu primogênito nasceu sem ossos, parecendo um sanguessuga. Hiruko era tão monstruoso que foi abandonado ao mar em um barco de junco, onde, acabou se transformando em uma divindade. Talvez seja essa a origem do velho costume japonês dos pais comemorarem o nascimento de seus primeiros filhos, colocando uma estatueta em um barquinho de junco no mar.

É comumente apresentado como um homem gordo, sorridente e barbudo vestindo roupas formais de juiz ou as vestes de caça de um cortesão. Está sempre segurando uma vara de pescar na mão direita com um pargo vermelho preso na linha (que está na mão esquerda), simbolizando sorte. Se estiver segurando um leque, representa concessão de desejos e tomada de decisões. Diz-se que Ebisu era um pouco surdo. Assim, surgiu o costume de bater palmas antes de orar para ele a fim de ganhar sua atenção.

Por ter nascido sem ossos e superado essa condição ao se tornar uma divindade, Ebisu também é protetor das crianças que nascem com problemas e é associado às águas-vivas.

OBS.: Os outros deuses da sorte são: Benten, Bishamon, Daikoku, Fukurokuju, Hotei e Jurojin.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Cernunnos

Cernunnos é, possivelmente, a mais antiga divindade do panteão celta. Há sinais, inclusive, de que ele seja anterior às invasões celtas. Independentemente de sua origem, o Deus Cornudo (ou Galhudo, ou Cornífero), desempenha uma função importante não só por se tratar do Senhor dos Animais - domésticos e selvagens -, mas também da fertilidade e da abundância - regulando as colheitas dos grãos e das frutas - e Mestre das Caças. Ele conectava a Terra, o Céu e o Mar no centro sagrado do mundo, como a representação da Natureza. Posteriormente, foi considerado também o deus do dinheiro e, em alguns momentos, é associado ao Sol.

Segundo as lendas, Cernunnos (o princípio masculino) é filho da Grande Deusa (o princípio feminino). Ele atinge sua maturidade no solstício de verão e se apaixona pela Deusa. Ao fazerem amor, deposita toda sua força e a engravida. Quando a Deusa dá a luz no solstício de inverno, o deus morre, pois foi ele mesmo que renasceu. É a representação da passagem das estações. Um símbolo do poder natural da vida e da morte.

Essa relação incestuosa foi substituída por outra lenda, registrada por um poeta. Nela, Cernunnos nasceu da Grande Deusa sem seus chifres. Atingiu sua maturidade no verão e se apaixonou por Epona. Com ela se casou e ambos reinavam no subterrâneo - onde encaminhavam as almas. Porém, Epona precisava vir à Terra cumprir suas funções de deusa da fertilidade, lembrando a história de Hades e Perséfone. Num desses momentos, Epona o traiu e uma galhada começou a nascer na cabeça do deus. Daí viria a ligação entre traíções e chifres.

Sua primeira representação conhecida está presente em uma gravação sobre rocha datada do século IV encontrada no norte da Itália. Aparece como um ser de aspecto antropomorfo, dotado de dois chifres de cervo na cabeça e dois torques em cada braço. O torque - espécie de argola aberta torcida com as extremidades em forma de esferas - é um atributo de poder e realeza utilizado no pescoço ou nos braços pelos grandes chefes e guerreiros mais destacados para que fossem identificados como mestres na sociedade celta.

Ao lado desta imagem estava desenhada uma serpente com cabeça de carneiro - símbolo de renascimento e sabedoria. Acreditava-se, então, que Cernunnos poderia tomar a forma deste animal. Frequentemente é representado acompanhado por animais, principalmente cervos e touros, que se alimentam de um grande saco que tem em seu poder, ou por serpentes que se alimentam da fruta oferecida entre suas pernas. Em algumas ocasiões - como no caldeirão Gundestrup (foto) encontrado na Dinamarca -, aparece sentado de pernas cruzadas.

