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domingo, 12 de maio de 2019

Dia das Mães

A mais antiga comemoração do Dia das Mães é mitológica. Na Grécia antiga e – posteriormente – em toda a Ásia Menor, a entrada da primavera em março era festejada em honra de Réa (Cibele para os romanos), a Mãe dos Deuses.

Ann Mary Reeves Jarvis
Hoje o Dia das Mães é uma celebração em família, mas em sua história está um velório nos EUA.

Em 1858, a ativista e filantropa Anna Jarvis havia organizado clubes de mães (chamados de Mother's Day Work Clubs, ou Clubes do Trabalho Diurno das Mães) para lutar por melhorias de condições sanitárias em que viviam as crianças pobres de famílias trabalhadoras, e depois para ajudar soldados e órfãos da Guerra Civil. Em 1868, Jarvis criou o Mother's Friendship Day (Dia da Amizade das Mães), para unir mães e veteranos numa celebração da paz. Outras ativistas propuseram outras datas, como o Mother's Day For Peace (Dia das Mães Para a Paz) em 1872. O sentido dessas datas eram as mães se unindo para celebrar alguma coisa, não sendo celebradas.

A filantropa faleceu em 1905 e sua filha, Anna, tentou tornar essa data um feriado nacional, porém, foi recebida com escárnio: os congressistas diziam que teriam que criar "Dia da Sogra" se aceitassem a proposta. Durante o memorial de três anos de morte da filantropa, um culto celebrando todas as mães deu a partida para que data fosse oficializada. No entanto, somente em 1914, a data foi oficializada nos EUA pelo então presidente, Woodrow Wilson, para todo segundo domingo de maio: dia 9 de maio de 1914 é considerado o primeiro Dia das Mães.

Dos EUA, a celebração passou para o resto do mundo, nem todos comemorando na mesma data: na Noruega, por exemplo, é no segundo domingo de fevereiro, e em Portugal, no primeiro domingo de maio, quando a Igreja Católica celebra o Mês de Maria, mãe de Jesus. Em alguns países, a data é fixa: 8 de março na Rússia; 21 de março no Egito, na Síria e em outros países árabes; 7 de abril na Grécia, 10 de maio no México e na Índia; 15 de maio no Paraguai; 26 de maio na Polônia; 15 de agosto na Bélgica e na Costa Rica. Aqui no Brasil, a primeira comemoração se deu em 1918, em Porto Alegre. A data foi oficializada por Getúlio Vargas em 1932, nos moldes estadunidenses e, em 1947, entrou para o calendário católico brasileiro.

Na década de 1920, Anna Jarvis ficou incomodada com a comercialização do feriado. Ela criou a Associação Internacional para o Dia das Mães, alegou direitos autorais sobre o segundo domingo de maio, e chegou a ser presa por perturbar a paz. Ela e sua irmã Ellsinore gastaram a herança da família fazendo campanha contra o feriado. As duas morreram na pobreza e sem filhos. Segundo o obituário de Anna no New York Times, ela dizia que "um cartão impresso não que dizer nada além de que você é preguiçoso demais para escrever para a mulher que fez mais por você que qualquer outra pessoa no mundo. E tortas! Você leva uma para sua mãe e então come tudo você mesmo. Um belo sentimento!". Hoje o Dia das Mães é considerada a segunda melhor data comercial, perdendo somente para o Natal.

Seja celebrando todas as mães, seja celebrando as mães espirituais, seja celebrando só a sua mãe, o importante é que a maternidade seja entendida como fator imprescindível para a vida.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Oiá / Iansã

Ilustração de Carybé
Na mitologia nigeriana Yorubá, o nome Oiá (Oyá) provém do rio de mesmo nome – atualmente chamado de rio Níger –, onde seu culto é realizado. Filha de Aganju e Iemanjá, é tanto uma divindade das águas como sua mãe e Oxum, quanto do ar, sendo uma das que controla os ventos.

Assim como a deusa Obá, Oiá também está relacionada ao culto dos mortos, onde recebeu de Xangô a incumbência de guiá-los a um dos nove céus de acordo com suas ações, para assumir tal cargo recebeu do feiticeiro Oxóssi uma espécie de erukê* especial chamado de Eruexim, com o qual estaria protegida dos eguns (maus espíritos).

O nome Iansã (Inhansã) trata-se de um título que Oiá recebeu de Xangô, seu marido. Faz referência ao entardecer, "a mãe do céu rosado" ou "a mãe do entardecer". Era como ele a chamava, pois dizia que ela era radiante como o entardecer. Costuma ser reverenciada antes de Xangô, como o vento personificado que precede a tempestade. Na saudação, pedem clemência para que ela apazigue o deus das tempestades. Entre os orixás femininos é uma das mais imponentes e guerreiras, sendo associada à forte sensualidade.

Os devotos costumam lhe oferecer sua comida favorita, o àkàrà (acarajé), ekuru e abará. No candomblé as cores utilizadas para representá-la são o rosa e o marrom. No Brasil, foi sincretizada à Santa Bárbara e sua comemoração é no dia 4 de dezembro. Já na Santeria cubana, está associada à imagens de Nossa Senhora da Candelária, Nossa Senhora da Anunciação e Santa Teresa.

