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terça-feira, 17 de abril de 2012

Vari

Como o coco era um alimento fundamental para a alimentação dos antigos mangaian (hoje os maoris das Ilhas Cook), fica claro porque o universo estava contido no interior de um gigantesco coco cósmico, onde morava o deus supremo Vari.

Este coco era sustentado pelo caule cônico Take, que era a Raiz de Toda Existência. Vari utilizava a energia que fluía do caule ao coco para criar toda a vida. Portanto, Take está em tudo.

Outros povos polinésios desenvolveram uma visão semelhante do universo com um deus supremo dentro de um ovo ou uma concha.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Ptah

São muitos os mitos que cercam Ptah, o Grande Escultor. Na cosmogonia de Mênfis (uma das capitais do Antigo Egito), ele era o Deus Criador, filho de Nun e Naunet, espíritos dos mares primevos. Criou o mundo pelo verbo. Teria criado os primeiros deuses somente com o ato de pensar neles e dar-lhes nome.

Também teria criado outros seres a partir da pedra, da madeira e do metal, usando suas habilidades como escultor. Para os egípcios, o coração (a origem do pensamento) e a voz (o sopro de vida) eram vistos como uma prova da presença de Ptah. Por essa razão, no momento do nascimento de uma criança, gritava-se "Ptah!" e a alma (ka) passava a habitar seu corpo e a criança chorava.

Formava uma tríade divina com sua esposa Sekhmet e seu filho Nefertum. Imhotep e Maahes também eram seus filhos. Acreditava-se que o faraó Ramsés II teria sido esculpido por Ptah em metal para governar o Egito. Mas com a ascensão de outros faraós e mudança de capital do império, Ptah perdeu importância, tornando-se o Divino Artesão, patrono dos ourives, dos escultores e dos ferreiros, sendo comparado ao Hefesto grego.

Na maioria das vezes, é retratado como um homem de pele clara com uma barba curta, vestindo um sudário branco bem justo (ou poderia estar mumificado). Usa na cabeça uma calota (como um solidéu) e segura um cetro que combina o ankh (símbolo da vida), o was (representação de força e poder) e o djed (pilar da estabilidade). Muitas vezes aparece com grandes orelhas por ter fama de atender às súplicas da humanidade. É também um símbolo da fertilidade masculina.

Ptah foi associado a diversos outros deuses do panteão egípcio (Hapi, Osíris, Tatenen, Seker etc.) e ao boi Ápis. Por essa razão, muito se vê sobre ele. Encontra-se também muitos estudos que ligam sua teogonia ao que veio a ser a religião judaico-cristã, com um deus acima dos outros.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Apsu

Apsu era o deus primevo das águas doces e da Água Celestial da Sabedoria. Suas águas circundavam a terra, enchendo-a com bondade e otimismo. No entanto, a Terra – uma ilha comprida flutuante – era também circundada pelo oceano salgado e amargo da deusa-dragão Tiamat. Apsu fundiu-se, então, a deusa e se tornou seu consorte.

Da mistura fermentada dessas águas, diversos deuses e deusas nasceram, entre eles Anu e Ea, que rapidamente assumiram o controle das ações divinas. Não muito satisfeito com isso, Apsu declarou guerra a esses deuses, mas foi morto por Ea e sepultado no subterrâneo.

Como um ser divindo primordial, Apsu continuou brotando do subterrâneo em forma de fontes de água doce que borbulhavam na superfície da Terra. Diz-se que, da lama gerada por suas águas, o homem foi moldado.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Orixás em quadrinhos

Penetre o universo de Olodunmaré, os caminhos de Omulu, as estratégias de Ogum e a generosidade de Oxóssi. A editora Marco Zero lançou o álbum Orixás - Do Orum ao Ayê, que retrata a criação do mundo segundo a mitologia africana, com o nobre objetivo de difundir uma cultura que tem muitas ligações com a nossa.

Dividida em cinco capítulos recheados de narrativas arrojadas, essa HQ traz ao público histórias que apenas eram partilhadas por quem frequenta os lugares sagrados em que se cultuam os orixás. A arte de Caio Majado conecta o Ayê (o mundo físico) e o Orum (a morada dos deuses), transformando os orixás em meio deuses, meio super-heróis.

Me parece uma bela introdução a este vasto mundo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Xipe Totec


Filho de Ometeotl, Xipe Totec era o misterioso deus das plantas, da agricultura, da primavera e das estações do ano, símbolo da morte e do renascimento da Natureza. Dizia-se que ele se esfolava para dar de alimento aos humanos, assim como o milho perde suas casca antes de cair na terra e se tornar uma semente ou como as cobras que trocam de pele.

Estátua de cerâmica
Protetor dos ourives e do ponto cardeal Oeste, foi um dos quatro deuses criadores astecas – junto a seus irmãos Teacatlipoca, Quetzalcoatl e Huitzilopochtli. Por sua aparência sempre cheia de feridas e pele ensanguentada e descascada, alguns acreditavam que ele era o responsável por guerras e doenças (pragas, cegueira, feridas, tumores, bolhas etc.). Mas quando estava com sua pele nova, brilhava como ouro. Frequentemente era representado com listras verticais descendo da testa até o queixo. Carregava um escudo amarelo e um recipiente cheio de sementes.

