quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Mitologia em propaganda de perfume

Há dois meses, a marca de moda Paco Rabanne lançou a fragrância Olympéa, a versão feminina do já famoso Invictus. O anúncio estrelado pela modelo brasileira Luma Grothe tem um visual de mitologia grega, mesmo que a marca o venda para a "Cleópatra moderna". Confira:


Já o anúncio do perfume masculino de 2013 tem um jeitão de atleta de futebol americano (o australiano Nick Youngquest) elevado à divindade:


A Versace também tem seus perfumes mitológicos: Eros (com Brian Shimansky fazendo o deus do amor) e Eros pour Femme (com Lara Stone mostrando quem manda na flecha do deus)



Experimentem!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

HÉRCULES: Os Doze Trabalhos - A Corça da Cerineia

Afresco de Adolf Schmidt, séc. XIX.

Diz-se que a ninfa Taígete, para fugir do assédio implacável de Zeus, foi transformada pela deusa Ártemis em uma enorme corça (maior que um touro) com chifres de ouro maciço polido e pés de bronze, que corria com assombrosa rapidez e nunca se cansava. Sua velocidade era tamanha que era capaz de ultrapassar uma flecha e até mesmo conseguiu escapar da própria deusa, quando esta capturou um rebanho de cervos para puxar sua carruagem. Após essa fuga, Hera conduziu a corça para o Monte Cerineia.

Euristeu conferiu esse terceiro trabalho a Hércules, porque sabia que a corça era propriedade sagrada de Ártemis e Hera e isso colocaria o herói contra as deusas. Existem duas versões desta tarefa, que levou um ano para ser realizada e percorreu uma larga extensão de terra até os Hiperbóreos:
  1. Hércules a perseguiu incansavelmente sem nunca alcançá-la, até que, exausta, a corça parou para beber água e foi ferida levemente por uma das flechas do herói.
  2. O herói preparou uma armadilha no Templo de Ártemis com uma rede para não machucar a corça. Assim que o animal entrou no templo para descansar da perseguição, Hércules soltou a rede e o capturou.
Hércules e a Corça, estátua em bronze
de Giambologna
No caminho de volta a Micenas com a corça nos ombros, Hércules encontrou Apolo e uma furiosa Ártemis, que o acusou de sacrilégio e o sentenciou a morte. O herói contou aos gêmeos divinos a razão da captura e seu juramento ao rei Euristeu. A compadecida deusa curou, então, a corça e permitiu que ele levasse o animal sagrado com a condição que ela fosse libertada logo após que o rei a visse. Euristeu decidiu ficar com a corça, no momento que colocou os olhos nela, mas Hércules não podia permitir. Ele disse para o rei vir pegá-la e a soltou, porém ela correu de volta para o templo da deusa.

A simbologia da corça apresenta dois aspectos de interpretação: por ser consagrada a Ártemis carregava pureza e virgindade acentuadamente, mas o bronze em seus pés poderia pervertê-la, fazendo-a apegar-se a desejos terrenos. O metal isolava o animal do mundo profano, mas, ao mesmo tempo, o aterrava, impedindo voos mais altos. Seus chifres de ouro representavam a força da alma, um vigor capaz de preservá-la de qualquer fraqueza espiritual. É como se toda a dificuldade na execução do trabalho fosse necessário para o herói usar de estratégia e delicadeza para lidar com a sensibilidade ambígua inerente ao indivíduo.


PARTE: I - II - III - IV - V
TRABALHO: I - II - III - IV - V - VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII
PARTE: VI - VII - VIII - IX - X - XI - XII - XIII - Livro

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

HÉRCULES: Os Doze Trabalhos - A Hidra de Lerna

Estátua de Hercules e a Hidra de Lerna na fachada
do Palácio Imperial de Hofburg em Viena, Áustria.
Filha dos monstros Equidna e Tifão (ou de Styx e do titã Palas), a Hidra vivia nos pântanos perto da antiga cidade de Lerna (também na Argólida), aterrorizando a vizinhança e se alimentando de rebanhos e moradores locais. Era um dragão com corpo canídeo, que possuía nove cabeças (uma delas praticamente imortal, pois não sofria dano de nenhuma arma) em pescoços serpentílicos, que se regeneravam logo que eram cortadas. O número nove de cabeças é o padrão geral, mas desvia de cinco até cem, porque em algumas versões ao invés da cabeça regenerar, ela se dividia em outras duas. Além disso, fala-se sobre o sangue venenoso da Hidra e o que poderia ser sua respiração sulfurosa ou um vapor letal que exalava de suas feridas.

