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sábado, 12 de maio de 2012

Negrinho em quadrinhos

O quadrinista - sempre produtivo - André Diniz já tem uma nova HQ chegando às livrarias: é sua adaptação da lenda d'O Negrinho do Pastoreio. O autor não quis ficar preso à narrativa original, que mostra o garoto escravo como coitado:
"Decidi adaptar a lenda justamente por não gostar dela! Não me conformei com a passividade do personagem da lenda. O meu 'Negrinho' é tudo, menos um coitado. Ele tem personalidade e iniciativa. Tem vaidade, mas abre mão dela em troca do que acha justo, num gesto heroico. Dei ao personagem o tempero que julguei que faltava".
Sua arte segue o estilo de desenho que vem fazendo em seus outros graphic albuns sobre a cultura afro-brasileira, como O Quilombo Orum-Aiê, A Cachoeira de Paulo Afonso e O Morro da Favela.


A HQ de 64 páginas sairá pela Editora Ygarapé ao valor de R$23.
(Via Omelete)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Odoyá!

Vocês já sabem que dia é hoje, certo?

Iemanjá Rainha do Mar (por Maria Bethânia)
Quanto nome tem a Rainha do Mar? Quanto nome tem a Rainha do Mar?
Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Inaê, Sereia, Mucunã, Maria, Dona Iemanjá.
Onde ela vive? Onde ela mora?
Nas águas, na loca de pedra, num palácio encantado, no fundo do mar.
O que ela gosta? O que ela adora?
Perfume, flor, espelho e pente. Toda sorte de presente pra ela se enfeitar.
Como se saúda a Rainha do Mar? Como se saúda a Rainha do Mar?
Alodê, Odofiaba, Minha-mãe, Mãe-d'água, Odoyá!
Qual é seu dia, Nossa Senhora?
É dia dois de fevereiro quando na beira da praia eu vou me abençoar.
O que ela canta? Por que ela chora?
Só canta cantiga bonita, chora quando fica aflita se você chorar.
Quem é que já viu a Rainha do Mar? Quem é que já viu a Rainha do Mar?
Pescador e marinheiro que escuta a sereia cantar. É com o povo que é praiero que dona Iemanjá quer se casar.


PS.: A imagem deste post faz parte do projeto Iconografias do Maranhão, coordenado por Raquel Noronha, contemporânea minha da ESDI e agora professora na UFMA.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Canto de Oxum

Prestando homenagens a Oxum em seu dia (8 de dezembro), ouçam Canto de Oxum, de Toquinho e Vinícuis de Moraes:
Nhem-nhem-nhem / Nhem-nhem-nhem-xorodô / Nhem-nhem-nhem-xorodô / É o mar, é o mar / Fé-fé xorodô...
Xangô andava em guerra, / Vencia toda a terra, / Tinha ao seu lado Iansã / Pra lhe ajudar.
Oxum era rainha, / Na mão direita tinha / O seu espelho onde vivia / A se mirar.
Quando Xangô voltou, / O povo celebrou. / Teve uma festa que / Ninguém mais esqueceu.
Tão linda Oxum entrou, / Que veio o rei Xangô / E a colocou no trono / Esquerdo ao lado seu.
Iansã apaixonada / Cravou a sua espada / No lugar vago que era / O trono da traição.
Chamou um temporal / E no pavor geral / Correu dali gritando / A sua maldição (Epahei Iansã!)

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Guaraná


Uma lenda conta que um casal de nativos pertencente a tribo Maués vivia junto por muitos anos sem ter filhos mas desejava muito ser pais. Um dia eles pediram a Tupã para dar a eles uma criança para completar aquela felicidade. Sabendo que o casal era cheio de bondade, o deus lhes atendeu o desejo trazendo a eles um lindo e inteligente menino chamado Alupá.

A partir de seu nascimento, os Maués venciam todas as guerras, as pescas eram ótimas e a doença era rara. Eles acreditavam que o bem-estar da tribo vinha do bonito e generoso curumim e, por essa razão, ele era o mais protegido de todos.

Porém, qualidades tão boas despertaram a inveja e o ódio de Jurupari, uma entidade do mal, que tomou a forma de uma serpente e deu um bote certeiro em Alupá, quando ele colhia frutos na floresta. A tribo entrou em lamentação e desespero. Trovões ecoaram nos céus.

Pintura em seda de Laila Bastos Andrade Guimarães
Tupã atendeu a todo aquele lamento e pediu que a tribo plantasse os olhos do curumim e os regasse com lágrimas durante 4 luas. Deles nasceria uma planta que daria força aos jovens e revigoraria os velhos, trazendo a felicidade de volta. Os pajés não duvidaram e fizeram o ordenado. Nasceu, então, uma nova planta com hastes escuras e sulcadas como os músculos dos guerreiros da tribo. Quando ela frutificou, seus frutos eram de negro azeviche, envoltos de um arilo branco com duas cápsulas de cor vermelho-vivas, que os nativos diziam ser "os olhos do príncipe". Era o Guaraná (do tupi wara’ná).