Era também chamado de Senhor dos Esfolados e Deus das Torturas, porque, em suas festas, as vítimas eram esfoladas vivas e depois sacrificadas. A pela retirada era usada como um casaco pelos sacerdotes por 20 dias até apodrecer e cair, num sinal de vida nova na primavera. Muitos astecas guardavam a pele apodrecida acreditando em suas propriedades curativas.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Kumush

Conhecido como Velho dos Antepassados, Kumush (Kmukamch) é o deus criador da tribo Modoc. Alguns diziam que utilizava uma máscara azul e possuía olhos nas mãos.

Kumush foi até o mundo dos espíritos, visitar sua filha já morta. Lá os espíritos dançam e cantam à noite, mas voltam a ser esqueletos de dia. Após passar seis dias e seis noites por lá, decidiu retornar com alguns dos espíritos. Colocou alguns ossos em um grande cesto e começou a longa subida de volta. Por duas vezes, tropeçou e alguns ossos caíram e voltaram a ser espíritos, gritando de felicidade por voltarem a descansar. Na terceira tentativa de subir, Kumush gritou que, quando eles vissem a maravilhosa terra criado por ele com um sol brilhante, eles jamais iriam querer voltar para o mundo dos espíritos. Quase chegando na saída, Kumush jogou o cesto para evitar qualquer tropeço e, assim, conseguiu voltar com sua filha e os ossos.

Selecionou, então, os ossos para cada tribo e os plantou no chão. Deles nasceu não só o povo Modoc, mas também os Shasta, os Klamath entre outros. Pediu aos rios e montanhas ao redor que cuidassem do povo Modoc, que seria seu protegido. Em seguida, Kumush começou a criar todas as coisas, nomeando-as e definindo suas funções. Para finalizar, fez uma casa no meio dos céus para morar com sua filha.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Pachacamac

Pachacamac é o deus inca dos terremotos (pacha = terra; camac = animador). Para a cultura limenha pré-inca, Pachacamac seria aquele que dá vida ao mundo.

Era simbolizado por um totem esculpido em madeira com cerca de 2 metros de altura, conservado em uma câmara escura do templo de Inti (para simbolizar sua invisibilidade), que era forrada de ouro e prata. Esse ídolo tinha duas faces opostas, uma delas decorada com serpentes, a outra com espigas de milho, que possivelmente representavam seus aspectos destruidor e criador, respectivamente. Também era representado em cerâmicas como um grifo (asas e rosto de condor e corpo de puma, duas das grandes divindades animais dos incas).

Existe um enorme sítio arqueológico que leva seu nome em Lima, no Peru (e eu visitei!). A arquitetura do lugar mostra características anti-sísmicas e o templo ao deus era enorme. Do topo, é possível ver duas ilhas rochosas no Pacífico que conta uma lenda...

Pachacamac teria se encantado pela beleza da curandeira Urpe, que vivia nas proximidades de seu templo. Como não podia vir ao reino dos mortais, o deus colocou seu sémen em uma lúcuma (fruta local) que chegou às mãos de Urpe. A curandeira engravidou e deu a luz ao semideus Vichama. Aos 3 anos, Vichama pediu para conhecer seu pai. Pachacamac ouviu as preces de seu filho e decidiu vir à Terra como um mendigo. Quando se apresentou, Urpe se desesperou ao ver que seu filho ficaria desamparado com um pai tão pobre e fugiu na direção do mar. Furioso, Pachacamac os transformou nas pedras que você vê na foto abaixo.


São as explicações humanas para os fenômenos da natureza. Por exemplo, depois da chegada dos conquistadores, Pachacamac acabou sendo sincretizado a um Jesus Cristo de pele escura por causa de vários terremotos a que a estátua sobreviveu (El Señor de los Temblores). Existem inúmeras pinturas de um "Cristo moreno" com histórias de milagres em terremotos, mas ninguém sabe onde está a precursora das lendas.

Existe uma outra lenda que coloca Pachacamac como criador do primeiro homem e da primeira mulher da Terra. No entanto, o deus esqueceu de alimentá-los e o homem morreu de fome. A mulher, então, amaldiçoou Pachacamac e rezou para Inti para engravidar. Furioso, Pachacamac matou o menino que nasceu e o esquartejou. De cada pedaço, surgiu uma fruta ou uma planta comestível. O segundo filho da mulher foi Vichama que escapou da morte. Pachacamac matou, então, a mulher. Vichama vingou-se de sua mãe, vencendo o deus em batalha. Jogou seus pedaços no oceano, que se tornaram peixes. Por essa razão, alguns acreditam que Pachacamac também seja o deus dos peixes e da pesca.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Inti

Inti (Intu ou Apu-Punchau) era o poderoso deus inca do Sol, irmão e marido de Mama-Quilla, a deusa da Lua, e filho de Viracocha e Mama Cocha. Também foi casado com Pacha Mama, deusa da Terra. Sua importância era tamanha que alguns o adoravam como deus supremo e criador de tudo e invertiam a genealogia, colocando-o como pai de Viracocha.