Os deuses com chifres são sempre identificados como entidades de sabedoria e de poder. Na Antiguidade, tais protuberâncias cefálicas podiam ser levadas apenas pelos mais viris, dotados de valor, honra, masculinidade etc. É possível que a idéia de "coroa real" venha daí. Um conto popular gaélico fala sobre viajantes que ganharam chifres ao comerem maças da floresta de Cernunnos. Após mordê-las, chifres cresceram em suas testas e eles passaram a compreender muitas coisas que aconteciam ao redor do mundo. Uma lenda escocesa afirma que chifres apareciam na cabeça dos melhores guerreiros. Os vikings são popularmente conhecidos por seus elmos com chifres, mas eles nunca levavam adornos semelhantes aos combates, pois isso seria um grande incômodo. Na verdade, utilizavam capacetes lisos e práticos, quase sem ornamentos. Os famosos capacetes com chifres eram utilizados apenas em cerimônias religiosas.

Cernunnos foi muito adorado entre os povos celtas da França (Gália) e da Grã-Bretanha - onde foi associado a Belatucadnos, um deus da guerra. Os gregos associavam-no a , mas os romanos o relacionaram a Mercúrio. Na Irlanda medieval, os chifres de Cernunnos foram transferidos ao Diabo, dando forças ao cristianismo contra o paganismo.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Thor: Filho de Asgard

Hoje trago a vocês a animação Thor: O filho de Asgard (Thor: Tales of Asgard, 2011, 77') É uma animação feita pela Marvel e, portanto, sua mitologia é mais próxima aos quadrinhos e ao filme. Mesmo assim, são interessantes as referências mitológicas. A sinopse é a seguinte:
Antes de erguer seu poderoso martelo, um jovem Thor sai em busca da lendária espada perdida de Surtur pelos Nove Reinos. Faminto por aventura, Thor secretamente embarca na viagem da sua vida, acompanhado por seu fiel irmão Loki, um feiticeiro do bem com um talento especial para evitar conflitos. Com eles também estão os três guerreiros lendários - Fandral, Hogun e Volstaag - e a bela Sif, que formam um grupo de viajantes poderosos. Mas o que parecia uma inofensiva caça ao tesouro torna-se rapidamente uma aventura perigosa. Agora Thor, tem de mostrar-se digno de seu destino, tendo que defender Asgard dos Gigantes do Gelo.



Apesar de agradar aos fãs de HQs, é um excelente começo para os jovens interessandas na mitologia escandinava. São raras as mitologias que contam a juventude de seus deuses e essa animação cria uma história fictícia sem fugir de importantes pontos. Estão lá os Nove Reinos (principalmente Asgard, Jotunheim e Svartalfheim), as relações familiares entre Odin, Thor e Loki, além de Thrym, Heimdall, Brunhilda e as Valquírias. Até Sleipnir (o cavalo de oito patas de Odin) e a carruagem do trovão puxada pelos carneiros Tanngnostr e Tanngrisnir. Vale a pena!

sábado, 14 de janeiro de 2012

CORREÇÃO: Polinésia e as ilhas do Pacífico


A partir de agora, vocês verão aqui ao lado a lupa de Mitologia Polinésia, que, na verdade, é uma correção. Este blog começou com a lupa de Mitologia Havaiana, que depois mudou para Mitologia Maori, mas ambas as denominações eram incompletas.

Polinésia vem do grego "muitas ilhas". É um arquipélago de origem vulcânica (as maiores) e coralina (as menores) no Oceano Pacífico estendido sobre uma superfície de 298 mil km² de área e 4,5 milhões de habitantes. A maior parte das ilhas pertence aos Estados Unidos (Havaí, Atol de Midway e Samoa Americana), à Nova Zelândia (Ilhas Cook e Tokelau), à França (as Ilhas Marquesas, Tuamotu, Tubuai e as ilhas que formam a Polinésia Francesa) e ao Chile (Ilha da Páscoa, Sala e Gómez). É possível que ainda aparecam nesta lupa mitos da Micronésia e da Melanésia, outros arquipélagos do Pacífico.


Percebe-se, então, porque usar somente o Havaí como referência é diminuir uma cultura tão vasta. Assim como, usar Maori, que é o nome de um povo nativo da Nova Zelândia.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Oro

Representação da lança de Oro
em madeira e fibra vegetal.
(Museu Britânico, séc. XVIII)
Oro era o deus da guerra em várias ilhas do Pacífico (como o Taiti). Filho dos deuses Ta-Aroa e Hina, gostava de lutas sanguinárias e acompanhava os homens nos combates. Só sossegava com sacrifícios humanos. Em períodos de paz, entretanto, tinha aspecto mais calmo e era chamado de Oro-i-Te-Tea-Moe ("Oro da Lança em Repouso").

