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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Tiamat

Tiamat vs. Marduk

Inicialmente, quando o mundo cultuava a Grande Deusa, Tiamat era a mãe dos elementos, responsável por tudo que existe, o caos primitivo da mitologia babilônica e sumérica.

Seu marido Apsu era o deus do abismo das águas doces e ela era a deusa dos oceanos. Do encontro da água doce e da água salgada, nasceram os primeiros deuses: Lachmu e Lachamu. No Enuma Elish - poema épico da criação patriarcal babilônica, escrito em sete tábuas de argila (2000 a.C) -, ficamos sabendo que a primeira prole de deuses gerou novas divindades, que irritavam tanto Apsu quanto Tiamat, mas a deusa os perdoava por serem seus familiares. Mas Apsu queria matá-los para que a tranquilidade reinasse novamente. Com medo de Apsu, os deuses pediram que o deus Ea o mattase antes. E ele assim o fez.

Enfurecida, Tiamat se casou com seu filho Kingu e deu à luz uma grande lista de seres, como dragões, sereias, escorpiões e serpentes aquáticas. Com Kingu no comando, o exército de Tiamat atacou os deuses, que deseperados pediram ajuda ao poderoso Marduk, filho de Ea. Marduk disse que, se vencesse a batalha, queria ser coroado rei dos deuses (princípio monoteísta). Ele, então, teceu uma rede e apanhou Kingu e todos os monstros, acorrentou-os e os atirou no Submundo. Partiu, então, para matar Tiamat transformada em dragão. Primeiro, cegou-a o dragão com seu disco mágico (possivelmente representado pelo próprio sol). Depois feriu-a mortalmente com sua lança invencível, símbolo da vontade criativa e procriação. O herói teve ainda o auxílio dos sete ventos para destruir a deusa-dragão. Com metade do corpo dela, fez o céu, e com a outra metade, a terra. De sua saliva formou as nuvens e de seus olhos fez fluir os rios Tigre e Eufrates. Finalmente de seus seios criou grandes montanhas.

Essa batalha entre Tiamat e Marduk é o épico Bem vs. Mal, Ordem vs. Caos, a superiorização de um deus sobre os outros, o patriarcalismo supremo. Era anualmente comemorada nos festivais de fim de ano.

Outros mitos, descrevem o processo de criação como um fluxo contínuo de energias originadas do sangue menstrual de Tiamat, armazenado no Mar Vermelho (Tiamat, em árabe). Foi essa a razão pela qual, mesmo após a interpretação patriarcal do mito, na qual foi acrescentada a figura de Marduk, foi mantido na Babilônia durante muito tempo o calendário menstrual, nomeando os meses do ano de acordo com as fases da Lua.

Mesmo sem muitas referências que comprovem sua descrição física, era na maioria das vezes representada como um dragão fêmea ou uma serpente do mar, por causa dessa batalha épica. Ela pode ser a origem do monstro Leviatã do Antigo Testamento. E é possível que tenha sido referência para o poderoso dragão da série animada Caverna do Dragão.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Temas recorrentes para a criação

Há semelhanças entre as muitas histórias que falam sobre a criação do universo e da humanidade, batalhas divinas, a destruição do cosmo, dilúvios, deuses ardilosos e aventuras heróicas. O que é dito como bem e mal difere de uma sociedade para a outra, mas todas as mitologias incluem seres que trazem dor e problemas às pessoas, assim como aquelas que as protegem e confrontam. Um monstro maligno será derrotado pela coragem, força e astúcia, onde as ações dos heróis e vilões servem para mostrar aos povos os benefícios de escolher entre o comportamento o bom e o mau, a recompensa e o castigo.

Em geral, os mitos da criação do mundo e do universo começam com o caos, uma escuridão vazia e infinita. Desse vazio surgem ou o criador primevo (como o deus egípcio Ptah ou a deusa finlandesa Ilmater) ou dois seres primordiais. São esses criadores que dão forma ao universo, ordenando o movimento das estrelas, da Lua, e criando a Terra de variadas maneiras. Por sua vez, os primeiros criadores cedem lugar a outras divindades, que continuam o processo de criação, fazendo as plantas, os animais e a raça humana.

