quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Xochiquetzal


Chamada de "preciosa pena florida", Xochiquetzal é a representação do arquétipo da mulher jovem em pleno vigor sexual. É a divinização da amante, uma deusa essencialmente feminina e seu âmbito é o amor, a volúpia, a sensualidade, o desejo sexual e o prazer em geral. Sua ação também abrange o jogo, o canto, a dança, a alegria, as flores, enfim, tudo aquilo que envolve beleza. Por essas razões, também rege as atividade artísticas: é a patrona de pintores, bordadeiras, tecelãs e escultores. Conta a lenda que as mulheres nascidas no dia regido por ela podiam ter atividades extremas: tanto serem boas bordadeiras como serem prostitutas. Servia também como protetora das jovens mães, tornando-se padroeira do nascimento e da parturiência.

Irmã gêmea de Xochipilli, foi esposa de Tlaloc, mas também desposou Tezcatlipoca, Centeotl, Ixotecuhtli e Mixcoatl (com esse, foi mãe de Quetzalcoatl). Conta-se que ela realizou o primeiro ato sexual e que de seus cabelos formou-se a primeira "mulher-deusa" para que esta se casasse com Piltzintecuhtli, de cuja união nasceu o Centeotl.

É sempre retratada como uma mulher sedutora e juvenil ricamente vestida que carrega um buquê de malmequeres, sendo simbolicamente associada à vegetação e às flores em particular. Pássaros (como beija-flores) e borboletas costumavam acompanhá-la em comitiva. Uma jaguatirica também a rondava. Sua ligação com a fertilidade do homem e a beleza das flores, também a associou a fertilidade da terra.

Vivia em Tamoanchan, a "Árvore Florida", um verdadeiro paraíso sobre uma motanha bem próxima do céu, onde permanecia um determinado tempo, mas depois retornava ao subterrâneo, onde governava uma área reservada aos guerreiros mortos em combate e às mulheres que morriam dando à luz filhos homens. Qualquer homem que tocasse em uma flor de seu jardim, transformava-se em um amante passional.

A cada oito anos, uma animada festa era realizada em sua honra, onde os celebrantes usavam máscaras de animais e flores como calêndulas. Era também considerada deusa da música, dos jogos e da dança.

Originalmente, foi associada à lua, mas também existem lendas que a colocam como sendo mulher de Coxocox, e ambos foram os únicos sobreviventes do grande dilúvio ao se agarrarem num tronco de árvore. O casal precisaria repovoar o mundo, mas seus filhos nasciam mudos. Um pombo encantado devolveu-lhes o dom da fala, mas cada um começou a falar em uma língua diferente.

Sua equivalência direta é com a deusa Flora, dos romanos, mas também possui ligações com as deusas Afrodite, Deméter e Pérsefone da mitologia grega.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Chaac

Estátua em terracota de Chaac
Chaac (ou Chac, Chaahk, que pode significar nuvem) era a Serpente da Chuva, uma das mais venerada divindade maia. Com seu machado-relâmpago (ou chicote), atacava as nuvens e produzia chuvas e trovoadas para esconder o Sol e a Lua. Mas, ao contrário da temível Ixchel, Chaac era basicamante uma figura amiga que trazia boas chuvas para regar os campos. Alguns mitos o colocam como um guerreiro choroso que cometera adultério com a esposa de seu irmão, Kinich-Ahau, o Sol. Era também sagrado para todos os que cultivavam a terra e, portanto, tornou-se deus da agricultura. Segundo uma lenda, ele levou o milho para os maias abrindo uma montanha dentro da qual estava escondido o primeiro pé dessa planta. Para os astecas, Chaac seria Tlaloc.

