quarta-feira, 6 de abril de 2011

Mais imortais na telona

Em abril do ano passado, falei sobre a onda de mitologia grega que invadiu o mundo do entretenimento (e parece não ter parado!). Havia, inclusive, citado o filme Immortals e agora ele começa a dar mais pistas. Foram revelados cinco cartazes com o slogan The gods need a hero ("Os deuses precisam de um herói") em um estilo do filme 300 (os produtores do filme são os mesmos). Vejam:


Immortals (que já se chamou War of the Gods) conta a história do insano Rei Hipérion (Mickey Rourke) que sedento de poder resolve dominar a humanidade libertando os antigos Titãs aprisionados no Tártaro pelos deuses. Para isso, ele precisa encontrar Épiro, o poderoso arco do deus Ares, a única arma capaz de realizar tal feito. Um antiga lei impede que os deuses voltem a interferir nos conflitos humanos, então, um preocupado Zeus (John Hurt) decide influenciar o jovem guerreiro Teseu (Henry Cavill) para iniciar uma cruzada contra as hordas de Hipérion ao lado de imortais deuses gregos.

O filme estreia em novembro de 2011 nos EUA (dezembro no Brasil). Também estão no elenco Kellan Lutz (Poseidon), Luke Evans (Zeus mais novo), Isabel Lucas (Atena), Stephen Dorff (Stavros), Corey Sevier (Apolo), Freida Pinto (a sacerdotisa Faedra), Steve Byers (Hércules) e Robert Maillet (o Minotauro), entre outros. Em setembro, será lançada uma graphic novel em capa dura baseada no filme que mostrará mais a respeito dos personagens e suas histórias.

Tá... tirar os Titãs do Tártaro para enfrentar os deuses... hã... alguém aí falou "Percy Jackson"? E alguém aí se lembra que pensei o mesmo quando vi a sinopse do segundo filme do Fúria de Titãs? Trocentas mil possibilidades de lendas e acabam usando premissas semelhantes? E pra quê distorcer tanto a lenda, colocando Teseu no meio dessa guerra toda? Épiro... uma arma? Ah... Hollywood... esperamos o melhor, hein?!

quinta-feira, 31 de março de 2011

Tane

Tane Mahuta, uma kauri (Agathis australis), árvore conífera australiana que leva o nome do deus por causa de sua altura.

Deus das florestas, Tane foi o responsável por a separar seus pais Rangi (Céu) e Papa (Terra). O casal primordial se abraçava com tanta força que seus filhos vivam sufocados entre os dois. Os irmãos de Tane queriam matá-los, mas, por ser o mais forte de todos, foi ouvido. Firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força. Essa seria uma representação das árvores com suas raízes fincadas na terra e seus galhos apontando para os céus.

Com pena de seus pais nus e separados, Tane começou a vesti-los. Primeiro, pintou o Céu de vermelho, mas não gostou do resultado. Então, cobriu-o com o manto negro da noite. Para sua mãe, arranjou algumas árvores invertidas, ou seja, com as raízes para cima, mas o efeito não o agradou. Resolveu fazer um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas para cobrir todo seu corpo.

Um de seus irmãos, Uru, não ganhou nenhuma função divina e chorava enrolado no manto de seu pai. Para que ninguém visse suas lágrimas, Uru as guardava em cestas. Mas Tane acompanhou a tristeza do irmão é pediu os cestos emprestados. Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru não quis dar, mas Tane avançou e derramou uma delas no manto de seu pai. Suas lágrimas era luzes brilhantes que se tornaram as crianças-luz, as estrelas. Feliz com o ocorrido, Uru deu suas outras cestas a Tane, que foi criando a Via Láctea.

Tane abre a cesta de Uru. (Kipper)

Acreditava-se que seu maior rival era seu irmão Tawhiri, deus das tempestades. Ele teria perseguido alguns filhos de Tane por toda a terra e eles acabaram se escondendo no mar, onde se tornaram peixes a mando de Tangaroa. Outros colocam Tangaroa como seu maior rival, criando uma dualidade entre mar e terra.

