sexta-feira, 30 de maio de 2014

Desvendando PJ: Livro 2 - Capítulos 6 a 10

Continuando sem corrida de bigas fica difícil, mas vamos lá... Sugiro ler o post anterior para entender melhor.

LIVRO vs. FILME
  • No livro, Grover não participa de grande parte da aventura porque desde o início está preso na ilha de Polifemo. O elo empático de Percy com Grover é constante no livro, com o jovem herói ciente do problema de seu guardião sátiro. No filme, Grover começa a aventura ao lado dos jovens semideuses. Ele só se separa do grupo quando é sequestrado por Luke para ser a bússola até o Velocino.
  • Como não tem corrida de bigas no filme (acho que foi substituída por um brinquedo idiota), toda a parte que Percy treina equitação em Pégaso e depois enfrenta os Pássaros da Estinfália é suprimida.
  • O filme pula logo para a parte que Clarisse (e um sátiro desconhecido) é escolhida para ser a responsável pela missão. No livro, ela é escolhida por Tântalo (o novo diretor que não está no filme, que usa Dioniso) de propósito, só para contrariar Percy. Fala-se muito sobre Jasão, os Argonautas e o Triângulo das Bermudas.
  • Nesse filme aparece pela primeira vez o Oráculo com a profecia dos dezesseis anos, que insere a presença de Cronos (já se sabia dele desde o primeiro livro).
  • Após o Oráculo, Percy, Annabeth, Grover e Tyson decidem fugir em missão para o filme ter sentido. Eles usam o táxi das Irmãs Cinzentas, Grover é sequestrado e os heróis entram em um correio local para encontrar Hermes, o mensageiro dos deuses, como dono da UPS. Dentro do correio, Hermes fica sabendo de tudo que Luke fez no primeiro filme e dá alguns suprimentos aos heróis. Como o livro gira de outra forma, vou tentar localizar esses acontecimentos: o Oráculo não aparece, mas a profecia é dita a seguir; o táxi é usado para chegar ao acampamento logo no início; sobre Grover já expliquei lá em cima; e Hermes aparece para Percy no acampamento logo depois da corrida de bigas, dá s suprimentos e sugere que ele fuja do acampamento para resolver a situação.
  • O belo hipocampo que aparece no filme para levá-los ao navio de Luke é multiplicado por três do livro! Arco-Íris é o nome que Tyson dá para o seu "cavalinho".
  • É no navio cheio de monstros (lestrigões, dracaenaes, Agrios e Oreios) descrito pelo livro que Percy fica sabendo da profecia dos dezesseis anos. Luke conta, mostra o caixão de Cronos e revela seus planos de trazê-lo de volta à vida com o Velocino. Tirando o fato de só ter um monstrinho (não identificado... uma manticora?) no filme, essa parte está bem próxima ao livro. Inclusive o fato dos heróis escaparem por conta dos poderes ampliados de Percy, que aos poucos vai aprendendo ainda mais sobre eles.
  • Os ventos usados como motores do bote aparecem em ambas as mídias.
  • Ao chegar em terra, o livro diz que Percy, Annabeth e Tyson ainda enfrentam uma hidra. O filme prefere levá-los direto para o Triângulo das Bermudas.

SOBRE MITOLOGIA...
  • Em ambas as mídias fala-se de uma atração natural dos sátiros pelo Velocino da qual eu nunca ouvi falar. Talvez por sátiros serem caprinos (bodes) e o velocino ser ovino (lã de ovelha)...
  • Sobre Jasão, os Argonautas e o próprio Velocino, vou deixar pra falar em uma postagem maior.
  • Os Pássaros da Estinfália são os mesmo derrotados por Hércules e estão bem descritos no livro. As dracaenaes também. Pena que não apareceram no filme. O livro ainda cita Éris, Esculápio e Prometeu.
  • Quando vai consultar o Oráculo, Percy descobre uma versão totalmente errada da Titanomaquia, a Batalha dos Titãs, onde Zeus, Poseidon e Hades sobrevivem ao canibalismo de seu pai Cronos e o derrotam. Não foi bem assim: Poseidon e Hades são engolidos e somente Zeus escapa através de uma artimanha de sua mãe Réa.
  • Os irmãos gêmeos Agrios e Oreios não são misturas de homem com urso, só porque Afrodite enfeitiçou a mãe deles para que se apaixonasse por um animal.