Em geral, conforme outras divindades do panteão maia, Chaac era representado tanto como uno quanto com quatro faces (ou como quatro deuses diferentes, separados, mas benéficos), cada um de uma cor para cada ponto cardeal. Seu corpo humano era recoberto de escamas reptilianas, possuía duas longas presas, seu nariz era adunco e usava uma concha como brinco que sobressaía no meio de seu cabelo trançado. Além do machado, também podia carregar um escudo ou uma vasilha. Esta sua forma também era cíclica: em períodos chuvosos, dizia-se que era um jovem viril que dominava os céus com seu machado; e, nas secas, era transformado em um velho enrugado (uma serpente trocando de pele) que se dirigia aos oceanos em uma canoa para rejuvenescer.

Um xamã chamado "fazedor de chuvas" era o contato humano com o deus, e fazia rituais imitando sapos para chamar sua atenção. Portanto, sapos eram relacionados ao deus, assim como a cor azul turquesa.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Boitatá


Boitatá é um termo tupi-guarani – o mesmo que Baitatá, Biatatá, Bitatá e Batatão –, usado para designar, em todo o Brasil, o fenômeno do fogo-fátuo* e deste derivando algumas entidades míticas. O termo seria a junção das palavras tupis boi e tatá, significando cobra e fogo, respectivamente - ou ainda de mboi, a coisa ou o agente. Significa, assim, cobra de fogo, fogo da cobra, em forma de cobra ou coisa de fogo.

Dessa forma, no folclore brasileiro, o Boitatá é uma gigantesca cobra-de-fogo que protege os campos contra aqueles que o incendeiam. Vive nas águas, protegendo os rios e lagoas de pescadores que prejudicam a vida dos peixes. Pode se transformar também numa tora em brasa, queimando aqueles que põem fogo nas matas e florestas. Apesar das inúmeras representações, o Boitatá teria olhos flamejantes que só enxergam no escuro e um couro transparente que cintila na escuridão.

Este mito antigo foi registrado por José de Anchieta em 1560:
"Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto do mar e dos rios, e são chamados baetatá, que quer dizer cousa de fogo, o que é o mesmo como se se dissesse o que é todo de fogo. Não se vê outra cousa senão um facho cintilante correndo para ali; acomete rapidamente os índios e mata-os, como os curupiras; o que seja isto, ainda não se sabe com certeza." (in: Cartas, Informações, Framentos Históricos, etc. do Padre José de Anchieta, Rio de Janeiro, 1933)
A versão mais elaborada deste mito vem do Rio Grande do Sul, no sul do país. Narra-se um período de noite sem fim nas matas com uma enorme enchente causada por chuvas torrenciais (possível relação com o dilúvio bíblico). Não havia estrelas, vento ou barulhos de animais; era um completo silêncio, somente quebrado pelos gritos do Quero-Quero (especie de gaivota). Os homens não saíam de casa e os braseiros começaram a apagar. Assustados, os animais se protegeram em ponto mais elevados, mas muitos morreram.

Diz-se que a jibóia albina é a boigauaçú enfraquecida,
a Boitatá de dia.
A boiguaçu - uma grande cobra que vivia em repouso - despertou faminta e passou a se alimentar dos olhos dos animais mortos. A cada olho que comia, também ficava com um pouco da luz do último dia de sol que os bichos tinham visto antes da grande noite. Com tanta luz ingerida, seu corpo foi ficando transparente. Com o passar de algum tempo, a grande cobra temida por todos enfraqueceu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas não lhe deram sustância. Foi então que a luz que estava presa escapou e o sol foi aparecendo novamente. A boiguaçu só reaparece para comer. Diz-se que quem encontra esse ser fantástico nas campinas pode ficar cego, morrer e até enlouquecer. Assim, para evitar o desastre os homens acreditavam que precisavam ficar parados, sem respirar, de olhos bem fechados. A tentativa de escapar da cobra apresenta riscos porque o ente pode imaginar que se está fugindo por ter ateado fogo nas matas.