Algumas lendas dizem que Tane foi o criador do primeiro homem, Tiki, a partir do barro. Outras dizem que ele se acasalava com árvores e animais, gerando todo tipo de monstro, como serpentes e dragões, porque sua mãe não permitia que ele tivesse uma esposa - uma punição pela separação à força. Até que um dia, ela se apiedou de Tane e sugeriu que ele fizesse para si uma esposa com a areia da praia. Ele seguiu a ideia de Papa e soprou no nariz de sua criação arenosa, que espirrou, e se tornou Hine-hau-one, a primeira mulher (mudando o paradigma da criação masculina).

É dito também que Tane acabou se casando com sua filha, Hine-titama, sem saber quem ela era. Quando eles souberam, ela fugiu para o subterrâneo e se tornou a deusa da morte, chamada de Hine-nui-te-po. Tane desceu ao subterrâneo para pedir perdão e se colocar à disposição da deusa, que pediu que ele voltasse ao mundo e criasse seus filhos até que eles voltassem à ela.

Todos os que usam madeira veneravam o deus, particularmente os construtores de canoas. Uma noite antes de começar a cortar as árvores para fazer as canoas, os artesãos rezavam para Tane e descansavam os machados no seu templo.

sexta-feira, 25 de março de 2011

A ira dos titãs!


Todos sabiam que o ator Sam Worthington havia assinado contrato para mais filmes do Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010), só que a repercussão negativa e os problemas com a versão 3D pareciam ter engavetado o filme. Ou não!

Com a agenda do ator liberada e ele prometendo atuar melhor daqui pra frente, as filmagens de Fúria de Titãs 2 (Clash of the Titans 2, previsto para 2012) começaram esta semana. Inicialmente o filme iria se chamar Wrath of the Titans (traduzido no título do post), mas a Warner já fechou com o número da sequência.


A trama - escrita por Greg Berlanti e dirigida por Johnatan Liebesman - começará dez anos depois de Perseu (Sam Worthington) derrotar o Kraken de Poseidon (Danny Houston) no primeiro filme. Agora o semideus tenta levar uma vida de pescador e criar sozinho o seu filho de dez anos, Helius. Enquanto isso, uma luta por supremacia opõe os deuses, enfraquecidos pela falta de crença dos homens, e os titãs, liderados por Cronos. Perseu é empurrado para o combate quando Hades (Ralph Fiennes) e Ares (Édgar Ramírez) fazem um trato com Cronos para capturar Zeus (Liam Neeson). O poder dos titãs aumenta, ameaçando espalhar o inferno do Tártaro, onde os titãs eram mantidos presos, pela Terra. Resta a Perseu - ao lado da Rainha Andrômeda (Rosamund Pike, no lugar de Alexa Devalos), o semideus Agenor (Toby Kebbell) e o deus caído Hefesto (Bill Nighy) - invadir o submundo, resgatar Zeus e salvar o mundo.

Tá. Então... vamos por partes:

  • Criar filho sozinho? Mataram a Io (Gemma Aterton) no primeiro filme, trouxeram ela de volta e agora vão matar de novo? Será que isso é pra corrigir ele não ter terminado com a Andrômeda?
  • Alguém aí falou "trama de Percy Jackson"?
  • Hefesto, deus caído? Tá... na lenda ele é jogado recém-nascido do Monte Olimpo, mas depois volta como um dos Olimpianos! Quero ver também qual será a explicação para colocar o ator Bill Nighy para fazer o ferreiro do Olimpo!
  • Agenor semideus? Quando? Quem? Onde?


Bom... o diretor anda dizendo que o filme será mais "realista", com mais dramaticidade e que novamente será convertido para 3D, porque a tecnologia para filmar direto ainda é muito cara. Como dessa vez não tem filme anterior para comparar, só nos resta esperar um bom blockbuster com um saco grande de pipoca na mão, porque - mitologicamente falando - as adaptações vão confundir.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ahto

Ahto (Ahti) é o deus de todas águas e dos pescadores, com barba de musgo. Vivia no palácio de Ahtola, abaixo de um penhasco tempestuoso, açoitado e erodido pelas ondas, com sua esposa Vellamo (Wellamo) e suas filhas; todas espíritos do mar.

Diz-se que tinha ciúme dos deuses celestes, pois acreditava que não recebia os devidos rituais. Sendo assim, costumava ser implacável com marujos que não rezem para ele, enviando redemoinhos, vagalhões e monstros do mar (que poderiam ser grandes moluscas ou morsas).