Outra lenda diz que existiam três irmãos: Okumáató, Ikuamã e Onhiamuaçabê, que era mulher solteira e cobiçada por todos os animais da floresta, causando ciúmes aos irmãos que a queriam sempre como companhia por causa dos conhecimentos que possuía sobre plantas medicinais. Certo dia, uma cobra ficou à espreita no caminho da "índia" e a tocou levemente em uma das pernas, engravidando-a. Mais tarde, nasceu um curumim bonito e forte. Na idade de entender as coisas, o curumim ouviu da mãe que, ao senti-lo no ventre, plantara para ele uma castanheira no Noçoquém (lugar sagrado onde ficavam todos os animais e plantas úteis), mas que seus irmãos tomaram o terreno e a expulsaram por causa da gravidez. O curumim, então, decidiu comer as castanhas, mas o lugar estava sob a guarda da cutia, da arara e do periquito – que avisaram aos irmãos. No dia seguinte, quando o pequeno curumim voltou, seus tios o esperavam para matá-lo. Pressentindo a morte do filho, Onhiamuçabê correu para defendê-lo, mas o curumim já havia sido decapitado. Desesperada, sobre o cadáver da criança jurou dar continuidade à sua existência. Arrancou-lhe o olho esquerdo e o plantou na terra. O fruto desse olho não prestou: era o guaraná-rana (guaraná falso). Em seguida, arrancou-lhe o olho direito e deste nasceu o verdadeiro guaraná. E como o sentisse vivo ainda, exclamou: “tu, meu filho, serás a maior força da natureza; farás o bem a todos os homens e os curarás e livrarás das doenças”.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Saci

O Saci de Ziraldo.
Dia 31 de outubro é conhecido mudialmente como o Dia das Bruxas, mas aqui no Brasil também é o Dia do Saci.

Famoso por aprontar com todo mundo, o Saci é uma entidade fantástica brasileira que tem sua origem em mitos tupi-guarani. Os tupis contavam a história de Matitaperê, um curumim perneta de cabelo-de-fogo que protegia as florestas. Sua função era de guardião das sabedorias e técnicas de preparo e uso de beberagens e medicamentos feitos a partir de ervas medicinais. A ele também era atribuído o domínio das matas e costumava confundir as pessoas que não pediam a ele a autorização para a coleta destas ervas. Já os guaranis falavam de Cambai (ou Cambay), um pequeno "índio" de perna torta (viria daí a expressão "cambaio", que significa manco) com o poder de se tornar invisível, que vivia nos bosques e protegia os animais, escondendo-os dos caçadores.

A ave saci (Tapera naevia)
Alguns crêem que ele ou é filho do Curupira ou um mistura de lendas entre esses seres. Alguns o identificam como um pequeno pássaro de mau agouro que pula numa perna só, o Saci, e seu nome seria uma onomatopéia do pio desta ave. Feiticeiros e pajés se transformam nesse pássaro para se transportarem de um lugar para outro e exercerem suas vinganças.

O píleo.
Os colonizadores portugueses achavam que o Saci era um duende idealizado pelos nativos brasileiros como um apavorante guardião das florestas que perturbava o silêncio da mata com assovios estridentes e encantava crianças e adultos. Carregava um bastão mágico, como uma varinha de condão. Como foi difícil encontrar um nativo brasileiro com cabelos vermelhos, os portugueses acharam que ele na verdade usava um píleo, um chapéu cônico muito usado na Europa ou o barrete frígio, símbolo da liberdade adotado pelos republicanos franceses que lutaram pela queda da Bastilha, em 1789.

Quando os escravos africanos chegaram ao Brasil, a lenda do Saci foi mesclada às histórias sobre os povos Pigmeus. Assim, o Saci tornou-se o negrinho travesso com uma perna só que todos nós conhecemos: vivia fumando cachimbo e usava um gorro vermelho mágico capaz de transformá-lo em um redemoinho de vento. Ele se faz anunciar por um assobio estridente. Ainda é dito que possui orelhas pontudas, olhos alaranjados e mãos furadas.

Suas travessuras favoritas são perseguir viajantes pedindo fumo ou criando armadilhas, esconder objetos domésticos e espantar o gado. Também gosta de montar em cavalos para trançar a crina e o rabo, e surra-los até a exaustão. As galinhas costumam ser suas vitimas: gosta de jogá-las pra cima e chacoalhar os ovos até gorarem. Mas o Saci não atravessa água corrente.


Essas características o fizeram ser sincretizado com o Capeta, dando a ele medo de imagens de santos e rosários. Rezando um credo, a entidade desapareceria numa fumaça vermelha para sempre. Mas o Saci nunca foi uma entidade maldosa, somente brincalhona. Em alguns lugares, como às margens do rio São Francisco, adquiriu duas pernas e a personalidade de um demônio rural que gosta de enganar pessoas. É o famoso Romão ou Romãozinho. Na zona fronteiriça ao Paraguai, ele é um anão loiro do tamanho de um menino de 7 a 8 anos, que gosta de roubar criaturas dos povoados e largá-las em lugar de difícil acesso.