Em Santa Catarina, a entidade pode aparecer como um touro gigante com um olho flamejante no meio da testa. Segundo outras interpertações, o Boitatá seria uma alma penada que castiga incestos e outros pecados com um fogo purificador.
* Fogo-fátuo (ignis fatuus em latim) é uma luz azulada que pode ser avistada em pântanos, brejos, etc. resultado da inflamação espontânea de gás metano da decomposição de seres vivos típicos deste ambiente. Este fogo não queima o mato seco e nem tampouco esquenta a água dos rios. Ele simplesmente rola, gira, corre, arrebatando-se até se apagar. Esse fenômeno gerou equivalentes míticos no mundo todo, como, por exemplo, o Hinkypunk (espírito do aml inglês), o Pwca (monstro enganador galês) e a hitodama (esfera que contém a alma no folclore japonês).

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Kwatee

Índios nootka no Lago Quinault
Também conhecido como Kivati, Kwatyat e Xelas, Kwatee era o deus da transformação, da mudança e das melhorias para a tribo Nootka. Fez o possível para mudar o mundo antigo para melhor, apesar de muita oposição de seus contemporâneos. Sempre que via algo de ruim, fazia algo a respeito.

Diz-se que foi o criador responsável por tudo o que existe no cosmo nootka. Por exemplo, transformou a sujeira e o suor de seu corpo em seres humanos. Também diminuiu os poderosos animais gigantes (Formiga, Castor, Aranha e Raposa) para facilitar a vida dos homens. Foi considerado tanto herói quanto trapaceiro e ardiloso, graças a sua capacidade de se transformar em qualquer coisa.

Teve diversas aventuras: transformou uma poça de gordura num lago, roubou terra de um chefe lobo e explodiu de tanto suar. Mas é mais conhecido por derrotar o monstro no lago Quinault, que (segundo algumas fontes) havia engolido sua mãe. Ele atirou pedras quentes na água numa tentativa de ferver e incomodar o monstro, enquanto, seu irmão mais novo, Tihtipihin era também engolido pela fera em uma ousada operação de resgate. Ele cortou a barriga do monstro e todos saíram ilesos. Algumas lendas colocam apenas Tihtipihin dentro da barriga e Kwatyat usando as pedras para ferver e salvar seu irmão.

No fim de sua vida, um velho e cansado Kwatee decidiu desaparecer na direção sul após fazer o que podia pelo mundo. Alguns dizem que ele se sentou numa montanha na América do Norte e se tornou uma pedra.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sedna

Sedna, por Susan Boulet 
O mito da deusa inuíte Sedna começa com uma bela jovem que não se interessava pelos homens da tribo que seu pai viúvo lhe apresentava. Um dia, um homem se apresentou oferecendo o melhor a ela. Ela aceitou se casar e se mudar com ele para sua ilha. Lá, ele se transformou em um albatroz e a escravizou, fazendo-a se alimentar somente de peixes e viver num sujo ninho. Em visita à filha, o pai de Sedna viu as péssimas condições em que ela estava e decidiu salvá-la. Ele matou o albatroz e partiu em seu caiaque com Sedna. Os amigos albatrozes viram o ocorrido e foram atrás dos dois. Com suas asas, criaram uma tempestade e atacaram o caiaque.

Temendo por sua vida, o pai de Sedna a jogou no mar na esperança de acalmar as aves. Quando Sedna tentou subir novamente no barco, seu pai cortou seus dedos. Ela ainda tentou subir mesmo com as mãos mutiladas, mas seu pai a cortou novamente e jogou seus pedaços no mar. Assim que seus pedaços afundavam, iam se transformando em peixes, focas, golfinhos, morsas e outras criaturas marinhas. Seu corpo atingiu chão do oceano e ganhou um cauda de peixe, tornando-se um espírito do mar tão poderoso que passou a governar o Adlivum, o mundo subterrâneo inuíte. Lá, foi responsável por enviar animais para a caça inuíte. Como a caça é o ritual mais importante para eles, Sedna se tornou Senhora da Vida e da Morte.