Ahti também é o nome de um herói finlandês que teria jurado viver em paz se conseguisse se casar com seu grande amor, mas acaba precisando quebrar o juramento e cai em combate.

terça-feira, 15 de março de 2011

Percy Jackson - A maldição do titã

Finalizei o terceiro livro da série Percy Jackson. Assim como o segundo livro se baseia nas aventuras de Ulisses e Jasão, o livro A Maldição do Titã utiliza vários elementos dos famosos trabalhos de Hércules (alguns já foram usados anteriormente) e da grandiosa Titanomaquia, ou a Batalha dos Titãs. São dois assuntos que merecem muitos posts por aqui, então, não vou detalhá-los.

Este livro começa se aprofundar na questão do herói na mitologia grega, mostrando que nenhum deles era perfeito. Todas as sagas e missões possuem um revés que nem sempre é considerado porque só se fala nas vitórias, conquistas e benesses. Ler O Poder do Mito, de Joseph Campbell, deve dar uma boa reforçada nisso. As similaridades com a série Harry Potter continuam, com poucas disparidades.

Somos apresentados a alguns personagens novos, como novos meio-sangue e alguns deuses que ainda não haviam sido caracterizados anteriormente, como Apolo, Ártemis e Deméter. Aliás, a cena final do filme quando Percy vai até a sala dos Olimpianos no meio de uma reunião divina, acontece neste livro.

Mas o mais interessante pra mim, é o bestiário destes livros. A cada volume sou apresentado a seres que não sabia o nome ou - confesso - nunca havia ouvido falar! Dessa vez, descobri Keto (ou Ceto), o Ofiotauro (e sua função sagrada), Talo (colosso de Creta) e Ládon (dragão das Hespérides). Como os titãs são muito citados, descobri nomes e relacionamentos interessantes, assim como o Monte Otris, a base titã na grande guerra contra os deuses do Monte Olimpo.

Calma que só faltam dois livros.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Será?

Muito se especula sobre a Cidade Perdida de Atlântida e ainda vou fazer um post sobre isso aqui. Mas a teoria inicial começou com uma história do filósofo grego Platão, dizendo que Atlântida seria uma ilha que ficava no Oceano Atlântico, próxima ao Estreito de Gilbratar (a separação natural entre a Europa/Espanha e a África/Marrocos, que também é a entrada para o Mar Mediterrâneo). Atlântida teria afundado após algum desastre natural.

Google Maps

Pois agora pesquisadores norte-americanos garantem ter encontrado Atlântida no sul da Espanha! E que ela teria sido destruída por uma tsunami. A hipótese é de que os sobreviventes teriam fugido para o interior e construído novas cidades. No centro da Espanha, Richard Freund - da Universidade de Harvard - descobriu uma série de “cidades memoriais”, feitas pelos refugiados à imagem de Atlântida, o que deu mais evidências e confiança aos pesquisadores. Eles pretendem prosseguir as escavações e os estudos na região.

Será? Li AQUI.

Aproveito pra dizer que o Estreito de Gibraltar era chamado de Pilares (ou Colunas) de Hércules na Antiguidade. Conta a lenda que, para realizar um de seus doze trabalhos, Hércules precisou abrir o caminho com seus ombros ligando, assim, o Mar Mediterrâneo ao Oceano Atlântico. Também falarei das aventuras hercúleas posteriormente.

sexta-feira, 11 de março de 2011

A saga de Biorn

Na mitologia escandinava, morrer em batalha é uma honra! O objetivo é entrar em Valhalla, o salão de ouro de Asgard. Lá eles eram recebidos por Odin e as valquírias. Sendo assim, todo guerreiro viking procurava esse tipo de morte... até mesmo o velho Biorn... o problema é que ser um herói honrado tem as suas consequências...



Muito legal essa animação do estúdio dinamarquês The Animation Workshop.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Kim Qui, a tartaruga sagrada do Vietnã

Saiu hoje no Jornal O Globo a história de uma tartaruga sagrada do Vietnã que vou comentar, neste post para mostrar que os mitos perduram, não somente como simples historinhas ou arquétipos.

Diz a lenda que o deus dragão Long Voung decidiu ajudar o guerreiro Lê Loi a expulsar a dinastia Ming do Vietnã dando-lhe sua espada Thuan Thien ("A Vontade do Paraíso", que torna invencível e poderoso seu portador). Mas ela viria dividida em duas partes: lâmina e empunhadura.

