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terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Oiá / Iansã

Ilustração de Carybé
Na mitologia nigeriana Yorubá, o nome Oiá (Oyá) provém do rio de mesmo nome – atualmente chamado de rio Níger –, onde seu culto é realizado. Filha de Aganju e Iemanjá, é tanto uma divindade das águas como sua mãe e Oxum, quanto do ar, sendo uma das que controla os ventos.

Assim como a deusa Obá, Oiá também está relacionada ao culto dos mortos, onde recebeu de Xangô a incumbência de guiá-los a um dos nove céus de acordo com suas ações, para assumir tal cargo recebeu do feiticeiro Oxóssi uma espécie de erukê* especial chamado de Eruexim, com o qual estaria protegida dos eguns (maus espíritos).

O nome Iansã (Inhansã) trata-se de um título que Oiá recebeu de Xangô, seu marido. Faz referência ao entardecer, "a mãe do céu rosado" ou "a mãe do entardecer". Era como ele a chamava, pois dizia que ela era radiante como o entardecer. Costuma ser reverenciada antes de Xangô, como o vento personificado que precede a tempestade. Na saudação, pedem clemência para que ela apazigue o deus das tempestades. Entre os orixás femininos é uma das mais imponentes e guerreiras, sendo associada à forte sensualidade.

Os devotos costumam lhe oferecer sua comida favorita, o àkàrà (acarajé), ekuru e abará. No candomblé as cores utilizadas para representá-la são o rosa e o marrom. No Brasil, foi sincretizada à Santa Bárbara e sua comemoração é no dia 4 de dezembro. Já na Santeria cubana, está associada à imagens de Nossa Senhora da Candelária, Nossa Senhora da Anunciação e Santa Teresa.

* Apetrechos da cultura afro-brasileira confeccionados com cauda de boi, de búfalo ou de cavalo, com as finalidades de afastar os maus espíritos, eliminar as adversidades da comunidade e atrair a fartura e prosperidade. Na África, nobres os usam como símbolos de status e para espantar moscas.

terça-feira, 13 de março de 2012

Rusalka

As rusalkas (em russo, o plural é rusalki) são perigosas entidades femininas da água no folclore russo, geralmente consideradas espíritos de jovens mulheres que morreram afogadas ou de outra forma violenta. Mas o destino de uma rusalka pode ser desfeito caso sua morte seja vingada. Essa seria a única forma de libertar o espírito. Também é dito que crianças não-batizadas podiam se tornar rusalkas e só o batismo do espírito as salvariam.

No norte da Rússia, têm a aparência de mulheres nuas cadavéricas, com cabelos escuros como musgo e olhos que brilham com um maligno fogo verde. Ficam na água ou perto dela, à espreita de viajantes descuidados. Arrastam as vítimas para a água, onde as aterrorizam e torturam antes de matá-las. Viajantes espargem algumas folhas de losna (ou absinto) em qualquer coisa que uma rusalka possa querer roubar ou destruir.

Já no sul, aparecem como belas jovens pálidas e loiras em roupas leves com olhos sem pupila. Atraem suas vítimas cantando docemente nas margens dos rios, enquanto trançam seus longos cabelos. Quando a vítima entra n'água para encontrá-la, a rusalka a afoga com uma risada estridente e fatal. É possível que seja a origem do mito da sereia, mas se mistura aos mitos das ninfas gregas e da Banshee celta.

Para sair da água, as rusalkas precisam de um pente, com o qual podem conjurar água quando quiserem para manter o corpo molhado. Alguns dizem que sem o pente, elas secariam e morreriam.

Durante os meses de inverno, as rusalkas vivem no fundo da água, sob o gelo. No verão, principalmente na chamada Rusal'naia (Semana das Rusalkas, no início de junho), podem deixar a água sem seus pentes, tornando-se um grande perigo. Elas trepam aos galhos que pendem sobre a água e à noite, quando o luar ilumina a floresta, descem das árvores e dançam nas clareiras onde a grama cresce mais espessa e o trigo é mais abundante.