Inti cruza os céus diariamente, proporcionando luz e calor, até mergulhar no mar ocidental. Após seu mergulho subterrâneo e subaquático, ele resurge toda manhã. Quando havia eclipses, achavam que Inti estava zangado. Costuma ser retratado como um um disco solar de ouro com face humana tendo raios e chamas ao redor. Aparece nas bandeiras da Argentina e do Uruguai.

Depois da criação, enviou seu filho Manco Capac para ser rei e ensinar às pessoas a arte da civilização. Todos os reis incas posteriores se diziam descendentes de Manco Capac e eram adorados como parte da família do próprio Sol, protetor da casa real. Inti tinha um templo enorme na capital inca, Cuzco, no Peru, onde as múmias dos imperadores eram colocadas quando morriam. As muralhas do templo eram forradas de ouro, que os incas acreditavam ser o suor do sol.

O Inti Rami, o Festival do Sol, era celebrado no solstício de inverno. Uma vez que Inti regia as estações do ano e o ciclo agrícola, ofereciam-lhe uma fogueira, onde queimavam uma vítima em sacrifício, junto com folhas de coca e milho, para dar boas-vindas.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nammu

Nos mitos sumérios, o mar primevo (abzu ou engur) é representado por Nammu (ou Namma). Ela é uma deusa sem cônjuge, o ventre de auto-procriação do universo, a matéria primordial, a grande mãe de todas as fontes de vida e fertilidade e de todos os deuses, que deu à luz An (o céu) e Ki (a terra). É a deusa que nutre e preserva. Seu nome tem o mesmo símbolo que os sumérios usavam para a palavra "mar", e era também chamada de A Deusa do Mar Doce.

Poderosa e afável, alguns diziam que ela foi à inspiração criativa para a humanidade. Exorcistas recorriam a ela para livrar possuídos do domínio de demônios. Sua representação era de uma mulher nua com cabeça de serpente, amamentando um de seus filhos divinos. Seus ombros largos significavam proteção e um triângulo púbico aludia à fertilidade, à vida.

É importante destacar como era comum encontrar esse tipo de divindade feminina (a força da Grande Deusa) nas mitologias das primeiras civilizações. Por exemplo, Nammu corresponde (e até se confunde em alguns pontos) a Tiamat na mitologia babilônica.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Yggdrasil e os nove mundos


Acredita-se que os mitos escandinavos tenham surgido na Islândia, terra de fogo e gelo, neve e vulcão. Eles falam de um universo complexo, na qual diferentes reinos foram construídos para os deuses, mortais, os gigantes, elfos e anões. Eram nove diferentes reinos localizados em volta de um grande freixo chamado Yggdrasil, a Árvore da Vida:

  1. NIFLHEIM: A terra congelada de Niflheim exisita antes do universo conhecido ser criado. Localizava-se entre as raízes de Yggdrasil e era envolta em escuridão ("Reino das Névoas"). Em seu centro, havia uma fonte gelada (Hvergelmir), mãe de vários rios. Tornou-se o reino de Hel, deusa dos mortos (Helheim). Lá também morava a serpente Nidhogg, bem aos pés do freixo, que se alimentava da carne dos cadáveres da encosta Nastrond e roía as raízes da árvore para destrui-la.
  2. MUSPELLHEIM: Governada pelo gigante de fogo Surt, Muspellheim era a região ardente que existia junto com Niflheim antes de Odin criar o universo. Era uma terra árida e flamejante ("Reino da Desolação"). No início, seu calor fez o gelo de Niflheim derreter e criar Ymir e Audumla. Alguns corpos celestes foram criados a partir de faíscas de Muspellheim.
  3. ASGARD: "Mundo dos Ases", lar dos deuses Aesires. Situava-se no topo da árvore, cercado por uma muralha enorme. No meio de Asgard, ficava a Planície de Idavoll, onde os deuses se reuniam em fortalezas para definir questões importantes. Para entrar e sair, os deuses construíram Bifrost, uma ponte de arco-iris feita de três fios de fogo trançados que ligava Asgard a Midgard. Apenas os deuses podiam atravessar a ponte guardada pelo deus Heimdall. Os únicos mortais que podiam entrar em Asgard pela ponte eram os mortos a caminho do Valhalla.
  4. VANAHEIM: "Reino dos Vanes", morada dos Vanires. Ficava ao nível de Asgard, no topo de Yggdrasil. É possível que Asgard na verdade seja uma cidadela dentro de Vanaheim, explicando ainda mais os conflitos entre as duas raças divinas.
  5. ALFHEIM: É o reino dos elfos, onde foi construído o palácio do deus Freyr, que repatriou essas criaturas como elfos de luz.
  6. MIDGARD: Entre os galhos de Yggdrasil, em sua parte central, ficava Midgard ("mundo do meio"), a morada dos humanos protegida por uma fortaleza mágica construída pelos deuses contra os gigantes.
  7. JOTUNHEIM: O lar dos gigantes de gelo e pedra, governado por Thrym em sua fortaleza Utgard. Ligava-se a Asgard pelo rio Iving, que nunca se congelava. Lá ficava o Poço da Sabedoria (Mimisbrunnr) de Mimir, abaixo da raiz de Yggdrasil mais próxima de Midgard.
  8. SVARTALFHEIM: A terra dos elfos negros (ou duendes). Fica no nível de Midgard.
  9. NIDAVELLIR: O reino subterrâneo dos anões. Também fica no nível de Midgard e Svartalfheim.