Certo dia, o pescador Lê Thân foi trabalhar à noite e capturou em sua rede algo metálico pesado. Achando que era sem valor, jogou de volta na água. Ao puxar sua rede, encontrou novamente o pedaço de metal. Voltou a jogar na água, mas, na terceira vez que o objeto retornou para sua rede, ele resolveu acender uma luz para identificar o objeto: era a lâmina da espada divina. Sem saber exatamente o que era e o que fazer, deixou a lâmina em um canto de sua casa.

Anos depois, Lê Thân se juntou ao exército e rapidamente chegou a postos mais elevados. Um dia, o comandante Lê Loi foi visitar a escura morada de Lê Than e a lâmina começou a brilhar. Com a permissão do pescador, Lê Loi levou a lâmina. Pouco tempo depois, dirigindo-se a uma batalha contra seus inimigos, Lê Loi viu um brilho entre as folhas de uma figueira e encontrou uma empunhadura incrustada de jóias. Lembrou-se na hora da lâmina que já possuía e as uniu perfeitamente. Lê Loi instantaneamente cresceu e ganhou a força de mil homens, que o ajudou a expulsar os invasores chineses no início do século XV e se tornar imperador.

Um ano após vencer os chineses, o rei foi para o lago Água Verde num barco e lá encontrou o deus Kim Qui, uma tartaruga de casco dourado que lhe pediu a espada para levá-la às profundezas, de volta a Long Vuong. O imperador entendeu que a missão da espada estava cumprida, mas que ela emergiria sempre que a independência do Vietnã estivesse ameaçada.

Cerâmica de Kim Qui

A tartaruga de Hoan Kiem é a versão vietnamita da Dama do Lago das lendas do Rei Arthur, guardiã de uma espada mágica. Mas Kim Qui era na verdade um armeiro, pois uma outra lenda antiga de 200 a.C., diz que Kim Qui deu uma de suas garras ao rei An Duong Vuong, que a transformou em um arco mágico capaz de atirar mil flechas por vez. Com a arma mágica, o rei pode defender suas cidades e montar seu império. Posteriormente, o rei foi traído por sua própria filha e perdeu o arco para os chineses. Desgostoso, resolveu matá-la e pediu para Kim Qui levá-lo para as profundezas do lago.

O lago Água Verde fica no centro de Hanói, capital do país, e ganhou o nome Hoan Kiem, que significa "espada que retorna". No centro do lago foi eregida uma torre para a tartaruga sagrada (Thap Rùa). Mesmo quem não acredita na lenda (e acha que foi uma estratégia de legitimidade), vê o réptil como um símbolo nacional. Sendo assim, na última terça-feira (8/3), uma multidão seguiu para as margens do hoje poluído lago numa tentativa de salvar a tartaruga que já vive há uns 100 anos ou mais. Voluntários tentam limpar o lago, mas biólogos acreditam que a tartaruga (um dos quatro últimos da espécie Vermelha Gigante do Rio) não sobreviva.

terça-feira, 8 de março de 2011

Sapucaí mitológica

Como falei no post anterior, a própria idéia do Carnaval pode ter vindo de rituais pagãos de homenagem aos deuses. Então, veremos que os deuses gregos e egípcios aparecem em praticamente todos os enredos, junto com o nosso sincretismo afro-brasileiro.

Um tridente de Poseidon em um carro do Salgueiro que simulava a Atlântida perdida mesclada com a Atlântida cinematográfica.

O boi Ápis da Mocidade. Um figura quase certa nos desfiles.

Um carro inteiro da Mocidade para a deusa Ísis. Como disse o humorista Helio de la Peña, parece até que o Egito é o berço do samba quando se vê os desfiles.

Baco esteve presente na festa que - possivelmente - era pra ele desde o início. Sátiros, faunos e bacantes rodeavam seu tripé da Mocidade. Interessante citar que essa estética rechonchuda do deus parece ter nascido após o desenho Fantasia da Disney.

Iemanjá (da Beija-Flor). Sempre!