Vou te dizer que está bem complicado de cruzar as mídias. É como se duas pessoas estivessem contando a mesma história, cada um da forma que acha melhor (e não deixa de ser isso mesmo!).

terça-feira, 13 de maio de 2014

Desvendando PJ: Livro 2 - Capítulos 1 a 5

Olha... vai ser um pouco mais complicado do que eu imaginava: o filme e o livro são bem distintos. Os personagens principais estão lá... a temática está lá... mas o desenrolar da história é bem diferente. Até mesmo na velocidade das ações, já que o filme parece se desenrolar em pouquíssimos dias, o livro gira em torno de quase um mês (ou mais). Mas vamos lá... tentarei reduzir ao máximo os spoilers (mesmo achando impossível fazer isso). Espero que vocês tenham lido o livro e visto o filme.
E foi assim que eu comecei a desvendar o Ladrão de Raios... e será assim com o Mar de Monstros. Nem sei se terei como fazer a cada três capítulos porque temos alguns fatores a considerar:
  1. O primeiro filme ignora toda história de Cronos que é o cerne de toda saga nos livros. No novo filme inseriram Cronos e finalizaram o filme com uma ponta para o terceiro.
  2. Dessa vez, não preciso inserir tantas descrições de personagens, porque já o fiz anteriormente.
É válido lembrar o seguinte: esse livro se baseia em duas grandes aventuras da mitologia grega: a Odisseia (poema épico de Homero que conta a viagem cheia de perigos marítimos de Ulisses de volta para casa após a Guerra de Troia) e os Argonautas (a saga de Jasão em busca do Velocino de Ouro).

LIVRO vs. FILME
  • O livro começa com Percy em casa, com mãe fazendo comida azul e mais problemas na escola, como um jogo de queimadas contra Lestrigões. Percy recebe ajuda de Annabeth que usa um boné de invisibilidade e Tyson surge nesse momento. O filme começa revelando já de cara a história da chegada de Luke, Thalia e Annabeth no acampamento... e como Thalia virou a árvore que protege o acampamento. Depois vem uma disputa entre os alunos só pra introduzir Clarisse, a filha de Ares. Tyson entra no acampamento porque Poseidon o manda pra lá (essa história é um motion comic nos extras do filme). E nada de Lestrigões no filme.
  • O táxi das Irmãs Cinzentas (a Carruagem da Danação) aparece no livro para levar Percy, Annabeth e Tyson para o acampamento depois da batalha com os Lestrigões. O veículo surge do asfalto depois que Annabeth joga um dracma no chão. No filme, o táxi aparece para ajudar Percy, Annabeth, Tyson e Grover para fora do acampamento, depois que a garota assobia... isso já muda o ritmo da história. As coordenadas são realmente dadas pelas velhas em ambos as situações. Elas tem um olho e um dente no livro, mas no filme só disputam o olho.
  • No livro, são dois touros de Colchis que invadem o acampamento: um é derrotado por Clarisse e o outro por Tyson que, ao ser atacado pelo fogo do animal de bronze, revela-se a todos como um ciclope. No filme, apenas um touro ataca. Todos já sabem que Tyson é um ciclope, mas ele surpreende por sua força e por nascer queimado. Quem derrota o touro é Percy.
  • Os touros entraram porque a árvore de Thalia foi envenenada e a proteção do acampamento enfraqueceu. Quíron é despedido no livro e Dioniso afastado do cargo de diretor, sendo ambos substituídos por Tântalo, que institui corridas de biga entre os alunos. Nada de Tântalo ou bigas no cinema. Ah... e nem Quíron nem Dioniso saem do filme. A maldição de Tântalo sobrou pra Dioniso.

