Ah Puch, o Descarnado, é um dos soturnos governantes do Xibalba, o inferno maia. Associado àmorte, à noite, à guerra e aos sacrifícios, era o responsável pelo Mitnal, o último nível do submundo, o mais profundo e desagradável. Era também chamado de Kisín (o flatulento), Hun Ahau (morte única), Yum Kimil (senhor morte) e Vucub Camé (sete mortes).
Muito temido pelos maias, dizia-se que Ah Puch escondia-se de modo assutador na casa dos mortos e moribundos, pronto para levar suas almas, como um ceifador. Acreditava-se que a única maneira de escapar de suas atenções era gritando e gemendo de uma forma bem convincente para que o deus acreditasse que o moribundo já estivesse recebendo alguma punição de seus demônios menores. Assim, ele sairia triste por não levar uma alma, porém feliz de saber que a tortura estava sendo realizada.
Muan, era sua coruja-mensageira que levava as más notícias à humanidade. Até hoje persiste a lenda que, quando uma coruja pia, alguém próximo morre. Se você a ouvir, respire fundo e conte até dez. Aliás, Ah Puch é patrono do número dez. Também era visto com cachorros e morcegos.
Normalmente era representado como um esqueleto em estado de putrefação. Seus chapéus são bem variados: ou a cabeça de um jaguar, ou de um boi ou de uma coruja, que podiam ser adornados com olhos humanos. Cascavéis aparecem enroladas em seu corpo ou como cabelos, com seus chocalhos representados como sinos. No Poço de Sacríficios de Chichen Itzá (sagrada cidade maia), foram encontradas inúmeras cascavéis de bronze e de ouro, provavelmente, dos corpos imolados em nome dos deuses.
Ah Puch é a antítese de Itzamna, o complemento das forças da vida que harmonizavam o dinamismo cósmico. É identificado com o Mictlantecuhtli dos astecas, enquanto o Mitnal parece nos trazer uma representação de inferno próximo ao que Dante Alighieri criou na Divina Comédia, com nove círculos, sendo o nono o mais profundo.