E isso foi só no segundo dia de desfile... ainda tivemos um bateria de sátiros, um grande barco de Caronte, Poseidon inteiro (e não só no tridente), centauros, deuses hindus, lobisomens, Medusa ganhando vida em uma comissão de frente e por aí vai! Sem dúvida, o folclore e a mitologia são inspiração fundamental para todo e qualquer carnavalesco.

sábado, 5 de março de 2011

Carnaval


A implantação da Semana Santa pela Igreja Católica no século XI redefiniu os feriados eclesiásticos ao colocar a Páscoa no primeiro domingo após a primeira lua cheia a partir do equinócio da primavera (no hemisfério norte) ou do equinócio do outono (no hemisfério sul)*. A Páscoa é antecedida por quarenta dias de jejum (Quaresma), que havia sido definido pelo papa Gregório I no início do século VII. Esse longo período de privações acabou por incentivar a reunião de diversas festividades nos três dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma, há exatos sete domingos da Páscoa. Esses três dias eram chamados de "dias gordos". E, assim, nasceu o Carnaval.
* Por essa razão tanto a data da Páscoa quanto a do Carnaval são móveis. Na década de 1970, empresários do ramo turístico e agentes hoteleiros iniciaram um movimento para determinar uma data fixa para a folia, sob a alegação que a mobilidade do calendário traz prejuízos econômicos, uma vez que dificulta o planejamento de viagens. Por enquanto, não houve sucesso e a tradição católica se mantém.
Embora de origem ainda incerta, a palavra "carnaval" (carnis valles em grego, ou carnem levare em latim medieval) está relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne antes do grande jejum. A "terça-feira gorda" é também conhecida pelo nome francês Mardi Gras, que se tornou referência de carnaval pelo mundo (mas não é um feriado reconhecido por lei).

As festividades podem ter se originado de rituais pagãos para homenagear o início do Ano Novo e o renascimento da natureza. Na Antiga Roma, o carnaval prolongava-se por sete dias em dezembro. Todas as atividades e negócios eram suspensos neste período: os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que quisessem e as restrições morais eram relaxadas. As pessoas trocavam presentes, um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.

Alguns consideravam o carnaval uma festa para celebrar a colheita, homenageando o deus Baco com bebida e sexo. O Rei Momo representava o deus. Essas festas seriam semelhantes às festas gregas para Dionísio.

No período do Renascimento, surgiram os bailes de máscaras, com suas ricas fantasias e os carros alegóricos, que – junto com as festividades de rua – acabaram se tornando os precursores do carnaval moderno. No século XIX, Paris e Nice foram as cidades francesas exportadoras das fantasias e alegorias carnavalescas.

O CARNAVAL NO BRASIL
Se hoje o Carnaval parece parte natural e essencial do que o Brasil efetivamente é, houve um tempo não muito distante em que a festa simplesmente não existia, ou acontecia somente com a timidez e o recato dos bailes europeus. Em meados do século XVII os primeiros bailes de máscara já eram registrados em solo brasileiro, mas as primeiras festas de rua só foram acontecer no século XIX.

Baile no Brasil Império.
O samba nasceu na Bahia, mas logo foi para o Rio, e se desenvolveu. O primeiro “rancho carnavalesco” – que daria origem, anos depois, aos blocos e às escolas de samba – foi o Reis de Ouro, fundado em 1893 no Rio de Janeiro pelo pernambucano Hilário Jovino Ferreira como uma derivação da festa da Folia de Reis. O Reis de Ouro apresentou novidades que até hoje permanecem, como a ideia de enredo, o uso de instrumentos de corda e de instrumentos africanos, como pandeiros, tantãs e ganzás, e o casal de mestre-sala e porta-bandeira. Por mais que o samba e as festas de rua fossem criminalizados, as autoridades gostaram do Reis de Ouro, e no ano seguinte à sua fundação o rancho chegou a desfilar diante do presidente Deodoro da Fonseca. Porém, o apreço do presidente não tirou os desfiles da marginalidade, e Hilário foi preso algumas vezes.

Em 1889, acontecem os primeiros registros de blocos autorizados pela polícia – entre eles, o Grupo Carnavalesco São CristóvãoBumba meu BoiEstrela da MocidadeCorações de OuroRecreio dos InocentesUm Grupo de MáscarasNovo Clube TerpsícoroGuaraniPiratas do AmorBondengóZé PereiraLanceirosGuaranis da Cidade NovaPrazer da ProvidênciaTeimosos do CatetePrazer do LivramentoFilhos de Satã e Crianças de Família.