O ovo cósmico
Antes da criação do universo, as divindades primevas permanecem inertes, à espera do momento inicial. Os mitos falam muitas vezes de deuses ou de forças criativas confinados dentro de um imenso ovo cósmico que parte ao meio no devido momento. Uma das metades forma o céu e a outra se torna a terra. Os criadores saem da casca e começam a dar à luz outros deuses, ou a criar a humanidade. Os chineses, os astecas, o povo dogon da África e diversas tribos do Pacífico possuem variações desse mito. O criador chinês Pan Ku, por exemplo, morre depois de tremendo esforço para separar o céu da terra, mas Rangi e Pao, o céu e a terra dos maori, sobrevivem e produzem divindades e seres humanos.



Um antiga pintura da Ilha de Páscoa feita em uma pedra, mostra um deus com cabeça de pássaro segurando o ovo cósmico.


A serpente do mundo
Às vezes é dito que que as forças fantásticas envolvidas na criação do mundo foram geradas por um poderoso animal mítico, como a Serpente do Mundo. Essa serpente colossal habitaria as profundezas do oceano e conteria energia criativa em seu corpo fabuloso. Um mito egípcio nos conta como a serpente Amduat foi a fonte de toda a criação, uma vez que o deus-sol nasceu de seu corpo. A Serpente do Mundo pode ser incubada no ovo cósmico, como acontece na antiga lenda grega de Ófion, ou pode ser a Cobra Arco-Íris, criatura comum tanto em mitos africanos quanto australianos - uma criadora de animais ou de rios e oceanos. Na mitologia hindu, Vishnu está descansando sobre a serpente Ananta quando uma flor de lótus surge de seu umbigo. A flor desabrocha e o deus Brahma criador surge de dentro dela.


Nesta pintura asteca, vemos o deus Tezcatlipoca usando o seu pé como isca para tirar a Serpente do Mundo do fundo do mar. O monstro se feriu e de seu corpo foi feita a terra.



A formação do cosmo
O primeiro ato da criação - a ruptura do ovo cósmico ou o nascimento do criador primevo - pode ocorrer de forma rápida, mas o restante da criação em geral se dá durante um longo período. O processo às vezes envolve muitas gerações de deuses e deusas, cujas famílias acabam formando grandes panteões. A terra, então, torna-se habitável com a criação de rios, oceanos, plantas e animais, antes que seja criada a humanidade. Em muitas mitologias, o processo de criação é repetido sem descanso por muito tempo. Mitos astecas e dos índios norte-americanos falam de uma sucessão de diferentes eras, nas quais o mundo é recriado num ciclo interminável, sempre repetido com ligeiras variantes. Esses atos de criação produzem uma espantosa variedade de mundos mitológicos. Em muitos mitos africanos, os quatro pontos cardeais tinham grande importância e estavam associados aos elementos (água, terra, ar e fogo), explicando porque o universo é como é.

Povoamento do mundo
Quase sempre o ser humano aparece relativamente tarde no processo de criação. Pode-se dizer que a chegada da humanidade é uma idéia que chega após o trabalho prioritário de criar o cosmo e as divindades. Em geral, é um ato deliberado de deuses e deusas, que pode ser descrito por meio de alguma atividade humana familiar. Por exemplo, em muitos mitos africanos, os deuses moldaram a primeira pessoa do barro, como se fosse um pote de cerâmica. A mitologia chinesa descreve o surgimento do primeiro ser humano de modo parecido. Às vezes, a criação dos humanos é descrita como um acidente resultante de alguma outra ação dos deuses. Na mitologia do Antigo Egito, os humanos foram criados pelas lágrimas derramadas pelo deus-sol quando reencontrou seus filhos Chu e Tefnut. A criação dos índios norte-americanos, descreve as pessoas sendo atraídas para a superfície terrestre vindas do subterrâneo. Os antigos gregos tinham um mito semelhante que dizia que Pelasgo, o primeiro homem, nascera do solo da Arcádia. Existiram até mitos que diziam que a humanidade cresceu como plantas.


Sozinha, a deusa chinesa Nu Wa começou a moldar o homem e a mulher em barro. Em seguida, soprou vida dentro dos moldes e a humanidade começou a se formar.