O Krampus ("garras") é um ser mítico maligno muito conhecido das populações das aldeias e cidadezinhas dos Alpes, que também habita a imaginação germânica. Apesar de muito antigo e limitado geograficamente aos Alpes, sua influência afeta alguns costumes natalinos: ele seria o contraponto do Papai Noel. Portanto, ao invés de dar presentes, Krampus invade as casas e leva as crianças que foram más, mentiram e fizeram pirraça! Dependendo da tradição local, ele enfia as crianças em um saco e as afogoa em um rio, ou as devora ou as leva direto para o inferno.
Ele também aparece lado a lado com São Nicolau: enquanto um distribui presentes às crianças, o outro às pune. Dependendo do lugar, limita-se a deixar pedaços de carvão em vez dos presentes, ou uma vara como aviso de que, se não melhorarem de comportamento, o ajudante diabólico de São Nicolau virá castigá-los. Isso servia como um freio social, como um lembrete de que as crianças precisam ser boazinhas e comportadas para ganharem presentes de Natal. Também ajuda a manter o maniqueísmo que equilibrava as forças do bem e do mal.
Sua aparência é bem diabólica, uma figura antropomórfica híbrida de demônio com bode, ficando com chifres e cascos no lugar dos pés, além da longa língua vermelha. Carregava correntes e galhos para assustar as crianças e se vestia com trapos. Por volta de 1890, sua imagem começou a aparecer nos cartões de Natal acompanhando São Nicolau, normalmente com os dizeres Gruss vom Krampus (saudações de Krampus) ou Brav Sein! (Comporte-se!).
Na verdade, Krampus é a inserção nas festividades natalinas cristãs de uma divindade pagã conhecida na região alpina: Perchta, que aparecia na forma de uma sedutora belíssima, branca como a neve, ou como um demônio em trapos. A ela cabia a vigilância dos animais no início do inverno e a visita às casas para se certificar de que a fiação da lã estava sendo feita corretamente. Já no século IV da nossa era, o Papa Gregório permitiu que esse personagem pagão fosse incorporado às festividades desde que fosse rebatizado. Bartl, Schmutzli (Sujo, na Suíça) Ruprecht e Knecht Ruprecht (Ruperto ou Servo Ruperto, na Alemanha) são alguns dos muitos outros nomes de Krampus. O demônio também está relacionado ao grego Pã e ao celta Cernunnos.
Durante as primeiras duas semanas de dezembro (começando na noite do dia 5 de dezembro, um dia antes do Dia de São Nicolau), jovens rapazes das regiões da Baviera (sul da Alemanha) – e também da Áustria, República Tcheca, Hungria, Croácia e algumas cidades do norte da Itália – se vestem como o horrendo Krampus, enchem a cara e saem às ruas para assustar as crianças, às vezes batendo nelas com ramos de bétula. Para acalmar o Krampus, ele ganha uma dose de schnapps, a aguardente típica da região.
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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
Krampus (Perchta)
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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
São Nicolau
Pintura de São Nicolau Igreja de Velikiy Novgorod (Rússia, 1924) |
Nascido na Ásia (estimativamente 250-326 d. C.), teria sido filho de nobres muito ricos que, desde criança, praticava caridade por meio de doações anônimas aos necessitados (como deixar brinquedos nas residências de famílias pobres, o que lhe deu o nome de "amigo das crianças"). Foi consagrado bispo da cidade grega de Mira (hoje Demre, na Turquia) ainda muito jovem. Continuou seu ministério religioso na Palestina e no Egito, por ter sido expulso (e depois perdoado) do Concílio de Nicéia por esbofetear Ário, que pregava que o Filho e o Espírito Santo eram criaturas, não pessoas da Trindade divina. Os documentos oficiais de Nicéia, porém, não citam o incidente nem mencionam um Nicolau entre os bispos presentes. Também teria sido o responsável pela destruição de um magnífico templo de Ártemis na cidade.
Em sua história mais conhecida no Ocidente, Nicolau ajudou as três filhas de um comerciante falido, que pretendia forçá-las à prostituição, jogando um saco de ouro que serviu ao pai de dote para casar a filha mais velha. Depois jogou outro para a segunda filha. O pai o descobriu quando jogou o terceiro e lhe pediu perdão. Em honra dessa lenda, São Nicolau foi geralmente representado na heráldica por três moedas de ouro.
Suas lendas também incluem um estranho milagre: teria ressuscitado três crianças assassinadas por um açougueiro, picadas em pedaços e jogadas num barril para serem servidas como carne salgada durante uma época de fome. Isso tudo gerou uma fama de "justiceiro" a Nicolau (seu nome viria de nikos, vitória, e laos, povo).
Cartão-postal com São Nicolau e Krampus (1901) |
A fama de Nicolau, então, tornou-se um tanto ambígua. Em alemão, nickel pode ser uma contração de Nikolaus, e significa o "capeta". O nome original do metal níquel era Kupfernickel (cobre do capeta), por ser visto como a falsificação da prata por um malicioso duende das minas. Em inglês, Nick ou Old Nick também é sinônimo de capeta.
Um de seus principais papéis é o de patrono dos marinheiros e pescadores, pois sua família possuía uma frota de pesca. Isso explica sua popularidade na Grécia, na cidade italiana de Bari (da qual é patrono e onde seus restos mortais foram levados) e até mesmo na Holanda medieval, mas não em terras distantes do mar.
Como defensor dos injustiçados e oprimidos, teria aparecido em sonho ao imperador Constantino para intervir em favor de três de seus servidores que, embora inocentes, haviam sido condenados à morte. O governante, em seguida, os teria absolvido. É principalmente por esse atributo que Nicolau é venerado na Rússia, da qual também é patrono.
Também era protetor dos estudantes. É principalmente nessa qualidade que ele é conhecido e festejado em Portugal, seguindo uma tradição medieval comum na Europa Ocidental. Suas festas, as Nicolinas, constituem-se de desfiles, danças, músicas e coletas tradicionais que se estendem de 29 de novembro a 7 de dezembro. O ponto culminante é o romântico ritual das maçãs. Rapazes disfarçados e ajudados por "escudeiros" levantam com vigor uma enorme lança enfeitada com laços previamente pedidos às garotas, que por meio de cores, símbolos e mensagens dão suas "dicas" para os rapazes. Com a ponta da lança, maçãs são oferecidas às jovens que esperam nas varandas e devolvem o gesto trocando-as por uma prenda, às vezes com significado especial. Quando acabam as maçãs, a lança é oferecida àquela que o rapaz escolher - por ter lhe dado uma fita "atraente", ou por já ser sua namorada. Caso esta não exista, a lança é oferecida à mãe.
Nicolau é festejado em 6 de dezembro, data de seu falecimento. Um fato curioso: a maioria dos santos da Antiguidade são celebrados na data de seu martírio, mas Nicolau foi um dos poucos a morrer na cama.
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