Existem duas formas de se capturar o Saci: pegando seu gorro mágico ou prendendo-o em uma garrafa quando ele está transformado em vento. Essa segunda opção lembra as histórias sobre os gênios arábicos, uma vez que, capturado, o Saci passa a receber ordens de seu dono.

Em 1917, Monteiro Lobato propôs a abertura de um inquérito sobre a existência do Saci-Pererê. Através do jornal O Estado de São Paulo, pediu aos leitores que enviassem cartas contando suas experiências sobre o mito do Saci-Pererê. Esse material rendeu o livro O Sacy-Pererê, resultado de un inquérito. Em 1921, Monteiro Lobato popularizou a lenda ao escrever o livro O Saci, onde Pedrinho consegue capturar o negrinho. Em troca de liberdade, ele leva o menino para uma aventura, onde conhece outros seres míticos brasileiros. O sucesso da publicação transformou o Saci em um personagem de seu Sítio do Pica-pau Amarelo.

Ilustração de José Wasth Rodrigues para a capa do "Inquérito" e nanquim de Monteiro Lobato para o livro "O Saci".

É ainda chamado de Maty, Matin, Matinta-Pereira, Mati-Taperê, Taperê, Yaci-Yaterê e Sá Pereira.

A MANUTENÇÃO DA LENDA
No final dos anos 1990 um grupo de pessoas, preocupadas com a quase extinção do saci, criou a Ancsaci, Associação Nacional dos Criadores de Saci. Sediada em Botucatu (SP), e tendo como patrono Monteiro Lobato, partia do princípio de que cada vez que você conta uma história de saci para uma criança, você está criando um novo saci, e assim ele se perpetua. O movimento se expandiu nos meios acadêmicos, propícios a embates culturais. Em Botucatu, teve Festival Nacional do Saci, que acontece todo mês de agosto. Em outras cidades foram criados núcleos de defesa do folclore, envolvendo educadores, artistas e simpatizantes. Várias escolas, ocupadas pela invasão do Halloween, de origem americana, fizeram ações de recuperação do saci, com bons resultados.

Em 2003 foi fundada a Sosaci – Sociedade dos Observadores de Saci, no município de São Luiz do Paraitinga (SP), que criou o Dia do Saci, sendo seguido por outros, no dia 31 de outubro (data do Halloween) como data de combate aos estrangeirismos, simbolizado pelo simpático perneta.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Mitologia em quadrinhos digital e nacional!


O jovem nerd Társio viaja até Paraty para assistir a entrevista com seu ídolo na Flip (a famosa Feira Literária Internacional de Paraty), o quadrinista e escritor Noah Gaiman (Noah mesmo, e não Neil - o verdadeiro). Após a palestra, ele sofre uma desilusão amorosa e decide afogar as mágoas nas ótimas cachaças locais. Esse erro joga o jovem em uma série de eventos que ele jamais esperaria. Ele não consegue passagens para retornar ao Rio de Janeiro, onde mora, e não tem dinheiro para se hospedar na cidade. Sua única alternativa é um misterioso indivíduo que habita naquelas paragens, o sombrio Luiz Pinga. Mas, como um demônio, Luiz não presta favores sem uma contrapartida a altura. Társio se vê envolvido numa trama sobrenatural que vai muito além de toda a realidade. A trama envolve mitologias, magia e mistério e o destino dos próprios deuses.

Essa é a sinopse da revista em quadrinhos digital Mitologias, produzida por Luiz Augusto de Souza (roteiro e desenhos), Ulisses Teixeira (roteiro), Leonardo Bartolo (roteiro), Regina Alonso (capista) e Giu Alonso (revisão e produção editorial) – ou seja, produto 100% nacional! A revista sai pelo selo Atitude Independente dos roteiristas, que busca ser uma alternativa na produção e distribuição on line de quadrinhos gratuitos para entretenimento e diversão. Até agora são três edições, mais a edição #0 que funciona como uma preparação para o clima mitológico. Você pode ver as capas ao lado. Prestigiem essa iniciativa e mergulhem nesse novo universo mitológico!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

É lenda!


Cinco lendas brasileiras foram abordadas no encarte Globinho do último sábado, num período do ano que o folclore nacional é festejado. Vou transcrever aqui a interessante matéria de Leonardo Cazes com ilustrações de André Melo:
Desde muito, muito tempo atrás, os homens criam histórias para tentar compreender as coisas ao seu redor. Por que a Lua possui quatro fases? Como surgiu o guaraná? Se hoje temos o Google para tirar nossas dúvidas, eles contavam apenas com a própria imaginação. E assim nasceram as lendas, transmitidas de pai para filho por gerações, até os tempos atuais.

No Brasil, houve uma grande mistura de lendas dos índios, que já viviam aqui, com outras africanas e europeias trazidas pelos escravos e colonizadores. Alguns personagens ficaram mais conhecidos, como a Cuca e o Saci Pererê, principalmente por sua divulgação na obra de Monteiro Lobato. Mas existem muitas outras, como o Carbúnculo e o Uirapuru, que você pode conhecer melhor aqui ao lado, em resumos que fizemos a partir do livro "As 100 melhores lendas do folclore brasileiro".

