Noite e Sono, tela de Evelyn de Morgan (1878) |
Nos poemas homéricos, Hipnos habita a ilha de Lemnos, mas Virgílio o deslocou para os Infernos e Ovídio para o país dos Cimérios, às bordas do reino dos mortos. Nesta concepção, residia em um palácio construído em uma remota caverna próxima ao Rio Lete (esquecimento) no Érebo, a terra da escuridão eterna, além dos portões do sol nascente. Lá vivia com seu irmão gêmeo Thanatos (a morte). Por ser irmão da morte e viver no reino de Hades, Hipnos estava também ligado ao coma (kõma é "sono profundo" em grego) e vícios profundos.
Sono e Morte, tela de John William Waterhouse (1874) |
Às vezes mostrado adormecido em um leito de penas com cortinas negras à volta, seus atributos incluíam um chifre contendo ópio, um talo de papoula e outras plantas hipnóticas, um ramo gotejando água do rio Lete e uma tocha invertida. Costumava ser visto trajando peças douradas enquanto seu irmão gêmeo normalmente usava tons prateados. Também foi retratado como um jovem nu dotado de asas nas têmporas, tocando flauta com a qual adormecia os homens, com um rastro de névoa por onde passava. Em alguns casos, era um senhor com asas nas costas e se vestia como sua mãe, com um robe negro incrustado de estrelas e uma coroa de papoulas. Somnus (ou Sopor) é sua contraparte romana.
Hipnos está envolvido em alguns mitos gregos:
- Endimião, sentenciado por Zeus ao sono eterno, recebeu de Hipnos o dom de dormir com os olhos abertos para poder ver constantemente sua amada Selene, deusa da lua. Em outra versão dessa história, assombrado pela beleza de Endimião, Hipnos o fez dormir de olhos abertos para poder admirar constantemente seu rosto.
- Já precisou adormecer Zeus em duas ocasiões a pedido de Hera: certa vez para causar problemas a Hércules e, em outra, para ajudar os aqueus na Guerra de Troia. O grande deus ficou furioso e ameaçou jogá-lo ao mar. Hipnos se transformou em um besouro (ou num marimbondo) para fugir, mas, com receio de enfurecer Nyx, Zeus conteve sua fúria.
De Hipnos provem a hipnose, um estado alterado e temporário de atenção, que pode ser induzido, possibilitando fenômenos espontâneos como em resposta a estímulos verbais ou de outra natureza, como toques ou sons. Durante muito tempo se confundia a hipnose com o sono, devido ao relaxamento físico enquanto a pessoa está em transe.
Para Hesíodo e o pseudo-Higino, Hipnos também é irmão dos Oniros (ou Oneiroi), os Mil Sonhos, enquanto para Ovídio, ele é o seu pai com a graça bastarda Pasítea (deusa da alucinação, da meditação e do relaxamento, prometida a ele por Hera, mãe da graça com Dioniso). Toda noite Hipnos se erguia no cortejo de sua mãe Nyx, tendo Aergia (deusa da indolência e da preguiça) na sua frente e os oniros voando como morcegos através de dois portais: do feito de chifre, saíam os sonhos proféticos enviados pelos deuses; do feito de marfim, saíam os sonhos falsos e sem sentido, além dos pesadelos (melas oneiros, "sonho negro").
Morfeu, Fântaso e Íris, tela de Pierre-Narcisse Guérin (1810) |
De todos os oniros, três eram responsáveis por distribuir os sonhos a quem dormia: Icelos (sonhos humanos e plausíveis), Fântaso (sonhos simbólicos e objetos inanimados) e Fobetor ("O Temível", responsável por medos noturnos, pesadelos e animais). A única mulher, Fantasia, distribuía os sonhos e devaneios aos acordados ou à beira da morte.