SOBRE MITOLOGIA...
  • Lestrigões são realmente gigantes canibais. Eles estão presentes na Odisseia.
  • É estranho quando Dionísio e Quíron aparentam não saber que Tyson é filho de Poseidon, quando isso é óbvio: Cíclopes SÃO filhos do deus do mar com uma ninfa. E sua resistência ao fogo também é fato, uma vez que são responsáveis pelas forjas vulcânicas de Hefesto. Mas nunca ouvi falar em telepatia marinha para esses seres mitológicos.
  • A maldição de Tântalo é jamais saciar sua fome ou sede. Por isso que Dioniso não consegue beber seus vinhos no filme.
  • As Irmãs Cinzentas são as Greias da saga de Perseu. Elas realmente dividem um olho e um dente. Seus nomes são Dino, Ênio e Péfredo (e não Ira, Vespa e Tempestade).
  • Os touros de Colchis são os dois touros da Cólquida que fazem parte da busca de Jasão pelo Velocino de Ouro. Na Cólquida, Jasão precisava cumprir a seguinte tarefa: lavrar um campo com dois touros monstruosos e indomados, de cascos de bronze e que expeliam fogo pelas narinas, oferecidos por Hefesto, e, em seguida, semear o campo lavrado com dentes de um dragão!

Esses são os primeiros (confusos) cinco capítulos. Juntar Perseu, Jasão, Ulisses e a Titanomaquia numa história adolescente é brabo! Com o tempo, todos esse mitos serão abordados por aqui.

sábado, 10 de maio de 2014

Desvendando Percy Jackson e o Mar de Monstros...

Vi o filme Percy Jackson e o Mar de Monstros (Percy Jackson: Sea of Monsters, 2013) quando saiu, mas não tive tempo de escrever meus comentários. Então, aproveitei pra reler o livro para poder fazer mais um "desvendando" por aqui com o cruzamento entre as informações mitológicas dadas.

Sempre é importante lembrar que um filme vindo de um livro é um roteiro adaptado, ou seja,nunca será exatamente o que foi escrito. Fora isso, por ser uma sequência, além de adaptar o que Rick Riordan escreveu, os roteiristas tinham que pensar a partir do universo criado no primeiro filme.

Farei como antes: colocarei por grupos de capítulos e aprenderemos um pouco mais sobre a mitologia grega. Veja o primeiro, do Ladrõa de Raios, aqui.

sábado, 26 de abril de 2014

Reza


Deus me proteja da sua inveja / Deus me defenda da sua macumba / Deus me salve da sua praga / Deus me ajude da sua raiva / Deus me imunize do seu veneno / Deus me poupe do seu fim (2x)
Deus me proteja da sua inveja / Deus me defenda da sua macumba / Deus me salve da sua praga / Deus me ajude da sua raiva / Deus me imunize do seu veneno / Deus me poupe do seu fim
Deus me acompanhe / Deus me ampare / Deus me levante / Deus me dê força / Deus me perdoe por querer / Que Deus me livre e guarde de você (2x)
Deus me perdoe por querer / Que Deus me livre e guarde de você...
Mantra diário...

sábado, 19 de abril de 2014

Dia do Índio

Índia Kayapó
Não podemos esquecer desse dia que comemora àqueles que são a essência do nosso país: os Índios Brasileiros.
Mas primeiro... vamos entender uma coisa: ÍNDIO É UMA PALAVRA ERRADA! Explicando: quando Cristóvão Colombo chegou ao continente americano, achou que tinha chegado às Índias e, assim, denominou todos os povos nativos como "índios". Entenda: os nativos do Brasil não se chamavam de "índios", muito menos os nativos das planícies norte-americanas. Esse termo eurocêntrico está caindo em desuso nas últimas décadas. O correto seria chamar de povos autóctones ou povos nativos, porém, os termos "índio" e "indígenas" já estão enraizados em todos os idiomas.