* Apetrechos da cultura afro-brasileira confeccionados com cauda de boi, de búfalo ou de cavalo, com as finalidades de afastar os maus espíritos, eliminar as adversidades da comunidade e atrair a fartura e prosperidade. Na África, nobres os usam como símbolos de status e para espantar moscas.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Árvore de Natal


Uma das tradições mais famosas do Natal é a árvore cheia de enfeites que se torna elemento principal na decoração e ponto de referência para as famílias e os presentes. Entretanto, não existe apenas um registro e não se sabe ao certo qual a data exata de seu aparecimento, mas algumas histórias merecem ser citadas.

Conta-se que era comum pendurar ramos verdes em portas e janelas para afastar maus espíritos e doenças (algo parecido com o que ainda fazemos com as guirlandas natalinas), uma vez que as árvores e plantas que permaneciam verdes e saudáveis durante os invernos mais rigorosos tinham um significado especial. Já os antigos romanos também usavam ramos e galhos para a decoração do festival dedicado a Saturno, o deus da agricultura, e atrair fartura nas plantações.

Outra versão acredita que o alemão Martinho Lutero, monge protestante do século XVI, foi quem deu início à decoração de pinheiros com luzes dentro de casa. Dizem que, em uma noite de inverno, enquanto ele caminhava, viu estrelas brilhando entre as árvores e relacionou com a presença de Jesus Cristo. Em casa, resolveu reproduzir a cena e usou velas em um pinheiro. Porém, a história que popularizou o adorno aconteceu em 1846, na Grã-Bretanha: uma imagem da família real, com a influente Rainha Victoria, e o príncipe alemão, Albert, foi publicada no Illustrated London News e viralizou tanto por lá, quanto nos Estados Unidos também (ao lado).

Os pisca-piscas coloridos como conhecemos só deram o ar da graça em 1917, quando Albert Sadacca, um jovem de Nova York, resolveu criar as luzes elétricas e coloridas após a explosão de uma árvore com luzes de velas. Este foi o início da empresa NOMA Electric Company, a maior empresa fabricante de luzes de Natal há anos.

A data certa para montar, segundo a tradição cristã, é no início do Advento – tempo de preparação para o nascimento de Jesus Cristo – que é de quatro domingos antes do Natal. O desmonte da árvore e seus enfeites no dia 6 de janeiro, o Dia de Reis, que representa o encontro dos Reis Magos com o Menino Jesus.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Festa Junina


Todo mês de junho, há uma data em que o dia e a noite têm a maior diferença de duração: o solstício. No Hemisfério Norte, é o mais longo dia de todo o ano, período da colheita na Europa e, até mais ou menos o século X, com os últimos pagãos se convertendo, as populações dos campos comemoravam a data e faziam sacrifícios para afastar demônios e pragas. Como a agricultura é associada à fertilidade, cada região celebrava seu casal de deuses específico: no Egito, os votos eram para Ísis e Osíris; na Grécia, havia a festa de Cronus, o patrono da agricultura, ou, apenas para as mulheres, Adônis e Afrodite, quando elas faziam plantações rituais e caíam na farra; outro relembrado era Prometeu, o criador da humanidade que trouxe o fogo.

A Igreja Católica considerava essas festas como meros rituais pagãos, então, resolveu adaptá-las. No século XIII, três santos passaram a ser homenageados no mês de junho: Santo Antônio (dia 13), São João Batista (dia 24) e São Pedro (dia 29). Como ninguém sabe quando João Batista nasceu realmente, foi escolhido o dia 24 pela conveniência de sobrescrever os rituais pagãos mais próximos do solstício, e veio a calhar de ser exatos seis meses antes do Natal. São João passou a ser celebrado com fogueiras em quase todo o mundo cristão e as festas juninas nasceram.

Três séculos depois, já nos anos 1500, os portugueses chegaram ao Brasil e, junto com eles, suas tradições (o primeiro registro de festa comemorativa a São João data de 1583, em São Paulo, feito pelo jesuíta Fernão Cardim). As comemorações por aqui também foram adaptadas porque junho é inverno e exatamente o oposto: o dia do solstício é o mais curto do ano. As roupas de caipira são representações de agricultores, de pessoas que vivem da terra. O milho, muito utilizado pelos indígenas, tinha sua época de colheita em junho e, assim, se tornou a base do cardápio das festas. No século XIX, os imigrantes trouxeram outras especialidades para o clima frio como, os tradicionais vinho quente, pinhão e espetos de churrasco, “exportados” para o Norte do país.

sexta-feira, 29 de abril de 2016

Manu

O primeiro homem, Manu era filho de Brahma e Sarasvati. Na forma de um peixe, Brahma disse a Manu que o mundo seria destruído por um dilúvio e que ele deveria construir um barco e pôr dentro dele as sementes de todos os seres vivos. Quando as águas subiram, tudo ficou submerso e o barco de Manu encalhou no Himalaia. Por fim, as águas baixaram. Manu fez oferendas que se transformaram numa bela mulher, Parsu. Ela e Manu tornaram-se os pais da raça humana.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Deuses do samba

Essa foi a manchete do jornal de segunda-feira por conta da presença de deuses gregos no desfile da União da Ilha. No entanto, São Jorge e seu sincretismo foram enredo da Estácio de Sá e a Unidos da Tijuca trouxe um abre-alas com a criação do homem vindo do barro, assim como nas lendas africanas.