Por volta de 1907, nascia o que hoje ainda é uma das festas mais tradicionais e grandiosas do país: em Olinda, tinha início o Carnaval da cidade através do Clube Carnavalesco Misto Lenhadores e, em 1912 do Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas – já trazendo o frevo como característica do Carnaval pernambucano. Os bonecos de Olinda apareceram pela primeira vez em 1932, com o aparecimento do “Homem da Meia-Noite” na festa.

O Homem da Meia-Noite
Em 1914 o Carnaval também já era popular em São Paulo, e foi nesse ano que Dionísio Barbosa, que havia morado no Rio e conhecido os primeiros ranchos cariocas, funda o Grupo Carnavalesco da Barra Funda, conhecido como o primeiro bloco da capital paulista. Em 1918, o mais antigo bloco ainda em atividade do Rio de Janeiro é fundado: o Cordão do Bola Preta, até hoje um dos maiores e mais populares da cidade e do mundo.

Em 1928, no Rio, a Deixa Falar surgiu para se tornar a primeira Escola de Samba do Brasil, diferenciando-se dos blocos, que já existiam. Seus membros ensinavam para a população e difundiam o samba de cada ano, e o desfile visitava outros bairros a fim de popularizar a agremiação. Fundada e batizada no bairro do Estácio por Ismael Silva, junto de outros grandes sambistas como Bidê e Marçal, o sucesso da Deixa Falar – que viria a se tornar a Estácio de Sá – serviu como estímulo para a fundação de outras escolas ainda na virada dos anos 1920 para os anos 1930, como a Cada Ano Sai Melhor, Estação Primeira (Mangueira), Vai como Pode (Portela), Vizinha Faladeira e Para o Ano sai Melhor.

O Carnaval só seria reconhecido, oficializado e autorizado pelas autoridades cariocas, porém, em 1935, através de um decreto do prefeito Pedro Ernesto. A essa altura as escolas já eram populares, a tal ponto que o jornal Mundo Esportivo, editado pelo jornalista Mário Filho (que dá nome ao estádio do Maracanã) organizou, em 1932, o primeiro desfile competitivo de escolas de samba, vencido pela Mangueira.

Os Desfiles de Escolas de Samba se tornaram o evento mais midiático do Carnaval do Rio de
Janeiro, porém, sua essência está na festa de rua. Nos anos 1950, gente fantasiada se misturava nas avenidas ao pessoal de paletó. No baile do Copacabana Palace não faltavam marmanjos cantando marchinhas de smoking, correndo atrás de colombinas da alta sociedade.

Vassourinhas de Pernambuco seria fundamental no nascimento de outra marca fundamental do Carnaval brasileiro: o surgimento dos trios-elétricos em Salvador. Foi vendo um desfile do Vassourinhas com uma banda de fanfarra pelas ruas de Salvador, diante da animação que contagiou o povo baiano no ano de 1950, que Dodô e Osmar decidiram subir em um carro, ligar um violão e um protótipo de guitarra na bateria do automóvel e tocar frevo pela cidade. O arremedo de trio incendiou o povo, e, em 1952, através de um patrocínio, a dupla elétrica já estava em um carro maior. Em 1953, com o surgimento de outros grupos, o termo “Trio Elétrico” se consolidaria.

O "trio elétrico" em 1952.
A marca da marginalização e perseguição policial ficou para trás, e hoje o Carnaval é, em todo o país, uma festa de dimensões gigantescas que movimenta uma indústria. Em 2012, o Galo da Madrugada, bloco fundado no Recife em 1978, e o carioca Bola Preta teriam reunido cerca de 2,5 milhões de pessoas, e o Galo acabou recebendo o título de maior bloco do mundo pelo Guinness Book, que também declarou o carnaval do Rio de Janeiro como o maior carnaval do mundo.

O CARNAVAL NO MUNDO
NA AUSTRÁLIA
Mais que uma celebração hedonista, o Mardi Gras LGBT de Sydney é um festival multifacetado, que além de parada gay tem mostra de filmes e painéis de debates sobre a condição dos homossexuais.

NA ÁUSTRIA
Em Nassereith, uma pequena vila austríaca com pouco mais de 2 mil pessoas próximo à fronteira com a Alemanha, há registros de uma folia desde 1740. É o Schellerlaufen, com dois personagens principais: alguém fantasiado de urso representando a primavera que chega, e um caçador simbolizando o inverno.