Na quinta-feira Rusal'naia, chamada velykden, as pessoas costumam trabalhar para não atormentar as rusalkas que vivem perto das casas que ficam próximas a lagos e rios. Se os espíritos ficam com raiva de alguma pessoa, podem arruinar as colheitas com chuvas torrenciais, rasgar redes de pesca, destruir represas e moinhos d'água e roubar roupas, linho e fios das mulheres humanas (como os vodyanoi). Neste mesmo dia da semana, jovens mulheres fazem grinaldas com losna e alho para as rusalkas dizerem se elas conseguirão casar com homens ricos. Se conseguirem alguma resposta, não devem nadar até o fim do verão, ou serão afogadas e se tornaram uma rusalka.

Até os anos 1930, o enterro ou banimento ritual das rusalkas no final da Rusal'naia permaneceu como um entretenimento comum.

Existe uma ópera tcheca chamada Rusalka que lembra muito a história da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen.

* A palavra rusalka referia-se originalmente às danças de roda das jovens na festa de Pentecostes (mais conhecida, no Brasil, como festa do Divino Espírito Santo).

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Apsu

Apsu era o deus primevo das águas doces e da Água Celestial da Sabedoria. Suas águas circundavam a terra, enchendo-a com bondade e otimismo. No entanto, a Terra – uma ilha comprida flutuante – era também circundada pelo oceano salgado e amargo da deusa-dragão Tiamat. Apsu fundiu-se, então, a deusa e se tornou seu consorte.

Da mistura fermentada dessas águas, diversos deuses e deusas nasceram, entre eles Anu e Ea, que rapidamente assumiram o controle das ações divinas. Não muito satisfeito com isso, Apsu declarou guerra a esses deuses, mas foi morto por Ea e sepultado no subterrâneo.

Como um ser divindo primordial, Apsu continuou brotando do subterrâneo em forma de fontes de água doce que borbulhavam na superfície da Terra. Diz-se que, da lama gerada por suas águas, o homem foi moldado.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vodyanoi

Os vodyanoi são seres (ou espíritos) masculinos hostis que vivem no fundo de lagos. São descritos como rãs do tamanho de focas com face humana ou como homens envelhecidos com barba esverdeada, cabelo comprido e ralo, corpo coberto de limo, algas e escamas negras, patas membranosas no lugar de mãos, cauda de peixe e olhos que queimam como carvões em brasa. Alguns contos chamam os vodyanoi de "povo do mar" ou "povo-peixe". Acredita-se que eles dividiam-se em castas de guerreiros e sacerdotes.

Esses seres também são acusados de serem os responsáveis pela destruição de represas e moinhos d'água. Pescadores, moleiros e apicultores fazem sacrifícios para apaziguá-los, colocando uma pitada de tabaco na água e dizendo "Eis aqui seu tabaco, Senhor Vodyanoi, agora dê-me um peixe".

Eles raramente vêm em terra, mas quando o fazem é para arrastar viajantes incautos para seu palácio de cristal aquático decorado com partes de barcos naufragados. Os humanos ou morriam afogados ou se tornavam seus escravos, passando a respirar debaixo d'água.

Nos contos tchecos, os afogados morrem e o vodník guarda suas almas em potes de porcelana que eles consideram sua riqueza. Caso um pote se abra, a alma escapa em forma de bolhas. Não há menção de uma habitação especial. Seus únicos servos são peixes.

"Vodyanoi" significa "aquático" e, em muitas línguas, é a palavra para o signo de Aquário. Também ser escrito vodnik, wodnik, vadzianik e vodenjak.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Iara

O mito da Iara (Uiara ou Mãe d'Água) é o equivalente brasileiro da sereia européia, que evoluiu entre os nativos brasileiros no século 18, introduzido pelos colonizadores encantados com a beleza exótica da mulher "indígena" e que, muitas vezes, apareciam mortos pelas mãos de outros "índios". A miscigenação entre brancos e "índios" gerou uma nova mitologia cabocla, onde o mito da Iara ganhou força.