ESTÁCIO DE SÁ
Quimeras e dragões.

UNIÃO DA ILHA
Zeus!
Os Olimpianos.

UNIDOS DA TIJUCA

O que será que veremos hoje?
(Fotos: G1)

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Sexta-feira 13

Impossível não se preocupar com uma sexta-feira, dia 13, e a má sorte que pode acontecer nesta data. Segundo matéria da revista National Geographic de 2004, nos EUA, cerca de 900 milhões de dólares são perdidos nas sextas-feiras 13, justamente devido às pessoas que se recusam a fazer qualquer tipo de negócio nesta data. Existe até uma fobia específica: a parascavedecatriafobia (ou frigatriscaidecafobia).

Mas de onde vem isso afinal?
O número 13 é mal interpretado há muito tempo. Gregos e romanos o consideravam imperfeito, por ser um número primo que vem logo após o perfeito 12, um número versátil, divisível por 1, 2, 3, 4, 6 e 12. Eram doze os meses do ano e doze os deuses do Monte Olimpo. O continente perdido de Mu teria sido destruído em um cataclismo de uma sexta-feira 13!

A BRUXA ESCANDINAVA E AS TRAGÉDIAS CRISTÃS
O nome da bela deusa Frigg deu origem às palavras frigadagr e friday, "sexta-feira" em escandinavo e inglês respectivamente. Quando as tribos nórdicas se converteram ao Cristianismo, a deusa foi transformada em uma bruxa exilada no alto de uma montanha que se reunia às sextas-feiras com outras 11 feiticeiras e Satanás (13 participantes) para rogar pragas sobre a humanidade. Essa reunião nefasta de 13 participantes também tem ligação com a lenda escandinava do banquete para 12 convidados que Loki apareceu sem ser chamado e armou uma briga na qual morreu Balder.

A superstição de que convidar 13 pessoas para jantar era desgraça espalhou-se por toda a Europa, reforçada pelo relato bíblico da Última Ceia, quando havia 13 pessoas à mesa, na véspera da crucificação de Cristo - que aconteceu numa sexta-feira. Além disso, o Antigo Testamento judaico dizia que sexta-feira era um dia problemático: Eva teria oferecido o fruto proibido a Adão numa sexta-feira e o Grande Dilúvio teria começado no mesmo dia da semana.

VINGANÇA TEMPLÁRIA
Os dias de glória da Ordem dos Cavaleiros Templários, fundada no século XII em Jerusalém, durante as Cruzadas, estavam próximos do fim no início do século XIV. Rica e poderosa, sua influência na Europa começava a incomodar alguns monarcas, como o francês Filipe IV, o Belo, que resolveu dar fim aos cavaleiros.

Templários sendo queimados.
Em 14 de setembro de 1307, o rei enviou a seus oficiais ordens que só deveriam ser abertas dali a um mês. Reveladas as mensagens, numa sexta-feira, 13 de outubro, os templários que viviam na França começaram a ser presos, torturados, excomungados e queimados na fogueira. Havia métodos brutais de interrogar os presos: um sacerdote teve os pés tão queimados que seus ossos acabaram expostos.

Por cinco anos, enquanto os cavaleiros templários eram perseguidos, o rei tentou convencer o papa Clemente V a extinguir a Ordem. Até que, em 1312, os templários deixaram de existir, abandonados pelo Vaticano e acusados de crimes que não cometeram, como heresia e sodomia.

Em março de 1314, o último grão-mestre da Ordem, Jacques de Molay, antes de ir para a fogueira, teria dito que em um ano todos os que o perseguiram prestariam contas a Deus. Clemente V morreu em abril, Filipe IV em novembro. A data de início das prisões tornou-se, então, um dia de azar.

É DIA DE FESTA EM PORTUGAL
Em Portugal, muitas cidades e vilas celebram a ocasião. A maior festa acontece no castelo de Montalegre, em Trás-os-Montes, onde não faltam bruxas, bruxos, feitiços, teatro e a famosa queimada. Na vila de Vinhais, na aldeia de Cidões, as pessoas reúnem-se à volta de uma grande fogueira para um banquete com produtos locais. Em Cavalinhos, Leiria, as mulheres juntam-se num encontro onde os homens não podem participar.

sábado, 31 de janeiro de 2015

Novas lupas religiosas

Normalmente, as lupas de mitologia (que vocês podem ver aí do lado) estão sempre se referindo a uma cultura ou território. Porém, como mitologia e religião são praticamente indissociáveis e, nos últimos tempos, tenho colocado algumas postagens mais ligadas a religiões, resolvi criar duas novas lupas: para a Mitologia Cristã e para a Mitologia Judaica e, assim, ficar mais fácil de encontrar as postagens para esses temas.

Com o tempo - quem sabe - podem surgir outras lupas desse tipo, como Budismo ou Islamismo, entre outras. Nos casos do Xintoísmo e do Hinduísmo, creio que as lupas de Mitologia Japonesa e Mitologia Hindu podem servir de base. Divirtam-se!

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Quem é esse homem?

Conhece? Clique aqui é veja o que a perícia descobriu.

Bastardo. Analfabeto. Exorcista. Mágico. Milagreiro. Insurgente. Rebelde. Bandido. Pecador. Zelota. Revolucionário. Messias. Nazareno. Jesus, o Cristo.

