Essa semana aqui no blog foi toda voltada para a mitologia escandinava porque ela culminaria no filme Thor (Thor, 2011) que estreou nesta sexta-feira. Assim, tanto eu quanto os leitores do blog poderiam ter informações bem frescas das lendas que inspiraram a produção.
A primeira crítica que havia lido do filme caía em cima das incongruências mitológicas, dizendo que o filme era só mais um blockbuster de super-heróis. Fiquei meio apreensivo, mas a proposta do filme é adaptar o personagem mitológico dos quadrinhos Marvel (criado por Stan Lee, Larry Lieber e Jack Kirby, em 1962) e não a divindade escandinava. Nada que me impedisse de ir ao cinema para ver mitologia e quadrinhos: três das coisas que mais gosto nessa vida! Então... vamos lá! Será difícil omitir alguns detalhes do filme que são fundamentais, portanto, preparem-se para alguns spoilers.
- Jane Foster não era uma cientista nas HQS, mas uma enfermeira. A idéia era colocar uma mulher que ajudava pessoas doentes ensinando a humildade necessária a Thor. Mas a transformação dela em astrofísica caiu como uma luva nos objetivos do filme e de suas continuações.
- Donald Blake, o ex-namorado de Jane Foster no filme, é, na verdade, o alter ego de Thor na Terra dos quadrinhos. Quando ele é banido por Odin e perde seus poderes, ele tem sua alma fundida ao terráqueo e seu martelo Mjolnir se transforma em uma begala. Ao bater a bengala no chão, Don vira Thor com todos os seus poderes e martelo.
- A questão sanguínea de Loki está nas HQs e na mitologia, mas ficar azul-Avatar é novidade. Provavelmente para dar um chamariz visual ao filme.
- O sono de Odin do filme é muito rápido. Nos quadrinhos, é bem longo. Aliás, foi uma premissa repetida para as aventuras do herói, uma vez que, durante o descanso do Todo-Poderoso, todos os inimigos queriam atacar Asgard. Desconheço esse sono na mitologia. Pesquisarei quando falar sobre o deus.
- Esperava um Volstagg bem mais obeso. E a Marvel já conseguiu deixar um ator forte bem gordo em seus filmes (veja o Blob de Kevin Durand no filme Wolverine). Pelo menos a fome compulsiva aparece em um dos momentos do filme.
- Fandral (Josh Dallas) está ótimo... mas Hogun (Tadanobu Asano) asiático? E com sotaque??? Essa cota racial politicamente correta gerou uma discussão intensa no momento que escalaram o ator negro Idris Elba para fazer Heimdall. Se a mitologia é NÓRDICA, como ter asiáticos e negros entre suas divindades? A melhor explicação dada é que deuses estão além da cor da pele, assim como Jesus não seria branco europeu por ter nascido numa área predominantemente árabe. Tá... com Heimdall funcionou, porque Idris Elba segurou as pontas do personagem. Mas Hogun não.
- O post de ontem sobre Yggdrasil e os nove mundos vale a pena ser lido antes do filme. Dá uma boa contextualizada. Inclusive é o momento do filme onde Thor diz que tecnologia e magia se unem, mas na verdade é uma explicação para juntar o deus com o Homem de Ferro no vindouro filme d'Os Vingadores. Aliás, o que realmente parece unir tecnologia e magia no filme é Bifrost, a ponte dimensional do filme que é aberta pela espada de Heimdall e pode levar qualquer um pra qualquer lugar. Bom... Bifrost é a ponte que leva de Asgard a Midgard e só. Heimdall é só o sentinela que a tudo vê e ouve. Jotunheim e os outros reinos eram alcançados por meio de longas jornadas, tanto na mitologia quanto nas HQs. Entendo que a necessidade de adaptação transformou a ponte - que, por sinal, ficou bem interessante num acrílico furta-cor, mesmo que sua representação seja a de um arco-íris mesmo.
- Os gigantes do gelo azuis não são referência pra mim. Que eu saiba tanto na mitologia quanto nos quadrinhos, eram de pele alva. A idéia de armas de gelo foi muito boa, considerando que as representações de barbas e cabelos sempre eram congeladas.
- A armadura Destruidor é das HQs. Sempre muito poderosa foi muito bem representada na telona. Assutadora. E aquela girada que ela dá na Sif (Jamie Alexander) foi de tirar o fôlego!
- Ver Sleipnir (o cavalo de oito patas de Odin) e Caixa do Inverno Eterno foi um brinde extra inesperado por mim. Um brinde mitológico... porque também teve o brinde quadrinístico na pele do Gavião Arqueiro (o agente Barton e fica com uma flecha apontada para Thor numa parte do filme).
- A beleza dos cenários de Asgard no filme impressiona. Os céus são incríveis! Até Jotunheim (que alguns momentos parece mais Niflheim) ficou bem feita. Mas acho que eles gastaram tanto nesses cenários construídos digitalmente que os cenários “reais” são de filme B.
- Não gostei muito da edição do filme. Achei os cortes muito óbvios e duros. Alguns momentos parecem corridos demais. No entanto, todas as cenas fazem sentido para a história. Assim como Odin, o diretor Kenneth Branagh parece ter um propósito por trás de todas as cenas.
- Natalie Portman deu uma entrevista logo após seu merecido Oscar por Cisne Negro (Black Swan, 2010), falando que fazer este filme foi a salvação de sua vida, pois ela estava nos primeiros meses de sua gravidez e completamente travada emocionalmente depois da intensidade da bailarina que protagonizou. E ela faz bem a doçura a Jane Foster. Nada demais. Aliás, nenhuma atuação merece destaque, mesmo com as presenças de Anthony Hopkins (Odin) e Rene Russo (Frigg). Talvez o britânico Tomas Hiddleston que faz Loki. Quem conhece o personagem sabe que a cara de cínico que o ator emprega é perfeita! É possível ver toda a fragilidade psicológica do deus.
- Mas... cá entre nós... Chris Hemsworth é Thor! Em gênero, número e grau! Quase como Robert Downey Jr. é Tony Stark no Homem de Ferro (Iron Man, 2008). Sua cena principal é quando não consegue reerguer o martelo e depois se desculpa com Loki. O praticamente-estreante-em-Hollywood deu conta do recado.
- Darcy (Kat Dennings) foi escalada para ser o alívio cômico. Até consegue... mas, pra mim, a melhor piada esta na referência cruzada dos asgardianos na Terra com personagens da ficção: Xena, Robin Hood...
- Interessante como americano é bobo. Falar "eu te amo" é quase pedir em casamento. Um beijo na boca é a chave para todo o amor do mundo. E beijar a mão de uma mulher, deixa até Natalie Portman com cara de idiota! Americanos tem problemas sérios.
- Vi 2D mesmo... 3D não presta! É palhaçada pra vender ingresso mais caro e você fica perdido procurando tridimensionalidade ao invés de se preocupar com a história. Ah... e fiquem até o final! Tem uma ceninha importante para o filme d'Os Vingadores no pós-créditos!
É isso. Fiquei feliz com a película porque ela faz o possível para respeitar o público de cinema, o de quadrinhos e o de mitologia. Vale o ingresso! Pra mim, vale o DVD na estante com certeza!
PS.: Pra terminar: alguém tem aí um Mjolnir pra me dar? Não sei se sou digno, mas o martelo é muito legal, não?