O esquilo Ratatösk vivia nos galhos de Yggdrasil. Ele passava o tempo todo subindo e descendo a árvore, levando mensagens desaforadas de Nidhogg para o galo (ou águia) dourado Gullinkambi que morava em Asgard.

Na base de Yggdrasil, viviam as Nornes. Elas guardavam o Poço do Destino (Urdarbrunnr), que, freqüentemente, recebia a visita dos deuses em momentos de grandes decisões. Outra função das governantes do destino era curar as raízes devoradas por Nidhogg. Na base do freixo, também viviam quatro cervos dos ventos, alimentando-se de seus frutos. Sustentando a Árvore da Vida, a gigantesca Jormungand, a serpente do mundo.

Os nove mundos de Yggdrasil, gravura de Friedrich Wilhelm Heine

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Aesires e Vanires

Gravura da guerra entre Aesires e Vanires (1882), de Karl Ehrenberg (1840-1914)

Aesir é o nome dado para a principal raça celeste de deuses nórdicos. Viviam na paradisíaca Asgard, com o Odin como líder supremo, Pai de Todos. Incluiam Balder, Bragi, Forseti, Heimdall, Höd, Honir, Loki, Magni, Mimir, Thor, Tyr, Ull, Vili, Ve, Vidar e Frigg, entre outros. Eram, em sua maioria, deuses com particularidades guerreiras.

Seus inimigos mortais eram os Vanires, deuses, em sua maioria, da natureza selvagem, do mar e de fertilidade que viviam em Vanaheim. Foram considerados os portadores de saúde, juventude, sorte e riqueza, e os mestres da magia. Incluiam Njörd, Nerthus, Freyr, Freya, Gullveig, Heid, Idun e Sif entre outros.

A guerra se instalou quando Aesires torturaram a deusa vanir Gullveig que só queria saber de ouro. Eles a amarraram no salão de Odin, a perfuraram com lanças e a queimaram três vezes numa pira mágica, mas ela sempre renascia. Os Vanires pediram reparação e direitos iguais, mas os Aesires preferiram atacar acreditando em sua força guerreira. No entanto, os Vanires se mostraram resistentes e começaram a ganhar terreno na batalha.

Após anos de guerras e fantásticos contos de trapaças, as duas raças divinas decidiram por uma trégua: cada lado cuspiu em um jarro de barro e, da saliva, nasceu o gigante Kvasir, o sábio. Os vanires Njord, Freyr e Freya se mudaram para Asgard para viver com os Aesires como símbolo da amizade criada. Enquanto Honir e Mimir foram morar em Vanaheim. A princípio, os Vanires acharam que o acordo valeu a pena, pois acreditavam que os dois aesires que estavam com eles eram os mais sábios de todos. Ao perceberem que estavam enganados, decapitaram Mimir e mandaram de volta a Asgard. Os Aesires decidiram não retribuir e permitiram que os Vanires morassem em Asgard.

Aesir pode ser derivada da antiga palavra teutônica "ase", palavra comum para "deus". Também são chamados de Ases, Aesares e Aisares. Os Vanires (ou Vanes) são, às vezes, comparados a elfos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Viracocha

Representação de Viracocha na Puerta del Sol em Tiahuanaco (séc. XII a.C.)

Deus andrógino criado por si mesmo, hermafrodita e imortal, Viracocha teria criado o Universo e tudo que nele existe, e se acreditava que ele estava em toda parte. Era considerado como o esplendor original, o Senhor, Mestre do Mundo, a divindade invisível criadora de toda a cosmovisão andina. É o arquétipo da ordem do universo no homem.

Estátua em miniatura da trindade inca
que representa os mundos:
o condor, o puma e a serpente.
(Acervo Pessoal)
Acredita-se que Viracocha saiu do Lago Titicaca para trazer ordem ao caos. Ele dividiu o Universo em três mundos: Hanan Pacha (o mundo de acima, o céu representado pelo condor), Kay Pacha (o mundo daqui, a terra representada pelo puma) e Uchu Pacha (o mundo subterrâneo representado pela serpente). É importante notar que, se Viracocha saiu do Lago Titicaca e o lago é a representação de Mama Cocha, a deusa seria ainda mais primeva que o deus criador.

Iniciou, então, sua obra no mundo antigo, talhando na pedra com sua respiração as figuras dos primeiros seres humanos, homens e mulheres que se tornaram o fundamento de seu trabalho. Quando o deus colocava estas estátuas gigantes nos vários lugares que lhes correspondiam, eles ganhavam vida na escuridão. Kay Pacha, o mundo visível, estava incompleto, uma vez que Viracocha postergou a criação das coisas para se ater aos seres humanos. Apenas o claror de Titi - um puma flamejante que vivia no alto do mundo - era percebido. A raça de gigantes começou a desobedecer Viracocha, que enraivecido, lançou um dilúvio que lavou a terra e transformou os gigantes novamente em pedra (formando montanhas, morros, montes...).

Viracocha trouxe, então, a luz para o mundo, fazendo o Sol (Inti), a Lua (Mama Quilla) e as estrelas nascerem do Lago Titicaca, até cobrir toda a abóboda celeste. Depois fez novos seres humanos do barro e os deixou em cavernas, de onde saíram para a superfície da terra. Satisfeito com esses novos homens, o deus definiu o tempo ao ordenar que Sol se movesse sobre a Lua.