Conta-se que, antes de ser essa figura fantástica, Iara era uma nativa guerreira, a melhor de sua tribo. Seus irmãos invejavam os elogios que ela recebia do pai – que era o pajé da tribo – e resolveram matá-la quando ela estivesse dormindo. Mas Iara tinha a audição aguçada e acabou matando seus irmãos. Com medo de seu pai, fugiu. O furioso pajé iniciou uma busca implacável pela própria filha que terminou com ela sendo jogada no encontro do Rio Negro com o Rio Solimões (que originam o Rio Amazonas).

Encontro dos rios Negro e Solimões (Amazonas), que não se misturam por causa de uma propriedade química das águas.

Vários peixes a trouxeram à superfície em uma noite de lua cheia como uma sereia de longos cabelos e olhos verdes, beleza inesquecível e canto de uma melodia hipnótica e enlouquecedora que fazia os homens evitarem lagos e margens de rios ao entardecer. Ela atraía e seduzia pescadores com seu canto, com promessas de felicidade eterna se vivessem ao seu lado em seu palácio precioso no fundo do rio. Ainda podia se materializar em ariranha ou garça. Tornou-se, assim, protetora das águas - principalmente águas doces - e dos peixes.

Crianças também podiam ser atraídas. Neste caso, elas eram raptadas e levadas para o palácio da Iara no fundo dos rios, onde ficam aprendendo os segredos da manipulação de plantas, ervas, poções, remédios e magias para ser "devolvidos" depois de 7 anos como um grande xamã.

Uma lenda Tupi, diz que Iara era a mais formosa mulher da tribo – provavelmente irmã de Jaci, a mais bela nativa que já havia se tornado a Lua. Por sua doçura, era amada pelos animais e pelas plantas, mantendo-se, entretanto, indiferente à seus admiradores. Numa quente tarde de verão, banhava-se em um rio quando foi surpreendida por um grupo de homens que a violentou e a matou. O espírito das águas trocou seus membros inferiores violados por uma cauda de peixe e a trouxe de volta à vida para se vingar.

Alguns estudiosos dizem que a Iara seria originalmente uma serpente, mas isso é um equívoco, uma vez que o mito não é originário do Brasil. Possivelmente houve uma mescla com o mito do Ipupiara.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Ahto

Ahto (Ahti) é o deus de todas águas e dos pescadores, com barba de musgo. Vivia no palácio de Ahtola, abaixo de um penhasco tempestuoso, açoitado e erodido pelas ondas, com sua esposa Vellamo (Wellamo) e suas filhas; todas espíritos do mar.

Diz-se que tinha ciúme dos deuses celestes, pois acreditava que não recebia os devidos rituais. Sendo assim, costumava ser implacável com marujos que não rezem para ele, enviando redemoinhos, vagalhões e monstros do mar (que poderiam ser grandes moluscas ou morsas).

Ahti também é o nome de um herói finlandês que teria jurado viver em paz se conseguisse se casar com seu grande amor, mas acaba precisando quebrar o juramento e cai em combate.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mama Cocha

Deusa associada a todas as formas de água, Mama Cocha (ou Mama Qocha) era figura importante na religião inca. Era irmã e mulher do supremo Viracocha. Era mãe de Inti e Mama Quilla, deuses do sol e da lua. A "Mãe do Mar" protegia pescadores e navegantes, garantindo pesca farta, afastando tempestades marítimas e acalmando os oceanos. Portanto, seu controle das águas se estendia ao clima. Alguns a colocavam como a representação total do feminino.

O Lago Titicaca, no Peru, é chamado por muitos de Mama Cocha, e seria ou uma representação da deusa na terra, ou o seu lar.