Em abril de 1940, os principais líderes autóctones do continente americano se reuniram para o 1º Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México. O objetivo era discutir ações que zelassem pelos direitos dos povos nativos. Porém, muitos líderes boicotaram os primeiros dias do evento, temendo que suas reivindicações não fossem ouvidas pelos "homens brancos". Depois de algumas reuniões, eles decidiram que o Congresso representava um importante momento histórico, e resolveram participar, criando assim o Instituto Indigenista Interamericano, também sediado no México, que tem como função zelar pelos direitos dos povos nativos em toda a América.

O Congresso também aprovou uma recomendação de delegados "indígenas" do Panamá, Chile, Estados Unidos e México, que pedia a adoção do Dia do Índio pelos governos de todos os países americanos. O dia proposto foi 19 de abril, data em que acabou sendo realizada a reunião. O Brasil não adotou a data comemorativa imediatamente: somente em 2 de junho de 1943, após intervenção do Marechal Rondon, o então presidente Getúlio Vargas, por meio do decreto-lei 5.540, instituiu a data, cumprindo a proposta do Congresso. Desde então, nosso país celebra a data com atividades educacionais e divulgação sobre o povo nativo brasileiro. Escolas e instituições culturais promovem ações e palestras para lembrar a importância desses povos para a formação da cultura brasileira e preservar as tradições e a identidade dos "índios".

No entanto, a data não colou pelo mundo. Somente Argentina e Costa Rica adotaram. Em 1994, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) instituiu o Dia Internacional dos Povos Indígenas, comemorado todo 9 de agosto. Em 2019, a organização comemora o Ano Internacional das Línguas Indígenas.

Aproveitem para conhecer o Museu do Índio no Rio de Janeiro e para dar uma passeada aqui no blog para saber mais sobre nossa cultura na lupa de Mitologia Brasileira (aí do lado) ou vá direto em alguns verbetes dedicados à mitologia "indígena" brasileira, como o protetor Anhangá, as lendas do Guaraná, nossa sereia Iara e a lua Jaci. Você também pode conhecer mais sobre o famoso ritual Quarup, entre outros.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Já que estamos na Páscoa...

Vamos relembrar o que já falei por aqui sobre o assunto:
  • Você sabe da onde veio essa história de Ovo de Páscoa? DAQUI!
  • E você sabia que isso tem a ver com uma deusa babilônica? Não? VEJA SÓ!
  • Até mesmo nossos índios brasileiros fazem um ritual famoso com algumas semelhanças, sabia?
  • Sem contar o Carnaval, que tem tudo a ver com a Páscoa... certo?
  • E o que um Coelho tem a ver com isso tudo afinal??? Leia AQUI.
  • O Coelhinho da Páscoa já virou guerreiro protetor das crianças em uma animação. Se não sabia, clique AQUI.
  • Mas você sabe o que é mais importante na Páscoa, né? CHOCOLATE!!!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Lua de Sangue

Lua Azul... Super Lua... e agora Lua Vermelha? Isso mesmo! O fenômeno conhecido como Lua de Sangue é originário de um eclipse total da Lua com coloração avermelhada. Ele é o primeiro de quatro eclipses totais que vão acontecer em sequência – conhecido como Tétrade – e que terão seu ciclo encerrado em 28 de setembro de 2015 (ou outros eclipses serão em 8 de outubro de 2014 e 4 de abril de 2015).

Esse fenômeno esteve ligado a diversos tipos de crenças ao longo da história. Na Bolívia, por exemplo, acreditava-se que cachorros corriam atrás do Sol e da Lua e mordiam-nos: era o sangue da Lua que a deixava avermelhada. A população gritava e gemia para espantar os cães.