Esses são alguns dos epítetos que o personagem mais famoso da história da humanidade recebe no livro Zelota - A vida e a época de Jesus de Nazaré (Ed. Zahar, 2013), do phD em temas religiosos - e iraniano - Reza Aslan. Esteja ciente que, ao pegar esse livro para ler, você não vai reconhecer o Jesus Cristo, aquele pregador pacífico que todos reverenciam. Não. Você vai conhecer o Jesus homem, o Jesus histórico, posivelmente o verdadeiro Jesus que passou pela Terra. Digo provavelmente porque o autor deixa bem claro que pouco se sabe realmente sobre esse Jesus, uma vez que tudo que foi escrito sobre ele é de autoria política e bem depois de sua morte. É preciso esmiuçar o contexto real e histórico para entender quem pode ter sido esse homem que para muitos é o Filho de Deus.

A cultura judaica é o centro da história. Descobre-se o (talvez) primeiro holocausto que esse povo passou, mas também ficamos certos de que o grande problema das religiões é que ela serve e dá poder ao homem. Em busca do poder, seja ele financeiro ou político (e aqui também entenda religião como política), massacres e injustiças foram cometidos... assim como nos dias de hoje.

É interessante perceber que em nenhum momento se reduz a importância de Jesus. Pelo contrário, ele ganha novas tonalidades e se aproxima ainda mais de nós. Fica mais parecido com o homem da foto que encabeça esta postagem do que com o branco, de cabelos loiros compridos e olhos azuis que Roma nos apresentou. Com isso, a Bíblia enquanto livro religioso recebe uma comprovação de artifício político com inúmeros absurdos históricos e paradoxos entre seus próprios autores! A história da criação do Cristianismo - e da Igreja em si - tem revelada suas incongruências.

Vale dizer que Jesus não é o único personagem visitado: Maria, de virgem, passa por questionamentos de fidelidade; João Batista, de primo batizador, passa a grande mentor; o apóstolo Tiago, de Menor e quase sumido nas escrituras, passa a irmão de Jesus e o verdadeiro líder dos seguidores de Jesus após sua morte; Paulo, de perseguidor convertido e pai do Cristianismo, passa a um dissidente dos ensinamentos e quase um mentiroso birrento. Até mesmo a cruz recebe nova e mais factível interpretação.

Porém, essa é a minha interpretação. Leia por sua conta e reveja sua fé, porque - acredite - não tem como não questionar a Bíblia e tudo que lhe foi ensinado, mesmo que você seja o mais crente possível.



Dito isso, não sei se vocês perceberam que eu ressaltei o fato do autor ser iraniano. Fiz isso pelo motivo mais claro e atual: questionar nacionalidades, religiões e fundamentalismos. Mesmo sendo um best-seller, ele foi duramente criticado somente pelo fato de ter nascido no país considerado mais fundamentalista islâmico que existe. Como alguém como ele (um muçulmano) poderia escrever sobre a figura mais importante do Cristianismo? É claro que seu objetivo seria acabar com Jesus e com as bases da religião judaico-cristã! Certo? Errado.

Veja a entrevista a seguir (está em inglês mas tem legendas nas configurações) que foi considerado "uma das piores entrevistas da história", onde Reza Aslan precisa explicar várias vezes seu gigantesco currículo acadêmico enquanto a âncora da Fox News só quer chamá-lo de muçulmano, num caso explícito de islamofobia.


Também veja o vídeo a seguir para você entender o problema da islamofobia que acaba se transformando numa questão de Crença vs. Realidade, do que alguns aceitam como realidade vs. do que os fatos reais apresentam, que é exatamente o ponto do livro.


É isso. Reveja sua fé e os seus pré-conceitos (escrito assim mesmo).



Sobre o livro em si, achei um pouco confusa a ordem não-cronológica que o autor faz. Ele até segue um raciocínio direcionado, mas faz inúmeros vai-e-vens temporais que por muitas vezes perde o contexto. No fim, as notas dos capítulos inserem mais informação sobre as pesquisas e referências nas quais o livro foi baseado. Leia-as também - de preferência após cada capítulo correspondente para não ficar ainda mais perdido. Mesmo com isso tudo, as ideias e objetivos do autor ficam claros.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Já que estamos na Páscoa...

Vamos relembrar o que já falei por aqui sobre o assunto:
  • Você sabe da onde veio essa história de Ovo de Páscoa? DAQUI!
  • E você sabia que isso tem a ver com uma deusa babilônica? Não? VEJA SÓ!
  • Até mesmo nossos índios brasileiros fazem um ritual famoso com algumas semelhanças, sabia?
  • Sem contar o Carnaval, que tem tudo a ver com a Páscoa... certo?
  • E o que um Coelho tem a ver com isso tudo afinal??? Leia AQUI.
  • O Coelhinho da Páscoa já virou guerreiro protetor das crianças em uma animação. Se não sabia, clique AQUI.
  • Mas você sabe o que é mais importante na Páscoa, né? CHOCOLATE!!!

terça-feira, 15 de abril de 2014

Lua de Sangue

Lua Azul... Super Lua... e agora Lua Vermelha? Isso mesmo! O fenômeno conhecido como Lua de Sangue é originário de um eclipse total da Lua com coloração avermelhada. Ele é o primeiro de quatro eclipses totais que vão acontecer em sequência – conhecido como Tétrade – e que terão seu ciclo encerrado em 28 de setembro de 2015 (ou outros eclipses serão em 8 de outubro de 2014 e 4 de abril de 2015).