Hércules viajou até Lerna em uma veloz carruagem que tinha seu fiel sobrinho Iolau como cocheiro. Quando finalmente chegaram, o herói pediu que o rapaz ficasse com os cavalos, enquanto ele atirava flechas em chamas para tirar a Hidra de seu covil. O monstro saiu e atacou imediatamente seu oponente.


Com sua espada de bronze (em algumas versões, uma foice), Hércules corajosamente foi cortando as cabeças da Hidra em meio a seu bafo mortal, mas logo percebeu que novas cabeças cresciam no lugar das decapitadas. O herói pediu ajuda para Iolau, que ia cauterizando as feridas abertas com uma tocha em brasa retirada de um árvore que pegou fogo com as flechas flamejantes de Hércules.


Para a cabeça invulnerável remanescente, Hércules desferiu um golpe atordoante com sua clava e arrancou a cabeça com as próprias mãos. Enterrou-a em um buraco profundo na terra e colocou uma enorme pedra em cima. Por fim, instruído por Atena, o herói banhou suas flechas no sangue da serpente para que ficassem envenenadas.

Um relevo em mármore datado do século II a.C. encontrado em Lerna, mostra Hércules enfrentando a Hidra com um enorme caranguejo próximo aos seus pés. Isso ratifica a lenda que Hera teria enviado Karkinos, um enorme caranguejo, para atrapalhar as ações do herói, mas o animal acabou pisoteado. A deusa ascendeu seu casco às estrelas, convertendo-se na Constelação (e signo) de Câncer. Alguns estudiosos sugerem que essa adição ao mito tenha sido feita para que os trabalhos correspondessem ao zodíaco. A Hidra também foi elevada às estrelas como a maior das constelações, vizinha à de Câncer.

Euristeu não se impressionou com a façanha de Hércules, que levou as cabeças da Hidra como prova. Considerando a ajuda de Iolau, o rei não contabilizou esta tarefa dentro das dez previstas inicialmente. Essa tecnicalidade não impediu os escritores e artesãos de exaltarem o feito, mas outros, como Pausanias, não só o desconsideraram como reduziram a Hidra a uma grande serpente aquática.


A Hidra simbolizava os vícios banais múltiplos capitaneados pela vaidade: enquanto ela não é dominada as cabeças, configuração dos vícios, renascem. Tudo que tem contato com os vícios, ou deles procede (o sangue venenoso), corrompe e se corrompe. A espada ou a foice representam a espada espiritual e a tocha, a purificação pela qual o herói precisava passar.

Uma interpretação única deste trabalho diz que foi um aterramento do pântano. A hidra era, na verdade, o pântano em si e as cabeças do monstro eram os rios que o alimentavam. O bafo mortal era o cheiro de podridão do local. As “flechas envenenadas” foram mergulhadas no caldo séptico do pântano e matavam por infecção.


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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

HÉRCULES: Os Doze Trabalhos - O Leão da Nemeia

Hércules e o Leão da Nemeia, óleo sobre tela de
Peter Paul Rubens. Séc. XVIII.
Euristeu decidiu (após um sonho enviado por Hera) que o primeiro trabalho do herói seria livrar a planície da Nemeia, no Peloponeso, de um enorme, selvagem e feroz leão de pele dourada e impenetrável. O animal é geralmente considerado filho dos monstros Tifão e Equidna, mas existem textos que dizem que ele é filho de Equidna com seu filho Ortros, o cão de duas cabeças. Uns ainda dizem que ele seria filho de Cérbero com a Quimera, ou até mesmo de Zeus e Selene, a deusa da noite enluarada, que o amamentou e lhe deu invulnerabilidade.

Hércules partiu para a Argólida com seu arco e flecha (versões do período clássico dizem que ele também carregava uma espada de bronze) em busca do covil do leão. Na cidade de Cleonae, hospedou-se na casa de Molorchus, um pobre trabalhador que perdera seu filho para o leão e ofereceu fazer um sacrifício para que o herói tivesse uma boa caçada. Mas Hércules pediu que ele esperasse 30 dias: se ele conseguisse realizar a tarefa, Molorchus deveria fazer um sacrifício a Zeus. Se ele fracassasse, o sacrifício seria feito em seu nome.

Hércules lutando contra o Leão da Nemeia,
estátua em mármore. Roma, séc. II.
No meio da floresta da Nemeia, Hércules ouviu um estrondoso rugido e, ao virar na direção do som, se deparou com a criatura partindo para cima dele. Tirou, então, seu arco e disparou uma flecha que rebateu no corpo do leão. Disparou outra flecha e nada: o herói não sabia da pele impenetrável da criatura. O leão saltou sobre Hércules, mas o herói usou sua clava de oliveira para atordoá-lo com um único golpe. Percebendo que nenhuma arma poderia matar o monstro, o herói envolveu seus grandes braços ao redor do pescoço do leão e, com uma força incrível, o estrangulou até a morte (daí o nome “mata-leão” para o golpe de estrangulamento em lutas marciais). Algumas lendas, colocam esse combate dentro da caverna do leão, que tinha duas entradas, mas uma teria sido bloqueada com pedras por Hércules para encurralar a criatura.