Em um versículo bíblico do profeta Joel do Antigo Testamento diz que “o Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e temível dia do Senhor”. Em Apocalipse (6:12-14) temos o seguinte:
Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo e sobreveio um grande terremoto. O Sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra como a figueira quando abalada pelo vento forte, deixa cair seus figos verdes. O céu recolheu-se como um pergaminho, quando se enrola. Então todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar.
Só neste século serão oito tétrades! Dia 14 de abril de 2014 foi apenas o início da segunda tétrade do século! A primeira foi no biênio 2003-2004 e a próxima será em 2032-2033. Porém, para os judeus, essa tétrade é a mais importante pois os eclipses – tanto em 2014 quanto em 2015 – se alinham perfeitamente com o Pessach (Páscoa) e o Sucot (Festa dos Tabernáculos).

Do ponto de vista científico, a Lua de Sangue é um fenômeno perfeitamente explicado e previsível: a cor avermelhada ocorre porque os raios de Sol que iluminam a Lua nesta ocasião são filtrados pela atmosfera da Terra e chegam a ele com menos luz azul e com tons mais vermelhos.


Para completar, acima e ao lado direito, foi possível ver Marte (o planeta vermelho) e a brilhante estrela Espiga (a estrela mais brilhante da Constelação de Virgem).

domingo, 30 de março de 2014

Samba do grego doido 2 - A missão

O 2 do título dessa postagem vem daqui por causa desse meu último comentário:
É uma liberdade poética tão grande que fiquei me perguntando: por que não usar os mitos corretamente - que já são deveras interessantes e cheios de reviravoltas - ao invés dessas adaptações livres e sem sentido?
Pois é... nem tenho muito o que dizer de Hércules (The legend of Hercules, 2014), uma mistura de Sansão (10%), o próprio herói grego (20%) e Maximus, o Gladiador de Russell Crowe (Gladiator, 2000). Aliás... depois dos discursos motivadores pré-combates de Coração Valente (Braveheart, 1995), TODO FILME TEM QUE TER? Muitas vezes são desnecessários, maçantes e previsíveis!


Bom... o filme coloca Hércules contra seu pai Anfitrião, um déspota violento (veja a incoerência do nome do vilão com o significado do nome!). O semideus se apaixona pela jovem Hebe de outra cidade (e não a deusa) que Anfitrião quer conquistar. Para evitar mais guerra, a jovem é dada em casamento para o irmão de Hércules, o jovem inseguro e mau caráter chamado Íficles. Só que é preciso tirar o herói de cena: em uma emboscada, ele acaba vendido como escravo de lutas em arenas! Oi?

Já falei até demais do filme. Mitologicamente é péssimo! Como filme é péssimo! Perde momentos e insere boçalidades, como, por exemplo, guerreiros egípcios com armaduras de Anúbis ou um chicote de relâmpagos abençoado por Zeus! Tive vergonha do Leão da Neméia que apareceu e da falta de uso de sua pele. Vem um novo filme sobre o herói que tem alguns dos trabalhos no trailer. Espero realmente que seja melhor e que acabe abrindo os olhos de Hollywood para a beleza e a força da mitologia em si.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Centauro

Na mitologia grega, o centauro é uma criatura com cabeça, braços e dorso de um ser humano e com corpo e pernas de cavalo. Às vezes, têm também as orelhas compridas e pontudas e os narizes chatos característicos dos sátiros.


De acordo com o imaginário mítico dos gregos antigos, a parte inferior dos centauros (cavalo) era a responsável pela força física, brutalidade e impulsos sexuais. Já a parte humana era mais racional, com capacidade de analisar e refletir. Portanto, eram seres que representavam conflitos típicos dos seres humanos: razão, emoção e violência. Frequentemente eram descritos como bebedores contumazes e indisciplinados, delinqüentes sem cultura e propensos à violência quando bêbados. Alguns eram vistos em companhia de Dioniso.