Esse fenômeno esteve ligado a diversos tipos de crenças ao longo da história. Na Bolívia, por exemplo, acreditava-se que cachorros corriam atrás do Sol e da Lua e mordiam-nos: era o sangue da Lua que a deixava avermelhada. A população gritava e gemia para espantar os cães.

Em um versículo bíblico do profeta Joel do Antigo Testamento diz que “o Sol se converterá em trevas, e a Lua em sangue, antes que venha o grande e temível dia do Senhor”. Em Apocalipse (6:12-14) temos o seguinte:
Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo e sobreveio um grande terremoto. O Sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra como a figueira quando abalada pelo vento forte, deixa cair seus figos verdes. O céu recolheu-se como um pergaminho, quando se enrola. Então todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar.
Só neste século serão oito tétrades! Dia 14 de abril de 2014 foi apenas o início da segunda tétrade do século! A primeira foi no biênio 2003-2004 e a próxima será em 2032-2033. Porém, para os judeus, essa tétrade é a mais importante pois os eclipses – tanto em 2014 quanto em 2015 – se alinham perfeitamente com o Pessach (Páscoa) e o Sucot (Festa dos Tabernáculos).

Do ponto de vista científico, a Lua de Sangue é um fenômeno perfeitamente explicado e previsível: a cor avermelhada ocorre porque os raios de Sol que iluminam a Lua nesta ocasião são filtrados pela atmosfera da Terra e chegam a ele com menos luz azul e com tons mais vermelhos.


Para completar, acima e ao lado direito, foi possível ver Marte (o planeta vermelho) e a brilhante estrela Espiga (a estrela mais brilhante da Constelação de Virgem).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Krampus (Perchta)

O Krampus ("garras") é um ser mítico maligno muito conhecido das populações das aldeias e cidadezinhas dos Alpes, que também habita a imaginação germânica. Apesar de muito antigo e limitado geograficamente aos Alpes, sua influência afeta alguns costumes natalinos: ele seria o contraponto do Papai Noel. Portanto, ao invés de dar presentes, Krampus invade as casas e leva as crianças que foram más, mentiram e fizeram pirraça! Dependendo da tradição local, ele enfia as crianças em um saco e as afogoa em um rio, ou as devora ou as leva direto para o inferno.

Ele também aparece lado a lado com São Nicolau: enquanto um distribui presentes às crianças, o outro às pune. Dependendo do lugar, limita-se a deixar pedaços de carvão em vez dos presentes, ou uma vara como aviso de que, se não melhorarem de comportamento, o ajudante diabólico de São Nicolau virá castigá-los. Isso servia como um freio social, como um lembrete de que as crianças precisam ser boazinhas e comportadas para ganharem presentes de Natal. Também ajuda a manter o maniqueísmo que equilibrava as forças do bem e do mal.


Sua aparência é bem diabólica, uma figura antropomórfica híbrida de demônio com bode, ficando com chifres e cascos no lugar dos pés, além da longa língua vermelha. Carregava correntes e galhos para assustar as crianças e se vestia com trapos. Por volta de 1890, sua imagem começou a aparecer nos cartões de Natal acompanhando São Nicolau, normalmente com os dizeres Gruss vom Krampus (saudações de Krampus) ou Brav Sein! (Comporte-se!).

Na verdade, Krampus é a inserção nas festividades natalinas cristãs de uma divindade pagã conhecida na região alpina: Perchta, que aparecia na forma de uma sedutora belíssima, branca como a neve, ou como um demônio em trapos. A ela cabia a vigilância dos animais no início do inverno e a visita às casas para se certificar de que a fiação da lã estava sendo feita corretamente. Já no século IV da nossa era, o Papa Gregório permitiu que esse personagem pagão fosse incorporado às festividades desde que fosse rebatizado. Bartl, Schmutzli (Sujo, na Suíça) Ruprecht e Knecht Ruprecht (Ruperto ou Servo Ruperto, na Alemanha) são alguns dos muitos outros nomes de Krampus. O demônio também está relacionado ao grego e ao celta Cernunnos.

Durante as primeiras duas semanas de dezembro (começando na noite do dia 5 de dezembro, um dia antes do Dia de São Nicolau), jovens rapazes das regiões da Baviera (sul da Alemanha) – e também da Áustria, República Tcheca, Hungria, Croácia e algumas cidades do norte da Itália – se vestem como o horrendo Krampus, enchem a cara e saem às ruas para assustar as crianças, às vezes batendo nelas com ramos de bétula. Para acalmar o Krampus, ele ganha uma dose de schnapps, a aguardente típica da região.


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

São Cosme e São Damião

Hoje é dia de São Cosme e São Damião, os famosos santos gêmeos ligados aos doces. Também são considerados no Brasil os santos padroeiros dos farmacêuticos e médicos e, é claro, das crianças.