Em seguida, foi dando vida aos animais e as plantas. Nesse caso específico, são inúmeros os relatos de que ou Viracocha teve dois filhos ou que criou dois seres especiais responsáveis por criar fauna e flora na terra: Imahmana Viracocha e Tocapo Viracocha. No entanto, é mais provável que o próprio deus ou tenha se dividido em dois ou tenha somente mudado de nome de acordo com a direção que seguiu no mundo.

As representações de Viracocha o adornavam com uma coroa de sol, raios (ou báculos) nas mãos e lágrimas saindo de seus olhos, mostrando sua ligação com as variações climáticas. Existem versões que o apontam como um homem branco de estatura mediana que usa vestes brancas e carrega um cajado e um livro. Nestes casos, é possível que seja o momento que Viracocha se infiltra na civilização para ensinar e ajudar.

Uma história interessante pode nos mostrar como são criadas as mitologias. É dito que Inti era o supremo deus sol dos incas, até que Pachacutec, o nono governante do império inca e seu primeiro imperador, observando seu movimento no céu, disse para seus servos:
— Eu sou o imperador e vocês me obedecem. Se eu mando vocês andarem daqui para ali, vocês me obedecem. O grande Inti viaja pelos céus todo dia de leste para oeste. Então, alguém ainda maior deve mandar ele fazer isso e ele obedece. Esse alguém é Viracocha e dele sou herdeiro.
Essa é uma lenda contada pelo povo peruano que nos mostra perfeitamente a origem humana de todas as mitologias e divindades do mundo.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Tane

Tane Mahuta, uma kauri (Agathis australis), árvore conífera australiana que leva o nome do deus por causa de sua altura.

Deus das florestas, Tane foi o responsável por a separar seus pais Rangi (Céu) e Papa (Terra). O casal primordial se abraçava com tanta força que seus filhos vivam sufocados entre os dois. Os irmãos de Tane queriam matá-los, mas, por ser o mais forte de todos, foi ouvido. Firmou bem os pés em Papa, encaixou os ombros no corpo de Rangi e o empurrou para cima com toda a força. Essa seria uma representação das árvores com suas raízes fincadas na terra e seus galhos apontando para os céus.

Com pena de seus pais nus e separados, Tane começou a vesti-los. Primeiro, pintou o Céu de vermelho, mas não gostou do resultado. Então, cobriu-o com o manto negro da noite. Para sua mãe, arranjou algumas árvores invertidas, ou seja, com as raízes para cima, mas o efeito não o agradou. Resolveu fazer um vestido com as mais verdes e tenras folhas e as flores mais coloridas para cobrir todo seu corpo.

Um de seus irmãos, Uru, não ganhou nenhuma função divina e chorava enrolado no manto de seu pai. Para que ninguém visse suas lágrimas, Uru as guardava em cestas. Mas Tane acompanhou a tristeza do irmão é pediu os cestos emprestados. Surpreso e com medo de ser descoberto em sua fraqueza, Uru não quis dar, mas Tane avançou e derramou uma delas no manto de seu pai. Suas lágrimas era luzes brilhantes que se tornaram as crianças-luz, as estrelas. Feliz com o ocorrido, Uru deu suas outras cestas a Tane, que foi criando a Via Láctea.

Tane abre a cesta de Uru. (Kipper)

Acreditava-se que seu maior rival era seu irmão Tawhiri, deus das tempestades. Ele teria perseguido alguns filhos de Tane por toda a terra e eles acabaram se escondendo no mar, onde se tornaram peixes a mando de Tangaroa. Outros colocam Tangaroa como seu maior rival, criando uma dualidade entre mar e terra.

Algumas lendas dizem que Tane foi o criador do primeiro homem, Tiki, a partir do barro. Outras dizem que ele se acasalava com árvores e animais, gerando todo tipo de monstro, como serpentes e dragões, porque sua mãe não permitia que ele tivesse uma esposa - uma punição pela separação à força. Até que um dia, ela se apiedou de Tane e sugeriu que ele fizesse para si uma esposa com a areia da praia. Ele seguiu a ideia de Papa e soprou no nariz de sua criação arenosa, que espirrou, e se tornou Hine-hau-one, a primeira mulher (mudando o paradigma da criação masculina).

É dito também que Tane acabou se casando com sua filha, Hine-titama, sem saber quem ela era. Quando eles souberam, ela fugiu para o subterrâneo e se tornou a deusa da morte, chamada de Hine-nui-te-po. Tane desceu ao subterrâneo para pedir perdão e se colocar à disposição da deusa, que pediu que ele voltasse ao mundo e criasse seus filhos até que eles voltassem à ela.

Todos os que usam madeira veneravam o deus, particularmente os construtores de canoas. Uma noite antes de começar a cortar as árvores para fazer as canoas, os artesãos rezavam para Tane e descansavam os machados no seu templo.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Nana Buluku e Aido-Hwedo

Acrílica de Suzanne Iles.
O povo Fon acreditava que, antes da Terra ser criada por Nana Buluku, o deus criador gerou o dragão macho e fêmea Aido-Hwedo como sua companhia. O dragão multicor era capaz de se mover tanto pela terra quanto pelos céus com a mesma habilidade, e carregava Nana Buluku em sua boca. Viajaram juntos por todos os cantos, criando tudo que conhecemos. Acredita-se que o relevo da terra tenha sido feito pela boca do dragão e seus excrementos.