Quando decidiu se casar, Oro criou um arco-íris entre o céu e a terra e o atravessou até um lugar conhecido como Montanhas Vermelhas. Lá conheceu Vai-Raumati, filha de Ta'ata, o primeiro homem, e a fez sua esposa. Com ela, teve três filhas que adoravam provocá-lo para que ele continuasse irritado: Toi-Mata ("Olho de Machado"), Ai-Tupuai ("Comedora de Cabeças") e Mahu-Fatu-Rau ("Fuga de centenas de pedras"). Seu único filho, Hoa-Tapu ("Amigo Fiel"), tornou-se um grande governante, apesar de não gostar ser contrariado.

Nas Ilhas Cook, dizia-se que Oro era filho de Tangaroa e seu temperamento era um pouco diferente.

Oro também era patrono de um culto taitiano de artistas e animadores chamado Areoi. Os sacerdotes do culto honram o deus com festivais que incluem ofertas públicas de penas vermelhas e do sacrifício de porcos jovens.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia de Reis

Obra de Andrea Mantegna (entre 1495 e 1505)
Segundo a mitologia cristã, hoje (6 de janeiro) teria sido o dia em que um recém-nascido Jesus Cristo recebera a visita de três reis vindos do Oriente com presentes. Seriam eles:
  • MELCHIOR ("meu Rei é luz"), um senhor de aproximadamente setenta anos, calvo com cabelos e barbas brancas, que veio da Mesopotâmia e entregou-Lhe ouro em reconhecimento a Sua realeza;
  • GASPAR ("aquele que vai inspecionar"), um robusto rapaz de uns vinte anos que veio de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio e entregou-Lhe incenso em reconhecimento a divindade e espiritualidade de Jesus como sacerdote; e
  • BALTASAR ("Deus manifesta o Rei"), um mouro, de barba cerrada e uns quarenta anos, que veio da região do Golfo Pérsico e entregou-Lhe mirra em reconhecimento a humanidade, mesmo que fosse um símbolo de imortalidade, já que era usada para embalsamar corpos.

Adoração aos Magos
obra de Murillo (entre 1655 e 1660)
Como se pretendia dizer que representavam os reis de todo o mundo, precisavam ser das três raças humanas (consideradas existentes na época) e em idades diferentes. Não se tem certeza se eles seriam reis, mas talvez sacerdotes ou conselheiros persas com habilidades em astronomia, pois, segundo consta, viram uma estrela e foram, por essa razão, até a região onde nascera Jesus. Passaram a ser reverenciados como santos a partir do século VIII.

Apenas três presentes foram registrados no Evangelho segundo Mateus, então, diz-se tradicionalmente que tenham sido apenas três, embora haja um número específico. Desses presentes, surgiu a tradição de trocar presentes no Natal para celebrar o nascimento de Jesus. Em alguns países de língua espanhola, os presentes são trocados no dia 6 de janeiro e os pais se fantasiam de reis.

Nesta data, também se encerram os festejos natalícios, sendo o dia em que são desarmados os presépios e as árvores de Natal. A noite do dia anterior (5 de janeiro) e madrugada do dia 6 é conhecida como Noite de Reis.

Bolo de Reis preparado na
Pâtisserie Douce France, em São Paulo
(Fotos: Folha de São Paulo)
Nesta época do ano, discos de massa folhada recheados de frangipane (pasta de manteiga, açúcar, ovos e farinha de amêndoa) ganham as ruas de Paris. Robusto e consistente, esse doce é chamado de galette de rois ou bolo de reis. A tradição diz que uma coroa dourada deve acompanhar o bolo. Ela será entregue a quem encontrar, em sua fatia, o brinde oculto em seu interior (geralmente uma estatueta). Depois de "coroado", o rei/rainha deve continuar o costume e oferecer um novo bolo aos seus companheiros. Em alguns locais, incrementa-se a massa do bolo com vinho do Porto, ou decora-se com laranja, cidra e figo cristalizados. No México católico é servido uma rosca recheada com frutas cristalizadas, acompanhada de uma xícara de chocolate quente.

