segunda-feira, 8 de março de 2010

Jaci

Na cosmologia de alguns povos nativos do Brasil, Jaci é a Lua, irmã e também esposa de Coaraci, o Sol.

Assim diz a lenda que pode nos revelar a origem do nome da deusa (o lago) e entender como a Iara, poderia ser irmã de Jaci em alguns contos:
Irmã se apaixonou pelo irmão e o visitava cada noite em sua rede, misteriosamente, protegida pelas trevas. Para descobrir quem era aquela que o despertava para o amor, o irmão umedeceu-lhe as faces com urucum. E ela que habitava as margens do lago Iaci, espelhou-se em suas águas e viu que estava marcada para sempre. Manejando o arco, despediu flecha após flecha, até formar uma longa vara, e por ela subiu para se transformar na Lua. O irmão que habitava o alto da serra, indo vê-la e não a encontrando, de dor metamorfoseou-se em mutum (um pássaro). Ela agora vem mensalmente mirar-se nos espelhos dos lagos para ver se desapareceram as manchas.
Mas, para divinizá-la, algumas lendas fizeram com que o deus maior, Tupã, fosse responsável pela sua criação para ser a rainha da noite e trazer suavidade e encanto para a vida dos homens. Em outras, Coaraci teria transformado a mais bela "indígena" criada por ele na Lua.

Ela aparecia em duas formas: Jacy Omunhã (Lua Nova) e Jacy Icaua (Lua Cheia). É dito que Sumá, deusa guerreira da ira, era sua filha com Tupã. Também teria sido mãe de Araci com o mortal Itaquê.

Tornou-se mãe dos frutos, presidindo a vida vegetal, e controlava os gênios das florestas como o Saci, o Boitatá e o Curupira. Ela teria ensinado ao primeiro pajé como apaziguar os espíritos malignos e conversar com as almas dos antepassados. É também protetora dos amantes e da fertilidade, sendo comprada a Ártemis, na mitologia grega, a Vishnu, na mitologia hindu, e a Ísis, na mitologia egípcia.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Epona

Mármore da deusa gaulesa Epona, século 4. Segundo legenda em museu, o imperador romano Galério
pode ter sido responsável pela introdução do culto de Epona em Salônica.
"A Cavaleira" ou "A Amazona", Epona é representada sempre a cavalo, sentada de lado, como uma amazona. Na cabeça, trazia um diadema. O vigor e a força do cavalo são símbolos do poder da terra e de sua fertilidade, sendo assim, presidia, também, à fecundidade do solo, fertilizado pelas águas, tornando-se uma das divindades mais populares entre os celtas. É protetora dos cavalos, dos jumentos e das mulas, e das nascentes dos rios. Sua autoridade era mantida mesmo após a morte, sendo responsável por acompanhar as almas as suas últimas jornadas.

Como deusa da fertilidade, seus atributos eram a cornucópia, uma pátera, espigas de trigo e frutos. Figuras de cavalos brancos recortadas em encostas gredosas talvez tenham sido dedicadas à deusa, como o monumento conhecido como Cavalo Branco de Uffington, na Inglaterra. A adoração a Epona foi muito difundida entre os séc. I e III, ficando popular nas cavalarias dos exércitos romanos.

Seu nome deriva do idioma gaulês para "grande égua" e foi considerada uma forma primitiva da deusa grega Demeter.

Estatúa de Epona, Museu Histórico de Berna (Suíça, ano 200)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Idun

Loki e Idun, ilustração de John Bauer (1911)
Deusa vanir da primavera, Idun era a guardiã do pomar sagrado cujas maçãs davam a juventude eterna e restaurava os males de quem as comesse. Portanto, os deuses eram mortais mas ela era responsável pela imortalidade deles, fornecendo uma maçã por dia, vinda de seu eski, um cofre de madeira de freixo.

Os gigantes vivam tentando roubar as maçãs. O gigante Thiazi, por exemplo, capturou Loki e disse que só o soltaria se o deus o ajudasse a roubá-las. Loki atraiu Idun até a floresta e o gigante pode capturá-la metamorfoseado em águia. Quando os deuses começaram a envelhecer, descobriram as ações de Loki. Obrigaram-no, então, a resgatar Idun, e Loki utilizou o manto de penas de falcão de Freya para tirá-la de Thiazi, transformando-a numa noz. Esta história é uma metáfora para a chegada do inverno, onde Thiazi (Deus do Inverno) seqüestra Idun (Deusa da Vegetação) com ajuda de Loki - que representa o vento quente de verão. O retorno de Idun como um noz é o retorno da primavera, o rejuvenescimento dos deuses.