Depois de tudo pronto, os dois pararam para descansar. Nana Buluku achou que a Terra não suportaria o próprio peso e pediu para Aido-Hwedo ficar sob ela, sustentando o mundo em seu corpo enrolado. Para que o dragão não morresse de calor ou de sede, Nana Buluku encheu os oceanos. O deus criou também dois macacos vermelhos que ficariam trazendo barras de ferro como alimento para o dragão. Diz-se que, quando os macacos não encontram ferro, Aido-Hwedo se desespera de fome e tenta comer o próprio rabo. A dor é tão intensa que gera desastres naturais, como terremotos, erupções vulcânicas e maremotos. O povo Fon acredita que, um dia, Aido-Hwedo irá consumir o subterrâneo e a Terra será destruída.

Forma de ouroboros.
Pelo seu formato alongado, muitos citam Aido-Hwedo como uma serpente alada multicolorida, criatura que aparece em várias outras mitologias, como a australiana e a asteca. Existem relatos que a relacionam com o deus Oxumaré de outros povos africanos (e também do Brasil).

Nana Buluku também é chamado de Mawu-Lisa, que seria, na verdade, os nomes de seus filhos gêmeos ou a divisão de seus gêneros. Ele se retirou após a criação, deixando o controle do mundo a cargo de outros deuses.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Ishtar / Inanna e Tammuz

Ishtar é a deusa babilônica da fertilidade e do amor sexual. Considerada a Grande Mãe, também era chamada de Deusa dos Deuses e Luz do Mundo por ter sido responsável por criar tudo que existe. Controlava a menstrução e o prazer, mas também era a deusa da guerra, mostrando a força das emoções nos combates. Assemelha-se em alguns pontos a Afrodite dos gregos e a Ísis dos egípcios.

Acredita-se que na Antiga Babilônia, Ishtar tenha sido inicialmente uma deusa da lua ligada à vegetação. No entanto, os sumérios a identificaram com alguns mitos de sua deusa Inanna e a alçaram ao mais alto panteão. Por essa razão, suas relações familiares eram bastante confusas. Pode ser tanto filha de deuses da lua quanto do todo-poderoso An - que também é descrito como seu marido. Seria irmã gêmea de Shamash, ou então, irmã de Marduk e Ereshkigal.

Ishtar tinha inúmeras aventuras amorosas, como Marduk e o herói Gilgamesh. Seu epíteto "A Virgem" seria pelo fato de nunca ter se casado - e esse epíteto também pode ter ligação com a Virgem Maria. Seu parceiro mais importante foi seu irmão/filho Tammuz (ou Dumuzi), deus da vegetação.

O mito que descreve as estações possui algumas leituras relacionadas ao casal. Em uma delas, Ishtar teria ido ao Mundo Inferior para ficar com seu amado falecido. Chegando às portas do reino de Ereshkigal, Ishtar ordenou que o guardião a deixasse passar pelos sete portões. O guardião a avisou que ela teria que tirar uma parte de sua roupa a cada portão que passasse e Ishtar acabou chegando nua ao trono de Ereshkigal para negociar. Enquanto isso, com a ausência da deusa, toda a atividade sexual no mundo cessou. O deus Ea, então, criou o andrógino Asu-shu-namir para reviver Ishtar. A criatura desceu como enviado do rei dos deuses e exigiu que Ereshkigal utilizasse as àguas da vida para reviver Ishtar, que voltaria a cada seis meses para revê-lo. Outros dizem que seu pai Sin, deus da lua, enviou um exército para salvá-la junto com Tammuz.

Estudiosos estão revendo este mito nos escritos antigos. Ainda não se saberia a verdadeira razão da descida de Ishtar ao Mundo Inferior. Uma regra de Ereshkigal dizia que para ela sair, como ordenado por Ea, ela teria que enviar alguém para seu lugar. Assim, demônios acompanharam o retorno de Ishtar até sua casa, onde encontrou seu marido Tammuz se divertindo ao invés de estar em luto. Ishtar o indicou e os demônios o levaram. A irmã de Tammuz, Geshtinanna (ou Belili) se desesperou e ofereceu ficar metade do ano no Mundo Inferior.

O culto a Ishtar tinha alguns rituais de caráter sexual, libações e outras ofertas corporais. A dança do ventre oriental pode ser derivada das danças a Ishtar. Era dito que todo ano novo (revisto no calendário lunar), o rei precisava "se casar" com a deusa em uma grande orgia com suas sacerdotisas. Outro ritual importante ocorria no equinócio da primavera, onde os participantes pintavam e decoravam ovos e os escondiam e enterravam em tocas nos campos. Embora não exista uma prova concreta associando os dois rituais, é possível que seja o antigo ritual pagão que deu originou os ovos da Páscoa cristã. Aliás, na Bíblia, encontra-se os nomes de Ishtar e Inanna associados à prostitutas e a Torre de Babel seria uma descrição de um Templo de Ishtar.