O autor da obra, A. S. Franchini, explica que as lendas brasileiras tem um papel parecido com a mitologia na Grécia Antiga, pois são uma forma de interpretar o mundo. Há milhares de anos, por exemplo, quando uma chuva alagava toda a cidade, os gregos acreditavam que era um castigo dos deuses, chateados com as atitudes dos homens na Terra.

— As lendas brasileiras são, de certo modo, a nossa mitologia, já que lidam com divindades indígenas e com mitos que falam da nossa nacionalidade. Todos lidam com os mesmos temas, comuns a todas as raças e povos, como amor, morte, sobrevivência, ambição, generosidade - explica Franchini.

Se você já escutou mais de uma versão sobre uma lenda, não se assuste. Essa é, inclusive, uma de suas características. Por serem transmitidas oralmente, elas assumem diferentes formas de acordo com a época e o lugar.

— Isso não só é natural e inevitável, como vital para a sobrevivência das lendas - diz o autor.

CARBÚNCULO
Ele é um lagarto mágico que, reza a lenda, vive no Rio Grande do Sul e possui um diamante na cabeça. O carbúnculo tem o poder de dar riqueza infinita a quem o possui e, à noite, transforma-se em uma bela mulher. Até hoje ele vive com seu único dono, um ex-sacristão, nos morros que ficam na divisa do Brasil com o Uruguai.

A ESCADA DE FLECHAS
Os índios kaigangs contam que seus ancestrais construíram uma escada de flechas pra chegar aos céus. O objetivo era fugir das onças que aterrorizavam a aldeia. O deus Tupã até ajudou, criando degraus de cipó. Mas, quando os índios foram subir, viram que os felinos já estavam lá em cima. Para evitar que as onças descessem e fizessem mais vítima, um casal valente foi até o céu, cortou a escada e nunca mais foi visto.

UIRAPURU
Moema e Juçara eram muito amigas, mas disputavam o amor de Peri, o índio mais bonito da aldeia. Para decidir com quem se casaria, ele sugeriu um duelo: quem acertasse com uma flecha o pássarp apontado por ele, seria sua esposa. Juçara venceu, e Moema fugiu para a mata, lamentando. O deus Tupã, com pena dele, resolveu transformá-la numa ave que teria o canto mais belo, o Uirapuru, que em tupi significa "pássaro que nao é pássaro". Quando o Uirapuru canta, a floresta toda fica em silêncio.

NEGRINHO DO PASTOREIO
Negrinho era um escravo encarregado de cuidar dos cavalos de um fazendeiro. Os animais são roubados, o menino leva uma surra e é obrigado a procurar os bichos. Sem sucesso, leva outra surra e morre. O fazendeiro manda, então, jogar o corpo num formigueiro. Dias depois, quando volta ao local, vê o garoto, sem nenhum machucado, se levantar e montar um cavalo. Daí em diante, o Negrinho vaga pelos campos e ajuda pessoas a encontrar coisas perdidas. Essa lenda prega contra a escravidão.

POR QUE ONÇA NÃO GOSTA DE GENTE?
Os índios kayapós explicam de uma maneira curiosa o porquê das onças não gostarem de gente. Na sua tradição, os animais dominavam o fogo e o arco e flecha, ainda desconhecidos pelos indígenas. Um dia, uma onça levou um índio até sua casa e ensinou a ele tudo o que sabia. Ambicioso, este voltou para a aldeia, contou o que aprendeu e voltou para roubar toda a carne que o animal tinha caçado com seus instrumentos. Reza a lenda que o bicho nunca aceitou a trição, e passou a perseguir os homens.
Bem legal! Não só as lendas (não conhecia algumas) como o texto todo!

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Mudando um pouquinho...

Está difícil manter uma regularidade por aqui... às vezes, os bons ventos me ajudam. Mas vou tentar me compromissar com pelo menos uma postagem por semana. Enquanto isso, percebam algumas novidades... (além do visual, né?)
  • Agora aí em cima temos duas abas (Biblio+Graphos e +Links) que possuem livros e sites que foram usados para fazer as postagens deste site. Anteriormente, estas informações ficavam na lateral do blog e ficavam meio atravancadas e perdidas. Com isso, ganham o devido destaque.
  • Outra modificação é na lupa de Mitologia Africana. No início, era chamada de Mitologia Afro-Brasileira, considerando que muitas lendas africanas se mesclavam nas religiões negras de nosso país. No entanto, também existia a lupa para Mitologia Brasileira, onde estavam as lendas de nosso folclore, mais voltadas para a cultura "indígena". Resolvi, então, renomear tal lupa: a partir de agora, histórias que pertençam tanto a mitologia brasileira quanto a africana receberão as duas tags e serão encontradas pelas duas lupas. Garanto que sua pesquisa ficará bem mais rica.
É válido lembrar que cada postagem nova tem seus links revistos: se uma postagem nova se relaciona com uma postagem antiga, haverá links entre elas, ou seja, a postagem antiga ganhará um link para a nova postagem. Caso mais alguma modificação seja feita, ou até mesmo alguma atualização em um post que já foi escrito, eu avisarei em um post exclusivo, ok?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Iara

O mito da Iara (Uiara ou Mãe d'Água) é o equivalente brasileiro da sereia européia, que evoluiu entre os nativos brasileiros no século 18, introduzido pelos colonizadores encantados com a beleza exótica da mulher "indígena" e que, muitas vezes, apareciam mortos pelas mãos de outros "índios". A miscigenação entre brancos e "índios" gerou uma nova mitologia cabocla, onde o mito da Iara ganhou força.