Há relatos que iniciam sua história no Oriente, filhos de uma família nobre e cristã, no século III. Seus nomes verdadeiros seriam Acta e Passio, e não se sabe se eram gêmeos. Desde de muito pequenos questionavam a existência de um único Deus responsável por cuidar de todos. A partir dessa dúvida, passaram a curar animais. Mais tarde, conheceram um homem chamado Levi que mostrou formas diferentes de cura e foram capazes de fazer um transplante e um homem voltar a andar. Estudaram, então, na Síria – um, Medicina, e o outro, Farmácia – e foram praticar na Egéia e na Ásia Menor. Diziam "Nós curamos as doenças em nome de Jesus Cristo e pelo seu poder", unindo fé e ciência. Com isso, seus tratamentos e curas a doentes, muitas vezes à beira da morte, eram vistos como verdadeiros milagres.

Um certo dia, os santos foram chamados para atender Paládia, uma senhora acometida de uma doença incurável a quem todos os médicos recusaram-se a tratar. Pela fé, oração e conhecimentos dos irmãos, em pouco tempo a senhora levantou-se de seu leito, com perfeita saúde, para agradecer a Deus. Desejando recompensar seus médicos de algum modo, Paládia presenteou Passio com três ovos, dizendo "Aceite este pequeno presente em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo". Ao ouvir o nome da Santíssima Trindade, o santo médico não ousou recusar o presente. No entanto, quando Acta soube o que acontecera, entristeceu-se, pois seu irmão teria quebrado o voto de caridade.

Há várias versões para suas mortes, mas nenhuma comprovada por documentos históricos. Um relato diz que teriam despertado a ira do Imperador Diocleciano, implacável perseguidor do povo cristão, que exigiu que ambos fossem amarrados e jogados em um despenhadeiro sob a acusação de feitiçaria e de serem inimigos dos deuses romanos. Outra versão diz que, na primeira tentativa de matá-los, foram afogados, mas salvos por anjos. Na segunda, foram queimados, mas o fogo não lhes causou dano algum. Apedrejados na terceira vez, as pedras voltaram para trás, sem atingi-los. Por fim, morreram decapitados. Muitos fiéis transportaram seus corpos para Roma, que foram sepultados no maior templo dedicado a eles, feito pelo Papa Félix IV (526-30), a pedido do Imperador Justiniano, na Basílica no Fórum de Roma.

As imagens dos santos ainda criança se referem a outra lenda: existia num reino dois pequenos príncipes gêmeos que traziam sorte a todos. Os problemas mais difíceis eram resolvidos por eles que em troca pediam doces, balas e brinquedos. Esses meninos faziam muitas traquinagens e, um dia, brincando próximo a uma cachoeira, um deles caiu no rio e morreu afogado. Todos do reino ficaram muito tristes pela morte do príncipe. O gêmeo que sobreviveu não tinha mais vontade de comer e vivia chorando de saudades do seu irmão. Pedia sempre a Deus que o levasse para perto do irmão, até que, sensibilizado pelo pedido, Deus resolveu levá-lo para se encontrar com o irmão no céu, deixando na terra duas imagens de barro. Desde então, todos que precisavam de ajuda deixam oferendas aos pés dessas imagens para ter seus pedidos atendidos.

Alguns estudiosos de mitologia grega concentram seus esforços para demonstrar que Cosme e Damião não existiram de fato, que eram apenas a versão cristã dos filhos gêmeos de Zeus, Castor e Pólux.

Nas religiões afro-brasileiras, São Cosme e São Damião são associados aos ibejis, gêmeos amigos das crianças que teriam a capacidade de agilizar qualquer pedido que lhes fosse feito em troca de doces e guloseimas. Estas religiões os celebram enfeitando seus templos com bandeirolas e alegres desenhos, tendo-se o costume – principalmente no Rio de Janeiro – de dar doces e brinquedos às crianças que lotam as ruas em busca dos agrados. Na Bahia, as pessoas comemoram oferecendo caruru, vatapá, doces e pipoca para a vizinhança.

É HOJE MESMO?
A Igreja Católica Apostólica Romana, até 1969, celebrava a festa dos santos no dia 27 de setembro. Porém, São Vicente de Paulo era celebrado no mesmo dia e tinha a data de 27 de setembro como certa de sua morte, enquanto não se tinha certeza da data de morte dos gêmeos. Então, com a reforma litúrgica, passou-se a comemorá-los no dia 26. Ainda assim, católicos tradicionalistas, devotos mais antigos e as religiões afro-brasileiras continuam a comemorá-los no dia 27.

Três pares de santos Cosme e Damião são celebrados pela Igreja Ortodoxa. O mais comumente associado aos santos médicos da Síria é celebrado em 1º de novembro como Santos Cosme e Damião da Ásia Menor. Mas há uma celebração em 17 de outubro dos Santos Cosme e Damião da Cilícia, e outra em 1º de julho dos Santos Cosme e Damião de Roma. Os três pares são da classe dos santos anárgiros ("desapegados do dinheiro").