O leão era o animal sagrado da deusa, que muitas vezes era representada como uma bela e voluptosa mulher cavalgando o felino. Imagens do animal adornavam a Porta de Ishtar, na entrada da Babilônia. Uma estrela de oito pontas em seu cinto (uma roseta) também é seu símbolo, portanto, é relacionada aos dois lados do planeta Vênus: a Estrela Vespertina (do amor, do romance, do sexo) e a Estrela da Manhã (a emoção da guerra). Tammuz podia ser representado como um cordeiro ou um touro. É interessante notar a relação predatória entre os animais que representam o casal.

Algumas de suas representações primevas a colocavam próxima a uma árvore sagrado com uma serpente e vários pássaros. Essa representação pode ter dado origem a inúmeras lendas de serpentes voadoras divinas em outras culturas, assim como, ter influenciado a história de Adão e Eva. As asas que costumam aparecer podem ser referentes à essas representações ou ao mito de sua descida ao Mundo Inferior, mostrando que ela era capaz de ir e vir aonde bem entendesse. Como deusa da guerra, segurava um arco e uma adaga curva.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Tangaroa

Filho mais velho de Rangi (Céu) e Papa (Terra), Tangaroa era o deus dos mares de personalidade agressiva que, junto com seus meio-irmãos (Rongo, Tane, Haumia, Tawhiri e Tümatauenga) forçou a separação de seus pais. Diz-se que seu corpo tinha tanta água que ele explodiu e formou os oceanos. Seus filhos são Ikatere, rei dos peixes, e Tu-te-wehiwehi, ancestral dos répteis.

Alguns mitos dizem que, após a separação, foi atacado por seu irmão Tawhiri, deus das tempestades, e se escondeu no fundo do mar. Vivia sozinho na concha escura de um mexilhão primordial.

Tangaroa tinha uma rixa com seu irmão Tane, deus das florestas, porque ele acolheu Tu-te-wehiwehi depois dele ter sido banido dos mares por sua violência. Tane, com suas canoas de madeira, suas iscas de pesca e suas redes tecidas com fibras de madeira, era responsável pela morte das criaturas marinhas. Então, Tangaroa ordenava que o mar, com suas fortes ondas, engolisse as canoas, as árvores, as florestas, as casas de madeira e até as praias. Por essa razão, os povos maoris colocavam mar e terra como esferas opostas e precisavam honrar Tangaroa sempre que iam pescar, pois estavam entrando no reino do inimigo de onde eles moravam.

Pode aparecer como um enorme peixe que gera as criaturas do mar, inclusive seres fantásticos como sereias, ou um lagarto verde que traz bons ventos. As marés são sua respiração. Marinheiros polinésios e micronésios costumam navegar com um pedaço de coral para honrar o deus.

Seus mitos se espalham pelas ilhas do Pacífico de formas diferentes. No Havaí, tem ligações com Kanaloa. Nas Ilhas Cook, Tangaroa é filho da luz solar e tem associações com o fogo. No Taiti, recebe o nome de Ta'aroa, o caos criador. Como criador, saiu de sua concha para cobrir o mundo depois que céu e terra se separaram. Fez os deuses e todos os seres vivos, sendo representado com um corpo oco cheio de pequenas esculturas que simbolizam suas criações.

Por mais incrível que pareça, nas lendas havaianas - contradizendo toda a mitologia da Polinésia -, Tangaroa era um deus maléfico, associado à feitiçaria e ao submundo: sua maldição teria criado a morte no mundo.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Djanggawuls

Clãs do norte da Austrália falam de um trio de deuses - duas irmãs, Djanggau e Djunkgao, e um irmão, Bralbral - chamados Djanggawuls que chegaram a Terra por Beralku (ou Bralgu), a ilha dos espíritos mortos.

Dizia-se que as irmãs viviam grávidas por estupros de seu irmão. Elas iam gerando animais, plantas e os primeiros humanos enquanto andavam pela Terra. A cada nascimento, partes de suas vulvas caíam no solo e se tornavam objetos sagrados. Seu irmão recolheu os objetos, destituíndo-as de seus poderes divinos. As duas preferiram a reclusão ao sul da Austrália.

Outra lenda diz que elas eram Miralaid e Bildjiwararoju, as rubras e plumadas filhas do deus-sol. Elas modelaram a paisagem usando ranggas (bastões sagrados especiais), que depois foram deixados em locais sagrados. Também eram consideradas deusas da fertilidade, possivelmente numa relação incestuosa com o pai.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Kwatee

Índios nootka no Lago Quinault
Também conhecido como Kivati, Kwatyat e Xelas, Kwatee era o deus da transformação, da mudança e das melhorias para a tribo Nootka. Fez o possível para mudar o mundo antigo para melhor, apesar de muita oposição de seus contemporâneos. Sempre que via algo de ruim, fazia algo a respeito.

Diz-se que foi o criador responsável por tudo o que existe no cosmo nootka. Por exemplo, transformou a sujeira e o suor de seu corpo em seres humanos. Também diminuiu os poderosos animais gigantes (Formiga, Castor, Aranha e Raposa) para facilitar a vida dos homens. Foi considerado tanto herói quanto trapaceiro e ardiloso, graças a sua capacidade de se transformar em qualquer coisa.

