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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Kitembo

Kitembo, criado por André Rodrigues
para o desfile da União da Ilha (2017).
Para os bantos de Angola, Kitembo é o Senhor do Tempo, tanto cronológico quanto mitológico. Era um inquice (ou nkisi, orixá) de natureza caçadora e guerreira que usava uma bandeira branca de mastro longo (Bandeira do Tempo) que podia ser vista de qualquer lugar para manter os caçadores cientes de suas localizações. Essa representação vem da época que os povos banto de Angola eram nômades.

Kitembo é irmão de Kafundegi (Obaluaiê), Katendê (Ossaim) e Hongolo (Oxumaré). Sua forte ligação com Kafundegi fez com que os filhos de ambos se parecessem. O quarteto de irmãos são chamados de inquices monstros de Nzumbarandá (Nana).

Conta uma lenda de Angola, que Kitembo era um homem muito agitado que fazia e resolvia muitas coisas ao mesmo tempo. Entretanto, vivia reclamando e cobrando de Nzambi, o criador, que o dia era muito curto para fazer tudo. Um dia, Nzambi teria lhe dito: “Eu errei em sua criação, pois você é muito apressado”. E ele teria, então, respondido: “Não tenho culpa se o dia é pequeno e as horas miúdas para realizar tudo que planejo”. A partir desse momento, Nzambi determinou que ele passasse a controlar o tempo, tendo domínio sobre os elementares e movimentos da natureza.

Por ser o tempo, era o inquice das mudanças e transformações. Estava ligado ao ar que regula à direção dos ventos, as estações do ano, as épocas do plantio e das colheitas, à reprodução dos animais e à energia que move o Sol e a Lua, influenciando diretamente os dias na Terra. Sua ferramenta – uma escada (ou grelha) com uma lança voltada pra cima – representava o crescimento, em referência ao próprio tempo e à evolução material e espiritual. Suas cores eram o branco e o verde, e seu dia a terça-feira.

Também chamado de Kindembu é um dos inquices menos sincretizados, mas possui ligações com o Iroko do candomblé ketu ou o vodu Loko do candomblé jeje. Acreditava-se que por ser um inquice das florestas (frequentemente associado à gameleira branca), tenha contribuído para a redução de seu culto e a diminuição de seus filhos de santo.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Idun

Loki e Idun, ilustração de John Bauer (1911)
Deusa vanir da primavera, Idun era a guardiã do pomar sagrado cujas maçãs davam a juventude eterna e restaurava os males de quem as comesse. Portanto, os deuses eram mortais mas ela era responsável pela imortalidade deles, fornecendo uma maçã por dia, vinda de seu eski, um cofre de madeira de freixo.

Os gigantes vivam tentando roubar as maçãs. O gigante Thiazi, por exemplo, capturou Loki e disse que só o soltaria se o deus o ajudasse a roubá-las. Loki atraiu Idun até a floresta e o gigante pode capturá-la metamorfoseado em águia. Quando os deuses começaram a envelhecer, descobriram as ações de Loki. Obrigaram-no, então, a resgatar Idun, e Loki utilizou o manto de penas de falcão de Freya para tirá-la de Thiazi, transformando-a numa noz. Esta história é uma metáfora para a chegada do inverno, onde Thiazi (Deus do Inverno) seqüestra Idun (Deusa da Vegetação) com ajuda de Loki - que representa o vento quente de verão. O retorno de Idun como um noz é o retorno da primavera, o rejuvenescimento dos deuses.

Bragi tocando harpa para Idun de pé,
de Nils Blomeér (1846)
Outra parábola sobre essa passagem de estação é a do desmaio de Idun aos pés de Yggdrasil, a árvore da vida. Desacordada, Idun caiu em Niflheim, o mundo subterrâneo e ficou paralisada com o que viu (chegada do outono). Os deuses foram atrás dela com peles de lobo branco, mas não conseguiram movê-la e a cobriram com as peles (neve). Seu marido Bragi ficou tocando harpa e cantando ao seu lado até ela se recuperar - e trazer a primavera.

Ao que parece, Idun não tinha culto regular, sendo uma deusa mais figurativa. Na mitologia grega, foi comparada a Hebe, e suas maçãs os pomos dourados dos Jardins das Hespérides. Pode ser chamada de Iduna, Ithun e Iounn, que significa "sempre jovem" ou "rejuvenescedor".