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Anjo caído

Em tempo de inúmeros questionamentos religiosos com direito a discussões, brigas e manifestações, gostaria de botar um pouco mais de pimenta indicando uma história em quadrinhos que coloca em cheque algumas coisas. Escrito pelo multipremiado Peter David, a sinopse de Anjo Caído diz o seguinte:
Vagando pelas ruas sinistras da cidade sobrenatural chamada Bete Noire, a criatura que outrora foi um anjo da guarda atua como uma devastadora força tanto do bem quanto do mal. Um ser divino banido do Paraíso, cujo passado permanecia há muito tempo envolto em mistério... Até agora. O Anjo Caído se vê diante de uma sedutora proposta capaz de reverter os rumos de sua existência. Porém, tudo tem seu preço. Se quiser aproveitar essa chance de redenção, ela terá de abandonar para sempre todos os vínculos com o plano terreno, inclusive o maior deles: seu filho!
Diferente! Herege!

sexta-feira, 29 de março de 2013

Pêssankas, os ovos da primavera pascoal

Presentear com ovos na Páscoa é um costume bem mais antigo do que se imagina: em escavações arqueológicas, foram encontrados indícios da tradição de pelo menos três mil anos antes de Cristo! Mas não eram ovos de chocolate, como conhecemos hoje, e sim ovos de galinha pintados à mão.

A tradição começou com povos pagãos da Europa central e oriental que, durante o inverno, por causa da neve, permaneciam em casa pintando as cascas de ovos que serviam de amuleto. Quando chegava a primavera, estes ovos eram oferecidos aos deuses, pedindo proteção. Em um ritual para a deusa Ishtar, que ocorria no equinócio da primavera, os participantes pintavam e decoravam ovos e os escondiam.

Até hoje, é costume dar ovos de galinha, de pata, de codorna ou de madeira aos amigos e familiares nos países eslavos (como a Ucrânia, Polônia, Rússia, etc) e no sul do Brasil, que possui um grande número de descendentes de ucranianos. Os poloneses ainda fazem walatka, uma brincadeira em que as pessoas batem um ovo no outro. Se quebrar o ovo do adversário, o vencedor fica com a aposta.

"Na Ucrânia, os ovos se chamam pêssankas (derivado do verbo pysaty, "escrever"), e os desenhos são geométricos (veja aqui alguns). Já na Polônia, recebem o nome de pissankis e as figuras representam a natureza", explica o artista plástico paranaense Eloir Jr., especialista na arte milenar da pêssanka. Cada símbolo pintado tem um significado: triângulos representam religiosidade, linhas retas simbolizam a vida eterna e estrelas significam sucesso.


A forma de decorar os ovos mudou muito. "Antes, a tinta era produzida a partir de legumes e vegetais. Para produzir a cor vermelha, a beterraba era fervida em uma panela com água e deixada de molho por dias e até semanas. Depois, o ovo era mergulhado nesse líquido", conta Eloir. "Para obter tons de verde usava-se a couve, enquanto os tons de marrom eram feitos com casca de cebola. Atualmente, usamos anilina". Mas até hoje, os desenhos na casca do ovo são feitos com cera de abelha derretida na chama de uma vela, de forma bem artesanal.

No Cristianismo, o ovo se tornou um dos símbolos da Páscoa ao representar vida nova e ressurreição de Cristo. Além disso, a data é celebrada justamente no início da primavera no hemisfério norte.

O chocolate entrou na história no século XIX. Primeiro os pâtissiers franceses e alemãos recheavam os ovos de galinha, depois de esvaziados de clara e gema, com chocolate e os pintavam por fora (assim). Depois inventaram os ovos moldados e o resto da história você vê no supermercado.

OBS.: O depoimento do artista plástico e as imagens foram retirados de uma matéria da Folha de São Paulo.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Só amor

Cartão de 1909
Nos EUA, hoje é Dia de São Valentim, ou seja, Dia dos Namorados. Se você não sabe o porquê desta associação, clique AQUI para saber.

Tenho até uma sugestão: já que o Dia dos Namorados no Brasil é comemorado no dia 12 de junho e é um dia mais comercial do que outra coisa, que tal aproveitar a oportunidade de hoje para expressar o amor ao próximo (mesmo que ele ainda não esteja do seu ladinho) sem pensar em presentes, compras e mimos.

Só carinho!

Só amor!

domingo, 6 de janeiro de 2013

La Befana

Neste 6 de janeiro, comemora-se o Dia de Reis. De certa forma, devemos aos Três Reis Magos a tradição cristã de trocar presentes no Natal. Segundo à tradição, hoje é dia de desmontar toda a decoração natalina, inclusive a árvore.

Em outros países, o dia de hoje carrega outras lendas. As crianças italianas, por exemplo, penduram suas meias e costumam deixar um copo de vinho e uma tangerina para a Befana, um personagem místico que, na noite de 5 e 6 de janeiro, montada em uma vassoura coloca doces nas meias das crianças que se comportaram bem e para quem aprontou ela deixa um carvão. Ela passa pelos telhados e entra nas chaminés para encher as meias penduradas pelas crianças, não sem antes comer a refeição gentilmente deixada e dar uma varrida na bagunça que fez. É dito que ela não gosta de ser vista e dá uma vassourada na cabeça daqueles que tentam encontrá-la (uma forma de manter as crianças na cama enquanto seus pais enchem as meias).

Alguém aí lembrou do Papai Noel?

Segundo uma história popular, os Reis magos dirigiam-se a Belém para levar os presentes à Jesus, mas não conseguiam encontrar o caminho. Na estrada encontram uma velhinha e pediram informações para ela. Mesmo sem saber, a velhinha - considerada e melhor dona de casa e anfitriã da regiã - ofereceu abrigo Agradecidos pela ajuda, os Reis convidaram a senhora para acompanhá-los, mas ela decidiu não ir por causa de seus afazeres. Arrependida, preparou um cesto de doces e foi procurar os Reis e o menino Jesus, mas não os encontrou. Na esperança de encontrar o pequeno Jesus, foi distribuindo doces em todas as casas onde encontrava uma criança. Desde então, gira o mundo dando presentes para as crianças.