Teve diversas aventuras: transformou uma poça de gordura num lago, roubou terra de um chefe lobo e explodiu de tanto suar. Mas é mais conhecido por derrotar o monstro no lago Quinault, que (segundo algumas fontes) havia engolido sua mãe. Ele atirou pedras quentes na água numa tentativa de ferver e incomodar o monstro, enquanto, seu irmão mais novo, Tihtipihin era também engolido pela fera em uma ousada operação de resgate. Ele cortou a barriga do monstro e todos saíram ilesos. Algumas lendas colocam apenas Tihtipihin dentro da barriga e Kwatyat usando as pedras para ferver e salvar seu irmão.

No fim de sua vida, um velho e cansado Kwatee decidiu desaparecer na direção sul após fazer o que podia pelo mundo. Alguns dizem que ele se sentou numa montanha na América do Norte e se tornou uma pedra.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O caos japonês

Por eras e eras a fio só havia o Caos, inimaginavelmente ilimitado e sem forma definida. Dessa massa sem fronteiras e amorfa emergiu algo leve e transparente e formou a Planície dos Céus Elevados, na qual se materializou Ame-no-Minaka-Nushi (Deidade-do-Augusto-Centro-do-Céu). Logo depois os Céus deram a luz a uma deidade chamada Takami-Musubi (Elevada-Augusta-Deidade-Produtora-de-Maravilhas), seguida de uma terceira chamada Kammi-Musubi (Divina-Deidade-Produtora-de-Tesouros). Estes três seres divinos foram chamados de As Três Deidades Criadoras.

Enquanto isto, o que era pesado e opaco neste vazio gradualmente se precipitou e se transformou na terra, mas levou um tempo imensamente longo para se condensar suficientemente e formar um solo sólido. Em seu estágio primordial, por milhões e milhões de anos, a terra se assemelhava a uma mancha de óleo flutuante, como uma água-marinha na superfície da água. De repente, como que jorrando por um tubo, dois seres imortais nasceram. Eles eram Umashi-Ashi-Kahibi-Hikoji (Príncipe-Primogênito-do-Agradável-Jorro-do-Tubo) e Ame-no-Tokotachi (Celestial-Eternamente-Pronta). Muitos deuses então nasceram em sucessão, e assim, eles cresceram em número.

De todas essas divindades primordiais, Takami-Musubi foi a que teve mais registros posteriores. Alguns mitos o colocam como mensageiro e principal assistente de Amaterasu, funcionando como porta-voz da deusa. Outros dizem que ele é marido da deusa e avô de Ninigi-no-mikoto, fundador da dinastia imperial japonesa. Também existem registros de Takami-Musubi ser mulher e deusa do Sol Admirável.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Nu Wa e Fu Hsi

Pintura de Nu Wa criadora
A criadora Nu Wa (Nu Gua) era adorada como intermediadora de homens e mulheres e aquela que garante crianças. Inventou o assobio, instituiu o casamento e ensinou à humanidade a construir represas e canais de irrigação. Dizem que foi responsável pela reconstrução do universo e recolocação dos pontos cardeais após a devastação feita pelo monstro Gong Gong. Posteriormente, sua história se mesclou com a de Pan Ku.

O imperador Fu Hsi (Fu Xi) é considerado o fundador da China. Foi o primeiro rei (governando por mais de um século), estabeleu as primeiras leis (sobretudo as do casamento instituído por Nu Wa), inventou os nomes de clãs e famílias e fez o primeiro calendário. Grande inventor mostrou às pessoas como trabalhar os metais, domesticar animais, trabalhar a seda. Também construiu os primeiros instrumentos musicais e criou o primeiro sistema de escrita chinesa.

Fu Hsi e os trigrams,
pintura de Ma Lin (séc. XIII)
Fu Hsi tornou-se um héroi tão importante que alguns mitos o colocam como irmão e/ou marido de Nu Wa. Depois de um grande dilúvio, o único sobrevivente teria sido Fu Hsi, que teve seu corpo transformado em serpente por Nu Wa. Seus filhos foram as plantas e animais do mundo. Numa outra versão do mito, os irmãos Fu Hsi e Nu Wa sobreviveram ao dilúvio que ocorreu após a separação do Céu e da Terra e pediram permissão aos deuses ancestrais para criar uma nova humanidade a partir da terra molhada.

No entanto, existem muitos mitos que colocam Nu Wa como única criadora da humanidade e a Grande Mãe. Cansada da solidão, Nu Wa teria começado a criar os humanos a partir do barro. Percebendo que iria levar muito tempo para povoar a Terra, Nu Wa mergulhou uma corda na lama e espalhou gotas de lama por todas os lados. Dizem que aqueles que foram criados pelas mãos da deusa tornaram-se ricos e poderosos, enquanto aqueles que se formaram das gotas espalhadas são pessoas pobres e fracas.

Quando Nu Wa e Fu Hsi são representados juntos, suas caudas de dragão estão entrelaçadas. Nu Wa carrega uma bússola (símbolo da Terra) e Fu Hsi segura um esquadro (símbolo do Céu) e um painel com os oito tigrams da escrita chinesa.

Tecido com as representações de Nu Wa e Fu Hsi entrelaçados (séc. VIII)