Conta-se que, antes de ser essa figura fantástica, Iara era uma nativa guerreira, a melhor de sua tribo. Seus irmãos invejavam os elogios que ela recebia do pai – que era o pajé da tribo – e resolveram matá-la quando ela estivesse dormindo. Mas Iara tinha a audição aguçada e acabou matando seus irmãos. Com medo de seu pai, fugiu. O furioso pajé iniciou uma busca implacável pela própria filha que terminou com ela sendo jogada no encontro do Rio Negro com o Rio Solimões (que originam o Rio Amazonas).

Encontro dos rios Negro e Solimões (Amazonas), que não se misturam por causa de uma propriedade química das águas.

Vários peixes a trouxeram à superfície em uma noite de lua cheia como uma sereia de longos cabelos e olhos verdes, beleza inesquecível e canto de uma melodia hipnótica e enlouquecedora que fazia os homens evitarem lagos e margens de rios ao entardecer. Ela atraía e seduzia pescadores com seu canto, com promessas de felicidade eterna se vivessem ao seu lado em seu palácio precioso no fundo do rio. Ainda podia se materializar em ariranha ou garça. Tornou-se, assim, protetora das águas - principalmente águas doces - e dos peixes.

Crianças também podiam ser atraídas. Neste caso, elas eram raptadas e levadas para o palácio da Iara no fundo dos rios, onde ficam aprendendo os segredos da manipulação de plantas, ervas, poções, remédios e magias para ser "devolvidos" depois de 7 anos como um grande xamã.

Uma lenda Tupi, diz que Iara era a mais formosa mulher da tribo – provavelmente irmã de Jaci, a mais bela nativa que já havia se tornado a Lua. Por sua doçura, era amada pelos animais e pelas plantas, mantendo-se, entretanto, indiferente à seus admiradores. Numa quente tarde de verão, banhava-se em um rio quando foi surpreendida por um grupo de homens que a violentou e a matou. O espírito das águas trocou seus membros inferiores violados por uma cauda de peixe e a trouxe de volta à vida para se vingar.

Alguns estudiosos dizem que a Iara seria originalmente uma serpente, mas isso é um equívoco, uma vez que o mito não é originário do Brasil. Possivelmente houve uma mescla com o mito do Ipupiara.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Boitatá


Boitatá é um termo tupi-guarani – o mesmo que Baitatá, Biatatá, Bitatá e Batatão –, usado para designar, em todo o Brasil, o fenômeno do fogo-fátuo* e deste derivando algumas entidades míticas. O termo seria a junção das palavras tupis boi e tatá, significando cobra e fogo, respectivamente - ou ainda de mboi, a coisa ou o agente. Significa, assim, cobra de fogo, fogo da cobra, em forma de cobra ou coisa de fogo.

Dessa forma, no folclore brasileiro, o Boitatá é uma gigantesca cobra-de-fogo que protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Vive nas águas, protegendo os rios e lagoas de pescadores que prejudicam a vida dos peixes. Pode se transformar também numa tora em brasa, queimando aqueles que põem fogo nas matas e florestas. Apesar das inúmeras representações, o Boitatá teria olhos flamejantes que só enxergam no escuro e um couro transparente que cintila na escuridão.

Este mito antigo foi registrado por José de Anchieta em 1560:
"Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (in: Cartas, Informações, Framentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933)
A versão mais elaborada deste mito vem do Rio Grande do Sul, no sul do país. Narra-se um período de noite sem fim nas matas com uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais (possível relação com o dilúvio bíblico). Não havia estrelas, vento ou barulhos de animais; era um completo silêncio, somente quebrado pelos gritos do Quero-Quero (especie de gaivota). Os homens não saíam de casa e os braseiros começaram a apagar. Assustados, os animais se protegeram em ponto mais elevados, mas muitos morreram.

Diz-se que a jibóia albina é a boigauaçú enfraquecida,
a Boitatá de dia.
A boiguaçu - uma grande cobra que vivia em repouso - despertou faminta e passou a se alimentar dos olhos dos animais mortos. A cada olho que comia, também ficava com um pouco da luz do último dia de sol que os bichos tinham visto antes da grande noite. Com tanta luz ingerida, seu corpo foi ficando transparente. Com o passar de algum tempo, a grande cobra temida por todos enfraqueceu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas não lhe deram sustância. Foi então que a luz que estava presa escapou e o sol foi aparecendo novamente. A boiguaçu só reaparece para comer. Diz-se que quem encontra esse ser fantástico nas campinas pode ficar cego, morrer e até enlouquecer. Assim, para evitar o desastre os homens acreditavam que precisavam ficar parados, sem respirar, de olhos bem fechados. A tentativa de escapar da cobra apresenta riscos porque o ente pode imaginar que se está fugindo por ter ateado fogo nas matas.