Mas em um outro mito, Sedna era a horrenda filha do deus criador Anguta. Ela devorou tudo que tinha na casa de seu pai e se casou com um cão. Furioso, Anguta a jogou no mar de seu barco. Ela tentou subir, mas o deus cortou seus dedos um a um até que ela afundasse. No fundo do mar, Sedna teria se tornado Rainha dos Monstros das Profundezas.

Também existem mitos que juntam as duas histórias: Sedna seria a tal moça que não quer casar, mas, com raiva das propostas initerruptas, teria se casado com um cão. O povo achou que isso traria azar, de modo que ela foi levada num barco para ser atirada na água. O resto segue igual. Existem outras variações como Sedna sendo uma mulher vaidosa que se achava muito bela para casar com qualquer um, ou trocando os albatrozes por corvos.

Quando está irritada, Sedna envia tempestades e esconde os animais. Cada animal morto na caça, precisa de um copo de água doce. Para garantir que Sedna continue abençoando a caça, xamãs precisam se transformar em peixes para descer ao Adlivun por um caminho congelado e tenebroso com almas mortas, focas em ebulição e ainda enfrentar um terrível cão que guarda a fina passagem para seu reino de ossos de baleia. Lá, os xamãs precisam lavar os cabelos da deusa sem mãos e massageá-la para garantir sua satisfação e a caça da tribo. Isso tudo - é claro - representa um jornada espiritual dos xamãs.

É também conhecida como Mãe dos Animais Marinhos e Mulher do Mar. Outras tribos do ártico a chamam de Sanna, Arnakuagsak, Arnarquagssaq, Nerrivik ou Nuliajuk.

Estátuas de Sedna.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sucellus e Nantosuetta

Estátua em bronze de Sucellus.
Museu Nacional de Arqueologia (França)
Qualificado como rei dos deuses, Sucellus (Sucellos) era, na verdade, um deus da fertilidade da terra, da agricultura. Seu nome significava "o que bate bem", por carregar um grande martelo de cabo longo, usado para bater na terra e acordar as plantas, anunciando o início da primavera. Era representado como um barbudo de porte atlético coberto apenas com uma pele de lobo. Se aparecesse com vestes estampadas de círculos e cruzes, estava ligado aos céus. Às vezes, segurava um tonel de vinho ou uma taça, mostrando ser responsável pelos banquetes dos deuses e padroeiro das bebidas alcoólicas.

Sua mulher era uma deusa da água, Nantosuetta (ou Nantosuelta, "rio serpeante"), outra figura da fertilidade, que era também deusa do lar. Suas águas eram curativas e revigorantes. De cabelos cacheados soltos, carregava uma cornucópia, símbolo de abundância, e, muitas vezes, corvos a rodeavam. Dizia-se que cuidava das raízes das plantas e, portanto, poderia passear pelo Reino Subterrâneo. Alguns mitos a colocavam até como governante ou responsável por guiar os espíritos. Dessa forma, foi comparada a Perséfone grega.

Estátuas dos dois juntos eram comuns em domicílios celtas, associadas à prosperidade. Foram adorados principalmente na Lusitânia (Portugal) e na Gália (França). Nantosuetta foi associada a Morrigan entre os celtas britânicos.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Os Tuoni

Tuoni era o deus de Tuonela (ou Manala), o mundo dos mortos na mitologia finlandesa. Era casado com Tuonetar, a rainha dos mortos, e ambos tiveram um filho (Tuonen Poika) e cinco filhas horrendas:

  • Kalma: Deusa da decadência. Pode perceber fenômenos paranormais e retirar energia astral de seres vivos.
  • Vammatar: Deusa da desgraça, do azar da magia negra.
  • Kipu-Tyttö: Deusa das doenças. Como uma sereia, fica sentada numa pedra em Tuonela, cantando o nome das doenças que irá espalhar. Seu rosto é cheio de marcas.
  • Kivutar: Deusa da dor e da angústia.
  • Loviatar: Deusa cega da praga. Teve nove filhas monstruosas, deusas de doenças distintas - Rutto (Praga), Ähky (Cólica), Paise (Úlcera), Luuvalo (Gota), Syöjä (Câncer), Rupi (Sarna), Riisi (Raquitismo), Pistos (Pleurísia) e uma inominável relacionada à inveja.