A origem dessa criatura mítica é cercada de ramificações, porém a maioria coloca o criminoso Íxion como ancestral. Pode se fazer referência a eles poeticamente como Ixiônidas. Conta-se que Íxion tentou cortejar a deusa Hera. Zeus criou uma nuvem (Nefele, em grego) com o formato da deusa, conferiu-lhe a existência e se distraiu vendo seu rival desonrar a falsa Hera. Dessa relação foi concebido Kentauros, que depois daria origem a uma descendência a partir do cruzamentos com éguas.

Destes seres, apenas os centauros Quíron e Folo fogem ao estereótipo colérico de seus semelhantes. O primeiro foi fruto da união entre o titã Cronos e a náiade Filira; e o segundo provinha do relacionamento entre Sileno e a ninfa Melos. Portanto, nenhum dos dois era descendente de Íxion, resguardando-se assim de sua truculência.

Cena da batalha entre os Lápitas e os centauros
esculpida no friso do Parthenon, Atenas (Grécia).
Os centauros são muito conhecidos pela luta que tiveram com os Lápitas, provocada pelo intento ébrio do centauro Euration de raptar e violentar a princesa Hipodâmia no dia da sua boda com o Rei Pirítoo. O herói Teseu, que estava presente, ajudou o rei a equilibrar o combate. Os centauros foram expulsos, então, das florestas da Tessália onde moravam e foram habitar o Épiro. Essa história - conhecida por centauromaquia - é uma metáfora do conflito entre os baixos instintos e o comportamento civilizado na humanidade.

Diz-se que o herói Hércules é o responsável pelo extermínio de toda a raça, até mesmo seu mestre Quíron e seu grande amigo Folo. Foi numa visita a Folo que tudo aconteceu. Ao receber a visita do herói, o centauro decidiu abrir uma garrafa de vinho para comemorar. Outros centauros, atraídos pelo aroma da bebida, invadiram a casa onde eles se encontravam e foram alvejados pelo guerreiro que, em sua ânsia de vencê-los, acertou acidentalmente Folo. Quíron também sofreu um ferimento incurável e sacrificou sua imortalidade pela humanidade.

Por ironia do destino (ou divina), Hércules foi morto por uma armadilha de Nesso, o último centauro. Algumas tradições culturais que contam a ascensão do herói ao Olimpo e de seu casamento com a deusa Hebe, dizem que essa união foi uma tentativa de Hera fazer as pazes com o herói e sua filha, que também é dita como mãe dos centauros com Apolo.

Hércules e Nesso, estátua em mármore de Giambologna (1599), Florença

A mitologia também menciona uma tribo de centauros com chifres de touro, nativa da ilha de Chipre. Haviam nascido de Gaia, quando ela foi acidentalmente engravidada por Zeus em sua tentativa fracassada de seduzir Afrodite quando ela acabava de emergir do mar. Os centauros cipriotas eram, provavelmente, espíritos da fertilidade locais, do cortejo de Afrodite, ou sacerdotes da deusa que usavam chifres de boi (cerastas).

Em grego, a palavra centauro significa "picador de touros" e pode ter sua origem nos vaqueiros da Tessália que andavam sempre a cavalo organizando as boiadas. Isto teria intrigado os viajantes que passavam pela região e acreditavam que os homens montados em seus cavalos e pareciam ser um só ser. Em tempos recentes, os centauros propriamente ditos, com corpo de cavalo, são chamados de hipocentauros para distingui-los de seres com corpo de asno (onocentauros), de pégaso (pterocentauros), de boi (bucentauros), de leão (leontocentauros) ou de cavalo marinho (ictiocentauros) citados por bestiários medievais e outros seres centauróides inventados pela literatura de fantasia.