Em Santa Catarina, a entidade pode aparecer como um touro gigante com um olho flamejante no meio da testa. Segundo outras interpertações, o Boitatá seria uma alma penada que castiga incestos e outros pecados com um fogo purificador.
* Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim) é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos, etc. resultado da inflamação espontânea de gás metano da decomposição de seres vivos típicos deste ambiente. Este fogo não queima o mato seco e nem tampouco esquenta a água dos rios. Ele simplesmente rola, gira, corre, arrebatando-se até se apagar. Esse fenômeno gerou equivalentes míticos no mundo todo, como, por exemplo, o Hinkypunk (espírito do aml inglês), o Pwca (monstro enganador galês) e a hitodama (esfera que contém a alma no folclore japonês).

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Anhangá

Rios e matas, / passarela da ilusão, / muitas são as máscaras / do desfile de assombração.
Caçador, muito cuidado / com o que irás caçar, / se for branco, o veado, / é melhor não atirar.
Se de olhos afogueados / nem lhe deite um olhar, / pois é alma do outro lado, / é o encantado Anhangá.
Se quiseres boa caça, / faz à ela um agrado: / na ponta de uma vara, / deixa um pouco de tabaco, / os fósforos e a mortalha, / para que faça seu cigarro.
Anhangá quando fuma, / deixa de assoviar, / caçador vai à caça, / foi o trato com Anhangá. / Anhangá, Anhangá, Anhangá!

Anhangá é dito como protetor dos animais e, por isso, tornou-se deus da caça de tribos amazônicas. Costuma perseguir quem mata filhotes ou fêmeas que estão amamentando. Aqueles que praticam caça destrutiva também são vítimas dele. Com um pouco de tabaco, era possível negociar com ele.

Pode assumir nomes diferentes de acordo com a forma física que se corporifica: humano (Mira-anhangá), tatu (Tatu-anhangá), anta (Tapira-anhangá) ou peixe (Pirarucu-anhangá). Mas sua forma mais comum era a de um veado branco (Suaçú-anhangá) com enorme galhada, uma cruz na testa e olhos flamejantes que enlouqueciam. Sua presença pode ser detectada por um assobio e depois disso, o animal que estava sendo caçado, simplesmente desaparece. Em noites de lua cheia, o luar iluminava o pêlo alvo do Anhangá e seria possível vê-lo.

Nas cartas dos padres José de Anchieta, Manuel da Nóbrega e Fernão Cardim, o Anhangá seria supostamente uma alma errante ou espírito malfazejo que vaga pelas florestas e campos, muito temido pelos índios. Porém, seu nome significa basicamente "alma antiga". Os jesuítas traduziram seu nome como "diabo velho" ou "coisa ruim" e, por essa razão, transformaram-no em demônio da teologia cristã. A palavra "alma" para os índios era semelhante a "vida", portanto, um Anhangá era um um ser com sabedoria e poder além humano. Há uma confusão também com Anhanguera ("fantasma", em guarani) e Jurupari, que seria a própria corporificação do medo informe, do pavor do desconhecido e do mistério da noite.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Olokun

Olokun (ou Olocum, do iorubá, Olóòkun, "proprietário do oceano") é a divindade iorubá do mar, considerada em Ilê-Ifé (Nigéria) e no Brasil como do sexo feminino, e em Benin como do sexo masculino. Na verdade, sua força é ainda maior ao ser considerada a divindade das águas do Universo.

Casada com Oduduwa, Olokun era triste e infeliz e se largou na escuridão ao se separar. Pediu, então, para Olodumaré transformá-la em água. O deus - que já vagava pelo mundo quando somente havia pedras e fogo - transformou o vapor das chamas vulcânicas em uma grande quantidade de nuvens que se precipitaram sob a forma de chuva: era Olokun, que ocupou os espaço da Terra e formou os oceanos. Poderosa, tornou-se Rainha dos Iorubás. Dizia-se que morava no fundo do mar em um vasto palácio, e que tinha humanos e peixes como criados.

Olukun é, às vezes, representada por uma serpente gigante presa por Obatalá e, uma dia, irá subir a terra e se mostrar aos homens. Portanto, é a escuridão do mar, sombria, dona das ondas e a fúria do oceano, capaz de engolir a Terra. Mas também tinha seu lado bondoso (Olokun Seniade), que, vestida de branca, mandava mensagens de responsabilidade, pureza, respeito, honra e caráter, dançava majestosamente e lançava búzios de riqueza em forma de benção. Em sua versão masculina, vestia-se de corais e cada perna era um rabo de peixe.

Com Olokun vivem dois espíritos: Samugagawa (vida) e Acaró (morte), ambos representados em suas "ferramentas", às vezes, como lagartos. Tem ligações com os eguns (espíritos dos ancestrais), pois têm um papel crítico na morte, na vida e na transição de humanos e espíritos entre as duas existências.