Tuonela (1934), xilogravura de Paul Landacre (1893-1963)
Tuonela era exatamente como o mundo dos vivos, só que escuro e silencioso, cheio de demônios e rodeado por um rio negro (Tuonelan Joki ou Tuoni Manalan) que só podia ser atravessado pela barca de Tuonen Tytti, a serva da morte (similar a balsa de Caronte na mitologia grega). Na entrada de Tuonela, está Surma, uma monstruosidade canina que evita a entrada de estranhos (bem semelhante ao mito grego de Hades e Cérbero, ou a Garm, o lobo nórdico). Algumas lendas, colocam Surma como um impiedoso guerreiro, a personificação da morte. Utilizava um espada de obsidiana para rasgar os vivos e mandar seus espíritos para os Tuoni.

Enquanto os velhos e decrépitos Tuoni e Tunetar guiavam os espíritos para Tuonela por 30 dias (às vezes 40), suas filhas se encarregavam de preparar a mesa do banquete que era servido em sua chegada. Quem se alimentava, não podia voltar ao mundo dos vivos (semelhança com o mito grego de Perséfone). Alguns espíritos ainda ficavam rodeando seus parentes vivos na forma de fantasmas ou possuindo animais. Esses eram capturados por Kalma, que rondava cemitérios atrás deles. Em Tuonela, os mortos permaneciam em sono eterno.

Apesar de longevos, os Tuoni não eram imortais. Podiam ser feridos por armas humanas, mas se curavam quase instantaneamente. Seria preciso uma dispersão total de suas moléculas para que isso não acontecesse. Tinham força e resistência sobre-humanas.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Forseti

Forseti julgando em Glitnir, gravura de Carl Emil Doepler (1881).

Forseti (que significa "anfitrião") era o deus aesir da justiça, da meditação e do conhecimento interior. De acordo com a lenda nórdica, ele nunca contou nem contaria nenhuma mentira, e sempre conseguia fazer com que os envolvidos em disputas chegassem a um acordo ou realizava um julgamento considerado justo por todos, fossem homens ou deuses. Acreditava-se que o gentil Forseti era imparcial em relação a tudo, pois só assim a verdadeira justiça seria alcançada. Mas, às vezes, ele falava tanto que os deuses aceitavam suas decisões por puro tédio.

Filho de Balder e Nanna, vivia em Glitnir ("brilhante" ou "salão do esplendor"), um palácio com teto de prata e pilares de ouro vermelho que irradiava uma luz capaz de ser vista a grandes distâncias. É também chamado de Fosite pelos germânicos e possui algumas ligações com o Poseidon grego.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Flora / Clóris

Flora (1913), óleo de Louise Abbéma.

Flora é a deusa romana que encarna toda a natureza e cujo nome se converteu na designação de todo o reino vegetal. Cuidava da primavera e fazia plantas e árvores darem flores, sendo assim, adorada por todos os agricultores. Seus festivais (as Floralias) aconteciam no fim de abril com muitos rituais de fecundidade e danças de acasalamento.

Possuía uma flor que engravidava toda mulher. Teria sido dessa forma que Juno deu à luz Marte sem ajuda de seu marido Júpiter, após uma crise de ciúmes por ele sozinho ter dado à luz Minerva. Flora também teria ofertado o mel e as sementes florais aos homens.

