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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Hespérides

A rigor, o termo Hespérides designa dois grupos distintos de divindades. O primeiro e mais antigo é o das três deusas primaveris que personificam a luz da tarde e o ciclo do entardecer, representando o espírito fertilizador da natureza. Eram filhas de Nix (a noite) e Érebo (a escuridão). Em outras versões, eram filhas de Éter (luz celeste) e Hemera (luz do dia). Egle (a brilhante), Eritia (a vermelha) e Hespéria (a crepuscular) passeavam pelos céus, encarregando-se de iluminar todo o mundo com a luz vespertina. O séquito celeste era regido por Helio (Sol), Eos (Aurora) e Selene (Lua). Portanto, o ciclo do dia se abria com Hemera, passando pelas Hespérides e finalizando com Nix.


Atlas e as Hespérides, óleo de John Singer Sargent (1924).
O outro grupo é o das sete ninfas do Poente mais comumente ditas como filhas do titã Atlas com Héspera, deusa do entardecer. Também são descritas com filhas de Zeus e Têmis ou de Fórcis e Ceto. Elas eram Aretusa, Cinosura, Ciparissa, Clete, Egéria, Hespéria e Hespéris. Elas possuíam o dom da profecia, da metamorfose e de controlar a vontade dos animais. Eram consideradas guardiãs da ordem natural, dos tesouros dos deuses, das fronteiras entre o dia e a noite e entre os três mundos (Terra, paraíso e mundo subterrâneo). São mais conhecidas por serem as guardiãs dos Jardins de Hera, situados no extremo ocidental do mundo (mais precisamente na Mauritânia, África Ocidental), morando em um palácio em frente à árvore dos pomos dourados.

É possível perceber que a mitologia de Hércules se baseia em ambos os grupos para a penúltima tarefa do herói, quando diz que são três Hespérides, filhas de Atlas, que guardam os jardins.

O Jardim de Roma. Gravura de Giovanni Battista Falda (1680).

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

HÉRCULES: Os Doze Trabalhos - Os Pomos das Hespérides


O Jardim das Hespérides,
tela de Frederic Leighton (1892).
Como penúltimo trabalho, Euristeu pediu que Hércules trouxesse três pomos dourados do Jardim das Hespérides. O rei sabia que a deusa tinha tornado a tarefa quase impossível, mas não poderia imaginar que a jornada do herói seria tão ou mais complicada. Essa tarefa acabou por estabelecer Hércules como um defensor dos oprimidos e injustiçados.

As maçãs (ou laranjas) douradas da imortalidade foram dadas por Gaia para Zeus e Hera como presente de casamento (um versão diz que foi um presente Hera para Zeus pelo matrimônio). Hera plantou-as em um jardim perto do Monte Atlas, onde as Hespérides seriam responsáveis. Para mais proteção, a deusa enviou um monstro da prole de Equidna e Tifão: o dragão imortal de 100 cabeças chamado Ladon*.
* Na maioria das representações artísticas, Ladon era somente uma serpente, provavelmente, uma alusão à Serpente do Paraíso. Mas, na mitologia, cinquenta cabeças permaneciam acordadas, enquanto as outras cinquenta dormiam.

Hércules enfrenta Cicno, pintura em ânfora.
Como a localização do jardim era duvidosa e cercada de perigos, Hércules partiu para o oeste em direção à Ilíria, onde conhecia algumas ninfas que poderiam ajudá-lo (alguns dizem que Atena disse para ele procurar as Parcas). Quando cruzou a Tessália, encontrou o cruel Cicno, filho de Ares, que matava viajantes e oferecia sua carne como sacrifício a seu pai. Hércules o confrontou e o matou. Algumas versões dessa história dizem que Ares lutou com o herói para se vingar pela morte de seu filho, mas Zeus teria jogado um raio para separar os dois ou Atena fez o herói se esquivar de um ataque divino. Ares chegou a ser ferido na coxa pelo herói e se recolheu por um tempo no Olimpo.

Hércules luta com Nereu e nereidas ao redor, pintura em vaso.
Continuando a viagem, Hércules chegou ao rio Eridano (rio Pó), na Ilíria, onde encontrou suas amigas ninfas. Elas falaram que Nereu sabia a localização do jardim. Ao encontrar o velho deus do mar, o herói recebeu uma recusa na resposta e precisou segurá-lo, pressionando pela resposta. Nereu era capaz de mudar de forma, mas Hércules se manteve forte e acabou conseguindo as informações que precisava. Uma versão desse encontro, diz que o herói encontrou Nereu dormindo. Com um corda, foi amarando suavemente o velho deus do mar para não acordá-lo até que o apertou tanto que o despertou. Todas as formas que assumia se mantinham presas na rede construída por Hércules e só restou lhe dar a informação.