Uma lenda conta que Olokun e Olorun eram casados e criaram tudo. Mas se separaram numa disputa de poder e viveram em guerra (separação do céu e da terra). Certa vez, Olokun invadiu a Terra para destruir a humanidade e demonstrar seu poder (dilúvio?). Olorun salvou parte da humanidade lançando uma corrente para os homens subirem. Com essa mesma corrente, Olorun atou Olokun ao fundo do mar. Olokun mandou uma gigantesca serpente marinha engolir a lua, mas Olorun disse que sacrificaria um humano por dia para acalmar a deusa. Assim, todo dia uma pessoa se afoga no mar.

No Brasil, é comparado a Iemanjá, mas, Iemanjá representaria o mar cristalino e visível, de beleza inimaginável, enquanto Olokun representaria o mar desconhecido, escuro, do fundo do oceano. Alguns terreiros a consideram mãe de Iemanjá e a homenagem nas festas de sua filha, mas não se incorpora. Iemanjá assumiu seu papel como deusa do mar. Na Nigéria, Iemanjá é uma divindade do Rio Ogun, enquanto Olokun é a mãe de todas as águas. Em Cuba, diz-se que é andrógino, casado com 11 olosas e olonas (espíritos femininos do mar), pai e mãe de Iemanjá e senhor das profundezas do mar. Suas cores são azul-marinho, negro e branco.

Olokun desempenhava um papel importante na religião iorubá: vinha logo depois de Orixála, o deus criador em pessoa, relação semelhante a Zeus e Poseidon na mitologia grega. Também tinha relação com Oiá (divindade da mudança repentina). Era padroeiro dos descendentes de africanos levados para as Américas. Oferecem-lhe milho cozido com alho, cebola e manteiga, feijões, doce de coco, melado, inhame cozido, carne de porco, bananas verdes fritas e outras iguarias envolvidas em pano azul e levadas ao mar dentro de uma cesta. Recebe sacrifícios de galo branco, frangos, pombas, ganso, pato e da tartaruga Jicotea.

São inúmeras suas associações:

  • um grande jarro de barro ou cerâmica, de cor preta ou azulada, onde seus atributos são encontrados vivos na água do mar
  • representações náuticas, como barcos, lemes, âncoras, correntes etc.
  • uma sereia com uma cobra em uma mão e uma máscara na outra
  • conchas, cavalos marinhos e estrelas do mar
  • tudo sobre o oceano feito de chumbo e prata

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quarup

Nativos se apresentando para o Quarup. Noel Villas Bôeas, 1998

Vamos conhecer um pouco sobre a cerimônia do Quarup.

Por ocasião da morte de uma figura ilustre na aldeia, seja por sua linhagem ou liderança – normalmente um cacique –, os povos do alto Xingu realizam o Quarup (ou Kuarup), que representa a ressurreição a salvação de sua alma (guarda semelhanças com a Páscoa cristã, não?). É uma grande honraria que coloca o morto no mesmo nível de seus ancestrais e incorpora uma história mítica de Maivotsinim (ou Mawutzinin), o primeiro homem.

O MITO
O mito é contado da seguinte forma: desejando ressuscitar os mortos, Maivotsinim entrou no mato e cortou três troncos de quarup, fincando-os no centro da aldeia. Ali os pintou e adornou com colares e penas. Chamou duas cutias e dois sapos cururus para cantarem com ele. Também distribuiu peixes e beijus para o povo comer. Os maracá-êp (cantadores), sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos quarup, chamando-os à vida. Mesmo incrédulos, o povo da aldeia começou a se pintar e a gritar. Maivotsinim os impediu de chorarem seus mortos, dizendo que viveriam, e por isso não podiam ser chorados. No dia seguinte, todos queriam ver os quarup, mas Maivotisinim pediu que todos esperassem a transformação por mais um tempo. À noite os troncos começaram a se mexer, como se o vento os balançasse. Os sapos cururu e as cutias, então, cantaram para que, assim que virassem gente, os troncos fossem ao rio se banhar.

Quando o dia clareou, da metade para cima os troncos já tinham forma humana. Os cantos continuaram, e Maivotsinim ordenou que todos na tribo se recolhessem para suas ocas e não saíssem. Ao meio-dia, a transformação já estava quase completa, e o povo pode sair para fazer uma grande festa com gritos de alegria, mas aqueles que tivessem tido relações sexuais durante a noite não tiveram permissão para sair. Um índio foi impedido por isso, mas não aguentou de curiosidade e saiu. O encanto foi quebrado e os quarup voltaram a ser madeira. Zangado, Maivotsinim disse que os mortos não reviveriam mais no Quarup, que seria apenas uma celebração que, no fim, os troncos tinham de ser jogados no rio do jeito que estavam.

O RITUAL
Tronco de Quarup pintado para a celebração (Sandra Zarur)
Os preparativos começam 15 dias antes do evento. São realizadas grandes pescarias, pois o grupo organizador tem que oferecer uma boa alimentação para os grupos convidados. Uma semana antes, são cortados os troncos que representam os mortos. Eles ficam escondidos na mata até a véspera do cerimonial. O ápice do ritual é precedido por uma série de atividades: preparação dos alimentos derivados da mandioca, busca dos troncos e preparo dos ornamentos. Os responsáveis por fazerem o convite da cerimônia são os pariat (mensageiros), que saem convidando as outras aldeias.