No fim da luta, Hércules usou as garras do animal para esfolá-lo e vestir sua pele dourada invulnerável como armadura. Desde então carregou o epíteto de Leontothýmon, “o coração de leão”. O dramaturgo Eurípedes escreveu que a pele do leão “veio do bosque de Zeus, santuário na Nemeia”. Alguns escritores discordam disto e dizem que a pele usada por Hércules era do leão que matara aos 18 anos na Beócia.

Óleo dito como Hércules e o Leão da Nemeia, porém, por ser um herói imberbe, pode ser a representação do leão morto na Beócia.

Hércules levou os restos do leão até a casa de Molorchus e ambos fizeram o sacrifício do cadáver a Zeus, que ascendeu o animal às estrelas, tornando-se a Constelação (e signo) de Leão. Ao ver Hércules entrar em Micenas com a pele do leão no corpo, o amendrontado Euristeu proibiu-o de entrar em seu palácio e passou a se comunicar com o herói a partir de um arauto (Copreu, filho de Pelops).

Constelação de Leão (Leo). Regulus (ou Cor Leonis, coração do leão) é a estrela mais brilhante.

Nemeia (hoje chamada de Heracléia) estabeleceu os Jogos Nemeus em homenagem a Zeus e Hércules. Semelhante aos importantes Jogos de Olímpia (resgatados pelo Barão de Coubertin como os Jogos Olímpicos), os Jogos Nemeus ocupavam o quarto lugar em importância, atrás do olimpiano, do Píticos (de Delfos, em homenagem a Apolo) e do Ístmicos (em Corinto).


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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

HÉRCULES: Muito mais que doze

Cada trabalho do herói se tornou uma aventura singular, pois aconteceram outros episódios que são até chamados de trabalhos secundários. Ao todo um vastíssimo plano, cheio de labirintos, desvios, descidas, subidas, quedas, acessos, uma viagem em meio a muitas trevas para que, ao final, um novo ser pudesse surgir. Simbolicamente, os acontecimentos representam o trânsito do Sol pelas doze constelações zodiacais, uma proposta de autotransformação, o caminho da libertação. O interessante é que inicialmente eram dez tarefas, mas Euristeu passou para doze porque o herói contou com a ajuda do seu sobrinho Iolau para derrotar a Hidra e utilizou um rio para limpar os estábulos de Augias.

Relevo romano (séc. III a.C.) com nove dos Doze Trabalhos. (clique para aumentar)

A pedido de Zeus, alguns deuses olimpianos ofereceram presentes* e conselhos a Alcides: de Atena recebeu um peplo (túnica presa nos ombros); de Poseidon, cavalos velozes; de Hefesto, uma couraça de bronze para proteger seu coração; de Hermes, uma espada de bronze; de Helios, uma biga; de Apolo, um arco com flechas de bronze que, segundo as palavras do deus, o herói só dominaria o tiro a partir do nono trabalho; e do próprio Zeus, um escudo. De um bosque próximo a Argos, retirou um tronco de oliveira selvagem e fez uma clava como presente para si mesmo. Com certa impaciência ouviu conselhos, afastou os professores, e renunciou ao nome Alcides, passando a se chamar Héracles (Hércules), “em glória à deusa Hera.
* Alguns dizem que Alcides agradeceu os presentes, porém, só ficou com a espada e o arco, deixando os outros guardados no bosque. Outros dizem que esses presentes foram dados por ocasião de seu casamento com Megara.
Existem muitas variações na ordem dos trabalhos designados ao heroí. Umas versões utilizam a ordem dos metopes (relevos esculpidos na arquitrave do entablemento) do Templo de Zeus, em Olímpia, enquanto outros seguem os textos antigos. Mas, independente da ordem, o conteúdo é bem semelhante. A ordem mas tradicional é:
  1. Leão da Nemeia
  2. Hidra de Lerna
  3. Corça da Cerineia
  4. Javali do Erimanto
  5. Cavalariças de Augias
  6. Aves do Estínfale
  7. Touro de Creta
  8. Éguas de Diomedes
  9. Cinturão de Hipólita
  10. Bois de Gerião
  11. Pomos das Hespérides
  12. Cérbero

Os mitógrafos helenísticos dividiram os trabalhos em duas séries de seis: os seis primeiros foram realizados na própria Grécia, mas especificamente na região do Peloponeso, e os seis últimos levaram Hércules a diversas partes do mundo, inclusive a lugares míticos, de Creta ao Hades.


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