Na capital do Peru, Lima, existem duas enormes huacas - templos de adoração - que provavelmente foram para Mama Cocha, uma vez que a cidade é litorânea.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sucellus e Nantosuetta

Estátua em bronze de Sucellus.
Museu Nacional de Arqueologia (França)
Qualificado como rei dos deuses, Sucellus (Sucellos) era, na verdade, um deus da fertilidade da terra, da agricultura. Seu nome significava "o que bate bem", por carregar um grande martelo de cabo longo, usado para bater na terra e acordar as plantas, anunciando o início da primavera. Era representado como um barbudo de porte atlético coberto apenas com uma pele de lobo. Se aparecesse com vestes estampadas de círculos e cruzes, estava ligado aos céus. Às vezes, segurava um tonel de vinho ou uma taça, mostrando ser responsável pelos banquetes dos deuses e padroeiro das bebidas alcoólicas.

Sua mulher era uma deusa da água, Nantosuetta (ou Nantosuelta, "rio serpeante"), outra figura da fertilidade, que era também deusa do lar. Suas águas eram curativas e revigorantes. De cabelos cacheados soltos, carregava uma cornucópia, símbolo de abundância, e, muitas vezes, corvos a rodeavam. Dizia-se que cuidava das raízes das plantas e, portanto, poderia passear pelo Reino Subterrâneo. Alguns mitos a colocavam até como governante ou responsável por guiar os espíritos. Dessa forma, foi comparada a Perséfone grega.

Estátuas dos dois juntos eram comuns em domicílios celtas, associadas à prosperidade. Foram adorados principalmente na Lusitânia (Portugal) e na Gália (França). Nantosuetta foi associada a Morrigan entre os celtas britânicos.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Khnum

Khnum era uma antiga divindade egípcia, mencionada nos textos da pirâmide de Khufu como seu protetor (seu culto perdeu forças com a ascensão de Ra). Em sua origem pré-dinástica, Khnum era o guardião da nascente do Nilo e ajudante de Hapi, deus das enchentes. Ele abria as comportas que ficavam na caverna de Hapi e regulava a quantidade de lodo na água. Como a vida no Antigo Egito era baseada nas inundações anuais do rio que fertilizava os campos e permitia a prática agrícola, todos os deuses do Nilo eram de suma importância.

É exatamente por causa do lodo que Khnum ganhou sua maior função no panteão egípcio: o de criador dos homens e dos deuses e modelador do mundo. Em seu torno de oleiro, ele modelava crianças e dava alma a elas (ka). Também é dito que modelava deuses. Ao ser associado a Heqet, deusa do parto, passou a receber ajuda para colocar os moldes nos úteros maternos e garantir a saúde dos recém-nascidos. Em Esna, Khnum seria o responsável pela criação do ovo que deu vida à Ra, o deus-sol maior.

Por estar relacionado à nascente do Nilo, também estava relacionado às águas que vinham das profundezas da terra e, portanto, tinha ligações com o mundo subterrâneo. Aparece no Livro da Morte, como protetor daqueles que morreram e da barca de Ra.

Era representado como um carneiro, um homem com cabeça de carneiro ou um homem com os chifres de um carneiro. Poucas vezes aparecia com cabeça de boi. Os chifres eram horizontais, e costumavam vir com uma jarra de argila cheia de água ou uma coroa dupla branca e plumada do Alto Egito. Pode também ser chamado de Chnum, Khnemu ou Knum. Existe uma representação de Khunm com quatro cabeças de carneiro, chamada de Sheft-hat. Além da sua, as outras cabeças representariam: Shu, Geb e Osíris, ou seja, o ar, a terra, a morte, e ele como a criação.

Por duas razões, Khnum também era também considerado deus da fertilidade: primeiro, por causa do lodo fertilizante do Nilo que ele controlava e manipulava para gerar vida; e, segundo, porque os egípcios consideravam os carneiros animais potentes.