Em alguns países, é estimulada entre as crianças a tradição de, antes de dormir, se deixar sapatos na janela com capim (ou outras ervas) para que os camelos dos Reis Magos possam se alimentar e retomar viagem. Em troca, eles deixariam doces. Em Portugal, é costume "cantar os reis" de porta em porta para receber guloseimas. Há ainda festivais com Companhias de Reis (grupo de músicos e dançarinos) que cantam músicas referentes ao evento. No Brasil, são conhecidos como Folia de Reis ou Terno de Reis.

A simpatia mais conhecida do dia é a das sementes de romã - que muitas vezes é feita no dia de Natal e/ou na virada dos anos:
  1. Pegue 3 sementes para cada rei (total de nove sementes).
  2. Faça um pedido para cada um dos reis (total de três pedidos).
  3. Jogue três semente pra trás, coma três e guarde outras três na carteira.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

1+1 = Nós!

Na Numerologia, o 2 é um número de colaboração. Prega a harmonia e o equilíbrio. Ao mesmo tempo, é da dualidade, da polaridade e dos conflitos que podem ser construtivos ou destrutivos. É também o número de anos que este humilde blog está no ar! Por essas razões, estou abrindo o e-mail mitographos@gmail.com para que todos possam se comunicar comigo, trocando informações, sugestões, críticas e muito mais sobre as mitologias de todo o mundo.

E assim começa 2012, ano de Xangô, do Dragão de Água e dos deuses da Lua!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O calendário Maia e o fim do mundo

O ano de 2012 é um ano Maia. Afinal... é por causa da civilização maia que só se fala em fim do mundo no dia 21/12/2012.

Os maias não foram os primeiros a usarem um calendário, mas o deles é bem complicado de se entender, até porque, na verdade, são vários calendários que são combinados e utilizados de forma diferente! Mas, graças à exatidão desses calendários - os mais perfeitos entre os povos mesoamericanos -, os maias eram capazes de organizar suas atividades cotidianas e registrar simultaneamente a passagem do tempo, historiando os acontecimentos políticos e religiosos que consideravam cruciais. Eles acreditavam que o deus Itzamna ensinara aos maias primordiais a ciência do calendário.

Estudiosos acreditam que eles estabeleceram um dia zero* em 13 de agosto de 3113 a.C., mas não se sabe o que aconteceu para isso**. A partir deste dia os ciclos - contados de vinte em vinte, ou integrados por cinqüenta e dois anos - se repetiam e dominavam a linearidade do tempo. Podiam acontecer coisas diferentes nas datas de cada ciclo, mas cada seqüência era exatamente igual à outra, passada ou futura. Na perspectiva maia, passado, presente e futuro estão em uma mesma dimensão. Essa concepção circular do tempo, atrapalha os estudiosos. Por exemplo, a invasão tolteca do século X se confunde nas crônicas maias com a invasão espanhola que ocorreu 500 anos depois.

O calendário Tzolkin foi o primeiro a ser utilizado pelos maias. A divisão em trezenas de 20 dias (260 no total) pode ser pelo tempo da gestação humana (pouco mais de 8 meses), pelas Plêiades ou pelo cultivo do milho. Os números 13 e 20 eram importantes na cultura maia: 20 é o número de dedos (possivelmente eles usavam tanto os das mãos quanto os dos pés para contar) e 13 é o número de juntas do corpo (um pescoço, dois ombros, dois cotovelos, dois pulsos, dois quadris, dois joelhos e dois calcanhares) e o número de níveis do Paraíso onde os deuses reinavam. Para entender seu funcionamento, pense em duas engrenagens trabalhando em conjunto: uma possui os hieróglifos correspondentes aos 20 dias e outra os números de 1 a 13. Este calendário era considerado sagrado porque determinava as caracterísitas das datas de nascimento (como um horóscopo), as datas de cultivo, das chuvas e de cerimônias religiosas.