E a celebração – tipicamente – se inicia com a chegada de povos de outras aldeias, que ocorre em meio a muitas danças e se acomodam na periferia da aldeia. Depois alguns "índios" vão ao mato e cortam um tronco de quarup, fazem uma cabana de palha em frente à Casa dos Homens, e a frente dela fincam o tronco no chão. O tronco recebe uma decoração, acompanhada de cantoria que elogia quem está sendo homenageado. Arma-se, então, uma fogueira em frente ao tronco, onde sucedem-se danças e cantos para Tupã, organizados pelo pajé. Terminando a evocação, os homens se dispersam pelo terreno em pequenos grupos após recolherem uma chama para acender as fogueiras dos outros grupos. À noite acontece a ressurreição simbólica do homenageado. As carpideiras começam o choro ritual sem que os cantos sejam interrompidos.


Aos primeiros raios do sol do dia seguinte, o choro e o canto cessam, e começa a Dança da Vida, executada pelos atletas das tribos, cada um trazendo uma longa vara verdejante, símbolo dos últimos nascidos na comunidade. Os atletas formam um grande círculo ao redor do quarup para reverenciá-lo. Depois o grande círculo se dispersa, e vários grupos são formados, representando cada um uma tribo. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens. Então o chefe da aldeia que sedia o Quarup se ajoelha diante dos chefes de cada tribo visitante e, em sinal de boas vindas, lhes oferece peixe e beiju para distribuírem entre os seus. Terminadas as lutas ocorre um ritual de troca (moitará), onde cada aldeia oferece produtos de sua especialidade. O ritual é encerrado com o tronco sendo lançado às águas.

Luta durante o Quarup. Noel Villas Bôas, 1998

Os mitos da área do rio Xingu foram documentados pelo indigenista Orlando Vilas-Boas (1914-2002), o "cacique branco" do Xingu.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Jaci

Na cosmologia de alguns povos nativos do Brasil, Jaci é a Lua, irmã e também esposa de Coaraci, o Sol.

Assim diz a lenda que pode nos revelar a origem do nome da deusa (o lago) e entender como a Iara, poderia ser irmã de Jaci em alguns contos:
Irmã se apaixonou pelo irmão e o visitava cada noite em sua rede, misteriosamente, protegida pelas trevas. Para descobrir quem era aquela que o despertava para o amor, o irmão umedeceu-lhe as faces com urucum. E ela que habitava as margens do lago Iaci, espelhou-se em suas águas e viu que estava marcada para sempre. Manejando o arco, despediu flecha após flecha, até formar uma longa vara, e por ela subiu para se transformar na Lua. O irmão que habitava o alto da serra, indo vê-la e não a encontrando, de dor metamorfoseou-se em mutum (um pássaro). Ela agora vem mensalmente mirar-se nos espelhos dos lagos para ver se desapareceram as manchas.
Mas, para divinizá-la, algumas lendas fizeram com que o deus maior, Tupã, fosse responsável pela sua criação para ser a rainha da noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Em outras, Coaraci teria transformado a mais bela "indígena" criada por ele na Lua.

Ela aparecia em duas formas: Jacy Omunhã (Lua Nova) e Jacy Icaua (Lua Cheia). É dito que Sumá, deusa guerreira da ira, era sua filha com Tupã. Também teria sido mãe de Araci com o mortal Itaquê.

Tornou-se mãe dos frutos, presidindo a vida vegetal, e controlava os gênios das florestas como o Saci, o Boitatá e o Curupira. Ela teria ensinado ao primeiro pajé como apaziguar os espíritos malignos e conversar com as almas dos antepassados. É também protetora dos amantes e da fertilidade, sendo comprada a Ártemis, na mitologia grega, a Vishnu, na mitologia hindu, e a Ísis, na mitologia egípcia.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Hoje é Dia de Iemanjá!

Hoje, dia 2 de fevereiro, é Dia de Iemanjá, a Rainha do Mar.

Segundo o historiador Manuel Passos, no início do século XX, um grupo de cerca de 25 pescadores resolveu fazer oferendas para a Iemanjá, pedindo em troca, fartura de peixes e tranqüilidade nas águas. Há mais de 80 anos, católicos, adeptos do candomblé e turistas participam de ritual semelhante, jogando no mar sabonetes, perfumes, flores, espelhos e bonecas.

Uma lenda conta que Iemanjá, filha de Olokun, casou-se com Olofin-Odudua em Ifé, na Nigéria, e teve dez filhos, todos orixás. Depois de amamentá-los, teria ficado com seios enormes. Cansada de viver em Ifé, Iemanjá fugiu para Abeokutá e se casou novamente, com Okerê. Mas Iemanjá impôs uma condição para o casamento: que o marido jamais a ridicularizasse por conta dos seios. Mas uma ofensa de Okerê causou fúria a Iemanjá, e ela fugiu novamente, encontrando num presente do pai o caminho para as águas. Nunca mais voltou para a terra e tornou-se a Rainha do Mar. Seus filhos fazem oferendas para acalmá-la e agradá-la.

Ainda falarei bem mais sobre ela por aqui.