Passando novamente pela Líbia, Hércules confrontou Anteu*, filho de Gaia e Poseidon, que tirava sua força do contato com a terra, sua mãe. O gigante desafiava os viajantes a derrotá-lo, mas sempre vencia e decorava o templo de seu pai com os restos mortais dos perdedores. Hércules percebeu que, logo após derrubar Anteu, ele se recuperava rapidamente e ficava ainda mais forte. O herói, então, levantou o gigante do chão, desconectando-o de sua fonte de força, e o enforcou assim que ficou enfraquecido. Diz-se que pigmeus amigos do gigante tentaram matar Hércules enquanto ele dormia como vingança. Mas o herói acordou, caiu em gargalhada e espantou-os com uma só mão.
* A história de Anteu (Antaeus, ou Änti em língua berbere) tem sido utilizada como fábula que simboliza a força espiritual que é mantida pela fé nas coisas imediatas e factuais - as coisas terrenas. Na Divina Comédia, Anteu guarda o Nono Círculo do Inferno e leva Dante e Virgílio até ao fundo onde corre o rio gelado do Cocito. Plínio, o Velho, escreveu que um homem da família de Anteu, depois de escolhido por algumas pessoas, foi levado para um lago da Arcádia, onde pendurou as roupas num freixo para atravessar o lago a nado. Foi, por conseguinte, transformado num lobo por nove anos. Se conseguisse passar esse tempo sem atacar um ser humano, poderia voltar a atravessar o lago a nado e tomar a sua forma humana original. É um dos primeiros relatos sobre licantropia que se conhecem.
O combate de Hércules e Anteu, pintura decorativa em teto do Museu do Louvre, por Auguste Couder

No Egito, Hércules foi preso pelo exército do terrível Busíris*. Frásio, um vidente cipriota, havia dito ao faraó que, se ele sacrificasse um estrangeiro aos deuses, a fome acabaria em suas terras. Azar o dele por ter escolhido Hércules: quando a cerimônia de sacrifício se iniciava, o herói estourou num rompante de fúria e matou não só o faraó como todos os seus sacerdotes. Amedrontados, os egípcios decidiram dar livre passagem para Hércules por suas terras.
* Não há referência a Busíris em nenhuma dinastia faraônica. É possível que seu nome seja uma corruptela do deus Osíris. Existe uma versão que coloca este faraó como o grande vilão desta tarefa, pois ele teria mandado raptar as ninfas para fertilizar suas colheitas. Hércules matou os egípcios e devolveu as ninfas a Atlas, que lhe entregou os pomos em recompensa.
Hércules matando Busíris e seus sudítos, pintura em ânfora (480 a.C.).

No caminho, Hércules encontrou Prometeu acorrentado no Monte Cáucaso por seu crime contra os deuses. O herói matou o abutre que comia o fígado imortal do titã e quebrou as correntes para libertá-lo. Como agradecimento, Prometeu aconselhou Hércules a pedir ajuda ao seu irmão Atlas, pai das ninfas que cuidavam do jardim.

Prometeu e Hércules, óleo de Christian Griepenkerl (1878).

Finalmente, o herói chegou ao Monte Atlas, que recebeu o nome do titã porque era lá que ele carregava os céus nas costas como punição divina por ser um dos líderes da revolta dos titãs. Hércules ofereceu ficar no lugar de Atlas, enquanto ele buscava os pomos. O titã concordou, considerando descansar os ombros. Ao retornar com as três maçãs, Atlas recusou voltar para seu posto, deixando Hércules com a carga pesada. O herói precisou usar sua lábia: disse que aceitaria ficar no lugar do titã se ele pudesse ajeitar seu corpo e, para isso, Atlas precisaria segurar por um momento. Ele aceitou e o herói saiu livre com as três maçãs. Há uma divergência entre os mitógrafos, que dizem que Hércules fez Ladon adormecer e as Hespérides deram os pomos ao herói.

Atlas traz os pomos para Hércules que segura temporariamente os céus. Relevo do Templo de Zeus em Olímpia.
Hércules matando o dragão do Jardim das Hespérides. Gravura de Gerard van der Gucht, séc. XVII.

Hércules e os Pomos de ouro.
Estátua romana em bronze, séc. II a.C.
Hércules retornou à corte de Euristeu com os pomos e os apresentou a um espantado rei. Ele tinha tanta certeza que o herói não voltaria que nem pensou o que fazer com as frutas, deixando seu destino nas mãos de Hércules. Incerto do que deveria ser feito, o herói pediu orientação à Atena, sua constante protetora, que levou as maçãs de volta ao jardim porque elas deveriam permanecer por lá de acordo com as leis divinas.


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