O calendário Haab - equivalente ao dos antigos egípcios e com algumas semelhaças ao gregoriano (o nosso) - se baseia no ano solar, ou seja, o tempo que a Terra leva para dar a volta no Sol. Era o caledário civil, utilizado para a agricultura e para a economia. Também era dividido em 20 dias, mas em 18 períodos, totalizando 360 dias. Ao perceberem que esse total de dias não completava o ano solar, os maias criaram o mês Uayeb, os "cinco dias sem nome" conhecido por ser o período de descanso dos deuses e, portanto, uma época de muitos perigos e mau agouro. Os portais entre o reino mortal e o submundo se dissolviam, e nenhum limite impedia que deidades mal-intencionadas causassem desastres. Os maias realizavam cerimônias durante o Uayeb na esperança de que os deuses retornassem. Por exemplo, as pessoas evitavam sair de casa e não lavavam ou penteavam os cabelos.

Os hieróglifos correspondentes aos 18 períodos (meses) do Haab mais o Uayeb.

Para prevenções e registro histórico, os maias queriam um calendário maior, pois o Tzolkin e o Haab eram menores que um ano. Então, combinados, esses dois calendários ofereciam 18.890 dias únicos, um período de tempo de cerca de 52 anos, que era suficiente para identificar uma data para a satisfação da maior parte das pessoas, já que era muito acima da expectativa de vida geral da época. Esse Ciclo de Calendário foi o mais longo da Mesoamérica. O fim de cada Ciclo de Calendário era um período de tensão e má sorte entre os maias, que faziam rituais para ver se os deuses concederiam outro ciclo de 52 anos.

Os maias queriam registrar a história de sua civilização para as gerações futuras. Para isso, precisavam de um calendário que os levaria através de centenas ou até milhares de anos. Aqui entra o Katun, o Calendário de Longa Contagem, ou o Grande Ciclo, que dura aproximadamente 5125 anos! Sua divisão é diferente, feita da seguinte forma:
  • kin (1 dia)
  • winal (20 dias ou 20 kins)
  • tun (360 dias ou 18 winals)
  • katun (7200 dias ou 20 tuns ou 19,7 anos)
  • baktun (144 mil dias ou 20 katuns ou 394,3 anos)
  • pictun (20 baktuns ou 7885 anos)
  • calabtun (20 pictuns ou 157.704 anos)
  • kinchiltun (20 calabtuns ou 3.154.071 anos)
  • alutun (20 kinchiltun ou 63.081.429 anos, período próximo ao desaparecimento dos dinossauros)

A interpretação incorreta deste calendário forma a base da crença em um cataclismo que determinaria o fim do mundo no dia 21 de dezembro de 2012***. Esta data é apenas o último dia do 13º baktun (data 13.0.0.0.0), ou seja, o fim de um ciclo e não o fim dos tempos. Mas os maias acreditavam que, no final de cada ciclo pictun o universo era destruído e recriado. Portanto, marquem nas agendas: o fim do mundo será em 12 de Outubro de 4772!

Ainda haveria dois outros importantes calendários: do Ciclo Lunar (trezes de 28 dias) e do Ciclo Venusiano (com 584 dias). Muitos eventos nestes ciclos eram vistos como sendo inauspiciosos e perniciosos. Ocasionalmente, as guerras e coroações eram planejadas para coincidir com estágios destes ciclos. Outros ciclos, combinações e progressões de calendários menos prevalentes ou pouco compreendidos, também eram seguidos, como uma contagem de 819 dias que aparece em algumas poucas inscrições e intervalos de 9 e 13 dias associados com diferentes grupos de deidades, animais e outros planetas.

Entenda melhor o funcionamento desses calendários na Wikipedia, no How stuff works e no blog Doismiledoze.

* Acredita-se que o Maias tenham criado o número zero, representado por uma concha!
** Não se tem certeza se foi 11, 12 ou 13 de agosto. Essas informações estão no Código Dresden, um dos quatro documentos mais que sobreviveram à Inquisição.
*** O filme 2012, sobre o fim do mundo, usa a data 23 de dezembro por causa de uma pedra encontrada no México. Mas essa pedra, na verdade, acaba provando que o mundo passa dessas datas apocalípticas.