Centáurides coroam Afrodite, mosaico romano.
Ainda que não apareçam nos mitos mais antigos, as centáurides (centauros fêmeas) são também mencionadas na arte e literatura da Antiguidade. Ovídio conta a história de uma centáuride chamada Hilônome que se suicida quando seu amante Cilaro é morto na guerra contra os lápitas.

O décimo signo do zodíaco é Sagitário, representado por um centauro arqueiro. São duas as possibilidades de lenda:

  • Por seus serviços e sacrifício, Quíron teria sido alçado às estrelas como a constelação de Sagitário.
  • Crotos era filho de Eufeme, a babá das musas no Monte Hélicon. Diz-se que inventou o arco e foi o primeiro a usar flechas para a caça. Sempre impressionado com o talento das musas, Crotos não sabia expressar seu contentamento com palavras após as apresentações das deusas e batia uma palma da mão na outra. Por essa razão, é chamado de inventor do aplauso. Após sua morte, as musas pediram que Zeus o colocasse entre as estrelas e ele se tornou Sagitário (corpo de cavalo e arco por ser um exímio caçador e cavaleiro). Alguns representam Sagitário com um rabo curto de bode, porque algumas genealogias colocam Crotos como filho da musa Euterpe com o deus .

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Unicórnio


O unicórnio ("um chifre" em latim) é um cavalo forte, veloz e pode apresentar um temperamento hostil. Sua característica particular é um único chifre espiralado no meio da testa de aproximadamente 45 cm. Em algumas espécies esse chifre é branco na base, preto no meio e vermelho-vivo na ponta. Alguns unicórnios podiam emitir ruídos graves. Algumas lendas ainda descrevem o animal com cavanhaque de bode, pernas de corça e rabo de leão.

Gravura do século XVII.
No chifre reside toda história e pensamentos do unicórnio. Várias lendas dizem que seu chifre possui incríveis poderes mágicos. Um cálice feito a partir dele propiciaria proteção para qualquer um que bebesse nele, além de prevenir contra convulsões, epilepsias e agir contra venenos. Em horas de perigo ou de concentração prolongada o chifre pode apresentar brilho ou esplendor suave. Para a proteção do unicórnio, não podemos ver seu chifre e, por isso, é confundido com um simples cavalo.

Quando adulto, o unicórnio apresentava pelagem branca, mas dourado em sua fase de potro, e prateado durante a adolescência. Alguns podiam apresentar a pelagem da cabeça ou só a crina com coloração vermelha escura. Seus alimentos favoritos eram frutas, grãos maduros, água corrente e folhas tenras de árvores.

O unicórnio representa a força, o poder e a pureza. Ama tudo o que é puro e por esse motivo se conta que quando um unicórnio encontra uma donzela, ele deita-se sobre o colo dela e adormece. Tornou-se símbolo recorrente da virgindade, principalmente, nas artes medievais e cristãs.

A virgem e o unicórnio, afresco de Domenico (1605)

O unicórnio capturado, tapeçaria do séc. XV.
A origem do tema do unicórnio (ou licórnio) é incerta e se perde nos tempos: está presente nos pavilhões de imperadores chineses e na narrativa da vida de Confúcio; faz parte do grande número animais fantásticos conhecidos e compilados na era de Alexandre e nas bibliotecas e obras helenísticas; e foi descrito pelo médico grego Ctésias, em 400 a.C., como sendo um animal nativo de terras indianas.

É bem possível que o mamífero pré-histórico chamada Elasmotério (ancestral do rinoceronte) seja a inspiração. Um ancestral asiático do antílope (oryx) também pode ser a referência. Estudiosos creem que o dente do narval era vendido por antigos mercadores nórdicos como chifre de um animal fantástico como o unicórnio.

Elasmotério em pintura de Heinrich Harder
É frequentemente utilizado em livros e filmes de fantasia (Harry Potter, por exemplo) e acaba ganhando diversos atributos que diferem dos relatos originais. A Constelação de Monoceros é atribuída ao unicórnio.