Existe uma lenda cristã um pouco diferente. Befana seria uma mulher comum que teria enlouquecido ao perder sua amada criança. Ao saber do nascimento de Jesus, resolveu ir atrás dele achando que seria seu filho morto. Ela conseguiu encontrar Jesus e o presenteou. O piedoso menino se encantou pelos presentes, a curou de sua loucura e a nomeou mãe de todas as crianças na Itália.

Sua representação é fixa: uma senhora idosa usando saias escuras e largas, um avental com bolsos, um xale, um lenço ou um chapéu na cabeça, um par de chinelos usados, todos bem estampados. Sempre carrega um saco recheado de brinquedos, chocolates e outros doces, mas no fundo tem uma boa dose de cinzas e carvão.

A palavra "Befana" deriva do grego "epifania" que quer dizer aparições, manifestações. Em Roma, o ponto de encontro das crianças é a Piazza Navona, onde é possível comprar uma uma meia cheia de doces chamada befana. Estudiosos crêem que possa ser uma sincretização da deusa romana Strenea.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Uma jornada de fé


Todos aqueles que acompanham este blog deveriam assistir As aventuras de Pi (The life of Pi, 2012). Os questionamentos que Yann Martel (inspirado em Max e os Felinos, do autor brasileiro Moacyr Scliar) faz sobre religião, ciência e - principalmente - fé são descritos com maestria pelo diretor Ang Lee e sua trupe de efeitos especiais. Por isso, antes de continuar a ler essa postagem, sugiro que você vá ao cinema e depois volte para ler e comentar. Daqui em diante haverá um número bem grande de revelações do filme...



Logo nos primeiros 20/30 minutos do filme, religião e razão são colocadas da balança. Hinduísmo, Cristianismo, Islamismo ou Medicina Ocidental? Tentando se encontrar, o jovem Pi (Suraj Sharma) se permite experimentar e misturar um pouco de cada um sem preconceitos ou amarras familiares. Claro que o personagem é de uma curiosidade e perseverança ímpar: mesmo quando ele não entende e não vê significado na religião, ele continua se perguntando e indo a fundo até se satisfazer. Aqui tem um momento interessante quando ele explica sua forma de ver o tapete islâmico, dizendo que sobre ele o solo se torna sagrado independente de onde ele esteja.

Pode não parecer de início, mas é importante sabermos que Pi é bom em natação e enxerga a alma dos animais. A entrada de Richard Parker (o perfeito tigre digital de Bengala) é também um divisor de águas na infância do personagem. Mas o que dá start na história toda é um escritor (Rafe Spall)que precisa arrumar o enredo para um novo livro e descobre que Pi tem algo surpreendente a contar. Pi (como adulto, interpretado por Irrfan Khan), então, começa a narrar sua vida onde ele promete para o escritor que, no final, irá encontrar Deus. E sua vida muda completamente quando o navio que levava sua família e os animais do zoológico afunda em uma terrível tempestade no meio do Oceano Pacífico.

Pi sobrevive em um bote com uma zebra, uma hiena, um orangotango e Richard Parker. Aliás, o termo "sobrevivência" é elevado a última potência ao enfrentar fome, sede, tubarões, baleias, cardumes de peixes voadores, tempestades, calmarias, devaneios, ilhas carnívoras (e que ilha, hein?) e o próprio relacionamento entre as diferentes espécies. Somos apresentados à imagens de beleza ímpar que só a natureza poderia nos proporcionar. Aliás, por um momento, fiquei achando que um dia só nos restará imagens da natureza em 3D...

A jornada de fé de Pi também é feita de altos e baixos. Ele chega a se render algumas vezes, mas sempre dá um novo passo. Entender que a existência de um tigre o fazia ficar vivo e são não só pelo medo, mas também pela necessidade de alimentá-lo é de uma grandeza inexplicável. Mesmo nas vezes que ele tem a vida de Richard Parker nas mãos, ele opta pela vida. Quando ele mata para comer, Pi valoriza a vida. Sua fé lhe dá esperança.

No fim, somos surpreendidos como uma outra história. Diferente do que acabamos de ver, mas equivalente e fácil de correlacionar. O escritor toma o nosso lugar de espectador incrédulo assim que tomamos conhecimento de uma versão mais realista do ocorrido. Mas Pi resumidamente pergunta: "você prefere a história fantástica com o tigre ou a história real?" O escritor/espectador dá a resposta que todos damos em uníssono e Pi pontua com a frase de ouro: "Assim é com Deus". É o slogan do filme: "Acredite no inacreditável".


Não li livro, mas andei lendo que o final da história era mais denso. Que seja. Independente da religião que cada ser humano na face deste planeta, somos todos unidos e iguais pela fé. E é nesse conceito que devemos nos olhar como irmãos e não como inimigos. Nossas diferenças ficam reduzidas perante nossa mortalidade e insignificância. O termo "tolerância" jamais deveria ser ligado às diferentes religiões. Os termos corretos são "respeito", "coexistência" e "compreensão".

O filme do ano para este blog.