Para os romanos, as rosas foram uma criação da deusa. Quando uma de suas ninfas morreu, Flora a transformou em flor com ajuda de outros deuses: Febo deu a vida, Baco jorrou o néctar e Pomona criou seu fruto. Abelhas se sentiram atraídas pela flor e Cupido atirou suas flechas para espantá-las. As flechas se transformaram em espinhos e, assim, criou-se a rosa.

É identificada com a ninfa Clóris da mitologia grega e, assim, teria sido amante de Zéfiro, o vento oeste. Após o casamento público, foi Zéfiro quem a nomeou rainha de todas as flores e lhe concedeu o poder de germinar as sementes das flores de cultivo e ornamentais. Formaram um casal de deuses alegres e jovens que deslizavam pelos céus, enfeitados com coroas de flores, e tocavam com suas asas os casais de namorados nos dias frescos de primavera.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Eos

Eos, óleo de Evelyn de Morgan (1895)
Filha do titã Hiperion com sua irmã Téa, a jovem deusa do alvorecer Eos tinha Selene (deusa da lua) e Helios (deus do sol) como irmãos. Sua tarefa era abrir todas as manhãs os portões do céu para a saída da carruagem de Helios (alguns mitos falam de Apolo) e terminava sua função com o titã Oceano. Também ficava responsável por trazer a brisa da manhã, aspergir o orvalho sobre os campos e despertar todas as criaturas. Portanto, é considerada a deusa dos novos começos. Em algumas lendas, foi considerada mãe de todas as estrelas e suas lágrimas teriam dado origem a ninfa do orvalho.

Era conhecida como Aurora de Dedos Rosados, porque, normalmente, tinha longos cabelos loiros e unhas pintadas de rosa - a cor do céu ao amanhecer -, sempre vestida com um manto cor de açafrão tecido com flores e uma tiara. Às vezes, utilizava uma carruagem púrpura puxada por dois cavalos alados (Lampo e Faetonte, também chamados de Claridade e Brilho) em arreios multicoloridos, mas costumava cruzar os céus com suas belas e ágeis asas. Essa caracterização expressa seu caráter de jovem caprichosa e despreocupada, que vive amores intensos e efêmeros.

Aurora, pintura de William-Adolphe Bouguereau (1881)
Aliás, são inúmeros os casos retratados na mitologia grega e, na maioria das vezes, com mortais, pois Eos havia sido amaldiçoada por Afrodite. A deusa do amor ficou enciumada de vê-la flertando com Ares e a puniu com paixão eterna. Foi amante de Órion, Astreus e do próprio Zeus.

Entre os amores de Eos estão Titono e Céfalo. Eos amou tanto Titono que o raptou para a Etiópia e solicitou aos deuses que lhe dessem a vida eterna. Desejo concedido, Eos se deu conta que esqueceu de pedir juventude eterna também. Com isso, Titono se tornou um velho decrépito incapaz de morrer. Eos pediu que os deuses o transformassem em uma cigarra (ou gafanhoto ou louva-a-deus). Com ele, foi mãe de Emation e Memnon. Memnom lutou e pereceu na Guerra de Tróia. Imagens de Eos alada segurando seu filho - assim como de Tétis e Ísis - podem ser as referências para a Pietá cristã.

Céfalo foi mais sofrido. Eos o raptou de sua esposa Procris, e teve dois filhos, Faetonte e Hesperus. Mas o rapaz, filho de Hermes e com a ninfa Orvalho (portanto, neto de Eos), pediu para ser libertado. A deusa o fez, só que Procris ficou tão enciumada que seguiu Céfalo em uma de suas caçadas e acabou morta por uma de suas flechas. Arrasado, Céfalo se jogou ao mar. Comovido, Zeus transformou ambos em estrelas.

Os romanos a ligaram diretamente a deusa Aurora deles. Por acompanhar seu irmão ao longo de seu percurso diário, foi fundida posteriormente a Hemera, deusa do dia.