NO CANADÁ
Conhecido como o maior carnaval de inverno do mundo, a folia na cidade de Quebec dura três semanas com concertos musicais, esculturas de neve, paradas noturnas e atividades esportivas, como competição de canoas e pesca no gelo. Mesmo com 10 graus negativos o carnaval do Canadá atrai milhares de pessoas do mundo.

NA COLÔMBIA
Na cidade de Bogotá acontecem uma série de eventos típicos e espetáculos em ritmos folclóricos. A festa foi considerada pela Unesco como “Obra Mestra do Patrimônio Oral e Intangível da Humanidade”, tem o clímax com a Batalha das Flores, onde as flores utilizadas para enfeitar os carros alegóricos são jogadas no público.

NO EQUADOR
No Equador, o carnaval dura duas semanas. As pessoas festejam indo para as praias jogar balões de água em amigos e também em pessoas desconhecidas. Acontecem desfiles com carros alegóricos feitos por todos os tipos de flores e frutas.

NA ESLOVÊNIA
O carnaval esloveno é diversificado e rico. O personagem mais popular da folia é o Kurent, uma fantasia com uma máscara monstruosa e demoníaca. Acontecem desfiles numa mistura de celebrações ocidentais e o antigo paganismo eslavo. Na quarta-feira de cinzas ocorre o enterro do pust, um boneco que simboliza todos os males.

NOS EUA
Em vez de samba, muito jazz. No lugar da cachaça, aguardiente de Ojén (bebida espanhola à base de anis). Mas o Carnaval de New Orleans tem semelhanças com o brasileiro pela influência da cultura negra – que se mistura com ícones da mitologia grega –, uma terça-feira gorda e até um tipo de Rei Momo. A festa tem um apelo internacional tão forte que o número de pessoas na cidade dobra nos dias dessa celebração americana.

Em Louisiana, a graça – além de se embebedar – é mendigar comida dos sítios da região para engrossar um gumbo (guisado típico) do bloco de fantasiados. Ganhar uma galinha viva é motivo de comemoração. O costume caipira tem origens na Europa Medieval, quando pobres se juntavam em datas próximas a festividades religiosas para pedir alimento nos castelos – cantando e dançando em retribuição à generosidade dos abonados.

Cabeções franceses.
NA FRANÇA
Os pontos altos do carnaval na cidade de Nice são os bonecos gigantescos de papel machê (semelhantes aos de Olinda) e a célebre Batalha das Flores na Riviera Francesa, quando foliões em carros alegóricos ou no chão mesmo atiram flores de todas as cores em quem estiver por perto.

NO HAITI
Carnaval no Haiti é época de marchar, cantar, dançar, se divertir, relaxar e um momento em que a sociedade aceita qualquer e quase todos os tipos de comportamento. Na ocasião acontecem canções para protestar a respeito de algo. Com a abertura política no país, a sátira carnavalesca se tornou ainda mais escancarada.

NA ITÁLIA
É na época do carnaval que Veneza recebe o maior número de turistas. A cidade ganha um aspecto de baile de máscaras a “céu aberto”, quando ricos e pobres se unem. As festas são celebradas no interior de palácios antiquíssimos com direito a fantasias super requintadas. A famosa máscara de nariz proeminente e pontiagudo representa o personagem “médico da peste”, inspirada numa proteção inventada no século XVII pelo médico Charles de Lorme para evitar que se infectasse com as doenças de seus pacientes.

NO JAPÃO
O festival Asakusa Samba Carnival tem carros alegóricos, ala das baianas, samba cantado em português e até passistas vestindo roupas importadas do Brasil! Muitas pessoas saem nas ruas para curtir a folia com samba no pé. O interessante é a presença de vários brasileiros, principalmente em lugares de destaque como nos carros alegóricos e puxadores de samba.

NA REPÚBLICA DOMINICANA
O carnaval dominicano é um verdadeiro show de identidade cultural sem limites para o colorido. O mais apreciado em muitas cidades é a brincadeira tradicional dos demônios espectadores que perseguem as pessoas que se aventuram em seu caminho.

NA SUÍÇA
O carnaval na Suíça tem início na segunda-feira, antes da quarta de cinzas, aproximadamente às 4h da manhã, com o Morgestraich, quando todas as luzes se apagam e várias pessoas desfilam com lanternas pelo centro da cidade ao som de músicas carnavalescas com flautas e tambores.

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