Bragi tocando harpa para Idun de pé,
de Nils Blomeér (1846)
Outra parábola sobre essa passagem de estação é a do desmaio de Idun aos pés de Yggdrasil, a árvore da vida. Desacordada, Idun caiu em Niflheim, o mundo subterrâneo e ficou paralisada com o que viu (chegada do outono). Os deuses foram atrás dela com peles de lobo branco, mas não conseguiram movê-la e a cobriram com as peles (neve). Seu marido Bragi ficou tocando harpa e cantando ao seu lado até ela se recuperar - e trazer a primavera.

Ao que parece, Idun não tinha culto regular, sendo uma deusa mais figurativa. Na mitologia grega, foi comparada a Hebe, e suas maçãs os pomos dourados dos Jardins das Hespérides. Pode ser chamada de Iduna, Ithun e Iounn, que significa "sempre jovem" ou "rejuvenescedor".

terça-feira, 2 de março de 2010

Chandra

Estátua de Chandra
(séc. XIII, British Museum)
Chandra, o deus da lua, nasceu enquanto os deuses criadores hindus mexiam o mar de seiva. Por essa razão, também é conhecido como Soma, a bebida sagrada dos deuses (semelhante à ambrosia grega). Chandra minguava porque todo os dias os deuses pegavam um pouco de Soma, e voltava a crescer quando o deus Surya levava água para restaurar-lhe as forças. É descrito como um belo jovem de pele era branca como a seiva que tinha em suas mãos uma lótus e algumas espadas. Dirigia a carruagem lunar (a própria Lua) puxada por dez antílopes brancos (ou cavalos).

Por vir da seiva, era considerado um deus da vegetação e também um deus da fertilidade ao ser responsável pelo orvalho que cai a noite e é capaz de gerar vida na natureza. Por isso, quando um casal deseja ter filhos, orava para Chandra. Era dito que Buda era seu filho com a deusa Tara.

Seu nome significa "radiante" e também era chamado de Rajanipati (Senhor da Noite), Kshuparaka (Aquele que ilumina a noite) e Indu (Gota brilhante, o primeiro chakra). Era considerado um graha, uma força cósmica capaz de determinar o comportamento dos seres vivos. Graha também pode significar "planeta", referenciando a influência dos astros na vida terrestre. Na astrologia védica, Chandra reina sobre o signo de Câncer, e é responsável pela mente, pelas emoções e pela sensibilidade. Alguns atributos associados:

  • ANIMAL: Antílope e coelho
  • ALIMENTO: Arroz
  • DIA: Segunda-feira
  • COR: Branca
  • ELEMENTO: Água
  • METAL: Prata
  • PEDRA: Pérola e selenita
  • ESTAÇÃO: Inverno
  • DIREÇÃO: Noroeste

segunda-feira, 1 de março de 2010

Khnum

Khnum era uma antiga divindade egípcia, mencionada nos textos da pirâmide de Khufu como seu protetor (seu culto perdeu forças com a ascensão de Ra). Em sua origem pré-dinástica, Khnum era o guardião da nascente do Nilo e ajudante de Hapi, deus das enchentes. Ele abria as comportas que ficavam na caverna de Hapi e regulava a quantidade de lodo na água. Como a vida no Antigo Egito era baseada nas inundações anuais do rio que fertilizava os campos e permitia a prática agrícola, todos os deuses do Nilo eram de suma importância.

É exatamente por causa do lodo que Khnum ganhou sua maior função no panteão egípcio: o de criador dos homens e dos deuses e modelador do mundo. Em seu torno de oleiro, ele modelava crianças e dava alma a elas (ka). Também é dito que modelava deuses. Ao ser associado a Heqet, deusa do parto, passou a receber ajuda para colocar os moldes nos úteros maternos e garantir a saúde dos recém-nascidos. Em Esna, Khnum seria o responsável pela criação do ovo que deu vida à Ra, o deus-sol maior.

Por estar relacionado à nascente do Nilo, também estava relacionado às águas que vinham das profundezas da terra e, portanto, tinha ligações com o mundo subterrâneo. Aparece no Livro da Morte, como protetor daqueles que morreram e da barca de Ra.

Era representado como um carneiro, um homem com cabeça de carneiro ou um homem com os chifres de um carneiro. Poucas vezes aparecia com cabeça de boi. Os chifres eram horizontais, e costumavam vir com uma jarra de argila cheia de água ou uma coroa dupla branca e plumada do Alto Egito. Pode também ser chamado de Chnum, Khnemu ou Knum. Existe uma representação de Khunm com quatro cabeças de carneiro, chamada de Sheft-hat. Além da sua, as outras cabeças representariam: Shu, Geb e Osíris, ou seja, o ar, a terra, a morte, e ele como a criação.

Por duas razões, Khnum também era também considerado deus da fertilidade: primeiro, por causa do lodo fertilizante do Nilo que ele controlava e manipulava para gerar vida; e, segundo, porque os egípcios consideravam os carneiros animais potentes.